Queixas sobre falta de tempo não param de crescer. Muito se tem atribuído ao uso excessivo de tecnologia. A tecnologia digital, que deveria nos liberar para tarefas mais nobres, parece ter encurtado o tempo encurtou ainda mais.
Assumimos novas funções e somos encontrados 24 horas por dia. Quem não consegue dar limites fica 24 horas online, disponível para o trabalho, para a família, para os amigos.
Consequências para o corpo e para a mente
O uso excessivo da tecnologia digital prejudica a saúde física e mental. A memória, concentração, o aprendizado e a atenção plena ficam prejudicados com o uso excessivo dos dispositivos eletrônicos.
O maior acesso à tecnologia digital também está relacionado ao maior nível de depressão e ansiedade.
Tecnologia digital e os conceitos de multitarefa e monotarefa
O smartphone sabotou o controle corporativo do tempo gasto online e, certamente, muitas pessoas atrasam suas entregas por navegarem nas redes sociais. Já foi comprovado que a mera presença do smartphone no ambiente atrapalha a concentração. Especialistas dizem que só a vibração já prejudica a atenção. Desta forma, uma das formas de reduzir a distração é desativar (sons de) notificações.
Pandemia e a importância da tecnologia digital
Durante a pandemia de covid-19, no entanto, com as pessoas trabalhando em home office, o tempo gastou passou ao controle da chefia.
Algumas empresas dispararam em produtividade porque as pessoas, temendo perder seus empregos, ficam mais tempo disponíveis, tendendo à exaustão. É preciso dar limites também às chefias.
Ser multitarefa é ótimo apenas para as corporações. Assim mesmo, a curto prazo. Por tempo prolongado, prejudica a qualidade da execução da tarefa propriamente dita e, dependendo da tarefa, pode colocar vidas em risco.
Descobertas recentes da neurociência mostram que o ser humano deve ser monotarefa. E no homeoffice o que as pessoas precisaram foi de serem flexíveis e multitarefa – tendo de lidar com o cuidado de casa, dos filhos e a entrega no trabalho.
Impactos da tecnologia digital
Na profissão
Eventualmente, atrapalha a ascensão profissional, quando a exaustão deteriora a qualidade das entregas, que pode inclusive gerar demissões. Ao não atingirem metas pessoais, a culpa, vergonha e demais sentimentos negativos surgem. Então, é mais do que necessário aprender a dar uma desconectada do seu celular. Para conseguir realizar suas tarefas dentro de prazos, esconda ou desligue o telefone para focar no que você precisa fazer já.
Pesquisadores apontam que o uso excessivo da tecnologia gera procrastinação, que muitas vezes tem a ver com outras questões emocionais – como a ansiedade, por exemplo.
Nas relações amorosas
Além do impacto na esfera profissional, relacionamentos amorosos e familiares podem ser prejudicados, pelo uso excessivo do celular, que tem sido queixa frequente em terapia de casal.
Quem usa em excesso deixa seu par de lado. O tempo de interação pessoal e física diminui. Coisas do dia a dia, aspirações e projetos não são compartilhados olhos nos olhos. E, assim, o tempo que se poderia dedicar à maior interação física, ao toque e a sexualidade também é reduzido.
É sabido que tocar, beijar, abraçar liberam neurotransmissores que ativam a felicidade e o prazer. Portanto, maior atenção aos momentos de maior intimidade física contribui para estreitar e manter o relacionamento amoroso.
Ficar o tempo inteiro com os olhos na tela do celular ou do notebook pode ativar sensações de abandono, menos valia e até despertar ciúmes – mesmo quando as mensagens são trocadas com família ou grupos de amigos.
De certa forma, a tecnologia digital pode ser considerada uma rival do casal.
Redes sociais
Um advogado americano atribui ao Facebook uma grande responsabilidade em divórcios. Mas outras redes sociais, como Instagram, estão relacionadas com depressão e ansiedade porque aumenta a comparação.
Comparar-se a outras pessoas pode criar grande sofrimento mental. Imagina-se que o mundo inteiro tem uma vida mais interessante. E muitas das vezes isto nem é verdade!
Nas relações amorosas
Nas relações familiares, as interações diminuem nos encontros.
Também diminui a percepção do prazer: a comida parece menos saborosa, já que não se presta tanto atenção a ela.
Como não se exceder
Consultores de tecnologia apontam dicas, principalmente para jovens.
Pessoas já nascidas na era digital perderam algumas experiências importantes, de relacionamento interpessoal e também estão perdendo algumas habilidades sociais – como por exemplo iniciar uma conversa, pessoalmente, dar um telefonema e responder às chamadas.
Pediatras também apontam que crianças muito pequenas são mais prejudicadas do que beneficiadas, com o uso da tecnologia, prejudicando o desenvolvimento cognitivo.
Nomofobia
Nomofobia significa “no mobile phobia” – ou seja fobia de ficar sem o dispositivo móvel – o celular. Há um caráter de adição no uso excessivo de tecnologia.
Heavy users de smartphones fizeram com que o designer Marc Jacobs radicalizasse, ao bloquear o uso de celulares em seus desfiles, por considerar falta de respeito o uso que as pessoas têm feito.
Gerenciamento de tempo no celular
Mas como diminuir o tempo desperdiçado nas redes sociais, em especial? Especialistas sugerem uma atitude que pode parecer radical para os adictos: deletar os aplicativos do celular.
Em uma palestra TED, Rory Vaden questiona o conceito de gestão de tempo e, de forma clara e direta, explica que não se tem como aumentar o tempo: cada dia tem 24 horas, que tem 60 minutos, cada um com 60 segundos.
Ou seja, o que se precisa é administrar suas emoções para usar bem o tempo que se dispõe. Assim, não haverá do que se lamentar depois. Nas suas criticas às ferramentas de gestão no tempo, Vaden afirma que o foco tem de ser na autogestão.
Aprender a dizer ‘não‘ – a si mesmo/a, adiando o prazer e diminuindo a esquiva das tarefas enfadonhas – é importante para se filtrar o que se tem a fazer. E sugere que se exclua o que não se precisar fazer mesmo. Aplicativos de autogestão de tempo também podem ajudar (como o Space).
Como a terapia pode ajudar
A autogestão, o dizer ‘não’ para si mesmo, saber filtrar, não é fácil para a maioria das pessoas. Likes numa rede social libera dopamina. Mas não o suficiente e aí você fica mais tempo online.
Por isto desconectar-se pode gerar emoções que você terá de enfrentar com argumentos racionais e lógicos. E consciência.
Deixe-o longe de você. Se esta ideia gera ansiedade, procure ajuda especializada, antes que isto prejudique seu trabalho, suas relações familiares e seu relacionamento amoroso.
Entenda o que você evita, o impacto de suas escolhas. Se o excesso de tecnologia afasta você dos seus valores principais, dê um tempo. Procure ajuda psi. Faça psicoterapia.
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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia.
Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial, presencialmente em Copacabana e online.