Dois filmes merecem ser comentados, ainda que rapidamente, apesar de já não estarem mais em exibição nos cinemas: Os Miseráveis (Les Misérables) e Anna Karenina. Ambos são super produções e merecidamente conquistaram alguns Oscar em 2013. Os Miseráveis concorreu em mais categorias importantes e não teria sido injusto se tivesse levado como melhor filme mas, é claro, existem interesses diversos no mundo do cinema e não iremos enveredar por este caminho aqui.
Os clássicos da literatura europeia tocavam nas questões existenciais mais profundas , sendo por isto atemporais. Mesmo ‘de época’, quando viram filmes encantam os espectadores. Estes dois em especial trazem em comum personagens que sonham em fugir da realidade em que vivem, tentam mudar a situação em que estão ou dar a volta por cima, revertendo situações adversas . Resistem em deixar-se abater. Lutam até o fim de suas forças e cada um tem um resultado diferente. Mas a vida pode não sorrir facilmente , nem todos os personagens têm finais felizes… “A vida matou os sonhos”, canta a personagem de Anne Hathaway, que recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Por ser uma versão musicada, muitos dos que não gostam do gênero nem foram conferir Os Miseráveis . Fica a sugestão de encararem o livro (certamente mais profundo do que a versão cinematográfica), do francês Victor Hugo, não tanto por contar uma parte da história francesa pós-Revolução Francesa – afinal, isto se encontra noutros livros. O mais importante é mostrar a possibilidade de superação do ser humano. E também exemplificar o oposto: a inflexibilidade causa tanto sofrimento, que pode ser mortal para quem não se curva. Quebrar-se é uma das possibilidades.
Anna Karenina é um romance dramático, escrito pelo russo Leon Tolstoi. A heroína vai contra as regras da época. Pelo menos, das que são estabelecidas e aceitas abertamente para as mulheres de sua época na Rússia. Anna ousou em um tempo e lugar onde não poderia e depois não teve estrutura psíquica suficientemente forte para bancar o que havia escolhido para si mesma. E tudo pelo que julgava ser amor. Mas tudo era mesmo amor? Ou não passava de paixão? Ou era amor unilateral?
De certa forma, Anna Karenina lembra com Margo, personagem de Entre o amor e a Paixão (rolando a tela, você lerá, uns 2 posts atrás). Anna experimenta o apaixonamento igual ao que a personagem do século 21 , encarnado pela atriz Michelle Williams e também o confronto com a monotonia vivenciada em um relacionamento já estabilizado, de casamento. Claro que há grandes diferenças entre as duas – não só pelas questões de época. Para começar, Margo não tem filhos e não é exposta em sociedade como Anna – que aliás, mal se preserva, corre riscos mais do que necessários. Margo, porém, parece já saber lidar melhor com a mudança. Ou aceita melhor o tédio, talvez por viver em uma sociedade que , como um todo já está mais anestesiada… Apesar de muita gente sofrer igual os mesmos revezes, dá-se significados diferentes na tentativa de amenizar a dor e torná-la mais suportável.
Os dois filmes merecem ser vistos – servem como fonte de reflexão para a vida e honram os livros que lhes deram origem. Não será uma perda de tempo se você dedicar algumas horas para apreciar qualquer um dos dois. Se você seguir este conselho, depois volte aqui para comentar. Assim que eu puder comentar, responderei …
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica e atende na abordagem cognitivo-comportamental, no Centro (Rio)