Superar uma separação amorosa pode ser tão difícil de superar quanto uma doença, segundo o psicólogo Guy Winch. Às vezes, até mais.

O fim de um relacionamento amoroso pode provocar ansiedade, pensamentos obsessivos e até dor física. Se você já passou por isto, sabe bem do que estou falando.

Existem várias explicações possíveis para a dor do final de um relacionamento – algumas mais românticas, outras mais científicas. A gente prefere as românticas, mas é importante falar das causas científicas. A neurociência ajuda você a entender melhor e pode até ajudar a superar.

A química da psicologia do amor

Em estado de paixão, alguns neurotransmissores são liberados. Ficam em alta. A gente sente mais prazer porque  o cérebro funcione de forma semelhante ao de usuários  de drogas. Nâo, não é romântico, mas, na verdade cria-se uma dependência “química” da pessoa amada.

Quando você a  encontra, seu cérebro libera substâncias ligadas ao prazer. E, logicamente, quando o  rompimento acontece – e não foi você quem terminou – você pode sofrer  fisicamente.

O  final de um relacionamento amoroso pode provocar sensações parecidas com as de  crise de abstinência de drogas.

Tudo o que você quer falar é sobre o fim

Se o término não foi desejado por você, é normal você querer falar exaustiva e exclusivamente sobre isto.  O tema repetitivo acaba afastando algumas pessoas, que ficam sem paciência.

Assim, o  isolamento contribui para a manutenção dos pensamentos obsessivos. Você rumina. Pensa onde errou. Mas, muitas vezes, não houve erro. O relacionamento se desgastou e não teve como recuperar. É importante trabalhar a aceitação de que nem tudo acontece como a gente quer. E que um relacionamento melhor pode surgir.

Começando a se desligar

Para superar,  você precisa

  • parar de consumir informações sobre a pessoa amada. Não se consuma imaginando o que ele/ela faz;
  • reconhecer  sua  raiva, misturada com tristeza – e às vezes esperança;
  • aceitar o seu sofrimento, sem o estimular;
  • não tentar ir atrás de satisfação rápida – em geral isto não funciona e traz mais tristeza;
  • não tentar contato.  A qualquer sinal simpático, você pode confundir tudo e acreditar que há chances de retomar o relacionamento.
  • procurar ajuda psicoterapêutica.

E se você lida com alguém que está passando por esta fase, tenha compaixão e paciência. Fale sobre o que não se deve fazer – e encaminhe para a terapia. 

Fases do luto amoroso

Há uma semelhança entre as fases do luto, propostas por Elizabeth Kübler Ross, psiquiatra suíça,  que descreveu  os estágios que se enfrenta diante de um diagnóstico de terminalidade (a saber: negação, raiva, depressão, barganha e aceitação). Muitos pesquisadores aplicam a mesma descrição ao  luto amoroso.

Como abordei anteriormente, existem semelhanças com as crises de abstinência por droga. Segundo alguns autores, há  apenas 4 estágios do luto amoroso:

  1. abstinência – quando se sente falta do convívio com o/aex – que “fornecia” os neurotransmissores da alegria
  2. raiva
  3. resignação (ou aceitação)
  4. superação.

A resignação e a superação são fundamentais para que se siga em frente. Pode levar um tempo – mas costuma passar.

O fim que não termina: seguir o(a) ex nas redes sociais

As redes sociais tornaram a separação  ainda mais difícil. Quando o ex-casal continua conectado nas redes sociais, mesmo sem procurar, você pode receber  notícias da outra pessoa, mesmo sem procurar.

Como?

Através de postagens de conhecidos em comum, em redes como  Facebook e Instagram, por exemplo. Ainda pior, podem chegar  notificações de lembranças passadas, reativando memórias de momentos felizes

Para superar, você precisa focar no presente.  O presente é o tempo que você tem.

Hoje e aqui e agora você pode  construir um futuro melhor – sozinho/a ou com outra pessoa.

Se, como vimos, a paixão tem semelhanças neuroquímicas com o uso de drogas, seguir a pessoa nas redes é comparável a ingerir de novo a substância. Não ajuda na cura.

Resista às tentações. A abstinência (de informações) ajudará efetivamente a superar para então curar. 

Seguir  e vigiar o/a ex nas redes sociais é o comportamento conhecido como stalking.  A intenção pode até  ser fazer um fechamento, dando  sentido ao término, para superar mais facilmente. 

No entanto, na maioria das vezes, a vigilância não contribui para a aceitação. Pelo contrário.

