Nos últimos séculos, o casamento passou por inúmeras transformações. Pode-se dizer que o século 20 foi um divisor de águas. O casamento até então era um combinado entre famílias (ou reinos), tendo como principal finalidade manter os bens e gerar filhos. A felicidade sexual não era um objetivo do casamento.
Só muito recentemente, a sexualidade do casal passou a ser considerada como indicativo de felicidade conjugal. E não necessariamente isto contribui para a estabilidade e duração dos casamentos.
O amor nunca foi determinante para constituir família
A compatibilidade sexual não tinha nenhuma importância para firmar um vínculo. Até porque era impossível avaliar: era esperado que a mulher se mantivesse virgem até o casamento.
E, mesmo depois do casamento, o prazer sexual da mulher não era levado em conta. Nem era desejado – já que poderia aumentar a possibilidade de escapadas conjugais.
Você deve estar se perguntando: “como assim?”
Sexo para a mulher era encarado como com finalidade reprodutiva. Quando um casal não tinha filhos, muitas vezes o homem abandonava a mulher (mesmo sem saber se era ele a pessoa infértil). Ainda por cima, não haviam alguns dos métodos contraceptivos e nem a chance de detectar a paternidade.
Assim, uma mulher com muito desejo era perigosa. Podia ser mais infiel. E a infidelidade feminina era uma questão relevante para os homens, que não queriam criar filhos gerados por eventuais escapadas.
Como os homens aprenderam a separar amor de sexo
A educação de homens e mulheres também tem sido bem diferente, há séculos. Desde a infância, o menino era incentivado a, quando chegasse na idade, buscar sexo.
Pai, tio, padrinhos ou amigos eram os responsáveis por levá-lo a casas de prostituição. A eles, era ensinado que deveriam separar amor de sexo. Eram de certa forma “autorizados” a realizarem suas fantasias, sem culpa.
Assim, não tinham interesse ou preocupação com que a mulher (oficial ou não) tivesse prazer. E exigiam “pureza” e “castidade” da mulher oficial, cuja virgindade era vigiada até o casamento. Assim, as “moças” que ousassem ter relacionamento sexual antes do casamento traziam a vergonha para a família, quando descobertas.
Muitas eram abandonadas pelo parceiro a quem tivesse confiado a “honra”. Podiam ser expulsas de casa ou até serem trancafiadas em conventos.
Se continuassem em casa, “desonradas”, muitas vezes não conseguiam se casar. Seu destino seria cuidar das crianças de outras pessoas da família ou mesmo dos pais. Portanto, a maioria se comportava dentro do que era previsto, negando seus próprios desejos.
Infidelidade e a dupla moral
Recebendo esta educação tão repressiva, muitos casais mantinham o sexo conjugal como obrigação. Portanto, ao homem, até bem pouco tempo, buscar prazer fora do casamento era plenamente ‘aceitável’, pela sociedade. Trazia sofrimento para a mulher e para a família? Não importava.
Já a infidelidade da mulher nunca foi compreendida, principalmente no Brasil.
Só mais recentemente esta dupla moral vendo sendo questionada.
Não se admitia, para início de conversa, que a mulher poderia ter prazer sexual – sexo era obrigação, para servir ao marido, para procriar. Com pouco empenho do homem em dar prazer, a maioria das mulheres encarava o sexo como um sacrifício necessário para sua sobrevivência.
A fidelidade garantia ao
o homem não sustentaria filhos de outro. Se ela traísse, poderia ser morta.
Infelizmente, o feminicídio continua alto no Brasil. Porém, já causa horror e não mais condescendência.
O divórcio só foi legalizado no Brasil em 1977 e as pessoas separadas eram marginalizadas, até pouco tempo. Havia um forte controle e pressão para a manutenção do casamento, exercidos pela Igreja, pela família, mas também relacionado a fatores econômicos.
Revolução sexual
A partir do surgimento da pílula, na metade do século 20, a sexualidade passou por uma revolução. Reduzindo o risco de engravidar e com as infecções sexualmente transmissíveis (IST´s) relativamente controladas, as mulheres passaram a ter maior liberdade sexual.
Porém, na década de 80, com o surgimento da AIDS, a liberdade sexual sofreu um baque. Apesar dos grandes avanços no tratamento da síndrome desde então, IST´s como HPV, hepatite C e a sífilis, que está mais resistente a tratamento, vem crescendo. Até porque as mulheres ainda têm dificuldade de negociar o uso do preservativo com seu(s) parceiro(s), mesmo que seja em um relacionamento casual.
Ideais românticos podem aumentar os problemas conjugais
Muitos ideais e crenças surgidas a partir do Romantismo ainda influenciam os relacionamentos amorosos. Comportamentos sexuais não são discutidos às claras na fase de namoro. Causam estranheza, medo de julgamento e a comunicação fica indireta.
Após o casamento, o que não foi previamente conversado pode minar a felicidade conjugal. Portanto, a comunicação do casal é importantíssima para a qualidade do vínculo amoroso e, também, da vida sexual.
