O Brasil vem atravessando um momento conturbado desde junho. Além da violência urbana, “comum”, com a qual aprendemos – erradamente – a conviver, os recentes acontecimentos políticos revelaram que a violência é tolerada ou até estimulada pelos governantes. A polícia é jogada contra o povo o qual teria de defender; acuada, responde de forma inacreditável, que nos envergonha, ferindo gente inocente, de todas as idades. Mas, claro que a situação do país é muito mais ampla e não é a proposta do Confabulando discutir política.



O post em questão aborda a violência invisível que é uma violência sutil. Acontece em diversos níveis, na nossa vida, e muitas vezes a reproduzimos por estarmos repetindo padrões aprendidos, sobre os quais não refletimos. Apenas copiamos, reproduzimos e assim a perpetuamos.

Portanto, é pertinente pensarmos no que fazemos com ela. Em geral, localizamos a causa da violência como vinda de fora. Sempre vem do outro – que pode ser ‘governo’, ‘o sistema’, ‘o/a professor/a’ ou ‘o/a aluno/a’, ‘o chefe’, o vizinho/a’, nosso/a parceiro/a mas … e nossa parte, onde fica? Estamos complementando ou alimentando esta violência? Como você assistirá no no vídeo, muitas vezes, reagimos violentamente também, no piloto automático, graças a alguns pensamentos automáticos que nos vêm.

Se continuamos nos relacionando e alimentando nossa agressividade, sem analisá-la, ela se expande e perpetua. Muitas vezes, de forma desproporcional. Por isto é tão fundamental reconhecê-la. Mais do que reprimi-la, aceitá-la na medida em que reconhecemos o que nos enraivece. Só reconhecendo, sem alimentar, a raiva e outros possíveis sentimentos negativos podem perder sua força.

O que passa pela cabeça na hora em que somos agredido/as? Nem sempre a agressão é física; pode ser verbal ou não verbal. Um simples silêncio pode ser, por vezes, interpretado como agressivo, se soar como descaso. Se temos um tempo de parada, para tomar consciência do que se passa na nossa mente, muitas vezes o significado que atribuiremos mudará. Assim, podemos agir de forma diferente do que era automático, não nos arrependendo depois.

Em determinado momento, a monja menciona Gandhi – por quem tenho imensa admiração e que considero o político exemplar – que definiu que “… qualquer coisa que possa impedir a autorrealização individual – não apenas atrasando o progresso de uma pessoa, mas mantendo-a estagnada – isto é violência.” Foi esta menção que me inspirou a escrever. É bem verdade que tal ponto de vista pode provocar um certo desconforto pois aumenta a consciência sobre a responsabilidade de cada indivíduo em seus relacionamentos. De todos os tipos: profissionais, amorosos, quer sejamos educadores, ou simplesmente pais e mães. Às vezes achamos que estamos sendo amorosos, super protegendo alguém para que não sofra mas estamos , na verdade, impedimos seu crescimento que viria inclusive quando enfrentasse suas dificuldades e limitações.

(Na verdade, temos de nos perguntar sinceramente se queremos evitar realmente o sofrimento alheio, por sermos compassivos ou se não é apenas uma evitação ao problema? Por N motivos diferentes, que vão desde o comodismo, para não sermos mais requisitados ainda, ou para mantermos uma imagem perante os outros ou ainda por um certo prazer de nos sentirmos no controle, criamos uma ilusão nos declarando superiores ou indispensáveis. Tudo bem se você descobrir que o verdadeiro motivo é um destes e você não o considera ‘nobre’. Tudo bem mesmo. Mas, reconheça isto, sinta o desconforto e aceite-o. É o primeiro passo. O segundo é saber que ninguém é indispensável. A vida segue em frente mesmo que você não esteja mais onde está agora. O ser humano se adapta a situações inimagináveis).


Então, assista ao vídeo e palpite. Pode ser discordando totalmente, inclusive… 🙂 Gostaria de saber como você lida com a violência e se reconhece quando a alimenta. Basta clicar no título da matéria, que aparecerá uma caixa para comentários.




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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Atende no Centro e é associada da ATC-Rio.

A violência invisível

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