Em uma sociedade de espetáculo, o título “As vantagens de ser invisível” pode não despertar muito interesse no público ávido por 15 minutos de fama. Talvez seja por isto que, aqui no Rio de Janeiro, o filme já esteja em um número restrito de salas e parece se encaminhar pra consumo em DVD ou blue-ray. O que é uma pena. Sem adiantar muito, para não estragar, esta produção americana agrada não só a quem já passou dos 30 e não esqueceu como era ser adolescente como também pode ser muito bom para quem tem filhos adolescentes. Adolescentes – que deveria ser o público-alvo principal – gostarão mais do filme se tiverem bom conhecimento musical. Mas, os que enfrentam a transição para a vida adulta, com o final da escola , tendo de decidir qual Universidade ir e fazer escolhas podem se identificar com algum personagem…
Baseado no romance de Stephen Chbosky, roteirista estreante como diretor, poderia ser apenas mais um filme sem graça sobre o high schoolamericano mas é um retrato sensível de Charlie, um adolescente totalmente diferente dos demais. A trilha musical é ótima, os personagens crescem ao longo do filme e revelam cada vez mais sua sensibilidade e sua fragilidade. O elenco teen manda bem, em especial o trio principal – Logan Lerman, Ezra Miller e Emma Watson. Tudo isto sem resvalar no drama lacrimogêneo e sem ser superficial.
E quais seriam afinal as vantagens de ser invisível? Talvez a primeira pergunta devesse ser o que torna uma pessoa “invisível” aos olhos de um grupo. Charlie, o protagonista, tem o perfil ideal para sofrer bullying e, aos 15 anos, parece não ter o básico das chamadas “habilidades sociais”: mostra uma enorme dificuldade de se relacionar com outras pessoas mas uma vontade igualmente de fazer amigos. Inicia o ano letivo apreensivo, contando os dias para que ele acabe. Percebe-se também que sua família se preocupa bastante com sua saúde psíquica, mas Charlie tem liberdade para ir e vir na hora que quiser e então fica-se sem saber bem o porquê até os últimos 10 minutos, talvez. Com informações salpicadas aqui e ali sobre seu passado, Charlie vai conseguindo se movimentar cada vez mais, conquistar seu espaço, encontrar sua turma dentre os que também são considerados ‘esquisitos’. Sua união vem justamente da semelhança de ser diferente dos demais.
Com seus amigos, aprende a aproveitar as vantagens da invisibilidade, se fortalecendo nela. E, em se tratando de adolescência, temas como sexualidade e drogas não poderiam faltar. Mas o principal é o vínculo de amizade, como ela cura e salva quando as pessoas se apoiam mutuamente, sem interesses escusos – ou seja, amizade pura.
Charlie, apesar de todo o medo que tem diante da vida, vai em frente, se lança, se arrisca. É um ‘herói’ com muitas limitações, adoentado, mas que cresce apesar de todas elas. Pelos temas abordados, também pode ser usado por profissionais que lidem com adolescentes – como psicólogos, educadores e professores – como pontapé inicial para discussões sobre as transições para a vida adulta.
Como somos todos heróis, por mais que muita gente não se dê conta disto, a música de David Bowie não poderia faltar na trilha sonora…
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio e atende no Centro.