Andrew G. Marshall, terapeuta de casais inglês, com mais de 30 anos de experiência, propôs em seu livro “I love you, but you always put me last ( “Eu te amo mas você sempre me deixa por último“) que o modelo atual de casamentos, que coloca a/s criança/s como o centro das atenções da família, seja uma das causas para o alto índice de separações e desarmonia conjugal. Segundo ele, é fundamental investir no vínculo amoroso entre o pai e a mãe (ou outras variações).
A ideia, um tanto chocante em uma sociedade que idealiza tanto a maternidade e a paternidade, prova-se bastante razoável quando se observa quantos casais se separam depois que nasce a primeira criança – se não fisicamente, ao menos afetivamente. O nascimento pode causar um forte impacto na relação. É necessária a reestruturação familiar, com revisão dos papeis de cada um. Sentimentos complexos são ativados – tanto no pai quanto na mãe que, muitas vezes, reviverão problemas da sua própria infância. Se não os compreendem, podem reagir impulsivamente, agravando a desarmonia.
Algumas crenças sobre a criação de filhos podem predispor ao afastamento físico. Ao se tornarem mães, as mulheres são muito requisitadas pelo bebê e costumam ficar exaustas. O/a parceiro/a deve, então, se envolver efetivamente nas tarefas domésticas para minimizar o cansaço físico e psíquico da mãe.
Também é importante colocar limites nas visitas, em especial nos primeiros meses quando a criança precisa de tranquilidade e rotina. Nem sempre é fácil, principalmente quando é a primeira criança em muitos anos na família. As visitas podem sobrecarregar muitas mulheres, que querem ser boas anfitriãs e ainda precisam cuidar do bebê.
Ainda hoje, muitas mulheres têm como principal desejo na vida serem mãe, abrindo mão de vários outros. Ao se dedicarem exclusivamente a isto, abrem mão do papel de esposas. No entanto, há um descompasso: a maioria dos homens não sente o mesmo e com isto aumenta o risco de um relacionamento extraconjugal, caso o homem se sinta muito deixado de lado. Há também companheiro/as que passam a ver sua mulher exclusivamente como mãe (independente dela se ver assim ou não). Podem ,assim, parar de sentir desejo. Mais raramente, a própria mulher, se sentindo desprezada ou deixada de lado, pode ficar vulnerável e iniciar um relacionamento extraconjugal.
Estes e outros casos merecem não o julgamento mas uma maior compreensão. A Terapia de Casal pode facilitar. Mas, adiantando, alguns dos conselhos de Marshall são:
- não tente bancar a super mãe ou super pai;
- valorize o/a parceiro/a (fazer isto diminui a chance dele/a se envolver em casos extra conjugais)
- invista eroticamente no/a parceiro/a – mesmo com a diminuição do tempo disponível, especialmente nos primeiros meses, ser pai ou mãe não deve extinguir o desejo. A comunicação dos sentimentos deve ser carinhosa, não agressiva, com abertura para o diálogo e para buscar soluções
- afinem-se como time e inclua o/a parceiro/a nas decisões a respeito dos filhos;
- divirtam-se a dois – mantendo o clima amoroso pode-se renovar constantemente a relação.
Segundo Marshall, os filhos não se sentem deixados de lado, quando veem os pais saírem juntos, deixando-os com pessoas que possam cuidar delas. Pelo contrário, ficam mais seguros ao perceberem a união do casal e se tornam menos despóticos. A relação estabilizada é a melhor fonte de segurança para eles.
Se você não sabe como fazer as adaptações necessárias, procure ajuda psicoterápica. A Terapia de Casal é uma boa forma de prevenir separações, restabelecendo um bom diálogo entre os pares e fazendo novos combinados. Afinal, é importante a reestruturação da família com a chegada de novos participantes, que devem sempre somar e não dividir.
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em TCC e extensão em ACT, atende no Centro do Rio a jovens e adultos, em terapia individual ou de casal.