Os descendentes é um filme de 2011, que tem George Clooney como protagonista, em um papel bastante diferente daqueles em que o vemos geralmente. Por ele, obteve um Globo de Ouro como Melhor Ator.
“As” descendentes seria um melhor título, como se percebe logo no início. Retrata um momento crítico na vida de parte da família King . Contextualizando, os King compõem uma imensa família, proprietária de parte das ilhas do Hawaii. Apesar de tocar, de leve, em questões como ocupação da terra, especulação imobiliária e impacto ambiental, tudo isto é apenas ‘contexto’, e não o foco. Nem do filme e nem do post. O núcleo que nos interessa é composto por Matt (Clooney) e suas duas filhas. Sua esposa, Elizabeth, mãe das jovens, encontra-se em coma, por ter sofrido um um acidente de barco. O filme nos lembra da imprevisibilidade da vida, de como nossos planos adiados podem ruir e nunca serem realizados. Sendo por um fio, tudo pode mudar de uma hora para outra – como aconteceu com Matt.
Advogado que vivia mergulhado no trabalho, mesmo sem necessidade financeira que justificasse tanto empenho no trabalho, Matt mal acompanhava o crescimento das filhas. Tampouco era um marido presente ou atento. Quando Elizabeth sofre o acidente, contabilizava vários dias sem sequer falar com a esposa. Sentindo-se culpado pelo afastamento, toma a decisão de cuidar melhor do casamento, fazendo o possível para torná-lo novamente feliz. Porém, o médico de Elizabeth tira suas esperanças. Daí advém seu desespero quando vê que não pode consertar o que ficou como pendência. Além disto, tem de assumir cuidados que nunca foram seus, incluindo passar a ser um pai presente.
Sua filha caçula, Scottie, tem 10 anos aproximadamente e tem vários comportamentos agressivos a partir da internação da mãe. Faz bullying com uma menina da escola e o pai dá um excelente exemplo levando-a para reparar o que falava para a colega de escola. Sentindo que não está dando conta sozinho neste delicado momento, Matt tira a filha mais velha, Alexandra, da escola, em outra ilha. Compartilha com ela o diagnóstico passado pelo médico e pede que ela supere as desavenças com a mãe, ajudando-o a lidar com Scottie. Adolescente (Shailene Woodley foi indicada, por este papel ao Globo de Ouro como Atriz Coadjuvante, tendo ficado famosa pela série Divergente), parece ser mais uma rebelde sem causa. Tinha tudo do melhor, à exceção da presença do pai. Logo no início, vemos que ela não cumpria a disciplina do seu colégio e ainda abusava do álcool. Como o pai, também estava afastada da mãe, com um histórico de discussões – que Matt julgava tolas. Mas ao contar a verdadeira situação da esposa, Matt se depara com um segredo que Alexandra guardara. O cartaz de divulgação do filme dizia que ‘toda família tem um segredo’. Na verdade, algumas têm mais de um. É sabido que segredos, muitas vezes, ‘assombram’ várias gerações, se não forem esclarecidos. Coisas não ditas, não reveladas, perturbam. A família King – ou melhor, Matt e Alexandra – resolve encarar de frente e entender o seu.
Se viu o filme, continue a leitura. Se não, melhor assistir antes (deixe o trailer pra depois) e voltar para comentar . Se for em frente, prepare-se para os spoilers.
Ao trazer Alexandra pra perto de si e da irmã, Matt tem um choque com uma revelação: sua mulher o traía e planejava se divorciar. Começa então sua busca desesperada para saber quem era o homem com o qual a mulher se envolvera, algo meio incompreensível para muitos. Em uma corrida contra o tempo, Matt tenta se despedir (ou se redimir) perante Elizabeth. De forma muito nobre, tenta preservar a imagem da esposa perante sua família. Demonstra grande capacidade de perdão, algo muitíssimo difícil.
Não há grandes discussões filosóficas sobre a brevidade da vida, nem tampouco sobre a libertação que o perdão traz. Matt é eminentemente prático: tem de preparar familiares e amigos para a eminente morte da esposa (isto daria outra enorme discussão, remetendo a filmes como Fale com Ela, O escafandro e a Borboleta, dentre outros).
Classificado como comédia dramática, Descendentes está mais para drama com algumas pitadas de humor, bem administradas pelo diretor. Alexander Payne (o mesmo dos excelentes Sideways e Confissões de Schmidt). Mas o saldo final é revisão dos nossos valores e como experienciamos os nossos relacionamentos amorosos e familiares.
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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo Cpaf-Rio e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso, pelo IPq – Usp. Atende no Centro (Rio) e em Copacabana.
Ainda não viu ou não comentou A SEPARAÇÃO. Depois não vai saber por que ele é o único filme que ganhou O Urso de Ouro, Globo de Ouro e vai ganhar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É perfeito para o seu blog. Como diz o seu diretor: EM CADA VIDA HÁ VÁRIOS TEMAS…voce iria se fartar. bjoca
Não vi ainda, Henrique! Já sei que é ótimo, to atrasada mesmo com todos… Tentarei ver antes do Oscar… Obrigada pelo seu comentário, beijos!