Sendo seres humanos, fomos dotados da linguagem e da habilidade de comunicação. Desde o nosso nascimento, fomos treinados, pelas pessoas que cuidavam de nós, a nos comunicar. Assim, carregamos muito do estilo dos cuidadores iniciais.
Em geral, adotamos, por espelhamento, a forma de se comunicar da nossa família de origem.
O modo com que você se comunica afeta todas as áreas da sua vida: profissional, familiar, amizade. Também irá influir na sua relação amorosa.
Portanto, é fundamental desenvolver suas habilidades de comunicação. Quem não cuida da forma de se comunicar, provavelmente terá problemas em todos os ambientes do seu dia-a-dia.
Os três estilos de comunicação
Muitas pessoas não se dão conta de que a forma com que se expressam (ou não) verbalmente pode afastá-la do que (ou de quem) querem.
Reconhecer o seu estilo de comunicação possibilita melhorá-lo para que suas relações interpessoais sejam mais harmônicas. E sua vida mais satisfatória.
O estilo de comunicação pode ser agressivo, passivo, passivo-agressivo ou assertivo.
Nem sempre será fácil, pois os estilos são aprendidos e repetidos por muitos anos. Tempo e esforço – ou melhor, consciência – são necessários para mudar tais padrões.
E a psicoterapia pode ajudar.
O treinamento da habilidade de comunicação é central nas terapias cognitivas
Além do estilo de comunicação, também há os erros cognitivos. Os erros derivam de padrões de pensamento – que também se aprendem nas relações iniciais, com nossos cuidadores. Hà uma estreita ligação entre o que pensamos e sentimos. Portanto, também na comunicação e no comportamento.
Um erro cognitivo muito comum é a leitura automática de pensamento. Você acaba não falando algo porque presume saber o que a outra pessoa quer. Em psicoterapia, muitas vezes, o/a psi precisa verificar: “Mas… você comunicou isto? Expressou o que estava pensando?” ou “Expressou seu sentimento?“. Só que o que você pensou, presumiu ou deduziu muitas vezes nada tem a ver com o que a outra pensou. Às vezes nem pensou nada, e você, aí, presumindo.
Comunicação da família de origem
Em famílias em que o estilo de comunicação agressiva predomina, alguns membros se tornam muito agressivos também – para se defender e contra atacar. Porém, há quem adote o estilo passivo: não enfrentando mantém a paz.
Esta escolha pode ser por dependência ou mesmo por sobrevivência – em especial nos relacionamentos abusivos.
Estilos de comunicação: agressiva, passiva, passivo-agressiva
A comunicação pode ser entendida como um continuum: em uma extremidade, tem-se a comunicação passiva; na outra, a comunicação agressiva. O “caminho do meio” seria a comunicação assertiva. Mas há ainda um quarto modo: a comunicação passivo-agressiva.
Pessoas agressivas, em geral, intimidam e impõem sua vontade. Ganham ‘no grito’, por encontrarem muitas vezes, à sua volta, pessoas passivas que se submetem. Não atraem simpatia. A ascensão profissional pode ser prejudicada.
Quando a pessoa agressiva encontra uma outra igual a ela, o clima pesa e os outros, ao redor, sofrem com a disputa… Crianças ficam assustadas. E muitas vezes reproduzem este estilo fora de casa – na escola, por exemplo.
Apesar de muitas pessoas não se darem conta, a ironia também pode ser bem agressiva – mesmo que o tom de voz não se altere – dependendo do contexto. É bom prestar atenção na reação das pessoas. Já a agressividade e a passividade são estilos mais evidentes.
Passivo-agressivo
É mais difícil identificar o passivo-agressivo: às vezes, sua forma de revidar nem vem ao conhecimento imediatamente. É uma sabotagem aqui que se faz, uma casca de banana ali, sutil… Aparentando passividade ou até ‘pacifismo’, em algum momento, a pessoa “dá o troco”. Ao invés de se posicionar, confrontar ou expor seus sentimentos, ‘sabota’.
Exemplos: no trabalho, pode atrasar a entrega da sua tarefa, prejudicando a pessoa agressora. Faz corpo mole, não se compromete e acaba por prejudicar quem o humilhou.
Numa relação amorosa, pode trair, só para ‘dar o troco’ – claro, tudo muito veladamente, pois foge da confrontação. No silêncio, faz coisas que minam o cotidiano.
Há quem seja passivo-agressivo sem se dar conta, sem estar consciente de seu modo de ser, agir e falar. Seus comportamentos podem, por fim, afastar pessoas queridas. E provoca conflitos desnecessários.
Assertividade
O modo ‘saudável’ de comunicação é predominantemente assertivo, com comunicação clara e objetiva, em que se expressa a opinião e seus sentimentos.
A pessoa assertiva também deve praticar a escuta atenta. Aberta para escutar, aceita sugestões e recusaras que não são razoáveis. Recusa o que não estiver de acordo com os valores pessoais.
Mas a assertividade não é tão fácil de desenvolver espontaneamente. Afinal, para ser assertiva, a pessoa tem de colocar limites, correndo risco de desagradar.
Quem teme o confronto, a rejeição e o abandono que aceita tudo. Porém, a longo prazo, o custo emocional é alto.
Apesar de a assertividade parecer, à primeira vista, o melhor modo sempre, em algumas situações, é importante se ter uma atitude passiva. Como, por exemplo, em situações de violência (como um assalto ou violência doméstica). Sua sobrevivência deve ser a prioridade. Coloque-se a salvo antes, peça ajuda.
A psicoterapia promove um estilo de comunicação mais saudável
Em um processo de psicoterapia, você desenvolve autoobservação Aprende a regular suas emoções, a ter autocontrole. Primeiramente, suspende seu autojulgamento. Passa a se autoobservar, com autocompaixão. Percebe seus esquemas mentais e o seu estilo de enfrentamento.
Pergunte-se: o modo como você fala ajuda você a se aproximar dos valores que deseja na sua vida ou o afasta deles?
Se você costuma ser a pessoa crítica, mesmo que de forma suave, precisa saber que raramente as críticas funcionam. E muitas vezes magoam.
Ninguém gosta de críticas. Posso generalizar isto. Crítica ‘positiva’? Não existe e nem agrada também.
O treino de habilidade de comunicação ajuda você a compartilhar a sua emoção, ao invés de focar no comportamento do outro. Quem se sente criticado, em geral, se fecha, não muda. E muitas vezes contraataca.
A comunicação não violenta predispõe ao diálogo. Aumenta a sua chance de se fazer ouvir e conseguir o que precisa.
Procure ajuda especializada, faça psicoterapia.
Referências Bibliográficas:
Del Prette, Z. A. P; Del Prette, A.. In: Haase, V. G. Psicologia do desenvolvimento: contribuições interdisciplinares. Belo Horizonte: Editora Health, 2000.
Portella, M. Estratégias de ths: treinamento em habilidades sociais.
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, na linha de Família e Casal. Tem formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Cpaf-Rio. Cursou a extensão em ACT (conhecida no Brasil como Terapia de Aceitação e Compromisso), no IPq-USP.
Atende em Copacabana, a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial. Durante a pandemia de coronavírus, atendimento predominantemente online.