Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

23/12/2019

Tempo curto

Conhece alguém que ache que tem tempo sobrando?  Eu, não. A cada dia que passa, mais ouço pessoas se queixando de que o tempo parece cada vez mais curto para cumprir as obrigações e conseguir fazer as coisas de que gostam. Queixam-se também de cansaço e insônia.

Mesmo agora, durante a pandemia de coronavírus, é muito a fazer para o  pouco tempo que se tem. O confinamento decididamente tem afetado a saúde mental das pessoas, em todo o mundo. No Brasil, a ansiedade e a depressão aumentaram, bem como outros transtornos. O consumo de álcool, por exemplo, subiu muito e assusta os especialistas.

A pandemia tem proporcionado um tempo a mais para reflexão. É hora de analisar o que devemos manter na nossa vida quando a fase passar. Porém, refletir sobre isto pode gerar angústia. Assim, neste momento, (re)iniciar um processo de terapia, ainda que online, ajuda a lidar com as questões tão específicas que se apresentam neste momento.

Vida após a pandemia do Covid-19

Surgido no final de 2019, o coronavírus bagunçou a nossa vida. Haja flexibilidade para se adaptar.

Mudanças não programadas desestabilizam muitas pessoas que acreditam ter total controle sobre a vida. Para elas, aceitar que há coisas que não dependem diretamente de sua vontade ou que não estão sob seu controle é bem mais difícil.

Mas não dá para continuar a vida exatamente como antes. Elas precisam aprender a redistribuir o tempo. E aceitar que elas não ditam o ritmo agora.

Dizem que quem quer fazer alguma coisa “consegue um tempo“, ou que “é apenas questão de prioridade“.

Pessoalmente, não concordo com esta crença. Existem outras questões além do simples querer. Não cuidamos só do que é importante. Algumas obrigações nos afastam de coisas que valorizamos. Ceder e conceder fazem parte da arte de se relacionar.

Porém, há limitações das leis de física: não conseguimos estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ao menos por enquanto. Assim, equilibrar e distribuir o tempo, exige disciplina e foco. E compromisso com seus valores pessoais.

Eventualmente, para se aproximar de alguns valores, há um afastamento de alguns outros. E tudo bem, desde que você esteja consciente disto.

Foto de Kevin Ku em Unsplash
A tecnologia digital durante a pandemia

Durante a pandemia, notícias não param de chegar por vários canais. Não passe o tempo todo consumindo informações. Em excesso, elas prejudicam a saúde mental e emocional.

Apesar de o aumento de consumo de tecnologia se dever , em muitos casos, ao home office, durante a fase de distanciamento social, fique alerta para não entrar no ritmo alucinante de consumo de informação.

De vez em quando, você deve ficar off. Sem internet, sem TV. Desta forma, você pode se recarregar e atentar para o que está a sua volta. Ao fazer isto, talvez você perceba que seu ambiente está mais tranquilo do que sua mente – o que é suficiente para você se ancorar no momento presente.

Aceite que vida perfeita não existe

Por mais que você acredite que algumas pessoas têm a vida perfeita – principalmente se segue youtubers ou influencers – nem tudo é verdade, muito é apenas estrategia de marketing. Certamente, você e nem ninguém consegue viver em eterno equilíbrio.

É o processo de tentar o equilíbrio que nos deve inspirar – aceitando que, de vez em quando, o desequilíbrio vai acontecer, sim. E pode ser útil, se ele trouxer o compromisso com a mudança na direção do que se valoriza, de verdade.

Quando a pandemia passar, faça diferente.

Pare hoje mesmo e avalie: como está a sua satisfação com a sua vida? O que não conseguiu realizar – e por quê? Possivelmente percebeu que seus valores podem ser diferentes daqueles que você imaginava.

Faça o balanço: você se comprometeu com seus valores até aqui – antes do coronavírus? Suas ações  estavam alinhadas com eles? Ou  você  se afastou do que você valoriza de verdade?

Ou simplesmente faltou tempo? Tente observar se é o tempo do processo em si, que não permitiu ainda colher os frutos, ou se é o tempo desperdiçado. Para o primeiro, paciência. Para o segundo, consciência, autocompaixão e foco.

Aproveite o tempo de quarentena e redefina o que realmente é valioso para você. A partir daí, comprometa-se.

