Exibido no Rio apenas nas salas do grupo Estação, o filme Caramelo (Sukkar Banat) merecia mais salas. Mas, sabem como é, filme que não é hollywoodiano fica restrito a um público pequeno que se arrisca a assistir uma produção franco-libanesa.
Resumíssimo, recortado e colado do site Estação Virtual: “Cinco mulheres com problemas pessoais se encontram regularmente em um salão de beleza, onde conversam abertamente.” Como já está virando hábito, lá vou eu reclamar da sinopse, que não propiciaria motivo suficiente para sair de casa em uma noite de inverno.
Confiando mais uma vez na dica do Ricardo Garrido (do blog de cinema da Vip Exame – http://vip.abril.uol.com.br/cinema/2009/06/pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-mocas.shtml), fui conferir, ainda que por motivações diferentes dos que ele listou no seu texto.
Saber que a película levou os prêmios de Melhor Filme para o Público, Prêmio do Júri Jovem e Prêmio Sebastiane no Festival de San Sebastián 2007 (do qual não tinha ouvido falar, confesso!!! ) teve lá sua importância. Fui sem saber ainda que tinha sido indicado ao Oscar como Melhor Filme Estrangeiro… (E viva o Google!). Atenção para todo o elenco: só a protagonista é atriz profissional. É difícil de acreditar – as idosas dão um show…
Contrariando o que se poderia imaginar de um filme libanês, não fala nada de guerras. Caramelo mostra o dia-a-dia de amigas de diferentes idades, que vivem em Beirute. Tem como cenário em comum o salão de beleza, espaço de convívio e trabalho. Entramos em contato com uma cultura muito diferente da nossa (a começar pela técnica de depilação da protagonista, que dá nome ao filme e é bem diferente das que usamos aqui! Mas isto é apenas um detalhe).
O cinema nos possibilita ver realidades culturais totalmente diferentes. A sociedade libanesa, em pleno século 21, ainda é bem mais conservadora do que a nossa. As externas nos mostram também que o desenvolvimento sócio-econômico anda bem distante do que vemos por aqui. Mas, não importa a latitude e longitude, as pessoas são muito parecidas, nas dores e nas alegrias… As mulheres de lá se parecem com as de cá, em suas angústias, temores – e também no apoio que oferecem e encontram em amigas verdadeiras.
Assistimos a sofrimentos por amores não correspondidos, casos de solidão, mudanças bem vindas, ousadias, homossexualidade, solidão. Tabus como a virgindade (ainda uma questão importante por lá) e envelhecimento são tratados sob olhar feminino: a protagonista é também a diretora do filme, que merece ser conferido. Enfim, todos os temas são tratados de forma delicada – e com uma boa dose de humor trágico -, agradando pessoas sensíveis. Sejam homens ou mulheres.
Se quiser comentar, clique no título. Assim que eu vir, aprovo e comento.
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Thays Babo é psicóloga clínica, mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Atende em consultório no Rio de Janeiro.
Caramelo
É, Thays… Cá estou eu, mostrando que sou de palavra (talvez um pouco atrasado, mas estou aqui…rs).
Concordo com você: É um filme sensível, contando histórias que encontramos nos nossos círculos de amizade e convívio…Mas lendo o seu ponto de vista, o filme me pareceu muito mais interessante do que sob o meu…rs Não que eu não tenha gostado, até me surpreendi de certa forma…Pois como você falou que era um filme de “mulherzinha”, fui assistir com pré-conceito. Mas não é de mulherzinha…é de mulherzona! As mulheres demonstram fragilidade e falta de amor próprio (algumas delas), mas ainda assim quando a realidade/verdade bate às suas portas elas se encontram…Bom, pelo menos foi o que eu vi…rs
Bjs e inté a próxima…
E viu bem! Algo que gostei foi como elas se ajudam e apoiam, mesmo quando não tem o mesmo ponto de vista. Enfim, amizade incondicional, eu diria.
Beijos!
nao vi o filme (mesmo em solo californiano os filmes fora do circuitao nao sao assim tao faceis de achar), mas seu comentario enfatiza algo que eu percebo já há algum tempo desde que saí da terrinha–as mulheres, feministas ou tradicionalistas, do afeganistao ou do japao tem mesmo uma especie de “agenda comum” que envolve temas às vezes muito básicos e impressionantemente parecidos…o que varia, na maioria das vezes, é a forma de lidar com eles. e acho que até por termos esse “common cry” as mulheres, ao se conhecerem –e se reconhecerem umas nas outras– tendem a ser solidárias… por estarmos todas ainda, de um jeito ou de outro, no mesmo barco, lutando por espaço, igualdade, vida…
gosto desse seu cantinho virtual, thays…seus textos sempre “cutucam” as idéias…
Oi, Tatiana, obrigada por sua presença aqui! Será que você não consegue ver o filme nem em DVD? Se não, quem sabe na sua próxima visita ao Brasil? Vale a pena
Beijos pra ti e pra linda filha, com um ótimo final de semana!
Thays,
Obrigado pela confiança nas dicas! No mais, bem apontado o lance da amizade incondicional entre as mulheres… (como era um “chick flick”, e como escrevo na VIP, optei por não me aprofundar muito no filme, mas esse era o aspecto que eu mais gostaria de discutir). Vi poucos filmes que tratam disso – e os americanos são incrivelmente superficiais ao tratar da amizade feminina -, e a coisa foi tratada com muita sensibilidade.
Um abraço,
Ricardo
Aí já abre espaço para outra discussão: as mulheres não confiam muito umas nas outras. Mas há aquelas que negam!!!! Exceção seriam as eternas amigas de “Sex and the City” e “Lipstick Jungle”.