Você sabia que o tempo médio para buscar terapia de casal é de 6 anos? Mas por que será que é preciso tanto tempo de conflito? Talvez por crenças do amor romântico. Casais às vezes romantizam e acreditam que todo e qualquer problema na relação será resolvido, magicamente, por amor, sem precisar de ajuda especializada.
Então, ao começarem as desavenças, muitas delas “normais”, os casais acreditam que aquele relacionamento, em si, não é o “certo”.Consequências da cultura do amor romântico que atrapalham mais o relacionamento do que efetivamente ajudam.
Cultura do amor romântico
O relacionamento amoroso “perfeito”, onde não há problemas sem solução, em que as pessoas se entendem telepaticamente, só existe nos filmes. As comédias românticas americanas (romcom, como são conhecidas) criaram altas expectativas, muito difíceis de serem atendidas, gerando muita frustração.
Casais precisam saber que alguns problemas são insolúveis – e tudo bem. Podem nem ser a maioria dos problemas, mas então é preciso aprenderem a negociar e flexibilizar.
Obviamente, quanto mais tempo o casal em crise demorar a iniciar o tratamento, mais mágoas terão se acumulado. E isto certamente dificulta e prolonga o processo da terapia de casal.
O que é preciso saber sobre relacionamentos amorosos?
- Para começar, relacionamentos amorosos demandam trabalho. Atenção. Consideração.
- Não existem relacionamentos perfeitos. Se as pessoas não são perfeitas – como um relacionamento humano poderia ser?!?
- A comunicação amorosa não violenta, com uma escuta empática aproxima o casal.
- O par deve desenvolver abertura e flexibilidade para entenderem as necessidades emocionais um do outro. Devem se empenhar em desenvolver inteligência emocional.
Problemas no relacionamento
É só uma mera questão de tempo para que o casal descubra divergências. Afinal, o relacionamento amoroso é o encontro de duas pessoas com históricos diferentes, vindas de famílias que podem ser de origens bem diferentes. A cultura familiar implica em hábitos e valores diversos.
Além disto, cada pessoa traz sua experiência amorosa. Se existirem traumas – vindos da infância, da adolescência ou até do último relacionamento – a pessoa pode ter esquemas de desconfiança e abuso. Assim, vai usar estratégias de defesa, mesmo quando o par não apresenta nenhum risco. Ou mesmo atacar. Não ter nenhum histórico amoroso também pode causar insegurança no próprio valor.
Alguns dos nossos esquemas são complementares ao da pessoa que nos atrai. É o que chamamos de “química esquemática”. Sem nos darmos conta, somos atraídas por pessoas que vão ativar nossos esquemas iniciais desadaptativos.
Assim, o convívio íntimo traz à tona muitas das nossas dores emocionais do início da nossa vida. E precisamos ser compassivos com nosso par, mas também autocompassivos.
Ciúme em relacionamentos na era digital
Muitas vezes, na terapia de casal (e também na pré-matrimonial), o ciúme do passado amoroso surge como ponto de conflito. Este tipo de ciúme também é conhecido como ciúme retrospectivo ou retroativo. Recentemente tem sido muito estudado, com o surgimento das redes sociais. Afinal, elas possibilitam acesso a informações sobre o passado amoroso do seu par. E, fora de contexto, com interpretações erradas,pode contribuir para conflitos – muitos desnecessários.
Também é importante negociar o tempo de uso de internet – que é outro motivo de ciúme, que pode fazer o(a) parceiro(a) se sentir desconsiderado(a), não prestigiado.
Certamente, “amar dá trabalho“. O amor é uma habilidade, a ser desenvolvida, como afirma o filósofo Allain de Botton.
Cabe a você fazer a sua parte para que dê certo. E muito da sua parte demanda flexibilidade psicológica e cognitiva, bem como aceitação da pessoa que você escolheu. Ela não é perfeita. E você também não.
Terapia de casal ou pré-matrimonial:para quê?
Em terapia de casal ou pré-matrimonial, cada pessoa precisa assumir sua responsabilidade e o compromisso com o processo e com seu par. A clareza sobre o que esperam da terapia também é importante. A intenção é ficar juntos ou separar, de forma amigável?
O compromisso mútuo e com o processo terapêutico determina o sucesso da terapia.
Em muitos casos, apenas uma pessoa do casal sabe o que quer da relação. O espaço e tempo aberto para a terapia ajudam a clarificar o objetivo do casal. Não é raro que quem queira manter a relação recorra à terapia como tentativa de convencer a outra pessoa a continuar. Mas o(a) psicólogo(a) estabelece – com ambas – o objetivo daquele processo terapêutico.
Importante: se uma das pessoas já faz terapia, a Terapia de Casal (ou Terapia Pré-Matrimonial) deve ser feita com outro(a) psi, para que não haja problemas no vínculo, para que não haja desconfiança. Nenhuma das pessoas atendidas deve sentir que o(a) psi está privilegiando a pessoa que atendia antes. Ou que ele/ela tem informações privilegiadas.
Treinando as habilidades de comunicação na terapia de casal ou pré-matrimonial
A comunicação do casal deve ser empática, compassiva, com foco nas emoções. Deve-se evitar a crítica – quem não se fecha ou se defende diante dos ataques críticos? Porém, aprendemos o estilo de comunicação com nossos cuidadores iniciais. Assim, faz parte do processo terapêutico identificar os padrões aprendidos na infância. A partir há o “treino” da comunicação.
Em suma: é preciso aprender e adotar como padrão para o casal a comunicação mais empática e compassiva, não violenta.
Os pesquisadores do The Gottman Institute desenvolveram uma metodologia que permite afirmar com precisão se um casal vai ou não se separar, observando a forma com que o par amoroso se comunica.
Assim, uma das primeiras coisas que terapeutas de casal devem fazer é observar a comunicação do casal e ensinar como melhorá-la.
Terapia online para casais
Como mencionado anteriormente, o tempo é fundamental para que as divergências não se aprofundem. e não se avancem limites das quais ficaria impossível recuar, sem muito sofrimento.
Se você acha que o seu relacionamento está em crise, e quer investir nele, converse com o seu par amoroso. Busque a terapia adequada pra vocês o quanto antes.
Referências
Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row
Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.
Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications
Thays Babo é psicóloga (CRP 05/23827), Mestre em Psicologia Clínica (Puc-Rio), possui Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Terapia do Esquema, bem como extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso.
Atende a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial, em Copacabana e online.