Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

20/12/2018

Solitude ou solidão?

O amor é uma das questões centrais na vida do ser humano. Na sociedade ocidental, é muitas vezes confundido e restrito ao relacionamento amoroso. Não se entende estar só como solitude. Entende-se como solidão.

E a solidão é mal vista e considerada preocupante. Não é considerada uma condição da existência, pela maioria das pessoas.

Por isto, ainda é enorme a pressão social para que as pessoas se fixem  em um relacionamento. É como se fosse um atestado de ‘saúde mental’. Mas, na verdade não é – que isto fique bem claro.

Pressão social

Sempre houve pressão para que as pessoas formassem famílias . Aparentemente, por fins religiosos, mas havia um interesse econômico, do Estado, até para a formação de exércitos. Não é muito romântico falar sobre isto, mas ainda assim é para muitas sociedades.

Não são raros relacionamentos longos que já se tornaram desprazerosos, ou até tóxicos. Muitos casais não ousam se separar para não enfrentar questionamentos. Ou perder o status social. Ainda, pior: acreditam mesmo que  não ter ‘alguém’ indica algum problema.

Ou simplesmente temem estar só.

Estar só – o que isto diz de você?

No Natal, réveillon e dia dos Namorados, e em outras datas comemorativas, pessoas adultas que, por razões variadas, não estão namorando, nunca  casaram ou não têm nenhum “rolo”, costumam ficar ansiosas. Afinal, nos eventos de família, tem sempre alguém, que pode ser um tio ou uma tia que pergunta sobre ‘namoradinho(a)”.

A pressão começa cedo, já na adolescência. Hoje em dia, nas redes sociais já circulam vários memes, com sugestões de respostas cortantes e desaforadas para quem quer invadir sua vida e julgá-la.

Em 2020, a Netflix lançou um filme em que a protagonista arranja um par amoroso só para comparecer às festas de família: Amor com data Marcada (o título original em inglês é Holidate, juntando as palavras holiday (das Festas) com o date (encontro)).

Status de relacionamento

Na era digital, a vida amorosa deixou de ser privada. Casais que compartilham fotos nas redes sociais dão acesso aos seus contatos. São mais controlados. Seus contatos – que incluem a família, amigos e mesmo desconhecidos – acompanham as brigas. Sabem se fazem ou não as pazes – ou até se começam novos relacionamentos.

A pressão, antes exercida apenas pela família, agora é extensa. Ainda que não possa ser mensurada, pode interferir na própria dinâmica do relacionamento. Por exemplo, um like de uma pessoa pode gerar grandes conflitos (desnecessário) no relacionamento.

Ou seja, não bastassem os desafios da vida a dois, os casais agora têm de aprender a negociar o seu comportamento online, pois são mais do que duas pessoas interagindo.

Na verdade,  status de relacionamento não deveria ser o  critério para mensurar o nível de felicidade de ninguém.

Por mais que a  cultura popular ainda alimente crenças como  ‘é impossível ser feliz sozinho‘, através de músicas, filmes e literatura, muitos relacionamentos não deveriam sequer ser iniciados, quanto mais mantidos.

A sua saúde física e mental agradeceria. Mas para isto você precisa aprender a gostar de ficar só. Talvez não seja tão simples pra você.

Dependendo das suas experiências iniciais, na sua família de origem, você pode ter desenvolvido crenças que você não é capaz de sobreviver por si só. Ou que você não é uma pessoa com qualidades, que ninguém gostaria de você. Ou que o mundo é cruel e ninguém é confiável.

A Terapia do Esquema trabalha bastante bem neste sentido, para descobrir com você quais as suas crenças e as suas necessidades emocionais que não foram atendidas. Mais consciente do seu valor e do que você precisa, suas escolhas amorosas serão mais conscientes. E melhores. Não manterá relações que repitam padrões disfuncionais – ainda que sejam familiares. A solidão não será tão assustadora – pode ser solitude e prazerosa até.

Você escolhe: glória ou dor?

Paul Tillich, filósofo e teólogo americano, faz uma distinção importante entre os dois estados:

A linguagem (…) criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho”.

Assim, não estar em  um relacionamento amoroso não deve ser relacionado com tristezaabandonorejeição. A cultura perpetua a crença de que ‘estar só é estar triste‘. Pois saiba que é só uma crença. Não é uma verdade universal. Ponto.

