Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

29/03/2020

Coronavírus: toque de recolher

A pandemia de coronavírus colocou a humanidade em um cenário digno de roteiro cinematográfico: estamos enclausurados, com medo de ir à rua. Há quem compare este período aos filmes de ficção científica; outros, aos filmes de guerra.

A tecnologia e ciência tentam dar conta deste desafio, pesquisando cada vez mais. As pessoas socialmente responsáveis mantêm o isolamento solicitado pelas autoridades de saúde, para segurar a propagação do vírus.

Olá, como vai?
– Eu vou bem, e você?
– Eu vou indo…

A música Sinal Fechado, de 1974, já retratava vidas corridas. E a gente já meio que se orgulhava disto, disputando quem era mais ocupado. Depois da internet, a vida acelerou ainda mais.

Mas, em 2020, o mundo teve de dar um cavalo de pau: parada forçada, rodou tudo. É preciso mudar a direção agora. Não podemos usufruir da nossa liberdade de ir e vir, sequer parar em um sinal fechado e conversar com alguém.

É hora de repensar a vida, valores, relações, propósitos.

Pressa para quê?

Reuniões de trabalho presenciais foram desmarcadas, viagens canceladas e passamos para o home office. As confraternizações estão suspensas.

Desde o dia 16 de março, fechei o consultório em Copacabana, por tempo indefinido. Como vários psis, estou atendendo on-line. O Conselho Federal de Psicologia recomenda a modalidade para minimizar a transmissão do coronavírus.

Este é um momento desafiador: o mundo tem de se unir – e, ao mesmo tempo, ficar distante, fisicamente.

Difícil, né?

Para ajudar, no Instagram e Facebook, tenho compartilhado material relacionado aos desafios que todos temos enfrentado, com os comportamentos de prevenção.

O cuidado com a saúde mental faz-se ainda mais necessário do que nunca, no meio desta pandemia.

Quem já faz psicoterapia reconhece a importância de continuar. Quem sempre resistiu à ideia – por razões variadas – talvez agora se dê conta de que é a forma de ir em frente, revendo o que realmente importa para a vida, a médio e longo prazo. É hora de entrar em contato com os valores pessoais, repensar escolhas e se comprometer com o que se quer de verdade.

Maldição ou benção? Seu olhar define.

De certa forma, é uma guerra sim: a um inimigo invisível, um vírus, que se alastra devido à ignorância, à negação da morte e à falta de solidariedade e empatia, aos maus hábitos. As condições precárias em que vive grande parte da população contribuem para este quadro.

Como psicóloga, quero poder promover a saúde mental, ajudando a dar um sentido para tanto sofrimento. O psiquiatra vienense Vitor Frankl, que sobreviveu a um campo de concentração, escreveu o maravilhoso Em busca de sentido. Frankl afirmava que sobreviviam aqueles que tinham um propósito, citando Nietzsche:

Quem tem um para quê, pode suportar qualquer como.

A psicoterapia pode ajudar você a encontrar o seu propósito, alinhando os seus valores com as suas ações. A assumir a sua responsabilidade e se comprometer com o que realmente importa para você. E, nesta hora em que estamos mais recolhidos, é hora de repensar o que vai continuar fazendo sentido. Quem e o quê você quer manter por perto depois que isto tudo passar, e chegarmos ao ‘novo normal’.

Isolamento social x quarentena

Por enquanto, tudo o que precisamos fazer é apenas o distanciamento social, para minimizar os danos. Não chegamos a fazer no Brasil à quarentena, onde a restrição é ainda maior.

Infelizmente, muitas pessoas não mudaram a sua rotina. Algumas porque não podem, por exigência profissional ou de vida. Os profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, dentre outros tantos que se arriscam na linha de frente – merecem que a gente colabore, ficando em casa.

Foto de Ashkan Forouzani em Unsplash

Mas há pessoas que parecem negar a percepção do perigo que ronda a humanidade. Desacreditam nas pesquisas científicas.

Cabe então refletir o que tem se passado, por que estas pessoas não param? Acham-se invulneráveis? Ou é apenas o descaso pela vida alheia?

