Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

22/04/2019

Relacionamento amoroso: como cuidar

Existem mitos sobre o amor que não ajudam o seu relacionamento amoroso. Pelo contrário, alguns impedem que você busque ajuda psicoterapêutica a tempo de salvá-lo.

Um deles é que “casais felizes não discutem“, nunca. Esta ideia é totalmente errada e foi desmentida por inúmeros estudos.

Pelo contrário, o segredo é saber como discutir e como reparar o estrago eventualmente feito.

Outro mito sobre relacionamentos amorosos

Estudos do The Gottman Institute desmentem outro mito: não é preciso esgotar uma discussão na hora. Esperar para resolver quando os ânimos se acalmarem pode ser a melhor opção.

A conexão de um casal deve ir além da cama – o dia a dia pode contribuir para um relacionamento mais caloroso, inclusive sexualmente.

No entanto, deve-se sinalizar para o seu par que é apenas uma pausa para se recompor e não uma desistência ou desconsideração com sua queixa, nem desmerecimento da importância do que se discute.

Aprender a se comunicar de forma compassiva e assertiva melhora o relacionamento, mas em geral não somos educados assim nas nossas famílias de origem. Por isto a terapia de casal ou terapia pré-matrimonial podem ser um recurso valioso.

Terapia de Casal – para quê?

Por causa destes mitos, muitos casais encaram a Terapia de Casal (TC) como ‘último recurso’ ou como um passo antes de se separar. Casais que buscam ajuda psicoterapêutica precisam ao menos reconhecer que não estão conseguindo lidar com algumas questões.

Não se engane: casais que não procuram terapia não são, por si só, mais felizes.  Buscar ajuda profissional para superar uma crise no relacionamento amoroso não é um fracasso. Pelo contrário, mostra o quanto se valoriza a relação e o quanto se quer superar as dificuldades e (re)construir. É um compromisso mútuo de cuidar da relação. Ao invés de ser um fracasso, é a tentativa de superação, possibilitando (re)construir o vínculo amoroso.  

Porém, ao esperarem tempo demais para buscarem ajuda, os casais passam por muito estresse e sofrimento desnecessários. As mágoas já podem estar em um nível tão alto que este “último recurso” não consiga atender às altas expectativas.

Há quem ache que a Terapia de Casal (TC) é só para ‘ ajudar a separar’.  Fato é que o casal que busca ajuda psicoterapêutica reconhece que não está conseguindo lidar com aspectos importantes no seu dia-a-dia mas deseja superar a crise conjugal.

Terapia de Casal e Terapia Pré-Matrimonial

Jovens casais parecem estar mais conscientes da importância da ajuda psicoterápica e têm procurado Terapia Pré-Matrimonial. Com mais informação e menos preconceito, já sabem que, para que um relacionamento dê certo, as arestas que surgirão, naturalmente, com a maior intimidade – deverão ser aparadas,

Neste tipo de terapia, promove-se uma abertura para falar sobre o que é importante para si: Valores, projetos de vida, vontade de ter ou não filhos, divisão de tarefas, como lidar com dinheiro. Muitos destes assuntos devem ser abordados antes mesmo da união – e não evitados. As chances do relacionamento ser bem sucedido aumentam se os casais, ao invés de passarem um tempo precioso decidindo detalhes sobre a cerimônia de casamento, puder falar sobre o que é inaceitável – ou esperado – na relação, o que não se negocia.

Foto de Toa Heftiba – Unsplash
Terapia – não é um papo qualquer

No setting terapêutico surgirão, naturalmente, assuntos espinhosos, muitos não falados na época do namoro. Afinal, a crença romântica de que a pessoa amada adivinhará, ‘telepaticamente’, desejos e sonhos faz com que o casamento aconteça sem haver uma intimidade profunda. A forma com que o casal se comunica é um indicativo importante da qualidade do relacionamento.

A sessão terapêutica é muito diferente de uma conversa com parentes ou com amigxs ou até sacerdotes. Todos estes opinam, dão conselhos e opiniões  mas também cobram atitudes. Se viver a dois já é difícil, incluir a opinião de toda a rede de amigos e parentes,  testemunhas das divergências, dificulta ainda mais.

Na terapia, buscam-se a compreensão e a aceitação das diferenças. Uma pessoa precisa aprender a se colocar no lugar da outra. Vulnerabilidades de cada um vêm à tona e é preciso haver compromisso, carinho e respeito com o que é compartilhado na sessão. Quando se pode falar sobre o que dói, apesar do medo de voltar a se ferir, paradoxalmente, o relacionamento se estreita e aprofunda.