Tal crença pode ter alto custo emocional. Pessoas que se mantêm em relacionamentos abusivos exemplificam o dano que isto pode causar.

foto de Nicole Harrington – Unsplash

Muitas pessoas que se jogam em relacionamentos amorosos sucessivos, querem evitar o encontro consigo mesmas. Ou estão, na verdade, viciadas na paixão.

Querem as emoções de início – e aí, tanto faz, na verdade, quem seja o seu par, desde que proporcione estas emoções. E estas são temporárias. Como já se sabe, há uma química que pode ser viciante. Mas ela se transforma, mudando da fase da paixão para a fase do amor – se você deixar chegar a esta fase .

Monogamia em série

Pessoas viciadas na química da paixão emendam um relacionamento no outro. Por idealizarem a monogamia, lançam-se na monogamia em série. Quando as emoções prazerosas começam a diminuir, terminam um relacionamento e buscam o próximo.

Sem flexibilidade e sem capacidade de negociação e por não terem parado para  perceber o que deu errado no relacionamento anterior, acabam saindo do relacionamento. E mais uma vez não refletem  sobre como contribuíram para que não fosse adiante. E assim, o ciclo se perpetua.

Verdade seja dita: não necessariamente algo deu errado. Apenas a química se transformou.

Se este é o seu ideal, e você se viciou nos neurotransmissores do início do relacionamento, vai, sim, buscar outro. Ad eternum.

Até o dia em que se percebe só. Ou não tão atraente. Sente-se vulnerável. Pode aumentar suas defesas – impedindo-se de receber justamente o que idealizava inicialmente: amor.

Amor é aprendizado

Contrariando o que a cultura popular, a mídia e as artes apregoam, o amor não é inato e nem instantâneo. “Amor dá trabalho“, como diz o filósofo suíço Alain de Botton, autor dos romances Ensaios de amor e O curso do amor.

Esperam-se grandes gestos do par amoroso, graças à cultura romântica. Assim, pequenos sinais do dia-a-dia, que refletem a qualidade do relacionamento, podem passar desapercebidos. Minimizando o positivo, valorizando o que falta, vem a frustração. E surge o questionamento sobre se vale a pena continuar.

Se você desiste, pode vir a ter uma série de relacionamentos. E todos insatisfatórios. Porque a insatisfação pessoal continua. Não sabemos na verdade o que queremos. E nem pedir o que queremos receber. E continuamos esperando que nosso par seja perfeito. Como não somos e nem nunca seremos, por sermos simplesmente humanos. 

Perguntas importantes para sua autoanálise

Antes de entrar em alguma  relação, autocuidado e autocompaixão são fundamentais para sua saúde mental. Pergunte-se:

  • O que gosto em mim, no que me tornei e sou hoje?
  • Será que o que me impede de ser feliz hoje,  aqui e agora,  é apenas (ter ou não) uma parceria amorosa? 
  • Consigo ficar só? O que penso de mim quando não estou em um relacionamento amoroso?
  • Consigo me comprometer?
  • Será que quero mesmo um relacionamento de longa duração ou apenas a paixão, o prazer e a diversão?
  • Será que acredito no que idealizei? Será que alguém pode atender todas as minhas demandas? Eu conseguiria, se forem as mesmas do meu par?
Foto de Elizabeth Tsung-em Unsplash
A psicoterapia pode ajudar na sua vida amorosa

A psicoterapia pode ajudar bastante a desenvolver as suas relações afetivas. Irá ajudar você a rever os seus modelos – e a questionar sua função. Se mantidos, sem questionamentos, podem estar entravando as suas relações afetivas.

Você poderá ter uma vida mais amorosa se aprender a ver o que cabe a você e o que cabe à outra pessoa. Se parar de imaginar que suas carências serão todas resolvidas por um outro – que teria de ser perfeito. Cabe a você boa parte destas soluções.

Assuma a sua responsabilidade na vida que você tem e na que você quer ter. Como você pode se comprometer e ir na direção que você quer?

Conhece-te a ti mesmo“, já diziam os gregos. Observe-se e  se comprometa com os valores que  são realmente os seus. Se você ainda não começou, em 2020, procure ajuda especializada. Se já estiver em um relacionamento amoroso, considere a possibilidade de terapia pré-matrimonial ou terapia de casal.

