Mindful dating? Digo logo que não fui eu que criei o termo, que parece apelativo para vender consultoria ou cursos (sou daquelas pessoas que questionam o McMindfulness).
Uma rápida pesquisa no Google mostrou que o termo já vem sendo usado há tempos. Inclusive tem muito coach vendendo este serviço – inclusive no Instagram.
Mindful Dating – do que se trata?
Antes de pesquisar sobre mindful dating, refletia sobre a importância do mindfulness na vida cotidiana. E o quanto pode ajudar a quem ainda está procurando um par amoroso. Em especial quem usa aplicativos de relacionamento – como Tinder, Happn ou Inner Circle, por exemplo.
Sempre há um certo risco em conhecer pessoas – seja presencial ou virtualmente. Aplicativos podem favorecer golpes e uma certa ansiedade é até benéfica, porque a ansiedade pode proteger você.
Por isto é preciso ter atenção porém sem paranoia. A ansiedade tem uma função evolutiva. Tendo cautela, sobrevivemos.
O problema é o excesso de cautela, quando a ansiedade paralisa você a ponto de evitar todas as situações em que ela surja
A ansiedade no uso dos aplicativos
Pessoas ansiosas sofrem em todas as etapas no uso de aplicativos de relacionamento: ao criar um perfil, ao buscar matches. Ao conversar e dar acesso a outras contas – como Facebook, Instagram ou Whatsapp também podem sentir muita ansiedade.
Mas o evento mais ansiogênico costuma ser mesmo o primeiro encontro. Se a ansiedade for muito intensa, a pessoa pode até não comparecer ao date. Ou ir, mas não se apresentar.
Ou ir mas não falar o que queria, não conseguir estabelecer um bom diálogo.
Todas estas são situações reais. Recentemente, um filme na Netflix selecionou algumas situações bem comuns de aplicativos.
Usando a plena atenção para os relacionamentos na era digital
Até bem pouco tempo, primeiros encontros eram mediados por pessoas amigas. Ou as pessoas se conheciam em ambientes que frequentavam, como trabalho, igreja ou escola/faculdade. Você tinha uma referência de quem era aquela pessoa.
Assim, a ansiedade estava mais para uma boa “expectativa”. Era mais tolerável.
A era digital aumentou as possibilidades. E também as expectativas, podendo gerar mais enganos e decepções. Exercícios de mindfulness podem ajudar a lidar com a ansiedade.
Porém, não basta você sentar alguns minutos (ou até horas) por dia se você não aprende a viver de forma mais atenta.
Quem adota práticas meditativas consegue regular suas emoções mais facilmente. Consequentemente, seus relacionamentos são beneficiados.
Percebo claramente entre as pessoas que atendo que aquelas que adotam alguma prática de meditação mudam mais rapidamente na direção daquilo que realmente valorizam. Ficam mais centradas. Não “descompensam” tão facilmente ou, quando isto acontece, conseguem reparar a situação.
Após um tempo e constância de prática, fica mais fácil regular as emoções. Claro, desde que não haja nenhuma psicopatologia grave.
O que fazer para minimizar riscos
A era digital popularizou o mindfulness no Ocidente. Existem inúmeros aplicativos disponíveis para praticar.
Você deve ter plena atenção, não apenas nos momentos em que você se senta para observar a sua respiração.
Use este aprendizado, ao usar aplicativos de relacionamentos. É importante observação – e autoobservação, também. Você sabe o que você procura? Os seus valores? Analise:
- Você procura informação no texto ou só a imagem é suficiente para você curtir? – A(s) foto(s) mostram um pouco do perfil. Aliás, a ausência de fotos também quer dizer algo – inclusive que a pessoa pode já ter outro relacionamento e querer evitar a exposição.
- Na era digital, é muito fácil manipular imagens. Não acredite em toda foto que você vê. E avalie: a estética e a beleza são seus principais valores? Quais valores você destacou no seu perfil?
- Seja sincero(a) consigo mesmo(a): o que você quer? Apenas um encontro casual? Ou está disponível para um relacionamento amoroso, de verdade, com todas as dificuldades que relacionamentos trazem?
Comportamento nos aplicativos
Depois do match em aplicativos como Tinder ou Happn, é hora de manter o papo. O papo costuma começar pelos messengers. Dos aplicativos vai-se para outros, como o Whatsapp ou Telegram.
Também é cada vez mais comum é adicionar o crush no Instagram, que vem se tornando o meio preferido de paquera para muita gente.
Stories dão a chance de conhecer mais sobre o estilo de vida – lugares que frequenta, tipo de amizades, o que gosta de fazer, dentre outras informações. Directs Messages (DM) também facilitam a comunicação digital.
