Junho é o mês do orgulho LGBT . Este mês foi escolhido por causa das manifestações em 8 de junho de 1969, nos Estados Unidos.
Pessoas transgêneras têm conquistado maior visibilidade e alguns programas de tv por assinatura abordam mais abertamente o tema, como o canal E!, que, em janeiro de 2019, estreou o reality show The Bi Life. Porém, o preconceito contra a bissexualidade – bifobia – continua forte.
Violência: um problema que contribui para a invisibilidade bi
No Brasil, a violência contra transexuais e transgêneros permanece altíssima. A hashtag #criminalizaSTF certamente contribuiu para que, em 13 de junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovasse a criminalização da homofobia e da transfobia no Brasil. Configuram crime com pena de1 a 3 anos, além de multa, atos contra homossexuais e transexuais
O entendimento da sexualidade pelos profissionais de saúde
Nas graduações de Psicologia e Medicina, não se fala muito sobre sexualidade humana. É preciso fazer uma formação à parte e/ou estudar muito, por conta própria.. Assim, não é de se estranhar que mesmo entre estes profissionais não se fale muito sobre a bissexualidade.
A bissexualidade é, provavelmente, a orientação sexual que sofre maior preconceito, pelo desconhecimento. A bifobia não vem só dos heterossexuais. Gays e lésbicas e, surpreendentemente, bissexuais podem ter preconceito contra esta orientação.
Bissexualidade
Por este silêncio, há bissexuais que se questionam: “será que um dia eu me defino?“. Alguns acreditam que a bissexualidade seja apenas uma fase de experimentação, antes de uma transição definitiva para os pólos. Ouviram isto de muitas outras pessoas – e infelizmente, de psis.
A escala Kinsey de Sexualidade, se baseia em uma visão monossexual. Porém, a partir dela , pode-se questionar se a população bissexual não seria maior do que se supõe.
Segundo a escala Kinsey, com dados sobre a sociedade americana, apenas 50% da população é exclusivamente heterossexual. Ou seja, a diversidade é a norma e a orientação sexual pode ser fluida, momentânea, para grande parte da população.
Nos últimos anos, mais pessoas famosas, estrangeiras ou não, têm se declarado bissexuais. É importante que façam esta distinção pois a mídia muitas vezes fala que a pessoa ‘assumiu sua homossexualidade’.
Discutir sobre a existência da bissexualidade parece limitante, pois seria a briga por um rótulo a mais. Porém, é muito necessária, para combater a bifobia e a violência que vem dela.
No twitter, em 2016, a hastag #FoiBifobiaQuando ajudou a identificar algumas situações em que ela se apresenta.
Crenças negativas sobre a bissexualidade
E quais são as principais crenças sobre bissexualidade?
- Bissexuais só querem ‘o melhor de ambos os mundos’: as vantagens sociais da heterossexualidade e o prazer ilimitado.
- Bissexual é quem ainda não se decidiu;
- Bissexuais são incapazes de serem fiéis ou ficarem em uma relação compromissada;
- Bissexuais gostam de orgias, sexo grupal, ménage etc;
- Bissexuais são pedófilos em potencial.
Crenças são ideias. Não são necessariamente verdades. Em cá entre nós, muitas das generalizações acima poderiam ser aplicada tanto a héteros como a homossexuais.
Porém, héteros e homossexuais alimentam a crença de que bissexuais não são fiéis, per si. E esquecem que a infidelidade ocorre independente da orientação sexual.
Coisas que você talvez não saiba sobre bissexuais
Há muitas fantasias sobre os bissexuais – muitas vêm da ficção: teledramaturgia e filmes colaboram para isto. Vamos tentar desconstruir algumas:
- Bissexuais podem ser monógamos, caso estejam comprometidos nos seus relacionamentos. O que não significa que serão monossexuais.
Ou seja, podem ter desejo por homens e mulheres mas se manterem fiéis ao seu relacionamento.
- Bissexual pode ser quem apenas deseje – sem sequer ter tido relações sexuais. Mas aí é um conceito mais amplo de orientação sexual: o que fala de desejo e não de comportamento sexual.
Por que não “saem do armário”?
Muitos bissexuais, tanto homens quanto mulheres, não declaram sua orientação, para não deixarem seus pares mais inseguros.
Infelizmente, omitir sua bissexualidade contribui para que as pessoas com quem se relacionam fiquem confusas e inseguras, gerando um ciclo vicioso e reforçando a ideia de que “não são confiáveis”.
Quem descobre a bissexualidade do/a parceiro/a, pode se sentir muito traído(a). Mas, todas as pessoas merecem compaixão e serem ouvidas.
Ao pesquisar o tema, entrevistei bissexuais que também não conseguiam entender (ou aceitar) que tinham desejos por ambos os sexos. Acreditavam que a bissexualidade pudesse ser um transtorno, o que traz muito sofrimento. Não tinham autoaceitação e nem autocompaixão.
A bissexualidade, tanto quanto a homossexualidade, abre debates que envolvem juízos de valor e valores morais. Pessoas que se dizem religiosas muitas vezes rotulam como algo pecaminoso, algo a ser corrigido.
Nenhuma orientação sexual é doença
A Medicina e a Psicologia declaram que a orientação sexual, por si só, não está relacionada a nenhum transtorno mental, sendo proibido tratamento para “mudar” a orientação sexual (se você souber de algum profissional que tente, denuncie aos respectivos Conselhos).
Na verdade, o armário bissexual tem duas portas: uma para homossexualidade, outra para a heterossexualidade.
Abrir ambas ao mesmo tempo requer muito mais do que coragem: requer autoaceitação e entendimento. Afinal, é duplamente difícil se assumir como gostando de ambos os sexos – por vezes indistintamente, por outras com alguma preferência, seja pelo comportamento ou estilo de vida.
Quem tenta buscar explicações para se justificar perante a sociedade e não as encontra sofre ainda mais.
A bissexualidade nas artes
Poucos são os filmes que mostram exemplos de bissexualidade bem vivida e bem resolvida. Muitas vezes bissexuais são representados como pessoas “traíras”, os antagonistas. Podem ser os vilões, que usam a sexualidade para manipular e conseguir o que querem.
Obviamente, esta representação contribui para a imagem negativa de bissexuais.
Aqui no blog já falei de dois filmes: Contra Corrente e Minhas mães e meu pai. Ambos foram premiados e vale assisti-los para debater a dificuldade da aceitação, que mantém a invisibilidade dos bissexuais.
Também é importante citar Frida, sobre a vida da artista mexicana Frida Kahlo, Brokeback Mountain e Traídos pelo Desejo (Oscar de melhor roteiro original).
Psicoterapia – o papel na aceitação da sexualidade. Sua e a dos outros.
A Psicoterapia pode ajudar no processo de autoaceitação da sua orientação sexual – seja ela qual for. Caso você se defina como bissexual, é importante buscar um /a psicólogo/a que não tenha bifobia.
Lembre-se: é proibido pelo Conselho Federal de Psicologia tentar modificar a orientação sexual do(a) cliente. Portanto, se você encontrar algum(a) psi assim, denuncie ao Conselho.
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Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, na linha de Família e Casal, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e Extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso. Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.
Atendimento a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial em Copacabana. Durante a pandemia, os atendimentos são prioritariamente online.