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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, na linha de Família e Casal, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e Extensão em  Terapia de Aceitação e Compromisso. Atualmente, está em formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial em Copacabana. Durante a pandemia de coronavírus, a maioria dos atendimentos é feita online.

15/12/2018

Tic-Tac: 2018 chega ao fim. E daqui para frente?

2018 está chegando ao fim. As Festas costumam ser um período muito difícil para muitas pessoas.   Há quem gostaria de poder  dormir dia 23 de dezembro e só acordar dia 2 de janeiro, quando tudo já tivesse passado. Amigos e familiares muitas vezes não entendem e pressionam, cobrando presença. Por não entenderem, criticam e rotulam quem prefere se manter à parte, o que  pode piorar o estado de humor. 

No Brasil, para muitas famílias houve ainda maior estresse  do que o normal da época, pois a campanha eleitoral  presidencial evidenciou muitas divergências. Por conta delas, houve decepções e algumas rupturas. Diferenças de valores, antes ocultadas, ficaram claras.

A quem recorrer

Por ser uma época que coincide com férias, muitos profissionais da área de saúde não atendem nesta época. Mas,  o Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona  em sistema de plantão, inclusive durante a noite de Natal e a virada do Ano Novo. A instituição, que é internacional, atende a  inúmeras ligações, no mundo todo. 

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

E por que será que tantas pessoas se deprimem? Por que tantas pessoas cogitam – e tentam – suicídio nesta época?  

Melancolia Natalina

Alguns grupos apresentam mais riscos: pessoas idosas, pessoas que não têm família ou rede de amigos, pessoas enlutadas, pessoas perfeccionistas e autocríticas.

Quem sofreu perdas e separações recentes geralmente não consegue  ver graça em tantas comemorações, que não fazem sentido para elas. É difícil que consigam ficar atentas a  quem está  a seu lado, que por vezes insistem, em tentar animá-las. Anseiam por quem partiu e, olhando o passado, perdem o presente. Ou o comparam e, dependendo da perda, o presente perde seu valor. Dói mesmo. É bem difícil ter de sorrir sob pressão.

Mas, além das pessoas enlutadas, há também quem, nas festividades, ao encontrar pessoas que consideram bem sucedidas, sinta-se um fracasso, desqualificando  suas próprias conquistas e supervalorizando as derrotas. A desvantagem pode ser por não ter conquistado  coisas materiais, que simbolizam ‘sucesso’ ou prestígio, ou  por não estarem em um relacionamento. Também pode ser por ‘simplesmente’ não ter uma família carinhosa ou confortadora.

Pensamentos de  comparação, muitas vezes,  trazem sofrimento mental, fazendo emergir  sentimentos auto depreciativos, para quem tem pouca autoestima. E, por vezes, de culpa, quando percebem algum traço de inveja. Assim, muitas pessoas se esquivam destes encontros para não terem de entrar em contato com estes sentimentos.  

Há também pessoas que provêm de  famílias com segredos,  abandonos, abusos e maus-tratos. Reunir todas as pessoas envolvidas pode causar bastante mal estar às ‘vítimas’, que não compartilham suas dores com os demais parentes e se veem obrigadas a conviver com  quem as magoou. 

Ritos de passagem 

Tirando estes casos, por que se dá tanta atenção ao Natal e ao ano novo? Esta época, especialmente o réveillon, permite  analisar o final de um  ciclo, e melhor planejar o/s próximo/s ano/s. Projetos abandonados  podem ser retomados ou repensados. Também os que estão em andamento podem passar por uma avaliação: devem ser mantidos? Ao reconhecer o que não se conseguiu realizar – e porquê – pode-se viver melhor, comprometendo-se com o que realmente é valioso. Fica mais difícil quando a pessoa não vê nenhuma possibilidade de mudar a situação na direção do que quer. E é super recomendado que, neste caso, se procure ajuda psicoterapêutica para que se consiga analisar a situação de forma mais ampla – e talvez flexível. 

Comprometa-se com seus valores em 2019 

Pode parecer difícil fazer algum planejamento se as mudanças não param, a nível global. A cada dia, o mundo parece mais imprevisível e acelerado. O grande aprendizado é saber planejar,  desenvolvendo flexibilidade para adaptar, caso haja algum acidente de percurso. É preciso aceitação de que há coisas que não dependem diretamente de nossa vontade ou não estão sob nosso controle.

