Talvez você tenha se surpreendido com este título. Mas, sim, algumas “brigas” podem fazer o relacionamento de um casal melhorar. Na verdade, discussões. Nada que envolva agressão física ou verbal.
Tudo depende de porque se discute, de como se discute e também da frequência das discussões.
Infelizmente, muitas crenças sobre o amor romântico prejudicam os relacionamentos amorosos.
Crenças sobre os relacionamentos amorosos
Uma delas é que os casais que se amam não brigam, ou melhor, não discutem.
Esta, especificamente, é pouco realista. Afinal, as pessoas que formam um casal vêm de históricos familiares diferentes, com valores e estilos diferentes. E precisam se adaptar um ao outro.
Tais expectativas, advindas do romantismo, fazem alguns casais desistirem fácil de um relacionamento. Ficam em um cabo de guerra sem saber como mudar. Às vezes, basta largar a corda – afinal, nem todas as brigas valem a pena.
Além disto, a sociedade muda em ritmo cada vez mais acelerado e é preciso ser flexível, tanto psicológica como cognitivamente. Os valores de cada família muitas vezes pedem revisão.
Desafios da vida em casal
Viver a dois demanda flexibilidade e treino. Amar é uma habilidade, e não uma emoção. Como habilidade que é, pode ser treinada e aprendida, como diz o filósofo suíço Alain de Botton. Mas para isto é importante ter consciência das dificuldades de cada um e ter compaixão, também, diante da vulnerabilidade – da sua e a do outro.
A vida real demanda que se busque a solução para os problemas. E isto inclui aprender a lidar com suas frustrações e feridas emocionais, que muitas vezes são trazidas da família de origem ou dos padrões da cultura. Demanda flexibilidade psicológica e cognitiva.
Não será este o verdadeiro amor: aceitar a outra pessoa como ela é, sem tentar modificá-la? Casar com a esperança de mudar a outra pessoa, em geral, leva à decepção. Tanto quanto você, a pessoa amada é humana. Por isto, ambas são passíveis de erro – e também merecedoras de perdão.
Discussões não apontam para o fim e podem ser melhores do que o silêncio
The Gottmann Institute, especializado em pesquisas sobre casamentos, publicou um texto contrariando a crença de que casais não devem ir dormir brigados. As pesquisas do instituto apontam que, muitas vezes, o melhor a fazer pelo relacionamento é esperar um tempo para poder conversar. Os ânimos se acalmam e o diálogo se torna possível.
Por outro lado, se a comunicação se fecha totalmente e o silêncio se prolonga, pode ser indicativo da indisposição para negociar – ou sinaliza a desistência de mudar algo na dinâmica amorosa.
A forma de discutir porém é importante e, por isto, devem-se treinar habilidades de comunicação. É preciso desenvolver uma escuta compassiva e atenta, não violenta.
O estilo de comunicação do casal
Se a tecnologia favoreceu a facilidade de comunicação, por outro lado, aumentou a ansiedade – inclusive da espera de resposta. Portanto, é importante que o casal estabeleça algumas regras e seja flexível. Nem sempre a ausência de resposta significa pouco caso ou abandono.
Porém, é importante que cada um se autoconheça. Pessoas que têm esquemas de privação emocional ou de defectividade podem se sentir muito desprestigiadas se o/a parceiro/a não fica disponível o tempo todo, por exemplo.
A ansiedade dispara, não conseguindo perceber o contexto da demora. Dependendo da estratégia de enfrentamento, pode surgir um conflito à toa, despropositado, porque atingiu seu ponto de vulnerabilidade. E a outra pessoa, ao se sentir questionada, pode também ter algum esquema acionado – e a discussão se prolongar.
Status de relacionamento
Os relacionamentos amorosos se tornaram o centro de vida para muitas pessoas, ao contrário do que aconteceu ao longo da história da humanidade. Antes, o fator determinante da união era o acordo financeiro estabelecido entre as famílias. Aliás, a pressão familiar era um fator fundamental para a manutenção dos casamentos. Assim, até meados do século 20, os casamentos duravam praticamente toda a vida – até que a morte separasse.
