Enquanto se é jovem, a maioria das pessoas sonha com o dia da aposentadoria para, enfim, fazer aquilo do que se realmente gosta . Mas, quando chega a hora de dizer adeus ao mundo do trabalho (e chega muito mais rápido do que se imagina, na juventude…), os sentimentos são bastante diversos. Muita gente se deprime, sentindo-se como se tivesse se  despedido da vida… Há quem se entregue e envelheça (fisicamente) em pouco tempo o que não envelheceu nos últimos dez anos.

É compreensível: no Brasil, em geral, ao se aposentar, a perspectiva não é nada boa. Com um sistema de saúde público e previdência precários, poucas pessoas têm a tranquilidade de ter previdência privada, que possibilitaria manter o padrão de vida no nível em que se tinha antes. Custos com saúde aumentam e, com a expectativa de vida aumentando , pode-se enfrentar um grande baque financeiro.

Além das dificuldades econômicas, a pessoa começa a questionar o sentido da própria vida, o que fez ou deixou de fazer. Se renunciou a muitas coisas muito importantes, ou se as adiou, e percebe agora que não conseguirá realizá-las, pode deprimir. Pode perceber que as coisas pelas quais se sacrificou não valeram a pena.

Soma-se a isto que, por vezes, também terá de enfrentar o preconceito na própria família frente ao rótulo “aposentado/a”. Em algumas, somente as pessoas que são economicamente ativas são respeitadas. Parando de produzir, não terá mais voz. Ou poderá virar simplesmente um/a cuidador/a dos netos – algo que pode ser muito prazeroso, mas não para todos. Ou talvez nem tanto quando vira obrigação diária.



É muito comum que a pessoa que tinha um ritmo acelerado ou até cargos de chefia sofra ao ter de adotar um ritmo de vida mais lento. Ao invés de se adaptar, tenta se impor, não conseguindo se adequar ao ritmo das outras pessoas. Com isto, pode gerar alguns conflitos desnecessários, apenas por estar com a autoestima em baixa.

Se por um lado há um “boom” de atividades para a terceira idade, as empresas no geral ainda não se preocupam em preparar a pessoa para se aposentar. Às vezes apenas se preocupam com pacotes para motivar a pessoa a se retirar do mercado de trabalho o quanto antes. Dão um tapinha nas costas quando o/a funcionário/a completou o tempo de serviço e … tchau! As questões que se apresentam para quem se aposenta poderiam ser tratadas a nível corporativo. Porém, sendo responsáveis por nossa qualidade de vida, convém não esperar pela mudança de mentalidade e por decisões organizacionais.

Portanto, fica a sugestão: a proximidade da aposentadoria é um bom momento para começar um processo psicoterápico. Quem ainda não pensou no que vai fazer com as horas que terá disponíveis, pode se preparar. É um bom momento para vislumbrar melhor as muitas possibilidades que se abrem à frente. Encarando as necessidades reais e entendendo melhor as restrições que possam surgir a qualidade de vida na aposentadoria pode ser muito boa.

Recentemente, um filme francês – “Os belos dias” – tratou do tema. Junto com o questionamento sobre o que fazer com as horas que sobram, como combater a depressão tão recorrente neste caso, o filme trouxe também uma interessante questão: a sexualidade do idoso. Sim, é bom ir vencendo os preconceitos quanto à vida sexual na terceira ou quarta idade: com a expectativa de vida se alongando, por a aposentadoria sexual deveria vir cedo?

Vale a pena conferir para repensar velhos conceitos. A seguir, o trailer…





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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio.

Aposentadoria: uma fase nova

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