A escuta compassiva e atenta, sem acusações ou pré-julgamentos, é fundamental para a felicidade amorosa. Caso contrário, pode haver separação ou a manutenção de um casamento de fachada, infeliz entre 4 paredes, mantido em nome da estabilidade financeira ou pela preocupação com o futuro dos filhos em comum.
Casamento sem sexo
Surpreendentemente, há casais que optam em não mais se relacionarem sexualmente, ou reduzem a prática sexual ao mínimo. Para Esther Perel, pode-se considerar um casamento sem sexo quando a frequência é menor do que uma vez por mês.
Alguns dos possíveis motivos para não ter sexo com o cônjuge:
- incompatibilidade de desejos – pode ser em relação à preferência de posições, fantasias, horários ou até frequência;
- disfunções sexuais – principalmente na fase do desejo ou da excitação – que geram bastante ansiedade de desempenho;
- cansaço pelas atividades do dia-a-dia;
- descoberta de infidelidade;
- prioridade sobre a educação e bem-estar dos filhos – abre-se mão da relação conjugal em prol da parental, o que não é recomendado por terapeutas de casal;
- vergonha do próprio corpo (caso esteja muito acima ou muito abaixo do que considera seu corpo ideal);
- crenças religiosas;
- doenças físicas ou psíquicas – depressão, por exemplo, afeta a libido;
- crença de que sexualidade tem uma idade para ser vivenciada e que já ‘passaram’ da fase.
Desejo sexual e a infidelidade
Quando a decisão de manter o casamento assexuado é unilateral, as chances de que a pessoa, que não fez esta escolha, venha a ter um caso extraconjugal aumentam.
Esta exigência pode ser muito difícil de ser atendida se o casamento é assexuado. Curiosamente, tem-se a expectativa de que o outro também se abstenha. No ideal romântico, espera-se que a pessoa deseje seu par exclusivamente, para todo o sempre. Ou seja, o discurso é um mas a prática é outra.
Além da fidelidade física, já tão difícil de controlar ou monitorar, há quem queira ainda controlar o desejo da outra pessoa.
Infidelidade na era digital
Na era digital, a expectativa do comportamento sexual continua a mesma da era analógica. A fidelidade ainda é o que a maioria dos casais deseja.
Porém, com as redes sociais e aplicativos, as possibilidades de contato com ex-parceiro(a)s podem gerar ansiedade. Muitas pessoas consideram traição se seu par mantém conversas, sexualizadas ou não, por internet ou pessoalmente com um(a) ex ou com um(a) possível parceiro(a).
Só de imaginar que o par tem alguma fantasia (mesmo não confirmada ou não realizada) pode gerar uma crise no relacionamento, e terminar em separação.
Dada a dificuldade de manter a promessa de fidelidade, o relacionamento termina e parte-se em busca de outro, com a mesma exigência – vindo daí o termo monogamia sequencial ou monogamia em série.
O que é combinado não sai caro
É bom lembrar que cada casal deve estabelecer suas regras, conversando, preferencialmente antes de formalizar um compromisso. Conversar sobre regras – possíveis e atingíveis -, valores individuais e do casal contribui para fortalecer o vínculo.
Conhecer as fantasias de seu par e dar a conhecer as suas, de forma confortável, aceitadora e sem julgamento, aproxima o casal.
Nem todas as fantasias precisam ou devem ser realizadas, se uma das partes não concorda ou tem aversão à ideia.
Saber e aceitar que seu par tem fantasias – e que algumas podem não incluir você – aumenta a cumplicidade do casal.
Portanto, se você ainda não se casou, procure conversar com seu par antes sobre o que você espera, sobre seus valores e expectativas.
Terapia pré-matrimonial – o que é isto?
Procure conhecer os valores que orientam a pessoa com quem você quer se unir. Afinal, como amar quem não se conhece?
É importante também, para aceitar o outro, saber quem você mesmo é. E preste atenção: seu par precisa também se interessar sobre o que você pensa e sente.
A terapia pré-matrimonial é uma variação da terapia de casal que vem ganhando força. Ela possibilita estabelecer a comunicação de forma clara e assertiva. Ela pode ajudar na decisão de oficializar o relacionamento.
Ajuda também a alinhar as expectativas de cada pessoa quanto ao relacionamento, minimizando problemas futuros.
Se você já casou e enfrenta uma crise conjugal, a terapia de casal (TC) ajuda a refazer os acordos, (re)estabelecer a comunicação.
Em muitos casos, se você não demorou muito a buscar ajuda, é possível ter uma vida conjugal mais prazerosa e feliz.
Caso o final seja inevitável, a TC ajuda a estabelecer boas condições para que isto aconteça de forma amigável para ambas as pessoas.
Se você quiser saber mais, agende uma consulta.
Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), pelo CPAF-RIO, formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso), pelo IPq (USP).
Atendimento presencial em Copacabana e on-line – a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.