No final do ano, muitas pessoas sentem necessidade de fazer um balanço daquele que termina. Param para refletir sobre o que evitaram pensar ao longo do ano. Planejam o que querem conquistar no ano que vai começar. O balanço é emocional, físico, financeiro.
Este texto está sendo atualizado um ano depois, por causa da pandemia de coronavírus que mexeu com todo mundo, no mundo inteiro.
Emoções em 2020
Quem se acha em débito com o que planejou, não raro sente angústia e até tenta evitar – o balanço e/ou os eventos que podem evidenciar o não atingimento das metas. O período de Festas deixa bem claro o que está bem ou não na nossa vida.
Em 2020, todo mundo meio que se acha em débito. Houve um aumento na procura por serviços de saúde mental. Quem já sofria de depressão ou de ansiedade, relatou piora.
Há alguns casos de pessoas que, introvertidas, ficaram mais tranquilas, por não serem obrigadas ao convívio social. Muitas famílias se deslocaram para cidades menores, já que o homeoffice se estabeleceu.
Festas de final de ano
Neste final de ano pandêmico, algumas das questões comuns à época de Festas mudaram, já que encontros e reencontros não desejados não deverão acontecer.
Hora dos reencontros
Nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças – que acontece na última quinta-feira do mês de novembro – antecipa algumas destas tensões familiares. Muitas famílias priorizam se reencontrar nesta data e quem mora longe dos parentes não raramente atravessa o país para isto. Vários filmes mostram este esforço e os conflitos que podem vir à tona.
Assim, quem teve uma família agressiva, pode sofrer ante a ideia de ter de encontrar pessoas abusadoras (física ou emocionalmente). A ocasião festiva vira quase um encontro marcado com o sofrimento. Paradoxalmente, a culpa faz com que muita gente não deixe de comparecer. Aliás, faz parte da história familiar.
Famílias disfuncionais
Na família de origem, se dá, em geral, o primeiro contato com o mundo. As memórias e experiências na infância e adolescência marcam profundamente. Muitos problemas de saúde mental se originam nesta fase, como observam a maioria das abordagens psicológicas. Mas, representadas nos comerciais, as famílias parecem sempre felizes – em especial na época do final de ano.
Resumindo: o período pode ser bastante difícil.
Famílias com relações abusivas podem causar um grande mal estar. Sentimentos ambivalentes surgem quando é preciso (re)encontrar a família “tóxica”, ou apenas disfuncional. Pessoas ansiosas podem imaginar os piores quadros possíveis frente aos temidos reencontros.
Nestas ocasiões, encontramos pessoas que conseguimos manter à distância durante todo o resto do ano. Como lidar com estes encontros? Evite os temas polêmicos de sempre, nem faça questão de ganhar discussões – para quê mesmo? Você também não precisa ser plateia para aqueles parentes que querem dominar todos os assuntos, mostrando que sabem mais do que você.
Cuide da sua saúde física também: controle seu consumo de álcool (você pode ficar sensível demais às provocações ou às memórias) . Se conseguir, continue as atividades físicas – não só pelo seu corpo, mas também pelo seu bem estar emocional
Luto
O período é especialmente difícil para quem perdeu alguém recentemente (por morte ou separação). O período de luto pode durar até dois anos e aí não se vê sentido em comemorar. Pressionadas estas pessoas, muitas vezes, comparecem a eventos mas sem estarem verdadeiramente lá. Podem não ficar atentas a quem está a seu lado e insiste em animá-las.
É difícil se divertir sobre pressão, quando se anseia por algo – ou alguém – que não está mais lá. Dói mesmo.
A quem recorrer
Se você não está em processo de psicoterapia, o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição internacional, pode ajudar, como um s.o.s. O CVV funciona a pleno vapor nesta época.
Há plantonistas disponíveis também na noite de Natal e na virada do Ano Novo. A instituição, que é internacional, atende a inúmeras ligações, no mundo todo.
Mas, além do socorro emergencial, avalie a possibilidade de começar um processo de psicoterapia, se ainda não faz, caso tenha seu humor tenha estado muito instável nos últimos meses.
Outro cuidado a se tomar é em relação às pessoas idosas, na família, morando sozinhas. E procure aquelas pessoas que não têm rede de amigos, ou estão em luto. Verifique como está o estado de humor delas nesta época, esteja presente. Ou sugira a elas procurar ajuda psicológica. Alguns grupos apresentam mais riscos e precisam de mais atenção e cuidados nesta época.
Finalizando um ciclo
Apesar das situações mencionadas acima, a virada de ano traz uma sensação de “começar de novo” . Analisa-se um final de ciclo para planejar o/s próximo/s ano/s.
Projetos abandonados podem ser retomados ou repensados se forem valiosos pra você. Os que estão em andamento devem passar por uma avaliação: mantê-los ou não? Para quê?
Avalie o que não conseguiu realizar – e porquê. Faça o balanço: você se comprometeu com seus valores este ano? Suas ações estavam alinhadas com eles? Ou você se afastou do que você valoriza de verdade? Redefina o que realmente é valioso para você. A partir daí, comprometa-se.
O que a psicoterapia pode fazer por você?
Em psicoterapia, você aprende a viver sem talvez idealizar tanto. Você estabelece objetivos e passa a ter expectativas mais realistas. Você aprende a aproveitar o que se apresenta agora.
O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o humor.
Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo. Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais.
Uma nova fase
Considere seriamente a possibilidade de iniciar um processo de psicoterapia. “Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar). Autoconhecer-se e trazer à tona pensamentos e emoções que paralisam você pode ser o necessário para que eles mudem ou percam sua intensidade. Ou fiquem ali, reconhecidos, mas já sem causar prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas.
Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende em Copacabana a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial..
Durante a pandemia, todos os atendimentos são online.
Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Atualmente, faz formação em Terapia do Esquema pela Wainer.