Você tem a sensação de tempo curto, ou melhor, de que não dá tempo para nada? Veio ler este texto na esperança de aprender como multiplicar o seu tempo? Bem vindo ao clube! Estamos sempre correndo e nos queixando com os amigos e familiares de que não sobra tempo.
Infelizmente, não há como multiplicar o tempo. Você vai precisar aprender a renunciar a algumas coisas, a dizer alguns nãos sem medo de desagradar. E gerenciar melhor o seu uso de tecnologia – este sim, um grande ladrão de tempo
Eu também sinto necessidade de que precisava de mais horas. Precisaria porque trabalho mas quero estar com as pessoas que amo, me cuidar e também descansar… Mas, o dia continua tendo 24 horas e cada uma com os mesmos 60 minutos. Cada minuto com 60 segundos.
O que rouba o nosso tempo
O uso excessivo de tecnologia tem sido apontado como um dos ladrões de tempo. Pesquisadores da área da saúde física e mental têm alertado para os prejuízos do uso excessivo da tecnologia digital – em especial o tempo passado nas redes sociais. Um estudo recente mostrou que o problema não é o uso da internet e sim das redes, que prejudicam a saúde mental. E as suspeitas aumentam já que as empresas não disponibilizaram os dados para a pesquisa.
Estando consciente do que rouba o seu tempo você pode mudar hábitos e comportamentos. Não é tão fácil, mas pelo menos vai diminuir a sua sensação de que está desperdiçando sua vida. A vida online rouba tempo da vida offline. Não tem como a gente estar em dois lugares ao mesmo tempo – lei básica de Física newtoniana.
Smartphones impactam na saúde física e mental
A criação dos smartphones aumentou o nosso consumo de tecnologia. Mudamos hábitos. Deixamos hábitos saudáveis de lado. Assim, os prejuízos se dão tanto na sua saúde física como na emocional e também na saúde mental. Os smartphones também revolucionaram os relacionamentos, em todas as esferas.
Dentre os impactos na saúde mental, destacam-se os prejuízos da memória, atenção e concentração. O aprendizado é comprometido – durante a época de pandemia e período de quarentena, este prejuízo ficou bem evidente. Mas as consequências serão conhecidas a longo prazo.
A interação física diminui, contribuindo para aumento de depressão e ansiedade. Também aumenta o nosso peso, por conta do sedentarismo – comprometendo, assim, a saúde física e também a saúde mental.
A vida profissional na era digital
Para controlar a queda na produtividade, no início da internet, muitas empresas bloqueavam o acesso à rede. As redes sociais fizeram com que limitassem o tempo de acesso – ou até bloqueassem alguns sites . O tempo era monitorado para não prejudicar a produtividade.
O smartphone sabotou este controle. O prejuízo não é só corporativo: a médio e longo prazo, há um prejuízo pessoal.
Além disto, prazos não cumpridos, por conta da distração online. As redes, enfim, atrapalham o trabalho e os resultados de equipes. E, quando você não atinge suas metas pessoais – ou acontece uma demissão – como você se sente?
Muitas pessoas relatam culpa, vergonha e sentimento de fracasso. A autoestima e autoconfiança ficam abaladas e pode-se desenvolver um quadro depressivo.
Descobertas mais recentes da neurociência mostram que o ser humano deve ser monotarefa. O conceito de multitarefa é ótimo para as corporações, mas não para as pessoas. Ser multitarefa inclusive, prejudicara qualidade da execução da tarefa propriamente dita e pode colocar a vida em risco (por exemplo, dirigindo enquanto se usa o celular).
Trabalhando em casa – vantagens e desvantagens
Aí veio a pandemia e o uso da internet se intensificou. As pessoas passaram a trabalhar em homeoffice, que tem aspectos bem positivos mas também pode aumentar o estresse, quando a pessoa não consegue estabelecer limites entre o profissional e o pessoal.
Quem mora em ambientes pequenos, com outras pessoas invadindo o horário e espaço de trabalho – que fazem parte do ambiente doméstico – fica ainda mais estressado. Fora o custo de uso do equipamento pessoal e conta de energia, que as empresas começaram a economizar, sem repassar auxílio para quem trabalha. Algumas pessoas adoram a flexibilidade, por ter maior tempo para convívio com os filhos e filhas – mas este sentimento não é unânime.
Smartphones e os relacionamentos afetivos
Os relacionamentos amorosos e familiares podem ser prejudicados, se não houver autocontrole. Através dos aplicativos e redes sociais, pessoas se aproximam mas também se afastam – muito por causa do comportamento online.
Os smartphones possibilitam que pessoas ansiosas tentem controlar o/a parceiro/a. Tanto mandando mensagens por whatsapp quanto verificando se elas estão online. Se não respondem, se desesperam. Como as habilidades sociais diminuíram, em especial nas novas gerações, evitam telefonar. Às vezes bombardeiam com mensagens de texto e não lhes ocorre que um simples telefonema, pela operadora, aumentaria a chance de ser ouvida/o. Dá saudade até da era analógica…
O uso excessivo da tecnologia aparece como queixa frequente para a terapia de casal. Heavy users deixam seu par de lado e mergulham no smartphone. Carregado pra cima e pra baixo, o celular chega à cama.
