Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

26/11/2019

Final de ano: a contagem regressiva

No final do ano, muitas pessoas sentem necessidade de fazer um balanço daquele que termina. Param para refletir sobre o que evitaram pensar ao longo do ano. Planejam o que querem conquistar no ano que vai começar. O balanço é emocional, físico, financeiro.

Este texto está sendo atualizado um ano depois, por causa da pandemia de coronavírus que mexeu com todo mundo, no mundo inteiro.

Emoções em 2020

Quem se acha em débito com o que planejou, não raro sente angústia e até tenta evitar – o balanço e/ou os eventos que podem evidenciar o não atingimento das metas. O período de Festas deixa bem claro o que está bem ou não na nossa vida.

Em 2020, todo mundo meio que se acha em débito. Houve um aumento na procura por serviços de saúde mental. Quem já sofria de depressão ou de ansiedade, relatou piora.

Há alguns casos de pessoas que, introvertidas, ficaram mais tranquilas, por não serem obrigadas ao convívio social. Muitas famílias se deslocaram para cidades menores, já que o homeoffice se estabeleceu.

Festas de final de ano

Neste final de ano pandêmico, algumas das questões comuns à época de Festas mudaram, já que encontros e reencontros não desejados não deverão acontecer.

Hora dos reencontros

Nos Estados Unidos, o Dia de Ação de Graças – que acontece na última quinta-feira do mês de novembro – antecipa algumas destas tensões familiares. Muitas famílias priorizam se reencontrar nesta data e quem mora longe dos parentes não raramente atravessa o país para isto. Vários filmes mostram este esforço e os conflitos que podem vir à tona.

Assim, quem teve uma família agressiva, pode sofrer ante a ideia de ter de encontrar pessoas abusadoras (física ou emocionalmente). A ocasião festiva vira quase um encontro marcado com o sofrimento. Paradoxalmente, a culpa faz com que muita gente não deixe de comparecer. Aliás, faz parte da história familiar.

Famílias disfuncionais

Na família de origem, se dá, em geral, o primeiro contato com o mundo. As memórias e experiências na infância e adolescência marcam profundamente. Muitos problemas de saúde mental se originam nesta fase, como observam a maioria das abordagens psicológicas. Mas, representadas nos comerciais, as famílias parecem sempre felizes – em especial na época do final de ano.

Foto de Andrew Neel em  Unsplash

Resumindo: o período pode ser bastante difícil.

Famílias com relações abusivas podem causar um grande mal estar. Sentimentos ambivalentes surgem quando é preciso (re)encontrar a família “tóxica”, ou apenas disfuncional. Pessoas ansiosas podem imaginar os piores quadros possíveis frente aos temidos reencontros.

Nestas ocasiões, encontramos pessoas que conseguimos manter à distância durante todo o resto do ano. Como lidar com estes encontros? Evite os temas polêmicos de sempre, nem faça questão de ganhar discussões – para quê mesmo? Você também não precisa ser plateia para aqueles parentes que querem dominar todos os assuntos, mostrando que sabem mais do que você.

Cuide da sua saúde física também: controle seu consumo de álcool (você pode ficar sensível demais às provocações ou às memórias) . Se conseguir, continue as atividades físicas – não só pelo seu corpo, mas também pelo seu bem estar emocional

Luto

O período é especialmente difícil para quem perdeu alguém recentemente (por morte ou separação). O período de luto pode durar até dois anos e aí não se vê sentido em comemorar. Pressionadas estas pessoas, muitas vezes, comparecem a eventos mas sem estarem verdadeiramente lá. Podem não ficar  atentas a  quem está  a seu lado e insiste em animá-las.

É difícil se divertir sobre pressão, quando se anseia por algo – ou alguém – que não está mais lá.  Dói mesmo.

A quem recorrer

Se você não está em processo de psicoterapia, o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição internacional, pode ajudar, como um s.o.s. O CVV funciona a pleno vapor nesta época.