O/a terapeuta de casal media e facilita a comunicação, muitas vezes prejudicada. Dependendo da abordagem clínica, ensinará técnicas de comunicação. O casal aprende a escutar de forma mais compassiva, sem acusações ou julgamentos, Será possível falar sobre valores que deveriam ter sido discutidos no início do relacionamento.

Quando se busca ajuda específica

Algumas das situações mais frequentes em Terapia de Casal ou Pré-Matrimonial são:

  • Sexualidade este é um aspecto muito importante do casamento, pois o distingue de uma relação de amizade, por exemplo. Mas, para muitos casais, ainda é difícil conversar sobre desejos, fantasias e medos. Expectativas frustradas podem atrapalhar o relacionamento conjugal e levar à situações de infidelidade. 
  • Gestão das finanças
  • Uso excessivo dos smartphones e aplicativos
  • Família de origem
Filmes sobre terapia de casal

Dois filmes americanos incluíram situações em que o casal busca ajuda terapêutica, mas de forma cômica. Apesar dos estereótipos, pelo menos nestes não se reforçou a crença de que Terapia de Casal destrói casamentos. Pelo contrário: ajuda a rever o compromisso assumido, treina habilidades de comunicação e pode restabelecê-la.

Quando apenas uma das pessoas quer começar o processo psicoterapêutico, a adesão pode ser difícil, como no filme  Um divã para dois,  centrado na dificuldade sexual de um casal de meia-idade. Precisa haver abertura para escutar um ao outro, bem como  perdoar, superar mágoas ou até dar um voto de confiança, em caso de traição. Quem entra em um casamento com crenças irrealistas de que será fácil, se decepciona e não conseguirá  vivenciá-lo de forma prazerosa e feliz. Vale ver o filme, apesar do final nada realista.

A Terapia de Casal pode então contribuir para muitos casamentos, possibilitando que voltem a ser prazerosos. E, caso a separação aconteça, aumentam as chances de que isto se dê em bases de respeito e consideração pelo outro, sem resvalar em litígio. Caso o  seu relacionamento não esteja como   você e seu/sua parceiro/a gostariam, deem-se nova chance. Procure ajuda psicoterápica e tente mudá-lo na direção do que ambos valorizam e querem.

Referências

Beck, A. T . Love is never enough. New York: Harper & Row. 1988.

Gottman, J. Casamentos: por que alguns dão certo e outros não. Rio de Janeiro. Editora Objetiva, 1988

Harris, R.  Act with love: stop struggling, reconcile differences and strenghten your relationship with acceptance and commitment therapy . Oakland: New Harbinger Publications, 2009.

Mc Kay, M, Fanning, P; Paleg, K. Couple skills: making your relationship works. Oakland: New Harbinger Publications, 2006.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal ou pré-matrimonial em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus o atendimento está sendo exclusivamente online.  

08/04/2019

Um amor inesperado

Um amor inesperado é um filme argentino, que fez bastante sucesso no Brasil, no início de 2019.

Durante a pandemia, é uma boa opção de filme. Além do mais, conta com Ricardo Darín no elenco.

Mas existem outros bons motivos, além do ator.

Um amor… pode ser uma filmoterapia para casais que já criaram filhos e estão passando pela síndrome do ninho vazio. O longa conta a história de um casal, Ana (Mercedes Morán) e Marcos (Ricardo Darín), cujo único filho vai estudar no exterior.

Quando o rapaz parte, começam a discutir a relação e analisar o casamento. Percebem que lhes falta paixão, após tantos anos de bom convívio. A saída do filho desequilibrou a harmonia.

Caso você ainda não tenha visto o filme, continue a leitura depois de assistir, por causa dos spoilers.

Resumo

O casamento de Ana e Marcos “funcionava” bem. Até a vida sexual do casal era satisfatória, o que costuma ser queixa de muitos casais estáveis. E, de repente, para surpresa de todos, o casal decide se separar, sem nenhuma causa aparente.

A causa da separação pode parecer frívola: em uma conversa casual, perguntam-se para quê continuar. Qual o significado de continuarem juntos, sem estarem apaixonados?

Ana é quem provoca a discussão. Como muitas mulheres, cujo principal objetivo para casar é ter filhos, quando seu papel na família muda, entra em crise.