Sim, somos animais sociais e o isolamento social pode causar ansiedade ou mesmo depressão. Mesmo as pessoas que passam, por opção, boa parte do tempo em casa, com a proibição de sair, sentem-se ansiosas. Uma coisa é a escolha de ficar em casa, outra a necessidade.

Mas lembre-se: este momento vai passar. E cumpre que a gente faça a nossa parte para que passe da maneira menos danosa possível.

Não fazer o isolamento pode ser tanto um desprezo pela própria vida (na medida em que escolhe ignorar os dados científicos), quanto pela vida dos outros. Ou ambos.

Procure seguir as orientações dos profissionais da área de saúde. Alguns comportamentos podem ajudar você a lidar melhor com a sua ansiedade.

#ficaemcasa
  • Limite o consumo de informação. Veja noticiários o mínimo possível – já sabemos o necessário para nos prevenirmos: higiene ao máximo, o máximo de reclusão, evitar o contato físico;
  • Use a tecnologia de forma racional – e isto não é o mesmo de ficar direto no Whatsapp. Muitas informações são repetidas e não verídicas. Além de gerar mais ansiedade, congestiona a rede, prejudicando quem trabalha por internet e dificultando inclusive alguns serviços de delivery…
  • Invista no seu autoconhecimento – reflita e veja o que você quer fazer quando este período acabar.
  • Faça mais do que você gosta e antes não encontrava tempo – que atividades, dentro de casa, são suas favoritas? Há muitas opções: ler, cozinhar, dançar, desenhar, meditar. E muitas outras.
Regulação Emocional

Aliás, um pequeno parêntesis: sempre destaquei que a meditação é essencial para a regulação emocional. Quem já tem a prática, deve tentar aumentar a frequência e/ou o tempo. Inúmeros estudos comprovam a eficácia, reduzindo a ansiedade, minimizando quadros ansiosos e depressivos.

Por mais que pareça difícil, agora é a hora de criar esta rotina na sua vida. Não há mais a desculpa da falta de tempo – já que estaremos confinados. O que mais pode impedir?

Ah, sim, os pensamentos que não param. Mas parar os pensamentos não é o objetivo da meditação. Se tiver dúvidas sobre o assunto, podemos conversar. Vários instrutores guiam meditações on-line. Caso prefira meditar só, tenho vários áudios que posso repassar.

Faça uma limpa nas suas redes sociais, siga menos celebridades, aposte mais nas fontes confiáveis de informação. Minimizar o tempo nas redes também é importante. Aproveite que várias faculdades disponibilizaram cursos gratuitos (tenho alguns links, é só solicitar).

Terapia on-line

O Conselho Federal de Psicologia autorizou que psis fizessem atendimento on-line, para tentar conter a disseminação do coronavírus. Pode não ser o ideal, mas é o possível. É hora de sermos flexíveis – quem melhor se adapta é que sobrevive, já dizia Charles Darwin.

As terapias mais recentes, das linhas cognitivistas, ressaltam a ligação entre pensamento, sentimento e comportamento. Monitore e reconheça seus pensamentos e emoções, sem alimentar aqueles catastróficos, que acontecem a todos nesta hora.

Se a gente se desesperar, este período vai ser mais difícil de levar, vai parecer mais longo. E a gente sabe que o tempo voa, dependendo do foco…

O confinamento intensifica algumas emoções. O tempo a mais passado juntos pode gerar mais conflitos ou agravar transtornos. Por isto é tão importante não descuidar da saúde mental agora.

Oportunidades e riscos para os relacionamentos

Os relacionamentos interpessoais precisam, pois, de mais cuidado. Mesmo quem vive com pessoas que amam está sujeito a maior estresse neste período – sejam familiares ou cônjuges.

Casais terão uma “lua de mel” não programada. Com pouca liberdade, diminui a chance de romantismo. É um desafio para casais que se amam e se desejam: atividades sexuais precisam ser mais cuidadosas – há orientações específicas para minimizar o risco.

