Conhece alguém que ache que tem tempo sobrando? Eu, não. A cada dia que passa, mais ouço pessoas se queixando de que o tempo parece cada vez mais curto para cumprir as obrigações e conseguir fazer as coisas de que gostam. Queixam-se também de cansaço e insônia.
Mesmo agora, durante a pandemia de coronavírus, é muito a fazer para o pouco tempo que se tem. O confinamento decididamente tem afetado a saúde mental das pessoas, em todo o mundo. No Brasil, a ansiedade e a depressão aumentaram, bem como outros transtornos. O consumo de álcool, por exemplo, subiu muito e assusta os especialistas.
A pandemia tem proporcionado um tempo a mais para reflexão. É hora de analisar o que devemos manter na nossa vida quando a fase passar. Porém, refletir sobre isto pode gerar angústia. Assim, neste momento, (re)iniciar um processo de terapia, ainda que online, ajuda a lidar com as questões tão específicas que se apresentam neste momento.
Vida após a pandemia do Covid-19…
Surgido no final de 2019, o coronavírus bagunçou a nossa vida. Haja flexibilidade para se adaptar.
Mudanças não programadas desestabilizam muitas pessoas que acreditam ter total controle sobre a vida. Para elas, aceitar que há coisas que não dependem diretamente de sua vontade ou que não estão sob seu controle é bem mais difícil.
Mas não dá para continuar a vida exatamente como antes. Elas precisam aprender a redistribuir o tempo. E aceitar que elas não ditam o ritmo agora.
Dizem que quem quer fazer alguma coisa “consegue um tempo“, ou que “é apenas questão de prioridade“.
Pessoalmente, não concordo com esta crença. Existem outras questões além do simples querer. Não cuidamos só do que é importante. Algumas obrigações nos afastam de coisas que valorizamos. Ceder e conceder fazem parte da arte de se relacionar.
Porém, há limitações das leis de física: não conseguimos estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ao menos por enquanto. Assim, equilibrar e distribuir o tempo, exige disciplina e foco. E compromisso com seus valores pessoais.
Eventualmente, para se aproximar de alguns valores, há um afastamento de alguns outros. E tudo bem, desde que você esteja consciente disto.
A tecnologia digital durante a pandemia
Durante a pandemia, notícias não param de chegar por vários canais. Não passe o tempo todo consumindo informações. Em excesso, elas prejudicam a saúde mental e emocional.
Apesar de o aumento de consumo de tecnologia se dever , em muitos casos, ao home office, durante a fase de distanciamento social, fique alerta para não entrar no ritmo alucinante de consumo de informação.
De vez em quando, você deve ficar off. Sem internet, sem TV. Desta forma, você pode se recarregar e atentar para o que está a sua volta. Ao fazer isto, talvez você perceba que seu ambiente está mais tranquilo do que sua mente – o que é suficiente para você se ancorar no momento presente.
Aceite que vida perfeita não existe
Por mais que você acredite que algumas pessoas têm a vida perfeita – principalmente se segue youtubers ou influencers – nem tudo é verdade, muito é apenas estrategia de marketing. Certamente, você e nem ninguém consegue viver em eterno equilíbrio.
É o processo de tentar o equilíbrio que nos deve inspirar – aceitando que, de vez em quando, o desequilíbrio vai acontecer, sim. E pode ser útil, se ele trouxer o compromisso com a mudança na direção do que se valoriza, de verdade.
Quando a pandemia passar, faça diferente.
Pare hoje mesmo e avalie: como está a sua satisfação com a sua vida? O que não conseguiu realizar – e por quê? Possivelmente percebeu que seus valores podem ser diferentes daqueles que você imaginava.
Faça o balanço: você se comprometeu com seus valores até aqui – antes do coronavírus? Suas ações estavam alinhadas com eles? Ou você se afastou do que você valoriza de verdade?
Ou simplesmente faltou tempo? Tente observar se é o tempo do processo em si, que não permitiu ainda colher os frutos, ou se é o tempo desperdiçado. Para o primeiro, paciência. Para o segundo, consciência, autocompaixão e foco.
Aproveite o tempo de quarentena e redefina o que realmente é valioso para você. A partir daí, comprometa-se.
Talvez esteja na hora de investir no seu autoconhecimento e (re)começar um processo de psicoterapia. Principalmente se percebeu seu humor muito instável nos últimos meses. Você pode, mas não precisa, esperar a virada de ano para “começar de novo” . O que for valioso pra você pode começar o quanto antes. Aliás, deve.
O que acontece quando alguém faz psicoterapia?
A psicoterapia traz o autoconhecimento. Você entra em contato com os pensamentos e emoções que paralisam você, fica mais consciente.
Reconhecidos, tais pensamentos e emoções já não causarão tanto prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas. Você pode quebrar o padrão destes pensamentos, parar o ciclo.
Você também reconhece seus valores, estabelece objetivos, diminui as expectativas. Compromete-se com ações mais engajadas. Aprende a aproveitar o que se apresenta agora. “Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar).
E o tempo?
O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o humor.
Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo. Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais.
Para que a psicoterapia serve?
Dependendo da circunstância, insistir nos projetos não significa resiliência, nem persistência, e sim teimosia. Pode ser mera perda de tempo. Talvez você só precise de mais tempo para analisar o que realmente importa.
Observe e mude o que pode ser mudado, na direção do que você quer. A compaixão e autocompaixão serão muito importantes no seu processo de mudança. Ainda mais, enquanto a pandemia durar. A vida não é linear. Prepare-se para lidar com os altos e baixos.
Durante a pandemia de coronavírus, atendimento exclusivamente online, a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial.
Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science).