Talvez esteja na hora de investir no seu autoconhecimento e (re)começar um processo de psicoterapia. Principalmente se percebeu seu humor muito instável nos últimos meses. Você pode, mas não precisa, esperar a virada de ano para “começar de novo” . O que for valioso pra você pode começar o quanto antes. Aliás, deve.

para onde você está indo?
O tempo é seu, e você que dá conta dele.
O que acontece quando alguém faz psicoterapia?

A psicoterapia traz o autoconhecimento. Você entra em contato com os pensamentos e emoções que paralisam você, fica mais consciente.

Reconhecidos, tais pensamentos e emoções já não causarão tanto prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas. Você pode quebrar o padrão destes pensamentos, parar o ciclo.

Você também reconhece seus valores, estabelece objetivos, diminui as expectativas. Compromete-se com ações mais engajadas. Aprende a aproveitar o que se apresenta agora. Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar).

E o tempo?

O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o  humor. 

Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo.  Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais. 

Para que a psicoterapia serve?

Dependendo da circunstância, insistir nos projetos não significa resiliência, nem persistência, e sim teimosia. Pode ser mera perda de tempo. Talvez você só precise de mais tempo para analisar o que realmente importa.

Observe e mude o que pode ser mudado, na direção do que você quer. A compaixão e autocompaixão serão muito importantes no seu processo de mudança. Ainda mais, enquanto a pandemia durar. A vida não é linear. Prepare-se para lidar com os altos e baixos.

Durante a pandemia de coronavírus, atendimento exclusivamente online, a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial.

Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). 

10/12/2019

Para que fazer psicoterapia?

Após a pandemia de coronavírus, o cuidado com a saúde mental passou a receber o merecido destaque. Atualmente é  “prescrito” por todos os profissionais da saúde. A terapia online ficou em evidência e foi, finalmente, liberada pelo Conselho Federal de Psicologia. Pessoas que moram em outros países puderam passar, enfim, ser atendidos por psis de sua própria nacionalidade. 

Mas ainda há preconceito sobre a psicoterapia que ainda impedem a pessoa de buscar ajuda psicológica. 

Preconceito tem tudo a ver com desconhecimento e ignorância. Que tal se informar melhor  sobre o que a terapia não é?

E quais são estas  muitas ideias erradas sobre a psicoterapia? Quem  não entende o que é, pensa que é apenas 

  1. pra gente maluca;
  2. pra quem não tem amigo(a)s;
  3. pra quem “não tem Deus no coração“;
  4. pra quem não sabe o que quer;
  5. pra quem não tem mais o que fazer na vida;
  6. pra gente fracassada
  7.  pra gente rica.

Há quem ache que psicoterapia é ótimo – para qualquer outra pessoa, menos para ela mesma, que se considera “perfeita”.

Assim, é muito bom quando pessoas bem sucedidas – como artistas, celebridades ou atletas, como Michel Phelps, vêm a público dizer que buscaram ajuda psicoterapêutica em algum momento difícil, tendo conseguido superar fases mais complicada graças à terapia.

O que a psicoterapia pode fazer por você

A psicoterapia ajudará você a reconhecer seus valores pessoais e a fazer escolhas compromissadas com estes, trazendo maior significado e realização para a sua vida.

No processo psicoterápico, também será trabalhada a aceitação das diferenças, melhorando os relacionamentos  de todos os tipos (amorosos, familiares e profissionais).

Psicoterapia é também para quem tem amigos e família

Como citado anteriormente, um dos muitos mitos sobre a psicoterapia é que ela seria apenas para quem não tem amigos ou família.

Ter amigos ou família pode não ser o suficiente para o seu bem estar. É preciso expertise para lidar com algumas travas pessoais – que, muitas vezes, são apenas mentais.

Além disto, muitas das crenças limitantes que perturbam a nossa vida vêm justamente da rede familiar ou de amigos. Vêm das nossas experiências iniciais em família, que criaram esquemas mentais que trazem muito sofrimento desnecessário. A psicoterapia ajuda a reconhecer estas ideias.