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Há plantonistas disponíveis também na noite de Natal e na virada do Ano Novo. A instituição, que é internacional, atende a  inúmeras ligações, no mundo todo. 

Mas, além do socorro emergencial, avalie a possibilidade de começar um processo de psicoterapia, se ainda não faz, caso tenha seu humor tenha estado muito instável nos últimos meses.

Outro cuidado a se tomar é em relação às pessoas idosas, na família, morando sozinhas. E procure aquelas pessoas que não têm rede de amigos, ou estão em luto. Verifique como está o estado de humor delas nesta época, esteja presente. Ou sugira a elas procurar ajuda psicológica. Alguns grupos apresentam mais riscos e precisam de mais atenção e cuidados nesta época.

Finalizando um ciclo

Apesar das situações mencionadas acima, a virada de ano traz uma sensação de “começar de novo” . Analisa-se um final de ciclo para  planejar o/s próximo/s ano/s.

Projetos abandonados  podem ser retomados ou repensados se forem valiosos pra você. Os que estão em andamento devem passar por uma avaliação: mantê-los ou não? Para quê?

Avalie o que não conseguiu realizar – e porquê. Faça o balanço: você se comprometeu com seus valores este ano? Suas ações  estavam alinhadas com eles? Ou  você  se afastou do que você valoriza de verdade? Redefina o que realmente é valioso para você. A partir daí, comprometa-se.

O que a psicoterapia pode fazer por você?

Em psicoterapia, você aprende a viver  sem talvez idealizar tanto. Você estabelece objetivos e passa a ter expectativas mais realistas. Você aprende a aproveitar o que se apresenta agora.

O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o  humor. 

Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo.  Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais. 

Uma nova fase

Considere seriamente a possibilidade de iniciar um processo de  psicoterapia.  “Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar). Autoconhecer-se e trazer à tona  pensamentos e emoções que paralisam você pode ser o necessário para que eles mudem ou percam sua intensidade. Ou fiquem ali, reconhecidos, mas já sem causar prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas. 


Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende
em Copacabana a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial..

Durante a pandemia, todos os atendimentos são online.

Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Atualmente, faz formação em Terapia do Esquema pela Wainer.

21/11/2019

Mindful Dating

Mindful dating? Digo logo que não fui eu que criei o termo, que parece apelativo para vender consultoria ou cursos (sou daquelas pessoas que questionam o McMindfulness).

Uma rápida pesquisa no Google mostrou que o termo já vem sendo usado há tempos. Inclusive tem muito coach vendendo este serviço – inclusive no Instagram.

Mindful Dating – do que se trata?

Antes de pesquisar sobre mindful dating, refletia sobre a importância do mindfulness na vida cotidiana. E o quanto pode ajudar a quem ainda está procurando um par amoroso. Em especial quem usa aplicativos de relacionamento – como Tinder, Happn ou Inner Circle, por exemplo.

Sempre há um certo risco em conhecer pessoas – seja presencial ou virtualmente. Aplicativos podem favorecer golpes e uma certa ansiedade é até benéfica, porque a ansiedade pode proteger você.

Por isto é preciso ter atenção porém sem paranoia. A ansiedade tem uma função evolutiva. Tendo cautela, sobrevivemos.

O problema é o excesso de cautela, quando a ansiedade paralisa você a ponto de evitar todas as situações em que ela surja

A ansiedade no uso dos aplicativos

Pessoas ansiosas sofrem em todas as etapas no uso de aplicativos de relacionamento: ao criar um perfil, ao buscar matches. Ao conversar e dar acesso a outras contas – como Facebook, Instagram ou Whatsapp também podem sentir muita ansiedade.

Mas o evento mais ansiogênico costuma ser mesmo o primeiro encontro. Se a ansiedade for muito intensa, a pessoa pode até não comparecer ao date. Ou ir, mas não se apresentar.