Sem ter seu filho por perto para cuidar, Ana vai ficando intolerante com hábitos e comportamentos do marido, os quais suportou muitos anos. Ana pode ter sentido inveja da mãe, octogenária, que redescobre a paixão.

Um amor inesperado nos faz crer que talvez sejam mesmo as mulheres as maiores vítimas das crenças que o amor romântico instilou.

Como já comentado noutros posts aqui do blog, as expectativas que o amor romântico trouxe para o casamento são um tanto quanto perigosas. Geram muita frustração. Tem-se de um lado a supervalorização da excitação, permanente, da paixão.

A neuroquímica da paixão

A paixão é mesmo viciante; segundo os neurocientistas, funciona como uma droga. Quando a paixão acaba – e isto acontece bem rápido -, provoca a privação dos neurotransmissores liberados inicialmente. Pedro Calabrez a compara com uma demência temporária. Passada a paixão, muitas pessoas deixam um relacionamento e partem em busca de outro. A visão não é nada romântica, mas precisa ser considerada.

Um casal que já passou pela paixão e se separa muitos anos depois causa estranheza (e medo) entre os casais amigos e na família – que podem passar a se questionar, também. De certa forma, Ana não percebeu os 25 anos passando, pois colocou sua atenção e afeto principalmente na educação do filho (como tantas mulheres que você conhece).

Marcos, com uma visão existencialista, percebe os benefícios da partida do rapaz, não buscava a paixão. Acreditava que a nova fase traria vantagens. Mas Ana foi ficando mais intolerante com os comportamentos do companheiro (atraso e preferência por determinados sabores de empanadas).

A paixão se opõe, muitas vezes, à necessidade de segurança, pertencimento, acolhimento. Quando decidem a separação, Ana busca a liberdade, acima de tudo. Marcos, sem tanta certeza, lamenta, quer mais a segurança. Bauman descreveu muito bemo conflito entre liberdade e segurança, característico do relacionamento amoroso na contemporaneidade.

Relacionamentos amorosos na era digital

As experiências amorosas/sexuais que Ana e Marcos têm a partir da separação são divertidas. Redes sociais e aplicativos de relacionamento (como Tinder e Instagram) não poderiam ficar de fora da discussão. Mesmo jovens usuários destes aplicativos poderão se reconhecer em algumas situações, mesmo sem nunca terem tido um casamento.

Excesso de pensamento

Um amor inesperado pode servir como excelente filmoterapia, ajudando casais que se encontrem nesta fase do casamento. Ou para quem acaba de se separar – tanto para poder planejar o que fazer quanto também para analisar e ver se a decisão foi impulsiva ou amadurecida.

Muitas vezes, nossos pensamentos (crenças e ideais) são os causadores do sofrimento, predominantemente mental. Assim, muito do sofrimento é desnecessário, quando há maior clareza das ideias. O título original é Um amor menos pensado. Fica a dica.

Aplicando isto ao filme, percebe-se que tudo ia bem, mas quando ambos começam a pensar – baseados nos padrões e expectativas românticos – começam a se comparar e acreditam que podem ser mais felizes.

Spoiler – pare aqui, se ainda não viu

É verdade que Ana e Marcos cresceram após a separação.

Também tiveram a incrível sorte de serem suficientemente flexíveis e aceitarem um ao outro com suas respectivas histórias. Muitas pessoas não cogitariam perdoar as aventuras amorosas e sexuais, ainda que no momento de separação tenha sido amistoso e consensual.

Haja flexibilidade psicológica e cognitiva – algo que falta para muitos casais.

E você? Assistiu? O que lhe chamou a atenção, o que desagradou? A quantas anda o seu relacionamento e como você pode melhorá-lo? Deixe sua opinião.

Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP). Atualmente, faz formação em Terapia do Esquema.

Durante a pandemia de coronavírus, apenas atendimento on-line – a a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.

01/04/2019

Relacionamentos amorosos – quando ficar, quando partir?

O amor não vem pronto: não basta apenas olhar, gostar e ter reciprocidade. Isto é paixão, possível precursora do amor, muito valorizada graças ao ideário romântico, de que sempre se fala aqui. Devido a estas crenças, muitos casais ficam confusos quando devem continuar um relacionamento ou quando partir.

A paixão tem tempo de validade (assista ao vídeo de Pedro Calabrez), como apontam neurocientistas, estudiosos da Psicologia e da Antropologia. Às vezes antecede o amor, mas nem sempre se transforma em amor.

