Lunchbox não foi tão badalado aqui no Brasil, apesar de premiado no festival Amazonas Film Festival de 2013. Também conquistou o Prêmio do Público, em Cannes (em 2013). Com uma produção aparentemente barata, multinacional, traz um elenco super reduzido para contar uma história bem simples: um erro no sistema de entregas de marmita de uma empresa indiana faz com que a marmita que Ila diariamente prepara para o marido seja entregue a Fernandez, um contador prestes a se aposentar. Empenhada que está em aprender a cozinhar para conquistar seu marido, Ila logo percebe o erro. E daí começa uma troca de mensagens com a pessoa que recebe a marmita. A comunicação entre Ila e Fernandez lembra a correspondência de antigamente, tão diferente da interatividade de hoje em dia, em tempo real.
Lunchbox não fala da Índia mítica, devocional. Mostra seu lado sujo, com trens lotados, e o dia-a-dia de duas pessoas comuns, com suas dores, descobertas, alegrias. Assistimos à dificuldade de comunicação entre pessoas próximas, bem como à solidão. Tanto de quem está sozinho como de quem vive em um relacionamento estável em uma sociedade tradicional como a indiana. O filme exemplifica como se pode ser tão íntimo de alguém a quem não se conhece, a ponto de expor os sentimentos, sem medo de julgamentos, por se ter uma barreira de proteção.
O confronto entre o velho e o novo também fica evidente. O medo de arriscar e se decepcionar em constraste com a coragem de arriscar são mais alguns dos ingredientes existenciais que dão tempero ao filme. Muita complexidade para um filme aparentemente tão despretensioso, que merecia ter sido mais visto e comentado.
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Atende a jovens, adultos e casais no Centro e em Copacabana