No que depender de você, empenhe-se e tenha foco. Estes dois componentes ajudam a superar coisas podem atravessar o seu caminho. Dependendo da circunstância, insistir não significa resiliência, nem persistência, e sim teimosia. Pode ser mera perda de tempo. Em alguns casos, podem haver questões mais profundas, necessitando não só de acompanhamento psicoterapêutico mas também de uma avaliação médica. É importante fazer esta distinção.

Apoio psicoterapêutico

Considerando que não haja questões médicas intervindo, tendo sido afastadas as suspeitas de depressão ou outros transtornos, ao fazer sua  retrospectiva do ano que acaba, avalie quais são os seus valores pessoais. E faça o balanço: você se comprometeu com eles em 2018? Ou suas ações não estavam alinhadas com eles e você  se afastou do que você realmente valoriza? A intenção não é procurar culpados e sim  observar e mudar o que pode ser mudado, na direção do que se quer. Compaixão e autocompaixão são importantes neste processo. Ao avaliar o que distraiu no caminho, você pode se comprometer com  as mudanças necessárias. Também é importante perceber que  alguns valores são (ao menos temporariamente) incompatíveis entre si. Você se aproxima de algum e se afasta de outro. Mas talvez o maior problema é quando se age de forma compromissada  com valores  de outras pessoas e não seus. 

Hora de procurar ajuda – saiba quando

Ter amigos pode não ser o suficiente para lidar com algumas travas pessoais – que muitas vezes são apenas mentais. Amizades importam muito para o bem estar psíquico, promovendo conexão, afeto e outros valores.  Mas, nem  o melhor dos  amigos tem disponibilidade total (inclusive de tempo), distanciamento ou mesmo experiência para realmente colaborar. Alguns ficam incomodados com questões que não encaram em suas próprias vidas pessoais. Às vezes tentam apenas consolar e  mostrar ‘o lado bom das coisas’, sem entender que está difícil para você ‘pensar positivo‘, o que aumenta o mal estar e a sensação de incompreensão. Assim, revelar a pessoas conhecidas suas experiências traumáticas, ou pensamentos e emoções negativas pode ser muito difícil.

Quem se cala – e se isola – pode estar realmente em uma situação mais grave do que você poderia supor. Se é você a pessoa que  fica ruminando pensamentos  autodepreciativos, que fazem você querer desistir de tudo, inclusive de viver, procure ajuda. Durante o período de festas, o CVV é uma excelente opção, para os momentos mais críticos. Mas encare o projeto de uma ajuda de médio e longo prazo: o quanto antes comece ou retome psicoterapia.  

A psicoterapia pode ajudar você a viver  sem talvez idealizar tanto,  colocando expectativas realistas e aproveitando o que se apresenta agora. O futuro – quando chegar e se tornar presente – depende das ações hoje. Não estar com os pés no tempo de agora, no momento presente, faz perder o foco. Muitas vezes contribui para alterar o  humor.  Ao ‘viver’ no passado, relembrando cenas ou situações – dolorosas ou felizes, não importa – não se percebe, muitas vezes, o que se tem hoje para desfrutar e o que se está perdendo.  Viver querendo antecipar, controlando por temer o futuro, ou ficar só sonhando, também impede de construir a vida que se quer, de se comprometer com os valores pessoais. 

Lidar com o possível

Considere, pois, em 2019, a possibilidade de iniciar um processo de  psicoterapia.  “Ser feliz dá trabalho” (e é impermanente, sempre é bom lembrar). Autoconhecer-se e trazer à tona  pensamentos e emoções que paralisam pode ser o necessário para que eles mudem ou percam sua intensidade. Ou fiquem ali, reconhecidos, mas já sem causar prejuízo e insatisfação com sua própria vida e suas escolhas. 

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual ou de casal,  em Copacabana.

 

09/12/2018

Tecnologia digital: como usá-la a seu favor

Queixas sobre falta de tempo não param de crescer. Muito se tem atribuído ao uso excessivo de tecnologia. A tecnologia digital, que deveria nos liberar para tarefas mais nobres, parece ter encurtado o tempo encurtou ainda mais.