Ou ir mas não falar o que queria, não conseguir estabelecer um bom diálogo.

Todas estas são situações reais. Recentemente, um filme na Netflix selecionou algumas situações bem comuns de aplicativos.

Usando a plena atenção para os relacionamentos na era digital

Até bem pouco tempo, primeiros encontros eram mediados por pessoas amigas. Ou as pessoas se conheciam em ambientes que frequentavam, como trabalho, igreja ou escola/faculdade. Você tinha uma referência de quem era aquela pessoa.

Assim, a ansiedade estava mais para uma boa “expectativa”. Era mais tolerável.

A era digital aumentou as possibilidades. E também as expectativas, podendo gerar mais enganos e decepções. Exercícios de mindfulness podem ajudar a lidar com a ansiedade.

Porém, não basta você sentar alguns minutos (ou até horas) por dia se você não aprende a viver de forma mais atenta.

Quem adota práticas meditativas consegue regular suas emoções mais facilmente. Consequentemente, seus relacionamentos são beneficiados.

Percebo claramente entre as pessoas que atendo que aquelas que adotam alguma prática de meditação mudam mais rapidamente na direção daquilo que realmente valorizam. Ficam mais centradas. Não “descompensam” tão facilmente ou, quando isto acontece, conseguem reparar a situação.

Após um tempo e constância de prática, fica mais fácil regular as emoções. Claro, desde que não haja nenhuma psicopatologia grave.

O que fazer para minimizar riscos

A era digital popularizou o mindfulness no Ocidente. Existem inúmeros aplicativos disponíveis para praticar.

Você deve ter plena atenção, não apenas nos momentos em que você se senta para observar a sua respiração.

Use este aprendizado, ao usar aplicativos de relacionamentos. É importante observação – e autoobservação, também. Você sabe o que você procura? Os seus valores? Analise:

  • Você procura informação no texto ou só a imagem é suficiente para você curtir? – A(s) foto(s) mostram um pouco do perfil. Aliás, a ausência de fotos também quer dizer algo – inclusive que a pessoa pode já ter outro relacionamento e querer evitar a exposição.
  • Na era digital, é muito fácil manipular imagens. Não acredite em toda foto que você vê. E avalie: a estética e a beleza são seus principais valores? Quais valores você destacou no seu perfil?
  • Seja sincero(a) consigo mesmo(a): o que você quer? Apenas um encontro casual? Ou está disponível para um relacionamento amoroso, de verdade, com todas as dificuldades que relacionamentos trazem?
Comportamento nos aplicativos

Depois do match em aplicativos como Tinder ou Happn, é hora de manter o papo. O papo costuma começar pelos messengers. Dos aplicativos vai-se para outros, como o Whatsapp ou Telegram.

Também é cada vez mais comum é adicionar o crush no Instagram, que vem se tornando o meio preferido de paquera para muita gente.

Stories dão a chance de conhecer mais sobre o estilo de vida – lugares que frequenta, tipo de amizades, o que gosta de fazer, dentre outras informações. Directs Messages (DM) também facilitam a comunicação digital.

Ouse falar também por telefone: a voz é um importante indicador das emoções e também do estilo verbal e nível cultural da pessoa. Ficar apenas nas mensagens de texto impede observações – além de causar um prejuízo nas habilidades sociais.

Superados os passos iniciais, ao marcar o primeiro encontro, a ansiedade pode aumentar. A intensidade depende da pessoa, da interação entre os contatos e do quanto se coloca de expectativa neste encontro.

Encontrando o match – o primeiro encontro

Sem nenhuma referência da pessoa escolhida, a não ser as que ela forneceu, seu primeiro encontro será um blind date. Blind dates geram ansiedade – normal! Afinal, iremos contra um conselho que as pessoas que cuidam de nós geralmente nos passam, desde cedo: não sair com pessoas desconhecidas. Por isto, muitas pessoas nem se arriscam a usar os apps.

