Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

14/05/2019

Saúde mental – não descuide da sua

O cuidado preventivo com a saúde mental ainda é raro no Brasil, restrito muitas vezes às classes mais altas. A pandemia de coronavírus, porém, fez com que cada vez mais pessoas procurassem ajuda psi. Se o Brasil já era o país mais ansioso do mundo, segundo a OMS, o quadro piorou a partir de março de 2020, com o surgimento da covid.

A depressão cresceu também. Muitas vidas foram perdidas e estamos tendo de lidar com crises em várias áreas da vida .

Esta resistência em cuidar da saúde mental também tem a ver com preconceito – a chamada psicofobia. A ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria – tenta combater o estigma contra o portador de doença mental.

Preconceito – psicofobia

Por causa do estigma, muitas pessoas que deveriam procurar ajuda psi não o fazem. Acham que se tem família, religião ou um relacionamento amoroso conseguirão superar. Mas muitas vezes não é assim. O sofrimento mental pode se tornar insuportável e limitar a vida.

Você sabe o que é psicofobia?

Não tratar não cura. Não querer saber o que se tem, não ajuda. Pelo contrário, pode agravar o quadro e prejudicar o desenvolvimento. A autoestima e a autoconfiança podem ficar comprometidas por toda a vida.

Crianças e adolescentes também podem adoecer

Pais e mães relutam, muitas vezes em reconhecer uma dificuldade do seu filho ou filha. Muito se atribui de “responsabilidade” aos cuidadores no problema de uma criança ou adolescente. Mas temos de lembrar que se tornar pai ou mãe não torna imediatamente alguém a apto a cuidar e lidar com seus próprios limites. Por isto, muitos só buscarão ajuda psi quando a escola ou algum/a médico fizer encaminhamento.

A psicofobia também se estende aos profissionais da saúde mental, como psiquiatras ou psicólogxs. Outros especialistas são consultados (como clínicos ou neurologistas, dentre outros), para evitar o rótulo e não se sentirem “malucas”. 

Mais arriscado ainda é quando acaba confiando apenas em tratamentos alternativos e espirituais, esperando que a questão se resolva magicamente.

A doença mental, se tratada, leva a uma vida mais realizada

Existem fatores, que você não controla, como a hereditariedade. Se há pessoas na sua família que sofrem de algum transtorno mental, como ansiedade ou depressão, bipolaridade e outros, as chances de você também ter algum aumentam.

Mas há outros fatores externos, como o ambiente de trabalho, a situação mundial, dentre outros..

Para evitar o aparecimento de uma doença mental – ou mantê-la sob controle – é importante saber diferenciar o quanto o seu estilo de vida, e hábitos contribuem. Se você cuida de uma depressão, tende a sair mais fácil, e forte dela. Tratamentos podem ter um tempo limitado, sob a supervisão de um profissional qualificado.

Cuidados com a sua saúde mental

Ter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas e meditação, dormir bem, ter uma rede de amigos e fazer psicoterapia pode melhorar muito sua saúde mental. Mas eventualmente será necessário entrar com medicação. Se você tem medo, converse com seu/sua psi, e abra o seu coração. Fale das suas dúvidas.

Alguns exemplos de pessoas famosas que sofrem de doenças mentais são são a cantora Pink e o nadador Michael Phelps. Maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos, Phelps seengajou em campanhas de esclarecimento sobre a necessidade do cuidado com a saúde mental, tornando-se garoto propaganda de uma plataforma de atendimento psicoterápico online (para celular e web).

A ex-primeira dama americana, Michelle Obama, revelou que ela e Obama já recorreram à terapia de casal. Da mesma forma, ainda que pareça surpreendente, profissionais da saúde mental também precisam de cuidados.

Ou seja, ninguém é imune. Qualquer pessoa pode precisar de atendimento psicológico ou psiquiátrico. Não é demérito. E sempre será melhor (e mais barato) prevenir do que remediar.

Aumento de suicídios

Em 2016, a família real britânica lançou uma campanha sobre a importância de cuidar da saúde mental (hashtag #headstogether). Os príncipes falam das respectivas experiências pessoais. Em janeiro de 2019, o príncipe Williams falou mais sobre o assunto no Forum Econômico Mundial de Davo.


O duque e a duquesa de Cambridge e o Príncipe Harry no lançamento da campanha Heads Together – abril de 2016, Londres. Foto de Nicky Sims em Getty Images

Depoimentos de pessoas que têm destaque e sucesso ajudam a combater o preconceito.

Em 2018, dois suicídios causaram espanto em todo o mundo: o de Anthony Bourdin (chef americano, escritor e apresentador) e o da estilista Kate Spader. Muitos casos não são divulgados por causa do estigma que envolve este ato.

Durante a pandemia de coronavírus, houve um aumento no número dos suicídios. Há outros fatores também que contribuem para isto.

Medicação – será mesmo necessário?

O pavor da prescrição de medicamentos psiquiátricos afasta muita gente dos consultórios dos profissionais de saúde mental.