Ouse falar também por telefone: a voz é um importante indicador das emoções e também do estilo verbal e nível cultural da pessoa. Ficar apenas nas mensagens de texto impede observações – além de causar um prejuízo nas habilidades sociais.
Superados os passos iniciais, ao marcar o primeiro encontro, a ansiedade pode aumentar. A intensidade depende da pessoa, da interação entre os contatos e do quanto se coloca de expectativa neste encontro.
Encontrando o match – o primeiro encontro
Sem nenhuma referência da pessoa escolhida, a não ser as que ela forneceu, seu primeiro encontro será um blind date. Blind dates geram ansiedade – normal! Afinal, iremos contra um conselho que as pessoas que cuidam de nós geralmente nos passam, desde cedo: não sair com pessoas desconhecidas. Por isto, muitas pessoas nem se arriscam a usar os apps.
Mas, convenhamos, não são só os conselhos dos cuidadores que geram ansiedade, atrapalhando sua vida amorosa. Se você ainda mantém o idealismo romântico, com crenças em almas gêmeas ou destino, pode se decepcionar muito.
O medo da rejeição atrapalha muito a sua vida? Talvez seja preciso um olhar mais aprofundado sobre as suas experiências iniciais na infância ou adolescência. Se você não recebeu amor de quem precisava cuidar de você pode viver perseguindo isto e exigindo mais do que a pessoa pode (ou precisaria dar). Ou você pode mesmo acreditar que não merece ser cuidado(a) – e atrair pessoas que vão “confirmar” sua crença.
Como a ansiedade joga contra a sua vida amorosa
Como já dissemos em outros posts, quanto maiores as expectativas amorosas, maiores as chances de frustração. Quem tem um histórico de ansiedade pode experimentar grande sofrimento mental – não só no primeiro date, mas em vários outros na sequência.
A pessoa ansiosa pode ficar desmarcando encontros, por exemplo, adiando. Este comportamento pode afastar quem se interessou a princípio.
Outra forma é dificultar o fluxo da conversa. Por não querer demonstrar vulnerabilidade, nos primeiro encontros alguns assuntos são evitados. Mas, justamente, estes são os temas que dariam a “liga”, para saber se vale a pena ir em frente. Sem se mostrar, como a outra pessoa pode apostar que vale a pena um segundo encontro?
A não continuidade dos encontros com a mesma pessoa, por sua vez, perpetua a crença de que não irá receber afeto e amor, presente em alguns esquemas mentais, que podem ser compreendidos em terapia.
Ficando no momento presente
Praticar meditação ancora você no aqui e agora. Assim, você aprende a lidar com pensamentos sobre um encontro amoroso, gerando insegurança. Nem tudo o que você pensa é necessariamente verdade, então você pode simplesmente deixar passar. Se você não os alimenta, fica mais fácil.
Você irá observar o padrão de pensamentos, com mais abertura para a situação que acontece – ao invés de acreditar em tudo o que se passa na sua mente.
Mas sua prática deve ser um hábito e não apenas um S.O.S usado apenas para afastar a ansiedade. Assim você consegue perceber os benefícios.
Não há fórmula mágica para garantir o encontro perfeito, ao contrário do que os love coaches dizem.
Nem que alguém se apaixonará por você – ou manterá o sentimento. Mesmo que você seja super inteligente, tenha um corpo maravilhoso, não se pode garantir uma boa vida amorosa. Não acredite em todo o marketing que chega até você.
A forma mais garantida de ter uma relação profunda é usar sinceridade. Ter coragem, não deixando de expor sua vulnerabilidade – o que nem sempre se quer mostrar de cara. Afinal, foram muitos anos de defesa, certo?
Logicamente, é um risco. Como saber a quem se expor – e quando?
Como a psicoterapia pode ajudar
A psicoterapia pode ajudar a desenvolver melhor seu discernimento. Aliada à prática de meditação, você entenderá seu histórico e escolhas amorosas, seus medos e de onde surgiram.
Você pode identificar que os ensinamentos sobre amor, passados por quem cuidava de você, ressoam ainda na sua mente. Tais padrões influem na sua vida, nas suas escolhas. E muitas vezes, você nem se dá conta.
Em terapia, você aprende a reconhecê-los. Também aprende que a experiência dos cuidadores pode ser totalmente diferente da que você vive.
Você não precisa repetir padrão. Mas é preciso estar consciente para estabelecer relacionamentos saudáveis e realizadores.
Faça psicoterapia para assumir a responsabilidade pela sua vida. Ao se comprometer com seus valores e agir de acordo com eles, você irá achar a sua vida mais valiosa, com propósito.
Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.
Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.
Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são predominantemente online.