Mais de um mês depois da estreia, fui conferir o filme que conta a história de Chico Xavier. Médium mineiro, popularizou o espiritismo no Brasil ao publicar centenas de livros. Tornou-se uma das figuras mais controversas da história do país. Foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, mas, infelizmente, faleceu sem ter este reconhecimento de seu trabalho. Talvez tenha sido melhor assim e nem lhe agradasse tanto holofote. O reconhecimento das massas certamente lhe era mais caro.
O filme atraiu não só os espiritualistas e os kardecistas. Muitos céticos que compareceram gostaram do tratamento cinematográfico deste homem carismático, interpretado em sua juventude por Angelo Antonio. Para interpretá-lo, da maturidade ao fim da vida, Nelson Xavier assumiu o papel. O resto do elenco está ótimo – especialmente Tony Ramos e Cristiane Torlone – fazendo valer o ingresso mesmo para os que são descrentes. A interpretação de Emmanuel, guia espiritual de Chico, poderia ter recebido uma direção mais simpática. Talvez a escolha tenha se dado para reforçar a importância da disciplina frente a uma missão tão especial, mas penso que uma atuação tão seca e formal pode ser algo que afaste mais do que atraia admiradores. Mas esta minha impressão pode ser porque eu não li as biografias de Chico – só fui leitora de parte de sua obra. Vai que o que se diz sobre os seres iluminados – que estão sempre bem humorados e felizes – não se aplique genericamente a todos…? 😉
A ênfase na disciplina fica clara logo no primeiro encontro ‘face a face’ (se é que podemos dizer assim), entre Chico e Emmanuel. Quando Chico enfim consegue ver seu guia, lhe pergunta do que precisaria para dar conta de sua missão. Emmanuel responde: “Em primeiro lugar, disciplina. Em segundo lugar, disciplina. Em terceiro lugar, disciplina”. Nada fácil, mas Chico tirou de letra.
Que Chico era um poço de generosidade, todo mundo sabia. E o filme mostra também uma faceta bem humorada do médium, até em um dos pontos que muitos se apegam: o simples fato de ter comprado uma peruca faz muitos detratores do espiritismo enfatizarem um possível lado vaidoso do médium. Vale ver a resposta de Chico à interpelação de Emmanuel sobre a ‘excentricidade’ de usá-la.
Acreditando ou não em múltiplas existências, vale a pena ver o filme. Talvez o único problema para quem não entende bem o tema – ou para os que duvidam da veracidade de tudo – é o excesso de cenas em que Chico colabora para afastar espíritos obsessores – que se assemelha bastante ao que foi descrito nos Evangelhos, como prática de Jesus. Para quem opta pelo ceticismo, assistir permite entender um pouco da história recente da religiosidade de nosso povo. E vale lembrar que o trabalho de Chico Xavier também influiu em casos da justiça brasileira, o que, no mínimo, rende bons papos entre amigos …
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Disciplina, disciplina, disciplina