Este é o título original do filme de estreia de Helen Hunt como diretora (aqui, se chama “Quando me apaixono”). O cartaz brasileiro sugere que se trata de uma comédia romântica, trazendo também um comentário do crítico de Variety, que diz que é “extremamente engraçado”. Hum… em algumas cenas, até é um pouco. Mas nada que faça gargalhar.

Depois de alguns minutos de projeção, descobre-se que decididamente o filme não é uma comédia romântica, podendo ser, talvez, classificado como drama romântico. Mas muito melhor seria dizer que é um drama familiar que aborda o dilema das mulheres que se veem às voltas com o dilema de  ter ou não filhos e serem pressionadas pelo relógio biológico.  Se você continuar a leitura a partir daqui, verá spoilers – incluindo o trailer.

 

April (Helen Hunt) é professora infantil, filha adotiva de uma judia, que a pressiona para ter filhos. Nem que tenha de adotar, como ela mesma fez. Casada tardiamente, aos 39 anos, seu marido  se encaixa melhor no perfil de filho do que de bom candidato a pai. Sentindo-se pressionado pela ânsia de April em ter um filho,  sai de casa, deixando-a totalmente sem chão. Para culminar, no dia seguinte, sua mãe adotiva morre. E logo na sequência, conhece o pai de um aluno, Colin Firth, que foi abandonado pela esposa e está extremamente carente. Alguns dias depois, April é procurada pela sua mãe biológica, papel de Betty Middler. Ou seja, em poucos dias, a vida de April dá uma reviravolta. Nada fica no lugar, tudo do que ela poderia achar pior acontece ao mesmo tempo. A protagonista encontra  uma mãe biológica muito diferente dela mesma, muito diferente do ideal de mãe. Não sabe exatamente o que esperar dela, como confiar. Decepciona-se, mas dá uma chance. Arrepende-se desta chance. E aí a mãe tem de se empenhar para finalmente conquistar a filha.  Paralelamente, April começa um relacionamento amoroso, mas descobre que está grávida. Não dele: do ex-marido.

Uma curiosidade: o seu ginecologista-obstetra é interpretado pelo escritor britânico Salman Rushdie,de origem indiana, jurado de morte por ter escrito Versos Satânicos.

O filme lida com  questões complicadas – maternidade, paternidade, casamento. E também trata da  adoção: tanto ser dado para adoção como adotar. Trata de perdão. Trata de construção de relacionamento entre mãe e filha, passando por dolorosas descobertas. Trata de recomeços. Ótimo para debater relacionamentos familiares. 

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Thays Babo é psicóloga clínica e Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso). Atende em Copacabana e no Centro do Rio

Então, ela me encontrou

12 ideias sobre “Então, ela me encontrou

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Thays, vi o filme jah hah algum tempo na internet, e nao preciso nem te dizer porque me tocou muito. A questao da adoçao, para mim, foi colocada como em nenhuma outra obra. Eh preciso entender que sao dois vetores diferentes: querer ter um filho, querer adotar uma criança. Nao vejo a hora de rever “then she found me” (de fato, vc tem toda a razao, a traduçao nao foi das melhores) na telona, e volto para completar meu comentario.

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Oi, Solange, quando vi o cartaz americano, este apelo mercadológico dos distribuidores brasileiros me deu nojo. Sobre o mesmo tema, você viu o filme que mencionei, inglês? é emocionante, eu tenho (acho) em VHS. Adotar é um ato de amor, incondicional. Não por causa da fisiologia da gestação, mas porque é caixinha de surpresa total. A gente já não tem como prever como serão os filhos, por maior que seja o controle genético etc. Mas sem conhecer a família de origem, tem-se de estar ainda mais aberto a todos os imprevistos.

    Acho algo admirável, mas eu não sei se daria conta, sabe?

    SPOILER:

    To pensando aqui, não sei se é viagem… April estava tão identificada com a mãe adotiva que não conseguia engravidar – como esta mãe não conseguiu. Só com sua morte, conseguiu gerar algo. Sim, a concepção foi um dia antes da morte da mãe e a gestação não se manteve mas já era um outro momento para ela. Talvez o contato com a mãe, meio louca, é verdade, tenha sido quando ela conseguiu despreocupar do assunto. Tanta coisa pra dar conta, em tão pouco tempo. Pode ser que a perda esteja ligada à culpa (interpretação psi, totalmente…) por ter feito coisas que alguém tão religiosa, como ela, não se permitiria, em outro momento. Sei lá, o que acha?

