Casamento não é a experiência mais fácil do mundo, cá entre nós. São desafios diferentes, desde o início, na adaptação. Traumas e experiências prévias, hábitos e valores que podem ser incompatíveis, tudo isto dificulta. Um recurso que pode ajudar bastante é a Terapia de Casal. Mas, a Terapia de Casal, no cinema, costuma ser retratada de forma cômica.
Assim, muitos casais permanecem com dúvidas sobre a validade e eficácia da terapia. Uma pena.
Terapia de Casal no cinema – dois exemplos
No filme Sr. e Sra. Smith, de 2004, a Terapia de Casal não é o foco do filme, que fique bem claro. Mas é usada como recurso de humor para abrir e fechar a trama. E de forma inteligente até, temos de reconhecer.
Na cena inicial, fica claro que o casal tem sérios problemas de comunicação. E que acabam repercutindo na vida sexual.
Comunicação problemática afeta a vivência da sexualidade
Problemas de comunicação são frequentes em casais que chegam em busca de terapia, independente da idade. E há uma relação direta entre a dificuldade de comunicação e a vivência da sexualidade.
Cuidando da comunicação, muitas vezes, a sexualidade conjugal tende a melhorar, você sabia?
Ainda tabu em pleno sexo 21, a sexualidade não aparece como questão apenas em Sr. e Sra Smith. Em Um divã para dois, um casal de meia-idade enfrenta dificuldades sexuais, mas por questões de envelhecimento.
Kay (Meryl Streep) não consegue conversar com o marido, Arnold (Tommy Lee Jones) sobre sua falta de desejo e evitação do sexo. O casal vive uma rotina entediante. Kay, por fim, dá um ultimato: terapia de casal (Steve Carell).
Por que a Terapia de Casal é, muitas vezes, o “último recurso”?
Infelizmente, muitos casais só recorrem a esta modalidade de terapia depois de muitas brigas e mágoas, comprometendo o seu sucesso. Às vezes o casal demora tanto tempo para buscar ajuda que já chega no consultório quando não há mais muita vontade de realmente estar junto.
As crenças românticas são provavelmente um dos fatores que mais contribui para que os casais demorem a buscar terapia.
Várias destas crenças são reforçadas através de filmes, romances, músicas, novelas. Produtos culturais falam de “final feliz” e da existência de “almas gêmeas”.
Que fique bem claro: para um relacionamento amoroso ser bem sucedido é preciso atenção e dedicação. Boa comunicação e flexibilidade psicológica e cognitiva
A ideia romântica de que “se o amor for de verdade, tudo se resolve” infelizmente dificulta.
Como a Terapia de Casal pode ajudar
Um dos principais pontos, tanto da Terapia de Casal (TC) como da Terapia Pré- Matrimonial, é o treinamento das habilidades de comunicação. Para o casal Gottman, especialistas em terapia de casal, o estilo da comunicação predominante serve como preditor do relacionamento amoroso.
Portanto, é fundamental (re)estabelecer uma comunicação respeitosa, sem ironias, ou deboche.
Mas, nem sempre os problemas serão da comunicação – apesar de passarem por ela. Pode haver a necessidade de um tratamento complementar (médico, por exemplo). E de terapia individual.
Também traz à discussão os os valores que o casal têm, com o que se comprometem.
Um divã acaba resvalando no pieguismo, reforçando a crença irrealista de que o amor, por si só, tudo resolve. Quem trabalha a sério com psicoterapia considera o final um desserviço.
Ou seja, em ambos os filmes, a mudança não é provocada pela terapia de casal – o que acaba reforçando a crença de que os problemas se resolverão sozinhos. Esta “moral da história” contribui para que muitas separações aconteçam com as pessoas se amando, por pura inflexibilidade e rigidez.
Amar dá trabalho e não é espontâneo. Amor é aprendido. E pode ser aperfeiçoado.
Em muitos casos, o casal consegue ajustar o que estava indo mal. Michelle Obama falou em uma entrevista que ela e Barack recorreram à TC. E estão juntos até hoje.
Mesmo que o relacionamento chegue ao fim, a terapia possibilita que se finalize de forma mais harmoniosa um relacionamento, sem que se torne um litígio.
Portanto, se o seu relacionamento não tem sido o que você e seu/sua parceiro/a esperavam que fosse, dê uma nova chance. Não espere muito tempo a ponto de não se conseguir resgatar o respeito e a cumplicidade.
Experimentem a Terapia de Casal ou a Terapia Pré-Matrimonial para mudá-lo na direção do que ambos valorizam e querem.
Para finalizar, um pouco mais de humor.
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e em Terapia do Esquema, bem como extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Atualmente atende a jovens, adultos e idosos, em terapia individual, de casal ou terapia pré-matrimonial.
Durante a pandemia de covid-19, atendimento prioritariamente online.