Relatos Selvagens foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro mas não levou a estatueta, apesar de ter conquistado vários outros prêmios. Relutei em ver pois evito assistir a conteúdos violentos (nisto incluo filmes de guerra, ação, terror etc), a fim de proteger a minha mente. Quanto mais realista e bem produzido, mais eu evito: bastam os muitos conteúdos violentos não solicitados, todos os dias, que vejo por todos os meios de comunicação… Foi aclamado pela crítica, mas trazia o tema raiva e a vingança.
Até que uma amiga disse: “Você, como psicóloga, TEM que ver.” Ok, lá fui eu, até porque o argentino Ricardo Darin está no elenco. Além do Darin, um dos episódios é de Almodóvar (meu diretor europeu predileto, no momento).
Eixo condutor do filme: a raiva
Em Relatos, as pessoas experimentam raiva em situações banais, que podem acontecer com todo mundo. São seis episódios – um especialmente sanguinolento e escatológico, a meu ver, mas totalmente no contexto da ira. Em cada capítulo, situações e personagens muito diferentes. É um risco falar de cada um deles, pois correria o risco de revelar o final. Mas, “você tem que ver!”
A raiva vem e pode passar
A raiva é uma emoção humana que pode ir embora se você não alimentá-la. Neste filme, o que desperta a ira nas personagens ora é a injustiça, ora a burocracia, traição, ou o sentimento de que tudo fica impune. A corrupção e a arrogância também.
Em algumas cenas, você pode até se identificar com a pessoa enfurecida daquela história. Os furiosos do filme são (quase todos) pessoas ‘normais’, como qualquer um de nós. Mas, em um determinado dia de suas vidas resolvem não relevar. Assim, em cada episódio, a forma com que as personagens expressam sua raiva vai ao limite. E todos passam pela vingança.
A raiva não trabalhada explode em vingança
Cá entre nós, espanhóis e argentinos têm sido fantásticos nos filmes de vinganças (vide O segredo de seus olhos e A pele que habito – este último, de Almodóvar). Em alguns dos episódios de Relatos, as vinganças são, digamos, vitoriosas.
É ‘divertido’ nas telas, sempre trazendo um toque de humor para aliviar o que seria trágico se fosse vida real.
Só que mais do que identificação (ou projeção) deve levar a uma reflexão. Na vida real, como lidamos com nossas fúrias? Podemos reconhecê-las. Falar delas? Ou vamos ao limite?
Se você costuma se vingar, qual o preço pago por isto?
A vingança é um prato que se come frio
A vingança está intimamente ligada ao engrandecimento do ego, a quanto a pessoa vingadora se atribuía de importância, o quanto tinha de inflexibilidade diante da vida.
Na tela, assistimos a seis boas histórias, que nenhum de nós gostaria de viver. E olha que os vingadores – na dramaturgia – muitas vezes geram uma identificação nos espectadores, ao fazerem justiça por nós, em situações em que simplesmente desistimos.
Regulação emocional
Você sabe o que desperta sua raiva? Reconhece o preço que paga por sentir a raiva? Muitas pessoas optam por alimentá-la, sentem um certo prazer. Mas podem ser muito prejudicadas nas suas relações pessoais, profissionais e familiares.
Você fica sob domínio da raiva, explode? Ou consegue regular as suas emoções?
A psicoterapia pode ajudar bastante, bem como a meditação. Informe-se sobre as terapias que trabalham com mindfulness – como terapia de aceitação e compromisso.
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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, praticante de meditação há 15 anos e adotou o mindfulness no seu repertório como psicoterapeuta. Com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso é associada da ATC-Rio e da ACBS, atende em Copacabana a jovens e adultos em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial