Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

21/09/2018

Como escolher a melhor psicoterapia?

Talvez você tenha começado a ler este texto, por curiosidade, imaginando que haja realmente uma psicoterapia ótima, que dê conta de todas as queixas. Uma abordagem que sirva para todas as pessoas.

Não, não há. Mas, então, como escolher um/a psicólogo/a?

Primeiro de tudo, você precisa perder o medo de iniciar o processo.  Por trás do medo da psicoterapia, está o medo da mudança, que impede muitas pessoas de até fazer o primeiro contato.

Apesar de já estar em sofrimento, talvez você tema sofrer ainda mais, ao revisitar fatos tristes ou traumáticos. 

Como diz Michal J. Formica, a terapia “é   um lugar onde aprendemos a nos sentir desconfortáveis conosco, para que possamos nos sentir mais confortáveis com quem somos e com nosso lugar no mundo.” 

Medos de começar

À ideia do desconforto emocional  soma-se o temor de ter de se transformar (e a fantasia de desestruturar toda a vida).  Sofre-se pelo que se pensa sobre a psicoterapia.

E muito do que se pensa não é verdade.

As  representações estereotipadas sobre psicoterapia em  filmes e novelas contribuem para estas fantasias.  Você não precisa falar da sua mãe, por exemplo, se não quiser… 

Como encontrar a pessoa certa para atender você

Ter uma indicação ou encaminhamento pode dar mais confiança para dar o passo inicial.  Mas não garante nada. 

Um/a psi com ótimas referências (pessoais, midiáticas ou acadêmicas) pode não ser indicado/a pra você.

Precisa haver empatia. Você tem de gostar dele/dela. E perceber que houve reciprocidade. Você precisa se sentir à vontade, acolhido(a), não julgado(a).

Caso você não sinta isto, você deve marcar mais entrevistas. Ou buscar outro/a profissional.

Não aceite que digam a você que isto é  “resistência”. Confie na sua percepção.

Marque com outra pessoa, caso não tenha se sentido bem com a primeira, mas a informe também que não irá continuar. 

Empatia – por que é tão fundamental?

A empatia cliente-psi é fundamental e você deve respeitar a sua sensação na entrevista inicial, antes de se comprometer com o tratamento. Sem ela,  o  vínculo de confiança  não se  estabelece e o processo não começa, de verdade. 

O processo psicoterápico não costuma ser  fácil, pois toca pontos sensíveis da sua história pessoal – tanto ao investigar o passado quanto ao levantar expectativas, projetos e possibilidades.  Por isto, é importante se sentir à vontade para se expor e falar de si.

Mas, certamente, o tempo contribui para, ao longo do processo,  ficar-se mais à vontade para abordar questões mais dolorosas.

O que você pensa sobre fazer psicoterapia?

Incrivelmente, ainda há quem sinta vergonha de compartilhar que faz terapia. O estigma e medo de ser considerado “louco(a)” ou “desequilibrado(a)” faz com que muitas pessoas nem contem para as pessoas amigas,  familiares ou mesmo para o par amoroso que estão fazendo psicoterapia.

Mitos acerca da psicoterapia afastam quem poderia (e deveria fazer).  Por isto, é ótimo quando as pessoas bem sucedidas – como atletas, artistas e até membros da realeza – vêm a público contar da sua experiência pessoal com a terapia.  Elas servem de estímulo para outras, anônimas, que se sentem menos mal com suas queixas. 

A representação da terapia nas artes provavelmente contribui para isto. A terapia  aparece em contextos cômicos, o que não facilita a superação do preconceito.

Terapia não é confortável

A psicoterapia é o lugar de se revelar e se autodescobrir. Também é onde se percebe  que a responsabilidade  sobre o seu sofrimento muitas vezes não pode ser transferida a outra pessoa. Isto pode doer.

É o chamado para assumir a responsabilidade pela sua vida, a ter compromisso com os valores pessoais e parar de se justificar no que as outras pessoas fizeram. É quando a lamentação chega ao fim. (Obviamente há em que a pessoa foi ou é totalmente vítima. O/a psi ajuda a superar, a tornar resiliente e a saber usar sua  liberdade para se afastar da situação. E, dependendo do caso, intervém de forma diferenciada – podendo até solicitar ajuda da família ou da justiça).

Começando a psicoterapia

Ao marcar a primeira consulta, dá-se início ao processo de entrevistas, que varia de  psicoterapeuta para psicoterapeuta.

Na entrevista inicial, são levantados  dados importantes, fazendo uma anamnese, procurando  entender o que causou a procura pela terapia.

O/a psi deve explicar sua forma de trabalho, a abordagem e estabelecer o contrato terapêutico (em geral, verbal): são combinados o horário, como repor faltas, forma de pagamento, dentre outros assuntos. Assim, o/a cliente tem uma ideia de como será o processo terapêutico, entende o compromisso e como se engajar no processo.  

Segundo vários psis, o sucesso da psicoterapia não depende  da abordagem.  Irvin Yalom, por exemplo, psiquiatra e psicoterapeuta existencialista,  defende a ideia de que o  que “cura” na psicoterapia, mais do que a abordagem teórica, é a relação.

Assim, apesar da qualificação do/a profissional,  tempo de treinamento e da experiência clínica, bem como o embasamento teórico serem muito importantes são as  características pessoais e a empatia entre cliente e terapeuta que  fazem a diferença.

Vai muito além do manejo das técnicas e o domínio da teoria.

Para Yalom,  “cura” é o processo de mudança e transformação e ele não hesita em fazer autorrevelações, tornando-se mais próximo, se achar que contribui para o processo psicoterápico.

Recentemente, Jeff Young, criador da Terapia do Esquema, em um Simpósio, falou basicamente o mesmo: estar disponível para o/a cliente, mostrar suas emoções, pode ajudar muito no processo.

Desta forma, cada vez mais profissionais, das mais diversas abordagens, concordam que  a qualidade de relação terapeuta-cliente é o que faz a diferença. 

Vencendo as barreiras iniciais – uma delas é o valor da sessão

Começar a fazer psicoterapia ainda é um ato de coragem, cercado de preconceito – muitas vezes de quem procura, que adia até atingir um extremo sofrimento mental. 

Muitas pessoas consideram que psicoterapia é algo caríssimo, que só pessoas ricas podem fazer. Mas há várias alternativas:

  • nas faculdades com o curso de Psicologia existe o Serviço de Psicologia Aplicada.
  • nos cursos de pós-graduação ou formação
  • plataformas de psicologia 
  • planos de saúde

Pelos planos de saúde tem estado difícil conseguir disponibilidade e as consultas costumam ser mais curtas. Alguns  dão a opção de reembolso.

Para conseguir o reembolso, em geral,  é necessário um encaminhamento  médico. Em  geral o encaminhamento solicitado será  e psiquiatria ou neurologia, que consiste em um  laudo.

Os termos do laudo podem assustar. Ao recebê-lo, converse com quem o emitiu, esclareça seu significado, ao invés de  buscar no Google.

De acordo com o laudo, os planos delimitam o número de sessões, de acordo com o laudo. 

O que é uma boa psicoterapia?

A revista americana  Psychology Today listou 10 características que todas as boas terapias devem ter, independente da abordagem teórica. São elas:

  1. Não ser uma boa “amizade” – o vínculo psicoterapeuta-cliente não pode ser igual ao que se tem com amigos; 
  2. Ser baseada em evidências;
  3.  Afirmar a dignidade e o valor humano básico do/a cliente.
  4. Encorajar e modelar o feedback e a comunicação precisos, honestos e oportunos;
  5. Estabelecer boa aliança entre terapeuta e cliente;
  6. Estimular a independência e a competência do/a cliente;
  7. Considerar a história e a biografia do/a cliente;
  8. Levar em consideração a experiência subjetiva do/a cliente e seu mundo interior;
  9. Trabalhar de forma que o/a cliente se engaje e faça sua parte no processo;
  10. A boa terapia deve oferecer apoio, requer aprendizado e facilita a ação.
Tipos de terapia 

Além das várias abordagens psicológicas (terapia cognitivo-comportamental, terapia de aceitação e compromisso, terapia fenomenológico-existencial, psicodrama, gestalt, dentre outras), a psicoterapia pode ser individual ou em grupo.

Também pode ser voltada para o relacionamento amoroso ou familiar: terapia de família ou de casal –  e também pré-matrimonial.

Além disto, após a pandemia a terapia online se popularizou. Mas ela pode ser em qualquer uma destas abordagens

Sucesso do processo

Em todas as modalidades , a empatia e o vínculo são  fatores decisivos para o engajamento e sucesso do processo psicoterápico. 

Por isto, é super importante  uma ou mais entrevista antes de realmente assumir um compromisso.

Importante frisar que a psicoterapia precisa de constância e frequência para dar bom resultado. Além disto, precisa de um  tempo – que pode ser mais ou menos rápido, de acordo com o compromisso do/a cliente. 

Nas abordagens cognitivas, após um tempo, as consultas vão deixando de ser semanais. O/a profissional qualificado/a possibilita o desenvolvimento da independência e a assunção da responsabilidade do/a cliente.

Ou seja, esta é uma boa forma de avaliar. Se você  começa a fazer suas escolhas mais alinhadas com seus valores pessoais, se sente mais independente e segurança nas suas decisões, o processo está sendo bem conduzido.   

Terapia online

Em março de 2020, a pandemia de coronavírus fez com que profissionais da saúde mental tivessem de adotar o teleatendimento.

Sendo bem sincera, não é o melhor dos mundos. Em geral, a terapia online era adotada para quem morava longe do consultório do(a) psi, ou porque tinha uma agenda muito imprevisível ou por alguma incapacitação.

Mas, faz parte: aprendemos a ser flexíveis e a nos adaptarmos às condições. Elas são temporárias, passageiras, mas ainda sem um prazo previsto. 

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus, os atendimentos são predominantemente online.

18/09/2018

Limites – o que você precisa aprender sobre eles

Um dos primeiros aprendizados que se faz na psicoterapia é dar limites, a não deixar que invadam a sua vida e a mudem na direção do que você não quer ser ou fazer.  Nem sempre é fácil, se é um padrão de muitos anos.

É  ainda mais difícil quando se precisa impor  limites às figuras parentais – pai e mãe.

Relação parental

A cultura sempre diz que pais e mães são perfeitos. Dizer ‘não’ pode trazer culpa e outros sentimentos ambivalentes. Mas e se o pai ou mãe não tiverem sido nem um pouco o que se espera deles, não tiverem sido pais suficientemente bons? Pode-se virar as costas e ir em frente? E ainda assim ser feliz?

Resenha

Limites retrata  as dificuldades de  Laura (Vera Farmiga) em lidar com  um pai  nada convencional (Christopher Plummer, perfeito). Logo de cara, percebe-se que o problema é antigo e que gera culpa: o filme  começa com Laura na sessão de terapia. Parte da crítica americana detonou o filme, achando que abusa de clichês, inclusive do road movie apesar dos elogios ao elenco. Quando se percebe, está se torcendo para o “bandido”. Mas, afinal, será que o “bandido”  é tão bandido assim?

O filme pode ser ótimo para se falar sobre valores, família (relações parentais, relação entre irmãs, com filho, com ex marido), sobre envelhecimento, rigidez, perdão,  abandono, escolhas erradas, bullying, drogas, mudanças, abertura… Muita coisa para um filme só? Pode ser.  Mas abre bons questionamentos também. 

Se não quer estragar um pouco a surpresa do filme, não assista ao trailer, que adianta muita coisa do roteiro

O que se aprende neste filme?