É hora, então de cuidar das habilidades de comunicação. E, mais especificamente, a comunicação conjugal merece uma atenção ainda mais especial, para que seja mais afetuosa, respeitosa. É hora de cooperação. É necessário trabalhar a maior flexibilidade e capacidade de negociação – redefinindo papéis, redistribuindo tarefas em casa, por exemplo (uma grande queixa conjugal nos casais contemporâneos).

 Home Office

O desafio para quem trabalha de casa será estruturar uma rotina, definindo limites, espaços e horários. Quem não é disciplinado vai sofrer um pouco mais, mas existem várias dicas que podem ajudar a criar esta rotina.

Pessoas que moram juntas precisam entender que estar em casa não significa estar de férias ou disponível o tempo todo.

Se você é a pessoa que mais demanda atenção, dê-se conta disto também. A outra pessoa pode não atender você na hora que você quer. Mas aproveite o tempo em que estiverem livres para as atividades prazerosas juntos.

Quanto mais rígidos, mais sofremos. Flexibilidade cognitiva e psicológica serão fundamentais neste momento. Hábitos e comportamentos terão de mudar – e nem sempre na direção do que a gente quer ou gosta . Para nós, brasileiros, não abraçar e não beijar as pessoas que amamos, amigos e parentes, é muito doloroso.

Também é preciso a aceitação de eventos que estão fora do nosso controle. Precisamos nos comprometer com uma vida valiosa. Afinal, como todos os momentos na vida, sejam bons ou ruins, este também vai passar.

Cabe a você tirar o proveito dos ensinamentos desta fase. Fortaleça-se. Cuide da sua saúde mental também.

Thays Babo (CRP 05/23827) é psicóloga clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e em formação em Terapia do Esquema.

Atendo a jovens e adultos em psicoterapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial. Durante a pandemia, atendendo apenas on-line.

04/03/2020

Coronavírus – porque você não precisa entrar em pânico (revisto em fev.2021)

Mais do que falar sobre o novo Coronavírus, do campo da Medicina, nós, psis, precisamos falar de ansiedade – área em que podemos agir tão bem, inclusive preventivamente.

Lidando bem com ela, aumentamos nossas chances de atravessar a pandemia com mais facilidade.

Para que serve a ansiedade?

A ansiedade faz parte das estratégias desenvolvidas pela nossa espécie para garantir a sobrevivência. Ela nos deixa alerta para os perigos.

Em certa medida, a ansiedade é protetiva, o que faz com que zerá-la não apenas seja impossível: é também indesejável.

Você sabia que o Brasil é o país com maior número de ansiosos no mundo inteiro, segundo a Organização Mundial de Saúde?

Motivos certamente não faltam. Mas, de onde surge a ansiedade e como podemos lidar com ela?

Qual o limite para a ansiedade?

A ansiedade começa a preocupar quando limita e prejudica nossa vida. Quando nos paralisa. Quando mal conseguimos dormir. Quando passamos a evitar situações absolutamente normais, e sem risco, em função dos nossos pensamentos, sem que haja evidências de que eles sejam verdadeiros ou realistas. Quando restringimos nossas experiências.

Quando nos damos conta de que não temos controle sobre tudo, a ansiedade aparece. Cá entre nós: temos muito pouco controle sobre qualquer coisa – a não ser sobre o que pensamos. E precisamos aprender a conviver com esta ideia, sem surtar.

Porém, não existem garantias de que você não terá decepções (amorosas, por exemplo), nem conseguirá impedir algumas tragédias. Fazem parte da vida.

A sua ansiedade também não impedirá que você eventualmente adoeça. Mas se ela for muito intensa, pode inclusive predispor você a doenças, a partir do seu estresse.

O seu autocuidado minimiza alguns riscos, mas é apenas isto.

Portanto, aprenda a controlar a sua mente e as suas emoções.

A regulação emocional é importantíssima para sua saúde – física e mental. Aprender a se observar e separar o que você pensa do que é realidade. Sim, porque nem tudo o que passa pela sua mente é verdade. E mais ainda se você for uma pessoa ansiosa.

