Sabe aqueles dias em que tudo o que você precisa é ver um filme leve, que não seja imbecil e não faça querer seu dinheiro de volta? Se você procura um filme totalmente crível, com gente comum, não deveria perder Românticos Anônimos (Emotifs Anonymes). Sou sabidamente admiradora dos filmes franceses, sejam comédias ou dramas. E este, se você estiver de mal com a vida (e quiser ficar de bem), é altamente recomendável – a não ser que você goste de ser mal humorado/a 🙂
O filme mostra o estrago que a timidez pode causar na vida de alguém. No caso, dois alguéns: Jean-René e Angélique, que vivem solitários e cujas vidas profissionais atravessam um momento crítico. Ele está à beira da falência. Ela, desempregada. Mas, pelo menos, ambos estão conscientes de que precisam de ajuda: Jean-René faz psicoterapia (o consultório do psi tem um divã que sugere psicanálise, mas os exercícios prescritos sugerem uma linha mais cognitivo-comportamental. Já Angélique frequenta um grupo de ajuda, os “Emotivos Anônimos“, que dá o nome original ao filme.
E como os dois, tão tímidos, vão se encontrar? Conhecem-se por força da paixão que os une: o chocolate. Ah, um aviso: se você gosta de chocolate, antes de começar a assistir o filme, vai querer devorar vários. Melhor comprar antes 😉 Jean-René é dono de uma chocolateria que está indo à falência porque não conseguiu se modernizar. Angélique vai buscar emprego – ela é uma excelente chocolatière, mas, por conta da sua timidez, não corre riscos profissionais, evita ser avaliada. Viveu à sombra e por não ter assumido seu dom, meio que numa comédia de erros, é contratada como representante de vendas da fábrica de Jean-René. Logo ela, totalmente tímida.
Aliás, uma série de confusões os joga em situações românticas – não pensadas a princípio pelo empresário. E Angélique se revela uma mulher muito parecida com várias outras que se precipitam quando veem a possibilidade de um romance pela frente.
Na vida real, não é nada risível assim. Como psi, enquanto os espectadores gargalhavam no cinema, pensava em o quanto é comum que os pacientes se vejam em situações parecidas – de perda de oportunidade, da falta de se auto afirmarem, de passividade – sem que achem tão divertido. Se um pouco de timidez, em algumas situações, é considerado ‘charmoso’, em excesso, faz perder oportunidades. Em todas as áreas: profissional, amorosa, familiar, entre amigos. Mas, como Jean-René explica, é muito angustiante. Muitas vezes a timidez faz com que a pessoa seja julgada como antipática ou desinteressada.
Mas, nada que não se possa modificar. Quem sofre de timidez pode -e deve – procurar ajuda . A TCC é provavelmente a abordagem psicoterápica que traz as melhores técnicas, propondo o treinamento em habilidades sociais – bem mais eficientes do que as sugeridas pelo psicólogo de Jean-René.
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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e atende no Centro do Rio.