Ao longo de 2 semanas, o país ficou fascinado com a minissérie Maysa, exibida pela Rede Globo. Muita gente que sequer era nascida na época em que viveu, que só a conheceu indiretamente, através dos comentários da família, gente que nem tinha ouvido falar da cantora, sentou-se hipnotizada frente à telinha.
E o que encantou na novela? Terá sido apenas o ‘padrão globo de qualidade’, com produção e escalação do elenco impecáveis? O carisma da atriz que encarnou a protagonista, Larissa Maciel, até então desconhecida aqui no Rio e que deve despontar para o sucesso?
Tenho quase certeza de que não. O que gerou comentários apaixonados (espalhados em blogs, comunidades e artigos de jornais) é a força da mulher Maysa. Uma mulher que ousou, foi contra a sociedade em busca do que considerava certo para si. Que abriu mão do conforto de um casamento – coisas que mesmo em pleno século 21, muitas mulheres ainda perseguem. Por isto, incomodava tanto nas antigas gerações, porque mostrava que seria possível, sim sobreviver. Logicamente, a minissérie deve ter filtrado muita coisa e glamourizou aspectos da cantora, com os quais seriam difíceis de conviver, na ‘vida real’. Ainda assim, a história da cantora despertou curiosidade e empatia na audiência.
Obviamente sempre há quem critique os ‘rebeldes’ da sociedade, dizendo que é melhor não investir em programas que retratem uma personalidade assim, que vai servir de ‘mau exemplo’. Bobagem. Sendo uma história real, merece ser contada e conhecida, servindo de exemplo – seja para o que for.
Meu palpite é que o que magnetizou a audiência foi a relação mãe-filho. A gente assistia assombrada às dificuldades de Maysa em conciliar o seu papel de cantora e mulher com o de mãe. Em uma sociedade, como a nossa, na qual a maternidade é considerada uma bênção, a ser honrada, e da qual sempre se espera sacrifício da mulher, a ‘padecer no paraíso’, a gente se tomava de dores pela dor e saudade do filho, Jayme Monjardim. Ao dirigir a minissérie, provavelmente muito do que ainda restava assombrando, provavelmente foi elaborado. Seus dois filhos (portanto netos da Maysa) o representaram, em diferentes épocas, e provavelmente puderam experimentar o que seu pai sentia na pele a cada abandono da mãe.
Soube de muitas pessoas profundamente tocadas por esta dificuldade, esta distância mãe-filho. O amor existia, não da forma ‘padrão’, nada que a deixasse suficientemente tranquila para abdicar de sua vida profissional e amorosa, do seu aspecto fêmea, para ser apenas mãe – que muitas vezes, e principalmente naquela época, deve renunciar à sua sexualidade. É o conflito entre o aspecto mulher (Afrodite-Vênus, na mitologia greco-romana) e o aspecto mãe (Deméter-Ceres), com que a maioria das mulheres contemporâneas se confrontam e desesperam. Qualquer sacrifício, a um dos dois aspectos da feminilidade, pode trazer muita frustração. É um preço a ser pago na escolha, seja por conciliar, seja por abdicar.
Em muitos momentos, a minissérie lembrou-me um trabalho analítico, profundo. Remeteu-me também as “Constelações familiares”, de Bert Hellinger.
Os tradicionalistas talvez nunca tivessem conseguido como Jayme Monjardim, perdoar sua mãe, reconhecê-la nas suas possibilidades e inteireza, aceitando-a. Estariam ainda paralisados, queixando-se do abandono, dos traumas, deixando a vida passar. Não foi o que ele fez e o resultado todo mundo pôde ver: com todas as dores e cicatrizes emocionais, o futuro dele foi tão brilhante quanto o que ela desejou e acalentou.
Incrível seu texto. A forma como se expresa, a sequência que segue, parabéns. E muito bacana a sua interpretação a respeito de Maysa. Visão de pessoa inteligente.
Abraços
Maysa (de Castro)
http://www.maysadecastro.com.br/blog
Obrigada, Maysa! que você tenha ‘herdado’ a coragem dela para enfrentar os desafios, mas que alie a uma melhor sorte e cálculo dos riscos!
Grande abraço pra ti também!
Thays
Indiquei seu blog para receber o Prêmio Dardos.
O que representa o Prêmio Dardos
Com o Prêmio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.
Quem recebe o “Prêmio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
1. exibir a distinta imagem
2. linkar o blog pelo qual recebeu o prêmio
3. escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o “Prêmio Dardos”
Enfim, não vai te trazer fama nem fortuna, mas é o reconhecimento que eu gosto do teu blog!
A indicação está postada em http://marcosdotempo.blogspot.com/2009/01/mais-dardos.html
Uau, Claudia, que responsabilidade… Vou visitar o blog que você postou aqui! super obrigada!
Beijos,
Thays
Adorei o post. Parabéns!!! 😉
Muito bom o site.
oi, Vanessa, obrigada!!!