Assumimos novas funções e somos encontrados 24 horas por dia. Quem não consegue dar limites fica 24 horas online, disponível para o trabalho, para a família, para os amigos.

Consequências para o corpo e para a mente

O uso excessivo da tecnologia digital prejudica a saúde física e mental. A memória, concentração, o aprendizado e a  atenção plena ficam prejudicados com o uso excessivo dos dispositivos eletrônicos.

O maior acesso à tecnologia digital também está relacionado ao maior nível de depressão e ansiedade.

Tecnologia digital e os conceitos de multitarefa e monotarefa

O smartphone sabotou o controle corporativo do tempo gasto online e, certamente, muitas pessoas atrasam suas entregas por navegarem nas redes sociais. Já foi comprovado que a mera presença do smartphone no ambiente atrapalha a concentração. Especialistas dizem que só a vibração já prejudica a atenção. Desta forma, uma das formas de reduzir a distração é desativar  (sons de) notificações. 

Pandemia e a importância da tecnologia digital 

Durante a pandemia de covid-19, no entanto, com as pessoas trabalhando em home office, o tempo gastou passou ao controle da chefia.

Algumas empresas dispararam em produtividade porque as pessoas, temendo perder seus empregos, ficam mais tempo disponíveis, tendendo à exaustão. É preciso dar limites também às chefias.

Ser  multitarefa é ótimo apenas para as corporações. Assim mesmo, a curto prazo. Por tempo prolongado, prejudica a qualidade da execução da tarefa propriamente dita e, dependendo da tarefa, pode colocar vidas em risco.   

Descobertas recentes da neurociência mostram que o ser humano deve ser monotarefa. E no homeoffice o que as pessoas precisaram foi de serem flexíveis e multitarefa – tendo de lidar com o cuidado de casa, dos filhos e a entrega no trabalho.

Impactos da tecnologia digital
Na profissão

Eventualmente,  atrapalha a ascensão profissional, quando a exaustão deteriora a qualidade das entregas, que pode inclusive gerar demissões. Ao não atingirem  metas pessoais, a culpa, vergonha e demais sentimentos negativos surgem. Então, é mais do que necessário aprender a dar uma desconectada do seu celular. Para conseguir realizar suas tarefas dentro de prazos, esconda ou desligue o telefone para focar no que você precisa fazer já.  

Pesquisadores apontam que o uso excessivo da tecnologia gera procrastinação, que muitas vezes tem a ver com outras questões emocionais – como a ansiedade, por exemplo.

Nas relações amorosas

Além do impacto na esfera profissional,  relacionamentos  amorosos e familiares podem ser prejudicados, pelo uso excessivo do celular, que tem sido queixa frequente em  terapia de casal

Quem usa em excesso deixa seu par de lado. O tempo de interação pessoal e física diminui.  Coisas do dia a dia, aspirações e projetos não são compartilhados  olhos nos olhos. E, assim, o tempo  que se poderia dedicar à maior  interação física, ao toque e a sexualidade também é reduzido. 

É sabido que tocar, beijar,  abraçar liberam neurotransmissores que ativam a felicidade e o prazer. Portanto, maior  atenção aos momentos de maior intimidade física contribui para estreitar e manter o  relacionamento amoroso.

Ficar o tempo inteiro com os olhos na tela do celular ou do notebook pode ativar sensações  de abandono, menos valia e até despertar ciúmes – mesmo quando as mensagens são trocadas com família ou grupos de amigos.

De certa forma, a tecnologia digital pode ser considerada uma rival do casal.

Redes sociais

Um advogado americano atribui ao Facebook uma grande responsabilidade em divórcios. Mas outras redes sociais, como Instagram,  estão relacionadas com depressão e ansiedade porque aumenta a comparação.

Comparar-se a outras pessoas pode criar grande sofrimento mental.  Imagina-se  que o mundo inteiro tem uma vida mais interessante.  E muitas das vezes isto nem é verdade!

Nas relações amorosas

Nas relações familiares, as interações  diminuem nos encontros.

Também diminui a percepção do prazer: a comida parece menos saborosa, já que não se presta tanto atenção a ela. 

Como não se exceder 

Consultores de tecnologia apontam dicas, principalmente para jovens. 