Levar o smartphone pra cama dificulta a comunicação com quem está próximo, ao lado. O tempo dedicado à comunicação olho-no-olho, ou à interação física, ao toque e a sexualidade (ingredientes importantes para uma relação amorosa), é investido em interações superficiais. Ou mesmo informações desnecessárias ou memes.
Como a saúde física e emocional são prejudicadas?
Já foi comprovado que a mera presença do smartphone no ambiente atrapalha a concentração e distrai. E prejudica o sono.
- Nos encontros com a família, as interações diminuem e a comida fica menos saborosa. Pode-se inclusive comer mais por isto – impactando também no ganho de peso;
- Especialistas dizem que só a vibração já perturba e que sons de alerta para notificações tornam a pessoa ainda mais distraída – produtividade cai;
- O sono também fica alterado e aumentam os casos de insônia. Para dormir melhor, o celular deve ser deixado fora do quarto na hora de dormir. Se ele for o seu despertador, considere comprar um analógico.
Infelizmente, as crianças usam dispositivos digitais cada vez mais cedo- o que prejudica o desenvolvimento de habilidades sociais. Especialistas recomendam que só usem após os 5 anos. Em alguns países, o uso na escola está sendo limitado.
No entanto, muitos pais e mães usam como babá, para que as crianças se distraiam e consigam, então, ter tempo para si. Os efeitos disto serão percebidos no futuro.
O impacto dos smartphones nas novas gerações
Quem já nasceu na época de tecnologia digital perdeu algumas experiências importantes, de relacionamento interpessoal. Perdeu também algumas das habilidades sociais. Talvez por isto, as pesquisas apontem que as novas gerações têm menos relações sexuais do que as anteriores. Consomem mais pornografia online, o que gera mais problemas nos relacionamentos. E mais solidão.
As pessoas mais jovens têm menos paciência com processos mais lentos. Ou pessoas.
Alguns consultores de tecnologia apontam dicas para minimizar os problemas advindos daí – um deles é a depressão, que aumenta entre os jovens.
Um novo mercado: os dumbphones
A indústria, percebendo estes conflitos, criou um nicho de aparelhos ‘alternativos’, na contramão dos mais modernos e conectados: os “dumbphones“.
Sem tantos aplicativos e recursos, dispersa-se menos. É possível multiplicar os seus intervalos para coisas mais significativas do que redes sociais.
O público alvo? Pessoas, saturadas de tanta tecnologia e irritadas com a interferência do celular.
O designer Marc Jacobs radicalizou ao bloquear o uso de celulares em seus desfiles, por considerar falta de respeito o comportamento das pessoas em seus eventos.
Radicalize: delete
Mas como diminuir o tempo desperdiçado nas redes sociais, em especial? Especialistas sugerem uma atitude radical: deletar os aplicativos do celular. Afinal, o design para os aplicativos no smartphone é ainda mais viciante, por ser mais fácil.
Mas você também precisa aprender a gerir seu tempo. Muitas vezes existem outras questões emocionais para você se distrair na rede. Você pode estar querendo se desligar da realidade, mesmo.
Em Terapia do Esquema, dizemos que o modo “Protetor Desligado” está ativado. Esteja consciente do uso que você faz do seu tempo.
Em uma palestra TED, Rory Vaden questiona o conceito de gestão de tempo. De forma clara e direta, Vaden explica que é impossível aumentar o tempo. Você precisa é administrar suas emoções para usar bem o tempo que se dispõe. E parar de lamentar o tempo perdido.
A autogestão, o dizer ‘não’, saber filtrar, não é fácil para a maioria das pessoas. Depende menos de argumentos racionais e lógicos e mais da gestão das emoções. O primeiro passo é reconhecê-las.
Por que é tão difícil mudar hábitos online?
Sua dificuldade de reduzir o tempo que passa online – seja nas redes sociais, aplicativos ou jogos – não é casual. Este não é um problema só seu. Todo o design e programação visam a tornar os jogos e as redes viciantes, mesmo. Assista ao documentário O dilema das redes, disponível na Netflix, para entender melhor como é tudo projetado para prender você.
Por isto, não se culpe. Nem alimente crenças autodepreciativas.
Porém, talvez para mudar mais hábitos e conseguir deletar aplicativos do celular, talvez seja necessário buscar ajuda. Talvez se conectar mais tarde, depois de ter feito coisas importantes antes – como atividade física, por exemplo. Se estiver muito difícil de pensar alternativas, procure ajuda psi. Faça psicoterapia.
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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e Terapia do Esquema, com atualização em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). .
Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial, em Copacabana e também online.