Limites são necessários, mas a rigidez em excesso pode impedir muita coisa boa de acontecer, muitas histórias de serem ressignificadas. Aprendizados como o de Laura também acontecem em   terapia: aprende-se a desenvolver flexibilidade, manter o bom humor e ternura, rever o que se passou.

Muita coisa pode ser mudada, mesmo com pessoas aparentemente impossíveis.

Ou você pode mudar, para lidar com situações em que não consegue mudar – sem necessariamente se esquivar delas.

Procure ajuda psi, fale sobre o que lhe incomoda e perceba o quanto você pode ir em frente, ou não, sem se perder de si mesmo/a.

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), atende em Copacabana  a jovens,  adultos e idosos, em terapia individual, de casal ou terapia pré-matrimonial.

03/09/2018

O amor pode ser prejudicado pelo romantismo? Pode.

O amor mudou muito nas últimas décadas, mas muitas crenças  românticas persistem. 

Firmes e fortes, seguem prejudicando os relacionamentos amorosos.

Na era digital, homens e mulheres ainda divergem bastante em suas expectativas sobre seus relacionamentos amorosos. Talvez isto se deva ainda à diferença na educação de meninos e meninas, levando a dificuldades, na vida adulta.  

Os relacionamentos amorosos após o movimento romântico

Fazendo uma breve retrospectiva, é bom lembrar que, ao longo de séculos, os casamentos eram negociações entre famílias.  Com o início do Romantismo, os casamentos passaram por uma transformação: o amor foi incluído como critério de decisão.

Assim, a atração sexual, o amor à primeira vista, a taquicardia que alguém desperta, frisson e desejo de ficar juntos, passaram a ser motivadores para começar e manter o relacionamento.

Paixão não é amor

E tudo bem. Só não confunda uma coisa com a outra. E nem espere muito da paixão – ela passa.

O estado de apaixonamento é muito confundido com o que é amor. É bem mais fácil explicar o que é paixão – inclusive em termos neuroquímicos. As definições do amor são infinitas.

Pela confusão entre paixão e amor, quando os “sintomas” da paixão diminuem, muitas pessoas acham que o amor acabou.  Na verdade, pode nem ter existido. 

Crenças do amor romântico

Allain de Botton, filósofo suíço, fundador da The School of Life, faz duras críticas ao romantismo. Para ele,  o romantismo matou o amor. Segundo sua visão,  para os casamentos realmente ‘funcionarem’ é preciso abandonar os ideais românticos – que são bastante rígidos.

Crenças românticas de que “o amor tudo pode”, que os amantes podem ser ‘felizes para sempre’ ou que casais felizes não discutem” não se confirmam no teste da realidade.

Casais felizes e ajustados discutem, sim. O segredo é saber como. Mas são muitos os casais que  se questionam se vale a pena permanecer juntos, ao final da paixão. 

Ter uma escuta respeitosa faz a diferença; saber como reparar o estrago eventualmente feito, também. 

Tais crenças irrealistas prejudicam os relacionamentos, acendendo alertas desnecessários: ‘pessoas que se amam não sentem raiva’, ‘quem ama não sente atração (sexual) por mais ninguém’, ‘quem ama não trai’, ‘pessoas que se amam adivinham os pensamentos uma da outra’, ‘quem ama não faz sofrer’…

Certamente há várias outras que atrapalham mais do que ajudam. Outra fantasia romântica é de que se conseguirá “mudar” o/a parceiro/a, sem que ele/a queira. Quem casa com esta expectativa, tem altas chances de se decepcionar

A comunicação faz a diferença – mas, como se fala?

Assim, muitos casais desistem do relacionamento amoroso, por inflexibilidade e dificuldade de comunicação. Há o medo de se expor e mostrar sua vulnerabilidade – mas esta é uma condição do amor.

Se a  comunicação ficar bloqueada, dificilmente a mágoa será diluída espontaneamente. Os problemas poderão não ser resolvidos, mesmo havendo ainda amor. Afinal, como diz o título do livro do criador da Terapia Cognitivo-Comportamental, Aaron Beck, o amor nunca é suficiente

Problemas do dia-a-dia

No auge do amor e da paixão, muitos casais se empolgam tanto com a ideia de estarem juntos que não dialogam sobre temas espinhosos. Casam-se até sem conversarem sobre seus valores individuais.