Pessoas já nascidas na era digital perderam algumas experiências importantes, de relacionamento interpessoal e também estão perdendo algumas habilidades sociais – como por exemplo iniciar uma conversa, pessoalmente, dar um telefonema e responder às chamadas. 

Pediatras também apontam que crianças muito pequenas são mais prejudicadas do que beneficiadas, com o uso da tecnologia, prejudicando o desenvolvimento cognitivo.

 Nomofobia

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Nomofobia significa “no mobile phobia” – ou seja fobia de ficar sem o dispositivo móvel – o celular. Há um caráter de adição no uso excessivo de tecnologia. 

Heavy users de smartphones fizeram com que o designer Marc Jacobs radicalizasse, ao  bloquear o uso de celulares  em seus desfiles, por considerar falta de respeito o uso que as pessoas têm feito. 

Gerenciamento de tempo no celular

Mas como diminuir o tempo desperdiçado nas redes sociais, em especial? Especialistas sugerem uma atitude que pode parecer radical para os adictos: deletar os aplicativos do celular

Em uma palestra TED, Rory Vaden questiona o conceito de gestão de tempo e, de forma clara e direta, explica que não se tem como aumentar o tempo: cada dia tem 24 horas, que tem 60 minutos, cada um com 60 segundos.

Ou seja,  o que se precisa é administrar suas emoções para usar bem o tempo que se dispõe. Assim, não haverá do que  se lamentar depois. Nas suas criticas às ferramentas de gestão no tempo, Vaden afirma que o foco tem de ser na autogestão. 

Aprender a dizer ‘não‘ – a si mesmo/a, adiando o prazer e diminuindo a esquiva das tarefas enfadonhas – é importante para se filtrar o que se tem a  fazer. E sugere que se exclua o que não se precisar fazer mesmo. Aplicativos de autogestão de tempo também podem ajudar (como o Space).  

Como a terapia pode ajudar

A autogestão, o dizer ‘não’ para si mesmo,  saber filtrar, não é fácil para a maioria das pessoas. Likes numa rede social libera dopamina. Mas não o suficiente e aí você fica mais tempo online.

Por isto desconectar-se pode gerar emoções que você terá de enfrentar com argumentos racionais e lógicos. E consciência.

Deixe-o longe de você. Se esta ideia gera ansiedade,  procure ajuda  especializada, antes que isto prejudique seu trabalho, suas relações familiares e  seu relacionamento amoroso. 

Entenda o que você evita, o impacto de suas escolhas. Se o excesso de tecnologia afasta você dos seus valores principais, dê um tempo. Procure ajuda psi. Faça psicoterapia.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), e formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  presencialmente em Copacabana e online. 

04/12/2018

Felicidade sexual e casamento – é possível conciliar?

Nos últimos séculos, o casamento passou por inúmeras transformações. Pode-se dizer que o século 20 foi um divisor de águas.  O casamento até então era um  combinado entre famílias (ou reinos), tendo como principal finalidade  manter os bens e gerar filhos. A felicidade sexual não era um objetivo do casamento. 

Só muito recentemente, a sexualidade do casal passou a ser considerada como indicativo de felicidade conjugal. E não necessariamente isto contribui para a estabilidade e duração dos casamentos.

O amor nunca foi  determinante para constituir  família

A compatibilidade sexual não tinha nenhuma importância para firmar um vínculo. Até porque era impossível avaliar: era esperado que a mulher se mantivesse virgem até o casamento.

E, mesmo depois do casamento, o prazer sexual da mulher não era  levado em conta. Nem era desejado – já que poderia aumentar a possibilidade de escapadas conjugais.

Você deve estar se perguntando: “como assim?”

Sexo para a mulher era encarado como com finalidade reprodutiva. Quando um  casal não tinha filhos, muitas vezes o homem abandonava a mulher (mesmo sem saber se  era ele a pessoa  infértil). Ainda por cima, não haviam alguns dos métodos contraceptivos e nem a chance de detectar a paternidade.

Assim, uma mulher com muito desejo era perigosa. Podia ser mais infiel. E a infidelidade feminina era uma questão relevante para os homens, que não queriam criar filhos  gerados por eventuais escapadas. 

Como os homens aprenderam a separar amor de sexo

A educação de homens e mulheres também tem sido bem  diferente, há séculos. Desde a infância, o menino era incentivado a, quando chegasse na idade, buscar sexo.

