Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

30/09/2020

“Devo fazer psicoterapia?”

A pandemia de coronavírus fez muita gente se perguntar “devo fazer psicoterapia?” Ou que assumisse que não devia mais adiar.

Se você decidiu, por si só, buscar ajuda agora, parabéns.

Muita gente que sabe que precisaria fazer terapia tem medo de ser julgada. Teme ser vista como ‘maluca’, ‘problemática’. E aí não passa da fase do desejo. Até busca indicação de vários profissionais. Mas não faz contato.

Sinceramente, se fosse possível TODA E QUALQUER PESSOA deveria, pelo menos por um tempo em sua vida, passar por um processo psicoterapêutico.

Como sou psicóloga, você pode estar pensando que digo isto em causa própria. Sei que existem questões sociais que inviabilizam. Mas, estou falando de um mundo mais justo.

Mas, na verdade, para que fazer psicoterapia?

Razões para buscar psicoterapia

São inúmeras as razões. Algumas delas já existiam antes da pandemia, como, por exemplo:

  • Autoconhecimento. Quem se conhece bem, sabe os seus gatilhos. Desenvolve maior autocontrole e consegue superar muitas de suas dificuldades e enfrentar seus medos;
  • Superação de traumas – tanto os remotos quanto os recentes;
  • Desenvolvimento de habilidades sociais;
  • Como parte da formação em psicologia – é super recomendado, apesar de, infelizmente, não ser obrigatório;
  • Para melhorar o relacionamento amoroso;
  • Para lidar melhor com filho(a)s;
  • Para (re)definir a trajetória profissional;
  • Por ter recebido algum encaminhamento – médico, judicial, da escola;
  • Para aprender a controlar o humor;
  • e várias outras razões

A psicoterapia ajuda você a ter uma vida mais plena e satisfatória, compatível com seus valores, se você se engaja no processo.

Covid e confinamento

Durante a pandemia, no Brasil e no mundo, houve tantas perdas que se pode dizer que vivemos um luto coletivo. Milhares de pessoas no Brasil perderam parentes ou amigos, o desemprego aumentou.

A rotina de todos foi alterada. O planejamento pessoal teve de ser revisto ou cancelado.

Este panorama gera muita ansiedade. E o Brasil já havia sido considerado o país mais ansioso do mundo. Ou seja, o quadro só tem se agravado e por isto é tão importante cuidar da sua saúde mental.

Além disto, o consumo de psicofármacos, bem como de drogas ilícitas, aumentou. A pressão por equilibrar e conciliar a vida doméstica e a profissional é grande. Trabalha-se muito mais agora de casa.

A fadiga do Zoom tem sido relatada pelos psiquiatras. Burnout, aumento de ansiedade e depressão também aumentaram e por isto é tão importante cuidar da saúde mental e emocional.

Relacionamentos amorosos e familiares

A pandemia afetou os relacionamentos amorosos. Passando mais tempo juntos, alguns casais tiveram de encarar seus problemas. Muitos eram suportados porque o tempo de convívio era limitado a algumas horas do final de semana.

Assim, muitos casais que não conseguiram se entender, se separaram.

Casais com filhos tiveram de ser mais criativos. E ter paciência e flexibilidade, principalmente na fase em que as escolas não estavam funcionando e tinham de conciliar com o homeoffice.

Por outro lado, o distanciamento fez com que outros decidissem finalmente se juntar.

As incertezas do momento são tantas que profissionais da área da saúde mental estão sendo super requisitados.

Como escolher

É natural ficar em dúvida sobre como escolher um(a) psicoterapeuta.

Quem já tem algum conhecimento de Psicologia, procura pela abordagem teórica.

Mas muitas pedem indicações a pessoas conhecidas ou a outros profissionais de saúde.

Antes da pandemia, um critério importante costumava ser proximidade da residência ou do trabalho. Porém, durante a pandemia, a maioria dos atendimentos tem sido apenas online.

Outro critério costuma ser o valor da terapia.

Abaixo, alguns critérios sugeridos para facilitar a escolha, segundo o Crisis & Trauma Resource Institute, com adaptações para a nossa realidade e para o nosso tempo de pandemia.