Em primeiro lugar, é importante esclarecer que a prescrição de medicamentos cabe apenas a quem se graduou em Medicina. No caso dos remédios psiquiátricos, o ideal é buscar quem tenha esta especialidade, mas, por preconceito, pessoas pedem receitas para profissionais das mais diversas especialidades.

Resistir à ideia de tomar uma medicação pode ser tema de algumas sessões de psicoterapia. Há uma resistência, por preconceito ou por medo de ter de tomar remédio ‘para sempre’. O medo dos efeitos colaterais também pesa. Muitas pessoas desconhecem que o uso do remédio pode ser temporário, dependendo do caso.

Ao continuar o acompanhamento psi,  a medicação pode ser ajustada, reduzida, ou até suspensa depois de um tempo, com a orientação do/a psiquiatra. Mas a adesão ao tratamento é fundamental, bem como mantê-lo durante o tempo determinado, não parando de repente, sem acompanhamento médico.

Quando não é necessário medicar?

Nem tudo precisa ser medicado. É preciso saber distinguir.

Não existe um remédio para tristeza, emoção absolutamente normal quando perdemos alguém, ou alguma coisa valiosa. Também é natural quando adoecemos. Algumas dores são importantes de serem sentidas – por mais que isto possa parecer “masoquista”. Elas podem mesmo fortalecer. Desenvolver resiliência.

Sendo também uma pequena ansiedade, que não paralise, que você consiga suportar, talvez não seja necessário também.

Um critério diagnóstico costuma ser o tempo que os sintomas duram. E também o quanto eles impedem as atividades, restringem a vida da pessoa.

Aceitação

Uma das condições para uma vida mais plena – ou mais “feliz” – é desenvolver aceitação. Aceitação dos fatos da vida e, inclusive que, em alguma medida, a pessoa poderá ter uma tendência a ser ansiosa. E tudo bem.

Aceitação é, no entanto, muito  diferente de resignação. A conhecida Oração da Serenidade se assemelha aos pressupostos da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT, em inglês), sendo um pedido sábio para obter a “serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras”.  

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Thays Babo  atende em Copacabana (e também on-line), a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial.

Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio, tem formação em TCC, extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science). Concluiu a formação em Terapia do Esquema na Wainer Psicologia. Terapia individual e de casal, atendimento presencial em Copacabana e online 

07/05/2019

Ansiedade – quando o futuro que imaginamos é o pior possível

Dados coletados pela OMS relacionam o Brasil como um dos países  com a população mais ansiosa do mundo: 9,3% da população sofre de ansiedade. Estes dados são anteriores à pandemia de covid-19. Assim, é bem possível que este percentual seja ainda maior.

Além disto, nem todas as pessoas identificam que sofrem deste transtorno. E dentre as que se identificam nem todas buscam ajuda, ficando de fora das estatísticas.

A ansiedade não é de todo ruim. Ela surgiu com uma função evolutiva: preservar nossa vida, garantir nossa sobrevivência. O problema é o excesso, que paralisa.

A ansiedade como padrão familiar

Muitas pessoas aprendem a ser ansiosas na família de origem. Pais, mães e outros cuidadores, se muito ansiosos, criam com pensamentos pessimistas, catastróficos. Não estimulam a exploração do ambiente, dizem que o mundo é perigoso e que não se pode confiar em ninguém. Fica difícil, às vezes, quebrar o padrão.

Tenha em mente que nem tudo o que lhe ensinaram é verdade ou útil.

Preste atenção na mensagem que você passa para as pessoas que você educa. Você deve aprender a regular suas emoções para que a sua vida não seja limitada por pensamentos ansiogênicos que podem ser totalmente falsos.

Na era digital a ansiedade aumentou

Além do ambiente familiar, o estilo de vida contemporâneo contribui para que a ansiedade atinja níveis intoleráveis. Viver em grandes centros urbanos, por exemplo, traz questões como a violência, insegurança, trânsito pesado, dentre outras.

Ao longo da pandemia de corona vírus, por exemplo, o excesso de informações, em tempo integral, trouxe mais ansiedade. Ou seja, a tecnologia digital contribui para o aumento da ansiedade.

Além disto, nas redes sociais, fazemos comparações com outras pessoas. Aumentamos nossa auto-cobrança. Seguir ‘celebridades’, ‘personalidades’, e mesmo pessoas amigas, pode, portanto, gerar insatisfação. Elas podem parecer melhores do que nós, mesmo não estando. Comparações assim podem ser bastante injustas e gerarem insatisfação e competição. Mais uma vez, fica a sugestão do detox digital e do “unfollow” nas mídias sociais.

Tempo para uma parada

O mundo digital não trouxe mais lazer. Trouxe facilidades, mas a um custo alto. Por exemplo, muitas corporações exigem que seus “colaboradores” sejam ‘multitarefa‘ e disponíveis 24 horas por dia; vários cargos e funções foram extintos. Assim, as pessoas estão sobrecarregadas e obrigadas a ‘performarem’ bem…

Empresas mais antenadas com questões de saúde mental têm investido em programas de saúde mental para sua equipe, incluindo aí o treinamento em práticas de mindfulness, para ajudar a manter o equilíbrio.