Se o   o/a ex segue a própria vida e interage com outras pessoas (que podem ser  novo/a/s parceiro/a/s, mas, muitas vezes, não são!), o sofrimento pode se prolongar.

 

Bloqueando as informações

Tais situações, totalmente casuais e inesperadas podem ser evitadas, usando as configurações de notificações. Em alguns casos, até vale a pena tirar a pessoa da sua rede de contato, caso você não lide bem com o fim.

Se foi um relacionamento abusivo – você tem de se colocar em uma situação a salvo. Sumir mesmo. 

Vale ressaltar que nem sempre suas conclusões  serão certas, ao analisar o que vê online. Então, o sofrimento se prolonga e pode ser, muitas vezes, totalmente infundado.

O stalking pode virar uma obsessão e prejudicar sua saúde mental, com impactos no seu desempenho profissional, acadêmico. Também atrapalha  os relacionamentos com pessoas próximas. E impede de abrir para novos relacionamentos.

O que fazer para superar o fim?

Primeiro se pergunte:  para que  você acompanha o/a ex? Acredita que a vigilância online vai ajudar a superar ou quer um motivo para voltar a contactar? Analise o que você perde e o que ganha com este comportamento (além do tempo). 

Apesar desta necessidade de fechamento, o psicólogo clínico Guy Winch  ressaltou a importância de  parar de procurar porquês para o término, para curar o ‘coração partido’. A busca por explicação prolonga a dependência em relação à pessoa que terminou.

Você  tira  do seu centro de atenção a pessoa mais importante de sua vida: você mesmo/a.

Separações podem, enfim, ser muito dolorosas, mesmo, por razões variadas. Pode ser pelo histórico amoroso anterior àquele relacionamento, pode ser por baixar a autoestima – reforçando algumas crenças negativas preexistentes, talvez.

A separação pode ativar seus esquemas desadaptativos. Eles se formaram  a partir das suas  experiências iniciais de vida. São  suas necessidades emocionais não atendidas. Por exemplo, podem ser ativados os esquemas de privação emocional, de abandono, de fracasso ou de defectividade.

Cuidar da sua saúde emocional será importante para você superar.  Como, muitas vezes, as pessoas amigas se afastam,  procure apoio psicológico.

Como a psicoterapia pode ajudar você a superar

Na psicoterapia, você fala sobre o relacionamento e pode  fazer  um balanço de erros e acertos.

Vai ser possível lidar melhor com a dor, aceitando-a. Nâo é o lugar de  sentir vergonha de expor suas emoções – como muitas vezes acontece diante de pessoas amigas.

Esquivar-se da dor, emendando em relacionamentos para tentar esquecer, também não ajuda a médio e longo prazo. Pelo contrário:  pode  atrapalhar os relacionamentos amorosos futuros, com o resíduo do que você não resolveu internamente.

Abordagens de terapia

Atualmente, vários profissionais de psicoterapia trabalham  integrando diferentes abordagens, como a terapia cognitivo comportamental, a terapia do esquema e a terapia de aceitação e compromisso. Afinal, temos de usar todo o conhecimento possível para ajudar quem nos procura. 

Em uma psicoterapia mais integrativa você pode ressignificar o que é  solidão. Pode aprender a curtir a sua  solitude. Você poderá chegar à aceitação e, enfim, à superação. 

Consciente de como repete algumas escolhas nos seus relacionamentos, por conta de padrões não tratados antes, é mais fácil quebrá-los. E ter relacionamentos mais realizadores depois. Mas lembre-se: você pode fazer o melhor possível, mas sempre depende também de quem você escolhe.

A música Estou Pronto, do álbum A gente mora no agora, de Paulo Miklos, em parceria com Guilherme Arantes, descreve um pouco da tristeza anterior (‘noite sem fim”) e da aceitação para enfim poder se abrir para um novo relacionamento.

Procure aceitar a impermanência, com  abertura ao que vier pela frente.

Términos acontecem todos os dias. Recomeçar, com outra pessoa ou aceitando a (temporária) solitude, também.

Comprometa-se com a sua vida, com seus valores e engaje-se em ações compromissadas com eles.

A pandemia não está ajudando muito a se “distrair”, então é a hora de você cuidar do seu mundo interno. 

Caso não esteja conseguindo, procure ajuda especializada. Agende uma consulta e comece um processo de psicoterapia.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual e de casal ou pré-matrimonial em Copacabana.

Durante o período de pandemia, a maioria dos atendimentos é online

Como superar uma separação amorosa

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