A importância das amizades para o bem estar psíquico

A conexão e afeto são necessidades básicas de todos os seres humanos. Por isto, ter amigos faz um tremendo bem para a saúde mental.  Mas nem  o melhor dos  amigos tem disponibilidade total (inclusive de tempo), distanciamento ou mesmo experiência para poder ajudar você a passar por todos os seus problemas. Alguns são muito pessoais e eles mesmos não conseguiriam resolver em suas próprias vidas…

Foto de Duy Pham em Unsplash

Quando se passa por uma crise mais profunda – em caso de depressão, por exemplo – pessoas amigas tentam consolar e  mostrar ‘o lado bom das coisas’, sem entenderem que está difícil para você ‘pensar positivo e que este tipo de conselho mais irrita do que ajuda.

Além disto, seus amigos têm suas próprias limitações pessoais. Podem ficar impactados ao ouvirem suas queixas mais profundas. Ou se sentirem incomodados com questões que não encaram em suas próprias vidas. Como lidar com as emoções mais pesadas que eventualmente temos?

Por isto é importante ter alguém que esteja em uma posição diferenciada, sem que você tenha medo de se abrir e sofrer críticas ou julgamentos.

Em terapia, você encontra o seu tempo e espaço (ainda que virtual, no momento) para você aprender sobre a sua vulnerabilidade, e até poder falar sobre ela, depois, com as pessoas que você escolher falar.

Terapia é pra todo mundo – mesmo que nem todo o tempo…

Havendo uma questão, qualquer pessoa se beneficia da psicoterapia. Porém, as razões para buscar ajuda psicológica são muito diferentes. E podem variar, para a mesma pessoa, em épocas diferentes da vida.

Fazer terapia preventivamente, antes de se estar “por um fio”, à beira de um surto ou já no meio de uma crise de ansiedade ou de depressão, é a melhor escolha. Infelizmente, além de não haver uma cultura preventiva, os mitos citados anteriormente também dificultam a tomar esta iniciativa.

A pandemia de coronavírus fez com que muita gente começasse, mas já em sentimento de urgência, para suportar tantas mudanças.

Pessoas bem sucedidas buscam ajuda psicológica

A família real britânica há alguns anos alerta para a importância de cuidar da saúde mental – em particular sobre depressão. Se nobres têm problemas de ordem psi, talvez seja mais fácil reconhecer – e aceitar -que você também pode ter.

Se há um certo desconhecimento ainda em relação à psicoterapia individual, pode-se inferir que este seja ainda maior em relação à  terapia de casal. Por suas crenças românticas , muitos casais só procuram ajuda especializada depois de anos em crise. E durante a pandemia, as diferenças ficaram em evidência, pelo excesso de convívio, 24h por dia, 7 dias por semana.

Se você rumina pensamentos  pessimistas, catastróficos ou autodepreciativos, se você pensa em desistir de tudo, inclusive de viver, procure ajuda o quanto antes. Comece (ou retome) a psicoterapia. Dê-se um crédito.  

Mas, mesmo que você não identifique agora a sua “grande questão”, o autoconhecimento é fundamental para se tornar uma pessoa melhor e mais realizada.  Os gregos já diziam: “Conhece-te a ti mesmo“. Eles sabiam das coisas.


Thays Babo é Psicóloga e atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,
em Copacabana. Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são exclusivamente on-line.

Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science).

04/12/2019

Festas: reencontrando a família

Muita gente adora a época das Festas e se prepara para ela, a partir de outubro. Mas também não são poucas as pessoas que não gostam tanto assim deste período.

São basicamente dois grandes grupos:

  • pessoas que vivem longe de sua família – estas ficam melancólicas, sentem o peso da solidão;
  • pessoas que não têm bom relacionamento com a sua família de origem – ficam muito ansiosas, diante da possibilidade de encontrá-la reunida.

A enorme pressão social não permite que se fuja muito destes eventos – e, por isto, muita gente torce pela chegada do dia 2 de janeiro.

A importância da família

Na família, em geral, começam os primeiros aprendizados sobre a vida, sobre o mundo. Ali se estabelecem as primeiras relações.

Conhecida como ‘célula máter da sociedade‘, sua importância é inegável no desenvolvimento da personalidade, para basicamente todas as abordagens de psicoterapia. Porém, cada uma desenvolve a sua teoria e trabalha de forma distinta na clínica.

Nas tradições religiosas, nas artes e na propaganda, o que se vê são famílias felizes e cooperadoras. A mídia, em especial nesta época de se dar e receber presente, foca bastante nesta representação de família harmoniosa.