Alguns destes assuntos que deveriam ser abordados antes de oficializar a união, para evitar estresse, surpresas e decepção são: 

  • a infidelidade (real ou imaginada);
  • a sexualidade/vida sexual – desejos, hábitos e expectativas –  Quem acredita como verdade absoluta que o amor é antídoto para desejar por outra pessoa, se surpreende ou decepciona  ao descobrir que o/a parceiro/a (ou ela mesma) sente desejo por outra pessoa;
  • finanças – como administrar os recursos e as despesas
  • filhos – ter ou não? como educá-los?
  • uso e abuso dos smartphones, aplicativos e redes sociais – a facilidade de encontrar parceiro/a/s – antigo/a/s  ou novo/a/s – gera muita insegurança e ,com isto, tentativas de controle. Além disto,  o tempo que se fica online não é investido na relação;
  • saúde mental – transtornos como ansiedade,depressão, bipolaridade ou outros afetam , especialmente se não tratados;
  • família de origem – a interferência, proximidade e cuidados dispensados, bem como o adoecimento dos parentes idosos.

Poucos casais conversam, previamente, de forma aberta e sincera, sobre o que farão caso uma das partes – ou ambas – vier  a ter algum envolvimento (ainda que virtual) com outra pessoa. Talvez seja uma crença mágica de que, não falando, a infidelidade não acontecerá. Ou talvez seja ansiogênica demais a ideia de que o desejo sexual não se extingue ou pode estar além da pessoa agora amada, com quem se planeja uma relação estável.

Na prática, muitos destes aspectos se misturam. Assim, tanto a terapia de casal  como a terapia pré-matrimonial constituem importantes  recursos ao propiciarem  ferramentas emocionais para a manutenção do vínculo saudável.

Por serem temas  são desconfortáveis, o  setting terapêutico  costuma ser o único lugar onde  haverá uma escuta compassiva, mediadora, reflexiva.

A terapia de casal – ou pré-matrimonial – é diferente do papo com os amigos

Amigos e amigas, parentes e sacerdotes se posicionam. Aconselham e opinam. A maioria não consegue ser neutra ou imparcial e só ouvir.  Após opinarem, muitas  pessoas cobram atitudes e mudanças de comportamento, não entendendo as escolhas do casal.

Viver a dois já é difícil. Tentar agradar a rede de amigos e parentes, testemunhas das divergências é impossível – e  um problema a mais. E muitas vezes a  própria rede de contatos é parte da crise enfrentada,  por interferir na rotina do casal. 

A comunicação deve ser empática, compassiva. Se o estilo de comunicação  de um (ou de ambos) for predominantemente  agressiva, passiva, ou passivo-agressiva, a chance do relacionamento durar, de forma satisfatória, diminui, como falam os pesquisadores do The Gottman Institute, John e Julie Gottmann. 

Valores do casal 

Os valores pessoais devem ser debatidos tanto quanto  os do casal que se forma também. O casal estabelece acordos, negocia e  pode se engajar em ações compromissadas com os valores em todas estas áreas.  

Dos assuntos mencionados talvez o que gere mais mágoa seja a infidelidade.

Por não ser discutida previamente, a pessoa traída, muitas vezes não tem muita abertura para o diálogo para entender o que aconteceu e,  muitas vezes, ao tomar ciência do fato já parte para a  separação. A decepção muitas vezes impede o diálogo e, consequentemente, o perdão. Quem desiste do relacionamento e procura outro, sem ter analisado o que ocorreu, pode novamente se decepcionar. Não só porque não encontra a suposta metade da laranja logo à frente, mas porque não consegue reconhecer primeiramente que seres humanos são imperfeitos e que é preciso diálogo.