Relacionamentos amorosos e a ansiedade

Os relacionamentos amorosos também têm se mostrado mais instáveis nesta era digital. Há uma vigilância constante sobre o/a parceiro/a, aumentando a ansiedade, principalmente por causa dos aplicativos de relacionamentos, como Tinder e Hppn. O Facebook lançou o Dating, com uma estratégia bem agressiva: oferece o recurso mesmo para quem não está à procura de parceria amorosa ou sexual. Nos próximos meses, isto deve resvalar nas queixas clínicas.

Farmacoterapia – e o que mais?

A indústria farmacêutica tem lucrado bastante com os ansiolíticos e sofre críticas de vários profissionais da saúde mental. Psicólogxs não medicam mas já recebem clientes que já se autodiagnosticam, graças às informações disponíveis on-line.

Muitas destas informações nem são corretas – o que é um enorme risco para a saúde mental e emocional.

Há quem já chegue se definindo como portador de algum tipo de transtorno de ansiedade e querendo um remédio para acabar com ela. Nem sempre há o interesse de aprender a lidar com a ansiedade, mudando comportamentos ou identificando as situações gatilhos muitas vezes exclusivamente mentais, que disparam a ansiedade.

Como regular as emoções

Quem adere à psicoterapia pode aprender a regular suas emoções. Assim, não precisará recorrer, 100% das vezes, à medicação.

Afinal, há um preço que vai além do que se paga na caixa registradora da farmácia: os efeitos colaterais de muitos medicamentos e suas interações com outros remédios (os de uso prolongado, por exemplo).

Atualmente, psiquiatras já reconhecem a importância da mudança no estilo de vida para manejar a ansiedade. Praticar atividades aeróbicas, meditar, ter um bom sono e se alimentar bem, ajuda bastante.

Um dos melhores recursos naturais para combater ou prevenir ataques de pânico são os relaxamentos e técnicas respiratórias, como respiração diafragmática. Já está comprovada a relação entre a ansiedade e alterações na respiração. Tensa, a pessoa respira de forma mais curta, acelerada.

Todo cuidado é pouco na hora de diagnosticar e prescrever – atribuições da psiquiatria. Mas a boa prática psiquiátrica não é só a medicação: inclui a parceria com a psicoterapia, que ajuda preventivamente.

Psicoeducação e regulação emocional

Em psicoterapia, aprende-se a regular as emoções e a lidar com crise de ansiedade. Apesar de a pessoa acreditar firmemente que não consegue dar conta sozinha, nem suportar um momento de ansiedade – a psicoeducação ajuda a entender o seu ciclo.

Inicialmente, muitas vezes a pessoa acaba recorrendo a um psicofármaco. Pessoas que resistem à ideia da medicação acabam muitas vezes usando álcool e/ou outras substâncias, o que pode ser um risco a mais e não funcionar a médio e longo prazo.

A psicoterapia ajuda a quebrar o ciclo de pensamentos, ao identificá-los. Ensina a regular as emoções para que não se tenha uma vida embotada. Mas é preciso se implicar no processo psicoterápico e fazer mudanças comportamentais e cognitivas. Aliás, isto se aplica a praticamente todos os transtornos psíquicos).

Além disto, na psicoterapia também se desenvolvem a autocompaixão e a segurança necessárias para se recusar a atender a todas as expectativas externas.

Foto de Gabriel Matula em Unplash

Vivendo em um mundo ansiogênico, talvez o primeiro passo para lidar bem com a ansiedade seja aceitar que ela não será totalmente “zerada”. A psicoterapia ajuda a aceitar este fato: tem-se ansiedade – mas não se é a ansiedade. A ansiedade pode vir e ir embora.

Abordagens psicoterápicas eficientes no manejo da ansiedade

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), por exemplo, não se empenha em “combater”a ansiedade. Estimula-se que se observe a ansiedade, sem ter de ‘brigar’ com ela. O que a fez surgir, como se fica quando ela aparece, será que tem de se fazer algo?

Outras abordagens clínicas, como a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC), usam técnicas para amenizar a ansiedade, com a reestruturação cognitiva, por exemplo.

Aprende-se a enfrentar situações estressantes que aconteçam fora do setting terapêutico. Com os recursos e técnicas ensinadas, a pessoa pode combater suas crises de ansiedade ou pânico – minimizando, por exemplo, as idas às emergências e, dependendo do caso, aos poucos, diminuindo a medicação – com o devido acompanhamento psiquiátrico.

Se você tem sentido que a sua ansiedade vem aumentando e fugindo ao seu controle, procure ajuda psi. Vamos falar sobre isto.

Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atualmente cursa a formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana. Durante a pandemia a maioria dos atendimentos é online.

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