No entanto, mesmo nas Escrituras religiosas, estes ideais não são sempre atendidos. Há brigas entre irmãos, traições e disputas de poder. Como em muitas famílias em todo o mundo, ainda hoje.

Necessidades emocionais

Quando o pai e/ou mãe faltou, as pessoas que cuidaram da criança, em substituição, é que terão maior impacto na saúde mental.

Desrespeito, maus tratos e abusos deixam marcas emocionais que são carregadas para sempre. Definitivamente, laços sanguíneos não são, pois, garantia do amor que gostaríamos de ter, incondicional. Apesar de todos nós nascermos com necessidades emocionais básicas, nem todo cuidador consegue supri-la.

Assim podem surgir os esquemas, propostos na Terapia do Esquema, criada por Jeffrey Young.

Reencontrando pessoas abusivas

(Re)encontrar pessoas que já foram – ou ainda são – agressoras nas festas de família não é, pois, confortável. Gera ansiedade e mal estar às ‘vítimas’, que  se sentem na obrigação (muitas vezes religiosa) de perdoar.

Segredos de família, mentiras e traições geram desconforto e podem vir à tona nestes encontros.

Quem tem uma família de origem tóxica nutre sentimentos ambivalentes. E quando tenta se afastar, muitas vezes sente culpa. E desiste.

As Festas acabam sendo um grande teste. Porém, tais encontros podem ser aversivos e impossíveis de se esquivar. Há um apelo religioso, cristão, para perdoar. Em terapia, ouvimos relatos de sofrimento de quem não consegue se desemaranhar e manter distância da família, para sua própria sobrevivência ou saúde emocional.

Porém, nem sempre é fácil – ou possível. Ou mesmo desejável – dependendo da situação, o abuso pode se repetir.

Foto de Mourad Saadi em Unsplash

Comparação e a sensação de fracasso

Outro aspecto que pode ser incômodo nestes eventos é (re)encontrar parentes bem sucedidos, quando se atravessa uma fase difícil financeira ou profissionalmente. Afinal, é uma tendência do ser humano se comparar às pessoas – o que traz muito sofrimento mental.

Muitas vezes a comparação (ou competição) surge estimulada pelo próprio pai e/ou mãe, que põem pressão ao comparar irmãos – ou primos -, sem consciência do quanto a situação é desagradável.

Quem está mal financeiramente, por exemplo – pode se sentir “perdendo”, inferior, como se estivesse numa competição. A impossibilidade de dar presentes (ou presentes que gostaria de dar) pode causar constrangimento .

Foto de @freestocks.org em Unsplash

Quem tem esquema mental de fracasso, vergonha ou defectividade, se sente em desvantagem – por não ter conquistas materiais, que simbolizam ‘sucesso’ ou prestígio. O estado civil também pode ser cobrado pelos parentes.

Assim, as festas podem ser situações aversivas, às quais se comparece em sofrimento. Muitas vezes a saída escolhida é abusar do álcool ou da comida.

Faltar às confraternizações não é, em geral, uma opção. A ausência pode trazer consequências no convívio familiar no resto do ano, causando justo o que não se quer : expor-se mais às críticas.  

Vamos falar sobre isto

Muitos profissionais da área de saúde mental saem de férias nesta época. Se você está em um momento difícil, e em psicoterapia, deve solicitar um telefone de algum outro, de confiança, para uma emergência.

Sempre é bom lembrar do CVV, Centro de Valorização da Vida. O atendimento do CVV funciona 24h por dia, todos os dias e feriados. E, caso opte em ficar em casa, mas sinta risco em ficar só entre em contato pelo número 188.

Se não está ainda em um processo psicoterápico, considere seriamente a possibilidade de começar. É importante descobrir o que incomoda.

É possível aprender a lidar com as suas dificuldades e transformar a sua vida na direção do que você quer, para uma vida mais valiosa. E é possível aprender a dar limites e dizer sim – ou não – às Festas, de acordo com a sua vontade.

Thays Babo é Psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio. Atende a jovens e adultos em terapia individual, em Copacabana ou online, ou em terapia de casal e pré-matrimonial.  Tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Concluiu a formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia.

Powered by WordPress