Pai, tio, padrinhos ou amigos eram os responsáveis por levá-lo  a casas de prostituição. A eles, era ensinado que deveriam separar amor de sexo. Eram de certa forma “autorizados” a realizarem suas fantasias, sem  culpa.

Assim, não tinham interesse ou preocupação com que a mulher (oficial ou não) tivesse prazer. E exigiam “pureza” e “castidade” da mulher oficial, cuja  virgindade era vigiada até o casamento. Assim, as “moças” que ousassem ter relacionamento sexual antes do casamento traziam a vergonha para a família, quando descobertas.

Muitas eram  abandonadas pelo parceiro a quem tivesse confiado a “honra”. Podiam ser  expulsas de casa ou até serem trancafiadas em  conventos.

Se continuassem em casa, “desonradas”, muitas vezes não conseguiam se casar. Seu destino seria cuidar das crianças de outras pessoas da família ou mesmo dos pais. Portanto, a maioria se comportava dentro do que era previsto, negando seus próprios desejos.

Infidelidade e a dupla moral

Recebendo esta educação tão repressiva, muitos casais mantinham o sexo conjugal como obrigação. Portanto, ao homem, até bem pouco tempo, buscar prazer fora do casamento  era plenamente ‘aceitável’, pela sociedade. Trazia  sofrimento para a mulher e para a família? Não importava.

Já a infidelidade da mulher nunca foi compreendida, principalmente no Brasil.

Só mais recentemente esta dupla moral vendo sendo questionada.

Não se admitia, para início de conversa, que a mulher poderia ter prazer sexual –  sexo era obrigação, para servir ao marido, para procriar. Com pouco empenho do homem em dar prazer, a maioria das mulheres encarava o sexo como um sacrifício necessário para sua sobrevivência.

A fidelidade garantia ao 

o homem não sustentaria filhos de outro.  Se ela traísse, poderia ser morta.

Infelizmente, o feminicídio continua alto no Brasil. Porém, já causa horror e não mais condescendência. 

 O divórcio só foi legalizado no Brasil em 1977 e as pessoas separadas eram marginalizadas, até pouco tempo. Havia um forte controle e pressão para a manutenção do casamento,  exercidos pela Igreja, pela família, mas também relacionado a  fatores econômicos.

Revolução sexual

A partir do surgimento da pílula, na metade do século 20, a sexualidade passou por uma revolução. Reduzindo o risco de engravidar e com as infecções sexualmente transmissíveis (IST´s) relativamente controladas, as mulheres passaram a ter maior  liberdade sexual.

Porém,  na década de  80, com o surgimento da AIDS, a liberdade sexual sofreu um  baque. Apesar dos grandes avanços no tratamento da síndrome desde então,  IST´s  como HPV, hepatite C e a sífilis, que  está mais resistente a tratamento, vem crescendo. Até porque as mulheres ainda têm dificuldade de negociar o uso do preservativo com seu(s) parceiro(s), mesmo que seja em um relacionamento casual.

Ideais românticos podem aumentar os  problemas conjugais 

Muitos ideais e crenças surgidas a partir do Romantismo ainda influenciam os relacionamentos amorosos. Comportamentos sexuais não são discutidos às claras na fase de namoro. Causam estranheza, medo de julgamento e a comunicação fica indireta.

Após o casamento, o que não foi previamente conversado pode minar a felicidade conjugal. Portanto,  a comunicação do casal é importantíssima para a qualidade do vínculo amoroso e, também, da vida sexual.

A escuta  compassiva e atenta,  sem acusações ou pré-julgamentos, é fundamental para a felicidade amorosa. Caso contrário, pode haver  separação ou a manutenção de um casamento  de fachada,  infeliz entre 4 paredes, mantido em nome da estabilidade financeira ou pela preocupação com o futuro dos filhos em comum.

Casamento sem sexo

Surpreendentemente, há casais que optam em não mais se relacionarem sexualmente, ou reduzem a prática sexual ao mínimo. Para Esther Perel, pode-se considerar um casamento sem sexo quando a frequência é menor do que uma vez por mês. 