– Pense no tipo de ajuda profissional que você quer.
  • Para quê você busca psicoterapia agora? Há uma questão específica? Ou para um autoconhecimento a longo prazo, sem pressa?
  • É importante saber se sentiria mais à vontade com um homem ou uma mulher como terapeuta. A psicoterapia deveria ser individual, de casal ou familiar…
– Peça recomendações.
  • Se alguém que você conhece faz ou fez psicoterapia, ou é da área de saúde mental, fica mais fácil encontrar uma boa indicação. Já pode ser a primeira forma de tirar dúvidas.
  • E, se a pessoa indicada não puder, por algum motivo, atender você – ou não servir ao tipo de terapia de que você precisa, pode indicar outro que possa atender melhor às suas necessidades.

Não desista fácil.

– Cheque referências locais.
  • Se você não tem recomendações, busque na internet . Leia sobre o(a) profissional, procure ler o que publicou para conhecer melhor a sua linha de trabalho.
– Contate diretamente o/a psi que você escolher.
  • Algumas pessoas param nesta fase. Pegam a indicação e passam-se dias, semanas, anos até. Mas lembre-se: sua vida está indo em frente. Profissionais são formados e treinados para ajudar pessoas que tenham passado por vários tipos de problemas.
  • Hoje em dia, existem vários recursos além do telefone. Um primeiro contato pode ser por e-mail ou whatsapp, mas se você puder falar por voz já perceberá se como a conversa flui. Já pode ter uma noção do estilo do(a) psi.
– Entrevista
  • Com várias indicações, você pode ficar em dúvida. Marque entrevistas com os profissionais indicados e veja o quanto você se sente à vontade para se expor.
  • Você tem o direito de perguntar sobre o método de trabalho e avaliar se a parceria pode ser boa. Procure saber se o/a psi trabalhou com questões semelhantes às suas e se sente confortável ou tem expertise para trabalhar a situação que faz você procurar psicoterapia.
  • Agende pelo menos uma entrevista para saber se quer estabelecer o vínculo psicoterapêutico com o/a profissional contactado/a. Alguns profissionais nem cobram esta entrevista inicial.
– Use sua intuição
  • Ela é importante para um bom rendimento da terapia. Avalie o quanto se sentiu à vontade para falar do seu problema. Considere desde o contato por telefone até a entrevista – online ou presencial.
  • A empatia é fundamental. Psis super conceituados academicamente podem, eventualmente, não serem tão empáticos. Não se sentindo à vontade, o horário da consulta tende a se tornar aversivo. Em pouco tempo talvez você não tenha vontade de ir às sessões. Não basta ter um bom currículo, bons psicoterapeutas têm de ter empatia e consideração bem desenvolvidos, fazendo com que você se sinta disposto(a) a falar do que levou à psicoterapia.
Autoobservação e expressão das emoções

Caso você não se sinta à vontade, durante a entrevista, seria muito bom que você conseguisse expressar isto, dizendo as reais razões. Até porque, pode ser algo contornável. Caso não seja, ele(a) pode encaminhar a outro(a) profissional, que se adeque melhor ao seu perfil e necessidades.

Então, dê um passo à frente, em direção a uma vida mais plena de significados. Comece a sua psicoterapia, invista no seu autoconhecimento.
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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, na linha de Família e Casal, tendo formação em TCC pelo CPAF e trabalhando com com a Terapia de Aceitação e Compromisso e a Terapia do Esquema (em formação pela Wainer Psicologia).

Atende a jovens e adultos, em terapia individual, pré-matrimonial ou de casal. Durante a pandemia, os atendimentos estão sendo prioritariamente online.

07/09/2020

Inteligência emocional: como desenvolver a sua

No final dos anos 90, Daniel Goleman ficou famoso ao lançar seu livro Inteligência Emocional. Este conceito se  popularizou e vários livros, cursos e treinamentos surgiram a partir do bestseller.

Infelizmente, passados quase 30 anos, a inteligência emocional (I.E)  ainda é muito pouco treinada. Este treino deveria começar em casa, mas a maioria das famílias não estimula estas competências nas crianças.

Justiça seja feita: pais e mães, em geral, não receberam este treinamento dos seus cuidadores também. É tudo muito recente.

