Últimos dias de 2020. Este ano, que parece não acabar nunca, voou. Voou com muitas turbulências. Foi barra pesada para a maioria de nós. 2020 já ficou conhecido como ‘o ano da pandemia’.
Foram inúmeros os problemas, mas, certamente o principal, para o Brasil, foi a pandemia de coronavírus.
Até o dia 26 de dezembro, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil foram confirmadas 190 mil mortes por causa da covid-19. E dói saber que muitas destas poderiam ter sido evitadas com comportamentos preventivos.
Retrospectiva 2020: o luto está mais presente
O balanço que se faz, tradicionalmente, ao final do ano, será, pois, mais doloroso do que o normal. Afinal, 2020 foi o ano de lutas e de muito luto. E o luto pode demorar a passar…
Quem perdeu alguém recentemente por covid-19 pode ficar ainda mais traumatizado de ter de enfrentar as situações de grupo. O período de luto pode durar muitos anos, se não puder ser vivenciado
Durante a pandemia, as pessoas mais conscientes dos riscos se afastaram de quem mostra que não se preocupa com a prevenção ou tem discurso negacionista. Foram muitas perdas. E o luto pode ser
- por amigos ou familiares;
- por relacionamentos – muitos casais se separaram;
- pelo desemprego e postos de trabalho que deixaram de existir;
- pelo adiamento de planos de carreira, de aquisições, de viagens…
- pela certeza de que se tinha algum controle na própria vida;
- e tantos outros
É preciso ser flexível para criar novos planos. E paciente para esperar a hora certa. Este é um aprendizado que a psicoterapia proporciona.
Os impactos da pandemia na saúde mental
Segundo o Conselho Federal de Farmácia, a venda de medicamentos psiquiátricos aumentou. Quem já sofria de depressão ou de ansiedade, relatou piora. Pacientes que tiveram alta, voltaram.
O consumo de álcool e outras drogas subiu também muito durante a pandemia. No período em que restaurantes e bares estiveram fechados, o consumo doméstico disparou.
Muitas pessoas, morando sozinhas, e sem ter alguém que as alertasse do consumo excessivo, entraram em um processo de dependência.
O consumo de drogas, segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas – ABEAD – traz ainda mais problemas para quem contrai covid-19. A dependência contribui para o agravamento do quadro.
Comemorando o fato de ter sobrevivido
A verdade é que neste final de ano estamos todos cansados. Por isto tem sido tão difícil ficar em casa. Infectologistas e outros profissionais da área de saúde têm se mostrado bastante preocupados com este período de Festas. Elas podem contribuir para manter a epidemia num crescente.
Será que não poderíamos abrir mão da ceia de Natal? Ou das festas de Réveillon? Não seria melhor adiar? Será que esta festa é tão imperdível assim, a ponto de ser a última da sua vida? Reflita mais sobre seus valores.
Como sou psicóloga, sempre me perguntam o que faz as pessoas irem a festas durante a pandemia, se aglomerando e tirando a máscara. Parece um filme de horror. Ou que as pessoas estão em um transe coletivo, que as impede de pensar.
Acredito que seja simplesmente a negação da morte. Pura e simples. A morte é sempre do outro.
Muitas pessoas, em confronto com a morte, querem reafirmar que estão vivas.
Há quem pense que Deus as protege. Ou que não se morre antes da hora. Independente de sua religião, não é hora de atribuir mais trabalho a Ele.
Não sabemos quando é a nossa hora – ou a da pessoa próxima a nós, que pode ser infectada só porque não tivemos cuidado de protegê-la.
Caso você vá a alguma festa, por favor, use máscara o máximo de tempo possível. Mantenha o máximo de distanciamento físico e leve o seu próprio álcool gel. Tenha comportamentos seguros. Evite o uso de drogas – inclusive o álcool.
O consumo de álcool e drogas diminui o autocontrole e, assim, predispõe a esquecer os protocolos de segurança.
Caso você participe de alguma comemoração, pense nas pessoas que perderam entes queridos. Evite posts destas situações, pois machuca quem está em luto. Respeito todo mundo gosta.
A quem recorrer na hora da crise
Se você não está em processo de psicoterapia, o Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar em um momento de emergência, de depressão ou ansiedade profunda. O Centro dá apoio emocional e previne suicídio.
O atendimento do CVV é voluntário e gratuito, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat. Funciona 24 horas todos os dias – inclusive Natal e Ano novo. As ligações são gratuitas, em todo o país – basta discar 188.
Cuidar da sua saúde mental é um autocuidado básico
Diante da ‘tarefa’ de reverem seu ano e planejarem o próximo, muitos clientes se esquivam da proposta terapêutica. Avaliar o que não funcionou bem e o que se quer fazer para o ano seguinte gera angústia. Normal e esperado. Mas para mudar é preciso compromisso.
Em 2020 todos tiveram consciência de que, a qualquer momento, seus planos podem precisar ser deixados de lado. Com isto, muita gente meio que se acha em débito com o que havia planejado. E ficar em débito com o que planejou provoca angústia em quem é mais rígido.
Se você ainda não faz psicoterapia, analise se não é o momento de começar a fazer. Especialistas de saúde mental acreditam que a crise na saúde mental, por causa da pandemia, vai aumentar nos próximos meses. São muitos os fatores que estão contribuindo para o aumento dos sintomas de depressão e ansiedade.
O que esperar de 2021
Se você ainda não começou o seu processo psicoterápico, considere seriamente a possibilidade. Aliás, o melhor seria nem esperar 2021.
Precisamos aprender novos recursos para lidarmos com uma nova realidade. E a psicoterapia ajuda a desenvolver a flexibilidade necessária para enfrentarmos os novos desafios.
Como disse Darwin,
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”
Não é demérito nenhum pedir ajuda em um dos períodos o mais desafiadores da era contemporânea.
Profissionais da saúde mental conhecem estratégias para melhor enfrentar o que se apresenta pela frente.
Mais do que nunca, cuidar da sua saúde mental vai fazer a diferença sobre a forma em que você viverá cada dia de 2021.
Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende em Copacabana a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial..
Durante a pandemia, atendimentos são prioritariamente online.
Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada da ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema pela Wainer.