A vida pede que a gente faça escolhas todos os dias, o tempo todo. O nível de complexidade das decisões varia muito: podem ser das mais triviais – “o que vou vestir hoje?” – às mais complexas – “aceito o desafio deste emprego ou continuo fazendo o mesmo de sempre?” , “quero mesmo casar e ter filhos?” , “vou na festa da família de final de ano?”.
Muitas pessoas consideram que escolher e, pior, renunciar às outras opções é doloroso e traz muito sofrimento. Pesam todas as opções e muitas vezes se paralisam pelas ideias, muitas vezes catastróficas, sem que haja nenhuma evidência de que seus temores se concretizarão. O sofrimento é basicamente mental e, por isto, opta-se muitas vezes por ficar na tão falada zona de conforto.
A zona de conforto não é um espaço físico; seus limites são comportamentais: a pessoa deixa de fazer coisas para se sentir segura, por estar familiarizada com seu status quo. A ansiedade fica “sob controle”, já que não se expõe ao risco. Em contrapartida, o crescimento fica restrito e, com o tempo, percebe-se que o preço pago foi alto demais. Infelizmente, às vezes fica muito tarde para voltar atrás e ir na direção do que realmente se quer.
Percebendo as limitações impostas pela zona de conforto, há quem busque ajuda psicoterapêutica. As diferentes abordagens psicoterápicas abordarão o problema por ângulos variados. Abordagens existenciais propõem que, frente ao risco de escolher , a pessoa pode paralisar. Muitas vezes é a angústia de morte, a consciência da finitude, que impede que a pessoa se lance. Na era digital, os temores aumentaram. Vivendo cada vez mais em exibição para outros olhares, agora se tem também o medo do fracasso público, do julgamento social. A vergonha é um dos sentimentos que se evita a todo custo. Mas, com tamanha exposição, não se pode controlá-la 100 porcento.
Abordagens comportamentais consideram que não sair da zona de conforto, esquivando-se da dor, limita o repertório experiencial. Repetindo o comportamento de evitação, a pessoa se restringe mais e mais e, mesmo na ‘segurança’ de uma gaiola de ouro, a médio ou longo prazo, pode desenvolver uma série de sintomas.
A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) conscientiza sobre a importância das emoções, mesmo as ‘negativas’ – ou melhor, desconfortáveis -, como o medo. Não se tenta eliminar a ansiedade a qualquer custo. Pelo contrário: o/a psi vai trabalhar para que o/a cliente ouse experimentá-la, viver apesar dela, com ela e observando-a sem a alimentar. Exponha-se ao invés de limitar a experiência.
Um ensinamento básico da ACT é que “o controle não é a solução, o controle é o problema” e, por isto, a tentativa de ter o controle total da vida é fadada ao fracasso, apesar do ‘conforto’ que este pensamento traz. Na ACT, a abertura emocional bem como a flexibilidade psicológica são extremamente importantes e dão sentido à vida.
Conheça esta abordagem, bastante recente, que faz parte da terceira onda das terapias contextuais. Experimente mudar rumo aos seus valores pessoais.
Referências:
Hayes, Steven C.; Luoman, Jason B.; Walser, Robin D. (2007). Learning ACT: an acceptance & commitment therapy skills-training manual for therapists. Oakland: New Harbinger Publications.
Hayes, S. C. (2005). Get out of your mind and into your life: the new acceptance and commitment therapy. Oakland: New Harbinger Publications.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, pré-matrimonial ou de casal, em Copacabana.