A duração não implicava em felicidade conjugal, algo que se persegue hoje. Porém, a felicidade não era um requisito tão procurado ou então era algo muito diferente do que se espera hoje no Ocidente.
Hoje, a vida amorosa pode significar sua qualidade da vida como um todo, como disse a terapeuta de casais Esther Perel, em uma das suas muitas apresentações sobre o amor contemporâneo.
Há quem considere um ‘atestado de competência emocional’ e experimente grande sofrimento quando não está em um relacionamento amoroso.
Como fazer seu relacionamento dar certo?
Não existe receita de bolo, mas algumas dicas são consenso:
- Aposte no seu autoconhecimento
- Avalie (e repense) suas expectativas sobre relacionamentos.
- Desenvolva a comunicação não violenta
- Aprenda a negociar acordos que fortaleçam os vínculos.
A psicoterapia (individual ou de casal) pode contribuir para isto, ao rever sua história amorosa. Você também aprende a desenvolver flexibilidade psicológica e cognitiva. E estas são condições essenciais para a saúde do vínculo amoroso.
Também é fundamental que as pessoas ajam de forma compromissada com os valores que o casal estabeleceu. Mas para isto o diálogo tem de ser estabelecido.
Temas tabu
Alguns assuntos não costumam ser abordados ‘preventivamente’. Talvez seja o medo de por o relacionamento a perder – o que acaba aumentando a chance de realmente não se manter. Porém, é justo antes de formalizarem a união que fica mais fácil conhecer os valores do par e negociar os que podem ser os do casal.
E quais são os assuntos que os casais têm mais dificuldade de conversar? Alguns deles são as finanças, as respectivas famílias, passado amoroso e infidelidade.
Parece um pensamento mágico, como se evitar estes tabus diminuísse a chance de uma separação.
Esther Perel, terapeuta de casais belga, que mora e trabalha em Nova Iorque, chamou a atenção com um olhar mais filosófico – e provocador – sobre os relacionamentos amorosos na era digital, em seus livros e palestras.
“O combinado não sai caro” .
Relacionamentos amorosos mais transparentes tendem a ser mais duráveis. Porém, muitas vezes, só se consegue estabelecer uma comunicação mais clara e não agressiva após um processo de psicoterapia.
Oprah Winfrey, em uma apresentação na Escola de Negócios de Stanford, mencionou 3 perguntas que, segundo ela, a ajudaram em várias situações (não apenas em relacionamentos amorosos mas, também). São elas:
- “Você me ouviu?”
- “Você me enxergou?”
- ” E o que eu disse significou alguma coisa pra você?”
Como se fazer ouvir
Muitas vezes quem inicia a discussão fala de forma magoada, ressentida – e muitas vezes agressiva. A outra pessoa se fecha e já não consegue ouvir o que está sendo reivindicado. Só quer se defender.
É consenso entre os terapeutas de casal que, ao invés de começar a acusar o outro, ao iniciar uma discussão ou pedir uma mudança de comportamento, ao invés de começar criticando o par, a pessoa deve colocar o foco em si. Como ela se sente?
Assim aumentam as chances do outro ouvir e entender do ponto de vista de quem fala.
Terapia de Casal ou Terapia Pré-Matrimonial
O que uniu o casal ainda se mantém? O quanto cada um mudou? Com o passar do tempo, ambas as pessoas vão se modificando e, podem ter se desviado do que se propunham no início.
Ainda existem valores em comum? O que mudou?
Além da Terapia de Casal, a Terapia Pré-Matrimonial é uma alternativa para casais de namorados em dúvida sobre se devem ou não ir em frente.
Neste tipo de terapia, os casais conversam sobre assuntos “espinhosos”. Assim, podem se conhecer mais profundamente antes do grande desafio da convivência diária. Ao falarem de seus valores, terão de estabelecer acordos e aprenderem a negociar e a aceitar o outro como ele é.
Aumente sua tolerância e a flexibilidade consigo e com o seu par. Procure ajuda especializada, faça psicoterapia.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, pré-matrimonial ou de casal, em Copacabana.
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