Créditos: Unplash
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Felicidade dá trabalho“, já dizia João Cabral de Melo Neto. Há casais que se separam se amando, sim, porque não conseguem o básico: ouvir o que o outro tem a dizer, sem atacar, com compaixão e amor.  E Allain de Botton também diz: “O amor dá trabalho”. Mas, enfim, tudo o que vale a pena e é significativo demanda esforço. Conscientize-se disto. 

Como a terapia de casal ou pré-matrimonial pode ajudar

O  padrão de comunicação do casal é um forte indicador da qualidade da relação. E, para os Gottman, estudiosos de relacionamentos amorosos, observar como o casal se comunica possibilita prever se ele ficará junto ou não. 

Tanto na  terapia de casal como na terapia pré-matrimonial  as   habilidades de comunicação do casal deverão ser trabalhadas, bem como a flexibilidade psicológica. Afinal, ela é uma das condições da saúde mental – em especial para a Terapia de Aceitação e Compromisso – é a , que também se desenvolve ao longo do processo psicoterápico. 

Assim, é importante mudar a crença de que recorrer à terapia seja o último recurso‘ ou de que é só ‘para oficializar a separação’. Na verdade, quando um casal busca ajuda psicoterapêutica é porque reconhece que não está conseguindo lidar com aspectos importantes no seu dia-a-dia sozinhos. E se compromete a fazer mudanças, juntos. Isto não significa que casais que não procuram não são, por si só, mais felizes. Muitos casais adiam buscar profissional e, segundo pesquisas,  levam, em média, 6 anos após começarem os problemas. Por terem passado do ponto, veem-se como fracassados e as chances de insucesso são grandes, contribuindo para manter a crença. 

Pessoas que hesitam em oficializar o relacionamento começam a buscar  terapia pré-matrimonial, que se assemelha à terapia de casal tradicional. Ao contrário do que pessoas refratárias à terapia imaginam, a terapia pode aumentar as chances da relação ser satisfatória. Gastam-se tempo e dinheiro preciosos nos preparativos da cerimônia de casamento, discutindo lista de convidados ou reformas, mas não se tem o mesmo cuidado de se preparar para a relação, não se fala sobre o que é inaceitável – ou esperado – na relação diária.    Valores pessoais e  projetos de vida serão compartilhados, fatores que costumam ser estressores na vida a dois podem ser trabalhados na terapia pré-matrimonial, que é basicamente preventiva e de curta duração.   

Enfim, a terapia de casal possibilita melhorar e caminhar na direção do que  pessoas realmente compromissadas entre si valorizam e querem. Eventualmente,  pode ser um recurso para finalizar harmoniosamente um relacionamento, sem que se torne um litígio. Então, se o seu relacionamento não tem sido o que você e seu/sua parceiro/a imaginavam, deem-se uma nova chance: experimentem a Terapia de Casal ou a Terapia Pré-Matrimonial.

Referências

Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row

Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.

Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Está concluindo a formação em Terapia do Esquema.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, terapia pré-matrimonial ou de casal, em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus os atendimentos estão sendo realizados prioritariamente online. 

A Terapia de Casal no cinema

Casamento não é a experiência mais fácil do mundo, cá entre nós. São desafios diferentes, desde o início, na adaptação. Traumas e experiências prévias, hábitos e valores que podem ser incompatíveis, tudo isto dificulta. Um recurso que pode ajudar bastante é a  Terapia de Casal. Mas, a Terapia de Casal, no cinema, costuma ser retratada de forma cômica.

Assim, muitos  casais permanecem com dúvidas sobre a validade e eficácia da terapia. Uma pena. 

Terapia de Casal no cinema – dois exemplos

No filme Sr. e Sra. Smith, de 2004, a  Terapia  de Casal não é o foco do filme, que fique bem claro.  Mas é  usada como recurso de humor para abrir e fechar a trama. E de forma inteligente até, temos de reconhecer. 

Na cena inicial, fica claro que o casal tem sérios problemas de comunicação. E que acabam repercutindo na vida sexual.