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Nao me lembro se ela, de fato, desencanou quando enfim conheceu sua mae verdadeira e viu que aquela mulher que a gerou como filha legitima tinha um estilo de vida bem diferente. Imagina a piraçao…! Mas, sim, acho que hah uma conexao entre ela conseguir engravidar e ter encontrado sua mae. O que me tocou mesmo foi que ela, como filha adotiva, nao gostava da ideia da adoçao. Ela sabia bem o que isso significava (tanto que, se me lembro bem, ela gera a filha atraves de um banco de esperma, pelo simples fato de que preferia gerar do que adotar). Tlvz ela tivesse imaginado como teria sido diferente a sua vida com a sua mae verdadeira, sei lah, se sentisse como numa vida emprestada (aih quem viaja sou eu). E o pior, quando ela encontra um homem realmente interessante, estah com tantas questoes na cabeça que nao dah conta. Oh life!

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Mais spoiler!!!!

    Solange, a filha ao final parece de ascendência oriental, entendi que a inseminação não tinha dado certo e que, no final das contas, acabou cedendo à sugestão da mãe biológica. Porque quando estavam escolhendo as características do doador, não houve nenhuma menção a características orientais…

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Adorei o post, me deu vontade de ver o filme! beijos

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Tomara que você goste. Pelo menos já não vai enganada, né?
    bom final de domingo!

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Olá Thays,
    Li seu comentário em meu blog e Quando me Apaixono/ Then She founds me realmente é um filme q cativa pelo elenco. Helen Hunt impecável, Bette Midler como há muito não víamos. Agora essa história de classificação por gênero me mata, me atrapalho todo na hora de determinar o gênero de um filme, pois acho q muitos deles não abarcam precisamente um gênero mas vários e este filme é um desses casos.
    Abraços e parabéns pelo espaço!

  • 12/09/2010 em 16:24
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    Obrigada pela visita, Wanderley. Eu acho que os cartazes e os títulos brasileiros ajudam a gente a colocar o gênero errado (uma vez vi que A Guerra dos Rose era classificada como comédia, pode?). Enfim, fui esperando uma coisa, encontrei outra (e também, de leve, o romance) e o melhor de tudo é que … gostei!

    Abraço pra ti também!

  • 13/09/2010 em 16:24
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    Pois eh Thays… jah nao me lembro do detalhe do final (tb pq o meu ingles nao eh lah essas coisas, e na internet nao tem legenda). Preciso ver Segredos e Mentiras como vc sugeriu. Essa ideia da adoçao eh, de fato, muito complicada, e eh vendida como se fosse a soluçao para tudo. Nao eh bem assim, e entendo bem o dilema da personagem da Helen Hunt. Outra questao fundamental que vc colocou na resenha eh a relogio biologico, e a ansiedade feminina com isso. Homem nao tem prazo de validade, mas mulher tem, e em torno dele, muitas outras questoes surgem. No Brasil venho notando cada vez mais a maternidade como valor (acho que em funçao das estatisticas que apontam para decrescimo da populaçao). Para quem nao tem filhos, eh cruel. Entao, mais uma obrigaçao para a lista das mulheres – tenham filhos logo. Oh liiiiife!

  • 13/09/2010 em 16:24
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    incrível, eu achava que a pressão sobre a mulher tinha diminuído. Pelo menos, a mídia diz isto. Sabe, muito da maternidade é idealizado. A gente tem de abrir mão de N coisas – que cada vez as pessoas querem menos abrir. Claro que há coisas maravilhosas, mas sei lá, com o futuro da Terra se mostrando tão sombrio (poluição, efeito estufa etc), hoje eu pensaria zilhões de vida antes. Porque a gente sofre com o sofrimento dos filhos e imaginar tudo isto dá um aperto no coração. Sei lá.

  • 26/09/2010 em 16:24
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    Parabéns, Thays.

    Há muito tempo eu procurava críticas cinematográficas com esse toque humano e simples que você confere aos seus comentários. Virei fã!

    Obrigadíssimo

  • 26/09/2010 em 16:24
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    oi, Carlo, obrigada!
    volte sempre, e fique à vontade para comentar, ainda que discordando!
    Um abraço!

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