Há algum tempo, debatia com amigas sobre os termos ‘idoso’ e ‘terceira idade’. Seriam tentativas de amenizar o fato da velhice, evitar a constatação de que se é velho/velha? Olhando homens e mulheres dos grandes centros urbanos, percebemos que hoje a maioria tenta, cada vez mais, driblar ou combater a velhice. Muitas vezes, mesmo que não combata, tenta disfarçar – quantos conseguem lidar bem com o espelho e ver o enrugamento da pele, perda de cabelo ou aceitá-los grisalhos? Nas redes sociais, pouca gente expõe sua idade verdadeira. Mas não é de hoje o culto à juventude, sempre associada à beleza.
Talvez o que haja de pior seja a mudança de metabolismo e as alterações físicas trazendo redução de possibilidades – muitas vezes imaginadas, apenas. Há também as impostas pelo social: filhos e netos do novo milênio tentam controlar os pais, cada vez mais ‘rebeldes’, autônomos, independentes. Se a nova geração ainda anseia pelo modelo tradicional, a longevidade fez com que os ‘novos velhos’ recusem cada vez mais os papéis em que seus antepassados se encaixavam.
Esta discussão pode ser infindável, filosófica, dolorosa. Ou bem humorada e otimista. Foi neste clima que saí do cinema após assistir a O Exótico Hotel Marigold. O elenco é maravilhoso, a história muito bem contada e de forma leve se abordam questões incômodas sobre a velhice. Um grupo de britânicos ‘idosos’ revê suas vidas. Por razões diferentes, buscam, numa época de aposentadoria, ‘correr atrás do prejuízo’. E quem tem pernas para correr atrás, nesta altura do campeonato? Quem realmente não envelheceu na alma. O que pode ser o fim da vida para alguns, para outros pode ser um reinício – dependendo de como se olha para ela. A sexualidade de idosos, contrariando aqueles que acham que ‘velhos’ não têm desejo sexual (será que é o motivo principal para não se querer envelhecer???), também é abordada de forma doce e bem humorada.
Velhice vai além da idade cronológica: tem a ver com enrijecimento. Velha não é necessariamente a pessoa com a pele mais enrugada, cabelo mais branco (ou menos cabelo). Talvez seja lugar comum repetir que a alma é jovem, mas é justamente isto: pode-se chegar aos 70 , 80 ou 90 – até mais – enquanto se assumem riscos. Não desnecessários ou suicidas, mas aqueles que possibilitam a mudança na direção da felicidade. Ora, mas o que é felicidade? Cada um responde por si, não tem como esgotar aqui…
E quantas pessoas a gente conhece, que ainda jovem cronologica e biologicamente, não conseguem ousar, não arriscam nada? Talvez devessem partir para uma jornada assim, como a dos personagens do filme. Talvez não exista um destino mais ‘chacoalhante’ do que a Índia para acabar com a rigidez e a empáfia que, cá pra nós, não é exclusividade dos britânicos. O trailer a seguir, curiosamente, não estraga a surpresa do filme – pelo contrário, até engana…
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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio e atende no Centro do Rio .
A idade de envelhecer