Comunicação problemática afeta a vivência da sexualidade

Problemas de comunicação são frequentes em casais que chegam em busca de terapia, independente da idade. E há uma relação direta entre a dificuldade de comunicação e a vivência da sexualidade.

Cuidando da comunicação, muitas vezes, a sexualidade conjugal tende a melhorar, você sabia?

Ainda  tabu em pleno sexo 21, a sexualidade não aparece como questão apenas em Sr. e Sra SmithEm Um divã para dois,   um  casal de meia-idade enfrenta dificuldades sexuais, mas por questões de envelhecimento.

Kay (Meryl Streep) não consegue conversar com o marido, Arnold (Tommy Lee Jones) sobre sua falta de desejo e evitação do sexo. O casal vive uma rotina entediante. Kay, por fim,  dá um ultimato:  terapia de casal (Steve Carell).  

Por que a  Terapia de Casal é, muitas vezes, o “último recurso”?

Infelizmente, muitos casais só recorrem a esta modalidade de terapia depois de muitas brigas e mágoas, comprometendo o seu sucesso. Às vezes o casal demora tanto tempo para buscar ajuda que já chega no consultório quando não há mais muita vontade de realmente estar junto.

As crenças românticas são provavelmente um dos fatores que mais contribui para que os casais  demorem a buscar terapia.

Várias destas crenças  são reforçadas através de filmes, romances, músicas, novelas. Produtos culturais falam de  “final feliz” e da  existência de “almas gêmeas”.

Que fique bem claro: para um relacionamento amoroso ser bem sucedido é preciso atenção e dedicação. Boa comunicação e flexibilidade psicológica e cognitiva

A ideia romântica de que “se o amor for de verdade, tudo se resolve”  infelizmente dificulta. 

Como a Terapia de Casal pode ajudar

Um dos principais pontos, tanto da Terapia de Casal (TC) como da Terapia Pré- Matrimonial, é o treinamento das  habilidades de comunicação. Para o casal Gottman, especialistas em terapia de casal, o estilo da comunicação predominante serve como preditor do relacionamento amoroso. 

Portanto, é fundamental  (re)estabelecer uma comunicação respeitosa, sem ironias, ou deboche.

Mas, nem sempre os problemas serão da comunicação – apesar de passarem por ela. Pode haver a necessidade de um  tratamento complementar (médico, por exemplo). E de terapia individual. 

Também traz à discussão os  os valores que o casal têm, com o que se comprometem.

Um divã acaba resvalando no pieguismo, reforçando a crença irrealista de que o amor, por si só, tudo resolve. Quem trabalha a sério com psicoterapia considera o final um desserviço.

Ou seja, em ambos os filmes, a mudança não é provocada pela terapia de casal – o que acaba reforçando a crença de que os problemas se resolverão sozinhos. Esta “moral da história” contribui para que muitas separações aconteçam com as pessoas se amando, por pura inflexibilidade e rigidez.

Amar dá trabalho e não é espontâneo. Amor é aprendido. E pode ser aperfeiçoado. 

Em muitos casos, o casal consegue ajustar o que estava indo mal. Michelle Obama falou em uma entrevista que ela e Barack recorreram à TC. E estão juntos até hoje.

Mesmo que  o  relacionamento chegue  ao fim,  a terapia possibilita que se finalize de forma mais harmoniosa um relacionamento, sem que se torne um litígio.

Portanto, se o seu relacionamento não tem sido o que você e seu/sua parceiro/a esperavam que fosse, dê uma nova chance. Não espere muito tempo a ponto de não se conseguir resgatar o respeito e a cumplicidade. 

Experimentem a Terapia de Casal ou  a Terapia Pré-Matrimonial para mudá-lo na direção do que ambos valorizam e querem.

Para finalizar,  um pouco mais de humor. 

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e em Terapia do Esquema, bem como extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Atualmente  atende  a jovens,  adultos e idosos, em terapia individual, de casal ou terapia pré-matrimonial.

Durante a pandemia de covid-19, atendimento prioritariamente online.

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