Um relacionamento de amor, compromissado, demanda atenção, cuidado, carinho.

E também muita flexibilidade psicológica – e cognitiva. Crenças amplamente divulgadas sobre o amor romântico e os mitos sobre o convívio amoroso precisam, então, serem avaliados e questionados.

Qualidade da relação – querendo ficar


Pesquisadores do The Gottman Institute, referência em terapia de casal há décadas, nos Estados Unidos, criaram um laboratório para observar a interação dos casais – o Love Lab (Laboratório do Amor). Concluíram que há sinais claros na comunicação de um casal que mostram se este permanecerá junto no futuro, em um relacionamento amoroso de qualidade.

Uma das descobertas, que surpreende, é que nem sempre é bom continuar uma discussão quando o clima esquentou. Ir dormir ‘brigados’ pode ser melhor para que as ideias se assentem. Com distanciamento, pode-se ver mais claro e reconhecer quando houve exagero.


A comunicação é um bom indicador do futuro da relação. A quantas anda a comunicação com o seu par? Conseguem se ouvir, de forma compassiva e interessada? Falam de forma respeitosa? Ou se fecham e erguem muros?

Os Gottman também destacam que a atenção que se dá a quem se ama faz total diferença. Oferecem dicas preciosas, nada difíceis de implantar, para que o relacionamento amoroso dure.

O cuidado diário é imprescindível, mais do que grandes gestos ou demonstrações. Provavelmente você já percebeu que é mais prazeroso ficar em uma relação em que se é bem tratado(a) e acolhido(a). Esta é uma necessidade básica de todos, por mais que se disfarce ou se queira manter a pose de autossuficiente.

Razões para querer desistir e partir

Segundo Zach Brittle, terapeuta de relacionamentos amorosos, certificado pelo The Gottman Institute, quem está na dúvida se é hora de desistir de um relacionamento amoroso deve observar:

  1. Quando se diz mais “eu” do que “nós”.
  2. Quando há mais caos do que glória
  3. Quando há mais decepção do que satisfação.

A decepção pode vir de coisas do dia-a-dia: alguém que não cuida da casa, por exemplo. Por mais triviais que sejam, tais cuidados básicos contribuem para a felicidade conjugal, independente da orientação sexual.  Compartilhar as tarefas domésticas,  e em especial no momento em que um casal tem filhos, traz grande alívio para a  mulher que,  cansada – e, por vezes, irritada – muitas vezes se afasta do par.

Não por acaso, o nascimento de uma criança muitas vezes coincide com o momento de separação – por mais que a gestação tenha sido desejada por ambas as pessoas.

Como o filósofo Alain de Botton disse, de forma bem humorada “Nenhum poeta romântico, escritor ou artista jamais mencionou lavar roupas“.  Dividir tarefas libera mais tempo para que a outra pessoa também possa cuidar de si, mantendo a autoestima. Tais ações colaboram para o melhor humor e podem servir de combustível para a relação amorosa continuar boa. 

Outro motivador para partir é a descoberta de algum episódio de  infidelidade.  Como alguns terapeutas de casal vêm apontando, a sociedade contemporânea, principalmente na era digital, passa valores inconciliáveis –  supervaloriza  a paixão, estado que tira as pessoas da sanidade total, como mostrado no vídeo de Calabrez –  mas quer a segurança que a paixão não traz.   

Psicólogos, sociólogos e filósofos vêm questionando a importância de se reconsiderar e repensar o que é afinal fidelidade e lealdade. A psicoterapeuta belga Esther Perel,  que atende em Manhattan, cada vez está mais presente nas mídias,  falando sobre o assunto, de forma compreensiva e compassiva.  Seus livros  rapidamente viram best sellers, e parte do que fala no livro está nesta palestra TED 

Nesta palestra, Perel propõe que o conceito de infidelidade deve ser repensado. 

Se você está em um relacionamento amoroso e está em dúvida sobre se deve mantê-lo ou sobre o que pode fazer para melhorá-lo, procure ajuda psi.

Se seu par demonstrar abertura para investigar o que cabe fazer pelo relacionamento, não tendo medo de expor suas vulnerabilidades, a terapia de casal (ou a pré-matrimonial) é uma boa indicação. Pense a respeito , comunique-se e invista na qualidade da sua relação.

Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP).

Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial,  em Copacabana. Na pandemia, a maioria dos atendimentos é online.

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