Mais do que falar sobre o novo Coronavírus, do campo da Medicina, nós, psis, precisamos falar de ansiedade – área em que podemos agir tão bem, inclusive preventivamente.
Lidando bem com ela, aumentamos nossas chances de atravessar a pandemia com mais facilidade.
Para que serve a ansiedade?
A ansiedade faz parte das estratégias desenvolvidas pela nossa espécie para garantir a sobrevivência. Ela nos deixa alerta para os perigos.
Em certa medida, a ansiedade é protetiva, o que faz com que zerá-la não apenas seja impossível: é também indesejável.
Você sabia que o Brasil é o país com maior número de ansiosos no mundo inteiro, segundo a Organização Mundial de Saúde?
Motivos certamente não faltam. Mas, de onde surge a ansiedade e como podemos lidar com ela?
Qual o limite para a ansiedade?
A ansiedade começa a preocupar quando limita e prejudica nossa vida. Quando nos paralisa. Quando mal conseguimos dormir. Quando passamos a evitar situações absolutamente normais, e sem risco, em função dos nossos pensamentos, sem que haja evidências de que eles sejam verdadeiros ou realistas. Quando restringimos nossas experiências.
Quando nos damos conta de que não temos controle sobre tudo, a ansiedade aparece. Cá entre nós: temos muito pouco controle sobre qualquer coisa – a não ser sobre o que pensamos. E precisamos aprender a conviver com esta ideia, sem surtar.
Porém, não existem garantias de que você não terá decepções (amorosas, por exemplo), nem conseguirá impedir algumas tragédias. Fazem parte da vida.
A sua ansiedade também não impedirá que você eventualmente adoeça. Mas se ela for muito intensa, pode inclusive predispor você a doenças, a partir do seu estresse.
O seu autocuidado minimiza alguns riscos, mas é apenas isto.
Portanto, aprenda a controlar a sua mente e as suas emoções.
A regulação emocional é importantíssima para sua saúde – física e mental. Aprender a se observar e separar o que você pensa do que é realidade. Sim, porque nem tudo o que passa pela sua mente é verdade. E mais ainda se você for uma pessoa ansiosa.
A sua ansiedade pode também prejudicar os seus relacionamentos amorosos. Não é fácil conviver com quem sofre por coisas que não aconteceram (e podem nunca acontecer) o tempo todo, que catastrofiza, sempre esperando o pior.
A ansiedade em relação ao coronavírus é mais transmissível do que o próprio vírus
Temos acompanhado o excesso de notícias sobre o novo coronavírus, desde o final de 2019. Mais do que o vírus, a ansiedade se alastra no mundo inteiro. As informações não param de chegar, 24 horas, nas mídias digitais ou convencionais.
Pessoas mais ansiosas procuram informações o tempo todo. Seja pelo medo de contaminação e eventualmente morte (apesar dos números mostrarem que a mortalidade é baixa) ou por preocupação com o mercado financeiro – afinal, o momento é propício para os especuladores. Quem tem dinheiro aplicado não quer perder e então, obviamente, a oscilação no mercado financeiro é fator ansiogênico.
O efeito é o contrário: ao invés de se acalmar, quanto mais se consome informação, mais se fica sujeito à ansiedade.
Quem é mais afetado com as notícias sobre a doença? Quem sofre de transtorno de ansiedade generalizada ou tem particular ansiedade em relação à saúde – como, por exemplo, as que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) de contaminação.
Como diz a especialista Julie Pike, psicóloga clínica na Carolina do Norte (EUA), “estas pessoas frequentemente superestimam as ameaças e subestimam suas habilidades de lidar com os problemas“.
De certa forma, até desprezam a informação de que há doenças mais letais e que estão em circulação há mais tempo – como a gripe comum. Focam mais no número dos que morreram do que nos que sobreviveram – muito maior.
Como evitar o pânico sobre a doença
Se você já sofria de transtorno de ansiedade ou TOC, provavelmente achará insensato o conselho dos especialistas de diminuir o consumo de notícias. Mas é isto o que você tem de fazer.
Fique em casa. Saia de máscara sempre que possível, tenha bastante cuidado com a higiene das mãos, leve álcool em gel com você.
Estas informações básicas sobre como minimizar o risco de infecção você já sabe. Foque em outros assuntos. Procure os seus temas de interesse. Meios de comunicação (digitais ou não) lucram em cima do pânico instalado.
Se precisar de mais informações, busque-as apenas em fontes confiáveis. Notícias falsas se multiplicam pela rede mais rapidamente do que qualquer vírus.
A negação do risco
Infelizmente, no Brasil, as autoridades minimizaram o risco. E, com isto, pessoas que não conseguem enxergar a possibilidade real de morte se arriscammais e infectado mais pessoas.
Um ano depois do primeiro caso no Brasil, poucas pessoas foram vacinadas por aqui e há um grande número de pessoas que nega a importãncia da vacinação. Ultrapassamos 250 mil mortes.
Foque na sua saúde – física e mental. Sua imunidade lhe protege, então o que você pode fazer para aumentá-la, para cuidar da sua saúde hoje?
Alimente-se e durma bem, cuide da higiene pessoal e da sua casa. E fique em casa o máximo possível. Não participe de aglomerações. E quando o calendário da vacinação indicar o seu dia, vacine-se.
Terapia – esta é a hora de não descuidar da sua saúde mental
Pesquisas sobre ansiedade – anteriores ao surgimento do coronavírus – mostram que “é a habilidade de experienciar as emoções positivas que aumenta sua habilidade de lidar com o estresse.“
Aprenda a regular suas emoções. Minimize sua ansiedade.
Um recurso que ajuda você a se concentrar na sua experiência aqui e agora é a meditação. Perceba: você está saudável hoje, aqui e agora? Foque nisto!
Se a ansiedade é um problema recorrente na sua vida, procure ajuda psicológica. Aprenda a regular suas emoções. Você pode melhorar a sua vida como um todo, ao lidar com o que pensa e sente. Faça psicoterapia.
Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e em formação em Terapia do Esquema.
Atende a jovens e adultos em psicoterapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial. Durante a pandemia a maioria dos atendimentos é on-line.