Alguns dos possíveis motivos para não ter sexo com o cônjuge: 

  • incompatibilidade de desejos – pode ser em relação à preferência de posições, fantasias, horários ou até frequência;
  • disfunções sexuais – principalmente na fase do desejo ou da excitação – que geram bastante ansiedade de desempenho;
  • cansaço pelas atividades do dia-a-dia;
  • descoberta de infidelidade;
  • prioridade sobre a educação e bem-estar dos filhos – abre-se mão da relação conjugal em prol da parental, o que não é recomendado por terapeutas de casal
  • vergonha do próprio corpo (caso esteja muito acima ou muito abaixo do que considera seu corpo ideal);
  • crenças religiosas;
  • doenças físicas ou psíquicas – depressão, por exemplo, afeta a libido;
  • crença de que sexualidade tem uma idade para ser vivenciada e que já ‘passaram’ da fase.

se a diferença do nível de desejo dos parceiros for muito grande, pode haver problemas no casamento.

Desejo sexual e a  infidelidade

Quando a decisão de manter o casamento assexuado é unilateral,  as chances de que a pessoa, que não fez esta escolha, venha a ter um caso extraconjugal aumentam.

Esta exigência pode ser muito difícil de ser atendida se o casamento é assexuado. Curiosamente, tem-se a expectativa de que o outro também se abstenha.  No ideal romântico,  espera-se que  a pessoa deseje seu par exclusivamente, para todo o sempre. Ou seja, o discurso é um mas a prática é outra.

Além da fidelidade física, já tão difícil de controlar ou monitorar,  há quem queira ainda controlar o desejo da outra pessoa. 

Infidelidade na era digital

Na era digital,  a expectativa do comportamento sexual continua a mesma da era analógica. A  fidelidade ainda é o que a maioria dos casais deseja. 

Porém, com as redes sociais e aplicativos, as possibilidades de contato com ex-parceiro(a)s podem gerar ansiedade. Muitas pessoas consideram traição se seu par mantém conversas, sexualizadas ou não, por internet ou pessoalmente com um(a) ex ou com um(a) possível parceiro(a).

Só de imaginar que o par tem alguma fantasia (mesmo não confirmada ou não realizada) pode gerar  uma crise no relacionamento, e terminar em  separação.

Dada a dificuldade de manter a promessa de fidelidade, o relacionamento termina e parte-se em busca de outro,  com a mesma exigência – vindo daí o termo monogamia sequencial ou monogamia em série.  

O que é combinado não sai caro

É bom lembrar que cada casal deve estabelecer suas regras, conversando, preferencialmente antes de formalizar um compromisso. Conversar sobre regras – possíveis e atingíveis -,  valores individuais e do casal contribui para fortalecer o vínculo.

Conhecer as fantasias de seu par e dar a conhecer as suas, de  forma confortável, aceitadora e sem julgamento, aproxima o casal.

Nem todas as fantasias precisam ou devem ser realizadasse uma das partes não concorda ou tem aversão à ideia.

Saber e aceitar que seu par tem fantasias – e que algumas  podem não incluir você – aumenta a cumplicidade do casal. 

Portanto, se você ainda não se casou, procure  conversar com seu par antes sobre o que você espera, sobre seus valores e expectativas.

Terapia pré-matrimonial – o que é isto?

Procure conhecer os valores que orientam a pessoa com quem você quer se unir.  Afinal, como amar quem não se conhece?

É importante também, para  aceitar o outro, saber quem você mesmo é. E preste atenção: seu par precisa também se interessar sobre o que você pensa e sente.

terapia pré-matrimonial é uma variação da terapia de casal que vem ganhando força. Ela possibilita estabelecer a comunicação de forma clara e assertiva. Ela pode ajudar na decisão de oficializar o relacionamento.

Ajuda também a alinhar as expectativas de cada pessoa quanto ao relacionamento, minimizando problemas futuros.

Se você já casou e enfrenta uma  crise conjugal, a terapia de casal (TC) ajuda a refazer os acordos, (re)estabelecer a comunicação.

Em muitos casos, se você não demorou muito a buscar ajuda, é possível  ter uma vida conjugal mais prazerosa e feliz.

Caso o final seja inevitável, a TC ajuda a estabelecer boas condições para que isto aconteça de forma amigável para ambas as pessoas.

Se você quiser saber mais, agende uma consulta. 

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO, formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP).

Atendimento presencial em Copacabana e on-line – a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.

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