Preparando as novas gerações 

Ainda que já se saiba da importância da inteligência emocional, famílias que têm poder de escolha ainda optam por matricularem seus filhos e filhas  em escolas que os preparam  para serem competitivos. Querem garantir a empregabilidade deles, reservando  seu lugar no “mercado”.

No Brasil,  o desempenho dos colégios no ENEM é um critério decisivo para muitos. No Rio de Janeiro, as escolas dos “santos” (Santo Agostinho, Santo Inácio, São Bento, dentre outras) estão melhor no ranking e têm processos seletivos estressantes mesmo para  crianças pequenas.

Cada vez se reduz mais o tempo para brincar. Com isto, cada vez mais  crianças e adolescentes estão deprimidos e ansiosos. Já sentem a obrigação de “performar” desde cedo e competir. 

O brincar e a formação 

Pesquisas da Associação de Pediatria Americana mostraram que a redução do tempo de recreio, com atividades externas, para aumentar o conteúdo pode ser prejudicial. Ao invés de melhorar o aprendizado, o dificulta. Aliás, são muitas as recomendações também em relação ao tempo de uso de tela.

Afinal, no brincar em conjunto, crianças e jovens aprendem importantes habilidades sociais. Através dos jogos, aprendem a obedecer regras.

Os esportes coletivos ensinam a trabalhar em equipe, negociar, respeitar o adversário, lidar com a frustração da perda –  e perseguir a vitória.

Crianças aprendem a cooperação em jogos e outras atividades lúdicas.

Foto em Unsplash de Anna Samoylova

Na hora de escolher onde matricular seus filhos e filhas,  responsáveis deveriam levar em conta que,  com o avanço da inteligência artificial e a robotização, as competências emocionais é que irão garantir a empregabilidade no futuro. Escolha  escolas que dediquem um tempo a lidar com as emoções, reconhecê-las e falar sobre elas.

Em um futuro próximo, a inteligência artificial vai suprir a primazia das habilidades técnicas. A inteligência emocional será o pré-requisito para os trabalhos mais interessantes, como  Michelle Schneider explica. 

Inteligência emocional contribui para relacionamentos mais satisfatórios

Na vida amorosa, a inteligência emocional também traz benefícios. Os relacionamentos são melhores, sem tantos altos e baixos, principalmente se ambos os parceiros desenvolveram estas competências.

Afinal, a inteligência emocional propicia maior  autocontrole e auto-observação. Com maior atenção à comunicação (verbal e não verbal) esta será,  portanto, mais assertiva e não violenta. Isto já é um fator que  predispõe a relacionamentos mais satisfatórios.

Inteligência emocional é, pois, praticamente sinônimo de  maturidade emocional, pois permite a autorregulação das emoções.

Sinais da maturidade emocional
  • Você observa e reconhece suas emoções. Lida com elas, sem reações explosivas ou impulsivas. Não nega que sentiu raiva, frustração ou medo, por exemplo;
  • Você tem uma escuta atenta e consegue se comunicar melhor  e tenta compreender como as pessoas se sentem, sem julgamentos, mesmo que não concorde com seus pontos de vista;
  • Você não responsabiliza os outros pelos seus problemas;
  • Seu humor fica mais estável, você consegue controlar a sua impulsividade.
Como desenvolver sua inteligência emocional?

O reconhecimento e aceitação das emoções torna mais  fácil o autocontrole. Logicamente, quem tem algum transtorno pode tender à  impulsividade e agressividade.

Mas é possível  aprender a lidar com estes traços.  o que contribui para o maior sucesso em todas as áreas de  relacionamento com  outro ser humano. Se é você quem precisa desenvolver a sua inteligência emocional, dois dos principais recursos são:

  • psicoterapia
  • meditação.

O próprio Daniel Goleman fala sobre meditação em Inteligência Emocional. E depois do sucesso do livro, lançou outros falando sobre esta prática.

Várias  abordagens psicoterápicas  incluíram a meditação em sua prática clínica, para ajudar neste trabalho com as emoções. É uma forma de atuar também nos pensamentos que geram ansiedade.

Se você não sabe como meditar, tem um outro texto aqui no blog que pode ajudar – com dicas preciosas. Experimente!

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atualmente cursa a formação em Terapia do Esquema na Wainer Psicologia

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus,  os atendimentos são prioritariamente  online.

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