Mas, convenhamos, não são só os conselhos dos cuidadores que geram ansiedade, atrapalhando sua vida amorosa. Se você ainda mantém o idealismo romântico, com crenças em almas gêmeas ou destino, pode se decepcionar muito.

O medo da rejeição atrapalha muito a sua vida? Talvez seja preciso um olhar mais aprofundado sobre as suas experiências iniciais na infância ou adolescência. Se você não recebeu amor de quem precisava cuidar de você pode viver perseguindo isto e exigindo mais do que a pessoa pode (ou precisaria dar). Ou você pode mesmo acreditar que não merece ser cuidado(a) – e atrair pessoas que vão “confirmar” sua crença.

Como a ansiedade joga contra a sua vida amorosa

Como já dissemos em outros posts, quanto maiores as expectativas amorosas, maiores as chances de frustração. Quem tem um histórico de ansiedade pode experimentar grande sofrimento mental – não só no primeiro date, mas em vários outros na sequência.

A pessoa ansiosa pode ficar desmarcando encontros, por exemplo, adiando. Este comportamento pode afastar quem se interessou a princípio.

Outra forma é dificultar o fluxo da conversa. Por não querer demonstrar vulnerabilidade, nos primeiro encontros alguns assuntos são evitados. Mas, justamente, estes são os temas que dariam a “liga”, para saber se vale a pena ir em frente. Sem se mostrar, como a outra pessoa pode apostar que vale a pena um segundo encontro?

A não continuidade dos encontros com a mesma pessoa, por sua vez, perpetua a crença de que não irá receber afeto e amor, presente em alguns esquemas mentais, que podem ser compreendidos em terapia.

Ficando no momento presente

Praticar meditação ancora você no aqui e agora. Assim, você aprende a lidar com pensamentos sobre um encontro amoroso, gerando insegurança. Nem tudo o que você pensa é necessariamente verdade, então você pode simplesmente deixar passar. Se você não os alimenta, fica mais fácil.

Você irá observar o padrão de pensamentos, com mais abertura para a situação que acontece – ao invés de acreditar em tudo o que se passa na sua mente.

Mas sua prática deve ser um hábito e não apenas um S.O.S usado apenas para afastar a ansiedade. Assim você consegue perceber os benefícios.

Não há fórmula mágica para garantir o encontro perfeito, ao contrário do que os love coaches dizem.

Nem que alguém se apaixonará por você – ou manterá o sentimento. Mesmo que você seja super inteligente, tenha um corpo maravilhoso, não se pode garantir uma boa vida amorosa. Não acredite em todo o marketing que chega até você.

A forma mais garantida de ter uma relação profunda é usar sinceridade. Ter coragem, não deixando de expor sua vulnerabilidade – o que nem sempre se quer mostrar de cara. Afinal, foram muitos anos de defesa, certo?

Logicamente, é um risco. Como saber a quem se expor – e quando?

Como a psicoterapia pode ajudar

A psicoterapia pode ajudar a desenvolver melhor seu discernimento. Aliada à prática de meditação, você entenderá seu histórico e escolhas amorosas, seus medos e de onde surgiram.

Você pode identificar que os ensinamentos sobre amor, passados por quem cuidava de você, ressoam ainda na sua mente. Tais padrões influem na sua vida, nas suas escolhas. E muitas vezes, você nem se dá conta.

Em terapia, você aprende a reconhecê-los. Também aprende que a experiência dos cuidadores pode ser totalmente diferente da que você vive.

Você não precisa repetir padrão. Mas é preciso estar consciente para estabelecer relacionamentos saudáveis e realizadores.

Faça psicoterapia para assumir a responsabilidade pela sua vida. Ao se comprometer com seus valores e agir de acordo com eles, você irá achar a sua vida mais valiosa, com propósito.

Thays Babo é Psicóloga Clínica e atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.

Mestre pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Atualmente, cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são predominantemente online.

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