A sua ansiedade pode também prejudicar os seus relacionamentos amorosos. Não é fácil conviver com quem sofre por coisas que não aconteceram (e podem nunca acontecer) o tempo todo, que catastrofiza, sempre esperando o pior.

A ansiedade em relação ao coronavírus é mais transmissível do que o próprio vírus

Temos acompanhado o excesso de notícias sobre o novo coronavírus, desde o final de 2019. Mais do que o vírus, a ansiedade se alastra no mundo inteiro. As informações não param de chegar, 24 horas, nas mídias digitais ou convencionais.

Pessoas mais ansiosas procuram informações o tempo todo. Seja pelo medo de contaminação e eventualmente morte (apesar dos números mostrarem que a mortalidade é baixa) ou por preocupação com o mercado financeiro – afinal, o momento é propício para os especuladores. Quem tem dinheiro aplicado não quer perder e então, obviamente, a oscilação no mercado financeiro é fator ansiogênico.

O efeito é o contrário: ao invés de se acalmar, quanto mais se consome informação, mais se fica sujeito à ansiedade.

Quem é mais afetado com as notícias sobre a doença? Quem sofre de transtorno de ansiedade generalizada ou tem particular ansiedade em relação à saúde – como, por exemplo, as que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) de contaminação.

Como diz a especialista Julie Pike, psicóloga clínica na Carolina do Norte (EUA), “estas pessoas frequentemente superestimam as ameaças e subestimam suas habilidades de lidar com os problemas“.

De certa forma, até desprezam a informação de que há doenças mais letais e que estão em circulação há mais tempo – como a gripe comum. Focam mais no número dos que morreram do que nos que sobreviveram – muito maior.

Como evitar o pânico sobre a doença

Se você já sofria de transtorno de ansiedade ou TOC, provavelmente achará insensato o conselho dos especialistas de diminuir o consumo de notícias. Mas é isto o que você tem de fazer.

Fique em casa. Saia de máscara sempre que possível, tenha bastante cuidado com a higiene das mãos, leve álcool em gel com você.

Estas informações básicas sobre como minimizar o risco de infecção você já sabe. Foque em outros assuntos. Procure os seus temas de interesse. Meios de comunicação (digitais ou não) lucram em cima do pânico instalado.

Se precisar de mais informações, busque-as apenas em fontes confiáveis. Notícias falsas se multiplicam pela rede mais rapidamente do que qualquer vírus.

A negação do risco

Infelizmente, no Brasil, as autoridades minimizaram o risco. E, com isto, pessoas que não conseguem enxergar a possibilidade real de morte se arriscammais e infectado mais pessoas.

Um ano depois do primeiro caso no Brasil, poucas pessoas foram vacinadas por aqui e há um grande número de pessoas que nega a importãncia da vacinação. Ultrapassamos 250 mil mortes.

Foque na sua saúde – física e mental. Sua imunidade lhe protege, então o que você pode fazer para aumentá-la, para cuidar da sua saúde hoje?

Alimente-se e durma bem, cuide da higiene pessoal e da sua casa. E fique em casa o máximo possível. Não participe de aglomerações. E quando o calendário da vacinação indicar o seu dia, vacine-se.

Terapia – esta é a hora de não descuidar da sua saúde mental

Pesquisas sobre ansiedade – anteriores ao surgimento do coronavírus – mostram que “é a habilidade de experienciar as emoções positivas que aumenta sua habilidade de lidar com o estresse.

Aprenda a regular suas emoções. Minimize sua ansiedade.

Um recurso que ajuda você a se concentrar na sua experiência aqui e agora é a meditação. Perceba: você está saudável hoje, aqui e agora? Foque nisto!

Se a ansiedade é um problema recorrente na sua vida, procure ajuda psicológica. Aprenda a regular suas emoções. Você pode melhorar a sua vida como um todo, ao lidar com o que pensa e sente. Faça psicoterapia.

Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e em formação em Terapia do Esquema.

Atende a jovens e adultos em psicoterapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial. Durante a pandemia a maioria dos atendimentos é on-line.

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