De Alejandro González Iñárritu, eu só tinha visto 21 gramas. Seus filmes normalmente mostram algum tipo de violência, que se derrama na telas. Justiça seja feita, pelo que dizem, os outros filmes são ótimos, sucesso de público e crítica. Mas, digam o que disserem, decidi há alguns anos não impregnar os meus sentidos com mais violência do que aquela com que já sou obrigada a conviver, morando no Rio de Janeiro.

Tendo me certificado de que Biutiful não era um filme violento e que tratava de um dos temas que mais prezo – a finitude – fui assistir, cheia de expectativas. Adorei o filme mas meu sono não foi tão leve nesta noite.

Javier Bardem, que adoro, está muito bem e foi indicado para Oscar de Melhor Ator em 2011. Conseguiu este mesmo prêmo em Cannes (2010) mas perdeu o Oscar para Colin Firth (pelo O discurso do Rei). Biutiful – cujo título fica explicado em uma cena singela – concorreu ainda a Melhor Filme Estrangeiro. Não vi os demais para opinar se merecia ter ganho ou não.

A seguir, o trailer. Se não quiser saber muito sobre o filme, não continue a leitura depois de assistir ao vídeo pois, logo depois dele, vêm spoilers.

Continuou… Então prepare-se. Uxbal é um personagem que nos desperta sentimentos ambivalentes. Pai amoroso, separado, cuida de dois filhos pequenos. De vez em quando explode com seus pequenos. E por que ficamos divididos frente a ele? Como vários outros ‘heróis’ do cinema recente, o protagonista tem várias características que, com outro enfoque, o tornariam vilão. Na sua batalha para sustentar a família, Uxbal não tem um emprego formal, vive na marginalidade, faz conluios com policiais, explora imigrantes. Tem uma poderosa mediunidade, a qual explora ‘comercialmente’: comparece a velórios para tentar as últimas mensagens dos falecidos. E mesmo tendo este ‘contato’ com o mundo dos mortos, apavora-se com sua própria morte anunciada e com a certeza de que terá de deixar, a contra-gosto, seus filhos. Tenta mas não consegue garantir nenhuma segurança para eles – nem financeira nem emocional. Na família, não tem com quem contar: a mãe de seus filhos, bipolar, que também tem problemas com drogas, o trai com seu próprio irmão, que também não tem uma vida muito certinha.

Este aspecto ‘espiritual’ me surpreendeu, para um filme de Iñárritu, tanto quanto foi assistir também a Além da Vida (de Clint Eastwood, também já comentado aqui no Confabulando). Mas o diretor não pretendia fazer um filme espiritualista, nem abrir para discussão: o principal do filme é a a angústia de Uxbal ao descobrir que tem câncer. Um câncer daqueles contra o qual não adianta lutar. Apesar de todos nós termos uma sentença de morte, com uma data incerta, a dele é anunciada como bem próxima. E ele se sente extremamente desamparado. Sabe que a vida vai continuar, sabe que não tem como prolongá-la e sente-se totalmente só, sem ter com quem compartilhar suas angústias.

Tendo recebido o diagnóstico, como se observasse uma ampulheta com a areia se escoando, Uxbal tenta consertar algumas coisas de sua vida, inclusive seu envolvimento com mão de obra quase escravizada. Desespera-se ainda mais, quando, ao tentar intervir (ajudando mas garantindo um certo ‘lucro’), causa uma tragédia. O que achava que conseguia controlar, também lhe escapa.

Enfim, o filme é emocionante, instigante, angustiante. Desperta nossos medos e tristeza frente às despedidas que teremos pela frente. Propicia a reflexão sobre como levamos a vida e que garantias achamos que temos. Certamente se conscientizar disto nos presdipõe a buscar uma melhor qualidade de vida, aqui e agora.

Caso queira comentar, clique no título. Vou adorar ler sua opinião, mesmo que discordante.

Um soco no estômago. E no coração
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2 ideias sobre “Um soco no estômago. E no coração

  • 25/04/2011 em 16:24
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    Thays.
    Woddy Allen ao filmar em Barcelona, Vicky, Cristina, etc, mostrou todo o glamour de seus personagens e da cidade. Todos belos, todos com dotes artísticos (imaginem um pintor e que pilota seu próprio avião), e com crises existenciais que se resumiam o máximo a “Transo só com um ou com os dois” .
    Barcelona, sempre lindíssima, com muitos museus, igrejas orgânicas, e ramblas maravilhosas.
    Iñárritu por sua vez mostrou em Biutiful o mesmo Javier Barden acuado em uma Barcelona de terceiro mundo. Angustiado, como qualquer personagem de seu filme, envolto em violência que consome simultaneamente agressores e agredidos. Essa é sempre a marca registrada do diretor, mostrar os estragos da violência, tanto física como social. Sair do maniqueísmo bom e mau e mostrar principalmente as angústias vividas também pelo agressor, sua trajetória na violência e os estragos que causam em sua vida. Assim foi em Babel, 21 gramas, e principalmente Amores Brutos.
    Pode se dizer que Iñárritu foi a Barcelona a trabalho, enquanto Woddy Allen foi a passeio.

  • 27/04/2011 em 16:24
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    Henrique, desculpe a demora em aprovar, não tinha me chegado o aviso! Adorei o seu comentário comparativo e esta frase final , em especial! Obrigada mais uma vez por contribuir com suas reflexões.
    beijos

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