A finitude é um tema sobre o qual poucas pessoas costumam falar. Talvez porque as pessoas preferem não pensar no assunto, aqui no Ocidente.
Só pode ser este o motivo pelo qual 3 filmes sensacionais, sobre os quais escrevi, foram “esquecidos”.
O elenco é impecável. Um destes filmes recebeu Oscar de Melhor filme Estrangeiro.
Apesar de sabermos que todos nós vamos morrer, em geral as pessoas evitam falar sobre isto. Ficam angustiadas. Parte porque, em suas próprias famílias, foram ensinadas assim. Pais e mães, bem como outros cuidadores e educadores, evitam o assunto quando as crianças perguntam.
Até inventam histórias sobre viagens ou estrelinhas. Enfim… Assim, nos ensinam a não falar sobre.
Ah, e nas graduações de Psicologia e Medicina, a morte ainda é deixada de fora… O assunto fica restrito a cursos de filosofia (em geral oriental), tanatologia ou cuidados paliativos.
Truman
Muitas resenhas classificaram Truman como comédia. Imagino que seja uma ‘negação’ de quem fez a categorização. Ou mesmo estratégia de marketing. O filme aborda um tema espinhoso mas deveria ao menos ter sido classificado como comédia dramática.
Há várias cenas bem humoradas, dosadas certeiramente. Mas, não se engane: Truman fala de nossa terminalidade. E de como se reage frente a um diagnóstico de câncer terminal.
Quem assiste não poderá evitar repensar a própria vida. Algo a que fomos forçados a pensar durante a pandemia.
O ator argentino Ricardo Darín interpreta Julían. No filme, ele interpreta um ator argentino que mora sozinho em Madrid, separado. Julian descobre uma metástase de câncer no pulmão. E desiste de seguir o tratamento.
Passa a se ocupar, então, de se preparar para quando a morte chegar. Cuida de coisas práticas – inclusive envolvendo seu cão, Truman – e também de pendências emocionais.
Ao tomar tais providências, Julian assombra a pessoa comum. Causa um aperto no coração de quem o assiste. Mas sua postura diante da vida é uma lição.
Enfim, o filme mexe com quem tem problemas com a terminalidade – mas quem não os tem? Pensar a respeito disto faz você ter uma vida melhor, mais compromissada com o aqui e agora.
Fases do Luto
A psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross brilhantemente descreveu as cinco fases atravessadas por pessoas que recebem um diagnóstico de doença terminal.
Nem todo mundo consegue ir até a quinta – até porque é muito difícil não é muito permitido conversar sobre a morte. Pessoas próximas a quem está morrendo tentam negar a sua percepção, ou se incomodam de falar sobre morte.
Resolver e aceitar a finitude, por mais difícil que seja, abre a possibilidade de terminar a vida bem. E Julian consegue fazer isto – não sem dor, mas com dignidade. O filme não foca nas cenas de hospital, não o vemos em sofrimento físico. Ou seja, o filme vai te acrescentar importantes lições – sem necessariamente trazer muitas lágrimas.
Profissionais da área de saúde – psicoterapeutas e médicos, dentre outros – deveriam assistir, em especial os que lidam com pacientes oncológicos.
Afinal, eventualmente se deparam com pessoas que fazem perguntas difíceis sobre seus tratamentos.
A Medicina, cada vez mais avançada, aumenta as possibilidades de diagnóstico e tratamento. Porém, muitos pacientes, familiares e amigos têm a mesma dúvida do protagonista, quando, em algum momento, a morte parece mais próxima do que nunca. E como a encaramos?
Questões éticas e jurídicas estão envolvidas neste tipo de decisão, mas está cada dia mais difundida a ideia do tratamento paliativo e do testamento vital.
Outras indicações cinematográficas sobre terminalidade
O filme francês E se vivêssemos todos juntos? trata a finitude de forma leve. A morte chega ao final de uma longa e boa vida. E o elenco traz as veteranas Jane Fonda e Geraldine Chaplin.
Aborda também o problema da solidão na velhice, com suas questões familiares. Hoje, na Europa, muitos grupos de amigos organizam-se em comunidades como a retratada.
No Brasil, algumas iniciativas já estão sendo pensadas.
O terceiro filme é o canadense As Invasões Bárbaras (excelente continuação de O Declínio do império americano, que superou o primeiro filme). Neste, o professor universitário Rémy não se conforma com a sua finitude.
Rémy, um intelectual, não consegue ver sentido na vida e nem na sua morte.
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Conclusão
Os três filmes trazem lições sobre amizades, relações familiares e – também – profissionais. Agradará a quem não tem medo da vida e consegue encarar de frente a única certeza que temos na nossa vida: em algum momento, ela termina.
Mas ainda há tempo para quem ainda está por aqui. Você ainda pode ter uma vida significativa.
Se você consegue não ter medo da vida, você aceita melhor a certeza da morte. A nossa morte não é de todo controlável, nem nossa vida. Mas a gente pode aprender a viver (e consequentemente a morrer) melhor.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Tem formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC), pelo CPAF-RIO, em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia, e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), pelo IPq (USP).
Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial, em Copacabana ou online.