Uma matéria em Veja (13 de maio de 2009) relata pesquisa realizada por psicólogos americanos sobre um traço fundamental da sociedade americana: o narcisismo. Segundo os psis Jean M. Twenge e W. K . Campbell, as celebridades estariam ‘disseminando’  este ‘vírus’.  A matéria destaca várias  personalidades (melhor dizendo, ‘celebridades’), que  tem o narcisismo exacerbado. Cientificamente conhecido como transtorno de personalidade narcísistica, está catalogado no CID-10 junto a outros transtornos .

Outro estudioso do assunto, o psicólogo americano Drew Pinsky, testou 200 celebridades e  a partir daí escreveu o livro The Mirror Effect.  Listou 7 traços característicos das personalidades narcísicas e os  correlacionou com alguns artistas americanos e seus escândalos, amplamente cobertos pela mídia.  São eles:

  • Autoritarismo (ex: ator Christian Bale)
  • Superioridade (ex: cantor Chris Brown)
  • Vaidade (ex: Michael Jackson)
  • Exibicionismo (ex: Lindsay Lohan, Britney Spears)
  • Exploração dos outros (Madonna)
  • Autossuficiência (ex: Tom Cruise)
  • Pretensão a privilégios (ex: Mariah Carrey)

A matéria faz um rápido resumo do belo e trágico mito de Narciso, o jovem que se apaixona pela sua própria imagem. 

Se esta busca pela atenção é mais evidente entre os artistas, políticos e esportistas (segundo Pinsky, o narcisismo é o que os estimula a buscarem o reconhecimento público), de certa forma não só a atenção do público o reforça. Em um mundo em que nada está sendo ‘sólido’ e as relações se fluidificaram, estar em evidência aparentemente garantiria sucesso. Claro que não é assim.

Twenge e Campbell sugerem que se combata a epidemia narcísica com uma evitação à informação sobre as vidas das ‘celebridades’. Poderia ser uma solução – mas parece bem difícil, pois precisaria de conscientização. Não só o público procura avidamente estas informações: é-se invadido por ela, mesmo em casa ou no trabalho. Exemplos: tente checar e-mails acessando  seu webmail. Ninguém precisa comprar revistas de fofocas para se inteirar delas: basta ir a um salão ou aos profissionais de saúde, que oferecem Caras como degustação.

É bom lembrar que os autores mencionados não são psicanalistas, adotando uma abordagem social do fenômeno.  Aliás, para isto é bom ressaltar também as características culturais, locais. A matéria ressalta as diferenças entre o narcisismo entre os artistas brasileiros e os americanos. É possível que tal diferença se dê devido às diferentes tradições religiosas: nos EUA, a sociedade protestante sentiria menos culpa em relação ao orgulho do que a nossa, de base católica. A fama se tornou um valor em si e  a internet potencializa esta possibilidade de se tornar rapidamente conhecido, simultaneamente, em todo o mundo.

Por que tanto interesse sobre o assunto? Ora, o transtorno de personalidade narcísica tem efeitos não só sobre os famosos. Os estudiosos consideram que algusns aspectos como a compulsão por compras (ostentando-se um poder econômico que não se tem, na realidade – causando complicações na vida financeira e, por tabela, na vida familiar e amorosa), o boom das plásticas e próteses, dentre outros, tem correlação com esta ‘escalada narcísica’.  Outro ‘efeito colateral’ seria  a proliferação dos blogs e sites, em que a intimidade é exposta aos olhos de qualquer um. Na busca da fama a qualquer preço, o perigo é ainda maior para jovens adolescentes, que buscam se destacar  mais avidamente (crise de valores? falta de horizontes?)

Todas estas reflexões são apenas uma forma de preparar questionamentos que devem ser também pessoais.

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