Recentemente lançado no Brasil com o título Um namorado para minha mulher, o filme original que inspirou a produção nacional é de origem argentina: Um namorado para minha esposa. A comédia romântica, de 2009, brincava com a falta de comunicação entre casais. Aparentemente, o brasileiro conseguiu manter o mesmo tipo de humor: no trailer há piadinhas com o whatsapp – um dos aplicativos que, apesar dos inúmeros benefícios, gera muitas queixas sobre o uso (ou abuso), tanto em terapias de casal como nas individuais.
No filme argentino, o casal “Tenso” e Tana Ferro vive infeliz. Tana não para de reclamar, desde que acorda. Fuma feito louca e não faz nada o dia inteiro. Pra piorar, detesta os amigos de Tenso, constrangendo-o até não poder mais. Tana se irritava demasiadamente com a mediocridade humana, que a tirava do sério. Ao longo do tempo, em um relacionamento – real ou da ficção – tantas reclamações pesam. Como psi a gente pode imaginar que fosse um transtorno de humor, leve, super tratável. Ou seria só a rotina, que acaba com tantos casamentos?
Inicialmente, a simpatia dos espectadores vai toda para “Tenso”. A gente se pergunta como ele pode escolher alguém assim e não entende como lhe falta coragem de pedir para separar. Seus amigos dão uma força, dizendo que a separação é a única saída e até ensaiam a fala com ele.
Até que um dos amigos do marido sugere contratar um famoso sedutor, partindo da premissa que ela também não resistirá e tomará a iniciativa de deixar Tenso, deixando-o livre e sem culpa. Isto já seria um bom motivo para terapia, concordam?
A escolha dos nomes dos protagonistas não deve ter sido aleatória: Diego Polsky seria Tenso por ter casado com uma Ferro? Todos sabem que o ferro, se aquecido, se molda. E é a isto que assistimos ao longo do filme, com a transformação de Tana. Diego, que era muito boa gente, não tinha noção de quem era a mulher com quem se casara. E, não, não é nada disto que você está pensando. Ao contratar o sedutor, Diego fica surpreso com a auto-confiança de Cuervo Flores – cujo visual é inacreditável, diga-se de passagem. Quer controlar a situação, mas tem de ceder à constatação de que Tana vai se transformando a partir da aparição do sedutor. Quer dizer, é o que parece durante boa parte do filme. Na terapia de casal, fica claro que ambos viam a relação de forma totalmente diferente – o que é , aliás, bem comum em casais em crise, em que um dos dois quer (ou diz que quer) a separação e o outro não.
Bem, a resenha se baseou no filme original. Falta conferir o produto nacional. Se você gosta do cinema brasileiro, aproveite que ainda está em exibição nos grandes centros. E depois comente aqui…
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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio. Atende no Centro do Rio e na Zona Sul, em terapia individual e de casal.