Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

19/08/2018

Filmoterapia: Divertida Mente.

Divertida Mente, premiado em 2016 com o Oscar de Melhor Animação, agradou bastante à comunidade psi. Não por acaso: o roteiro da animação contou com a colaboração de neurocientistas.

Pessoalmente, na minha clínica, recomendo como filmoterapia, pois ajuda bastante na educação sobre as emoções.  A animação mostra como aceitar as emoções (mesmo as conhecidas como ‘negativas’ é fundamental. Aceitar a tristeza, por exemplo, contribui para a saúde mental e emocional.

E quanto antes se começar a reconhecer e aceitar as emoções, melhor. Pais e mães deveriam ensinar isto às crianças – faz parte da inteligência emocional a autoconsciência. Infelizmente, nem sempre eles mesmo receberam este tipo de educação.

Resenha de Divertida Mente – sem spoiler

A história é bem simples: Riley é uma pré-adolescente, filha única. Tem uma família feliz, bons amigos mas precisa mudar de cidade, com seus pais. Aí começam as  mudanças dolorosas, todas em curto período de tempo.

Riley muda  de escola, vai para uma casa de que não gosta, sente falta da melhor amiga. Sua casa não é confortável. Com isto tudo acontecendo, suas emoções de Riley fogem ao seu controle. Vai deixando de ser uma menina alegre e fica raivosa. Seus pais não entendem.

Em sua jornada, acabará tendo de  reconhecer seus sentimentos, para não agir de forma impulsiva, vida a fora. É o que adultos também precisam fazer. 

As cinco emoções básicas 

Os roteiristas optaram por utilizar apenas 5 emoções básicas: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho (Disgust). Afinal, seria impossível  trabalhar todas as emoções humanas em um filme.  

(O trailer pode parecer infantil mas não é – e  a animação é muito mais para adolescentes e adultos).

O foco do filme é no mundo interno de Riley, que tenta abafar suas emoções. Só quando estas são reconhecidas e aceitas, Riley volta a se centrar. Sua Alegria até volta.

A importância da regulação emocional

Faz parte da vida que a gente perca coisas ou pessoas, se separe de gente querida, se mude (de escolas, de bairro ou cidade, de emprego). Tais perdas ou mudanças podem trazer sofrimento e dor. Negá-los, só aumenta a tristeza.

Porém, nossa sociedade tenta suprimir as emoções negativas. Quem ousa falar sobre isto pode ser muitas vezes desestimulado, com uma série de “Deixa disso”, o que aumenta o sentimento de incompreensão.  

Em redes sociais, só se posta o que é alegria, sucesso. O exibicionismo e narcisismo das redes, onde todos são tão ‘felizes’, dificulta a aceitação da tristeza, ainda que momentânea, como parte da vida. Quem acredita nas imagens postadas, ao se comparar, acha que apenas sua vida é puro sofrimento.

Pode entrar em desespero. Não por acaso, as redes sociais são apontadas como fator que contribuíram para o crescimento de alguns transtornos mentais.

Frente ao crescimento dos casos de depressão em jovens, com o aumento dos casos de suicídio, é ainda mais urgente  o treinamento emocional. Não só dos mais jovens, mas também de pais e mães.

Pais e mães que não sabem lidar com suas emoções (como raiva e tristeza), se se surpreendem quando elas chegam através de  crianças e adolescentes. Por isto têm de ser educados também.

O trabalho de conscientização e controle das emoções é conhecido como regulação emocional.

Como reconhecer e lidar com as emoções 

A psicoterapia pode facilitar bastante a regulação das emoções. E, a partir do reconhecimento, é possível  aceitá-las, sem julgamento ou culpa.

A Terapia de Aceitação e Compromisso (no original, ACT) é uma das abordagens que melhor trabalha este reconhecimento. Então, mais do que uma animação, o filme pode propiciar debates filosóficos e psicológicos também.  

No blog do The Gottman Institute, foram elencadas algumas maneiras em que pais e professores podem ajudar, sendo coaches de emoções.

Como já esclarecido, pessoas que tenham crianças e jovens sob sua responsabilidade devem elas mesmas aprender a reconhecer suas próprias emoções e suas dificuldades. À medida em que lidam bem com elas, conseguem ser exemplos de autocontrole e resiliência.

Porque assistir Divertida Mente

A animação deixa claro que mudanças podem causar, sim,  sofrimento  intenso. Mas podem trazer crescimento, caso você aceite as suas emoções mas se abra para as próximas experiências.  Aprendemos que a  Alegria não pode estar presente todo o tempo. Mas que pode voltar.

Como na maioria das animações mais recentes,  os adultos também podem aproveitar muito. A comunicação  conjugal dos pais de Riley  pode servir para casais se autoavaliarem.  Divertida Mente traz aprendizados a várias faixas etárias.

Enfim, Divertida Mente mostra de forma lúdica  a importância de reconhecer e acolher os  sentimentos negativos, que tanto nos incomoda –  tanto em nós como nos outros. 

Se você já assistiu, deixe a sua opinião e os seus insights sobre o filme. 

Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) pelo IPq (USP). Atualmente cursa a formação em Terapia do Esquema, com término previsto para setembro de 2021.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial em Copacabana. Durante a pandemia, a maioria dos atendimentos é on-line.

15/08/2018

Meditação: mitos sobre a prática e como adotar

Comecei a meditar em janeiro de 2004. Posso dizer que a meditação mudou a minha vida – e para melhor.

Digo sempre às pessoas que atendo: ‘medita que te faz bem‘, adaptação da famosa frase italiana “mangia che te fa bene“.  A prática da meditação pode fazer a diferença no processo de psicoterapia. E consequentemente na sua vida.

Mas, na real, quais são seus benefícios? Meditar para quê? 

Antes de mais nada, entenda o que meditação é  – e o que não é  

Para começar: meditar não é simplesmente “parar de pensar“. Se você pensa que meditação é isto, possivelmente nem tenta, o que é uma pena. 

É  impossível parar de pensar. A função da mente é pensar. Somos treinados pra isto, desde que nascemos.  Quando isto acontece, eventualmente, é por segundos. E perceber que não estamos pensando já nos faz pensar de novo.

A meditação também não está ligada, necessariamente, a uma prática religiosa, apesar de muitas tradições religiosas a adotarem.

médico Jon Kabat Zinn sistematizou o conhecimento sobre o mindfulness, com um conjunto de práticas  específicas originadas da tradição  zen budista. A partir daí, a  pesquisa científica atraiu a atenção de céticos, que  se permitiram experimentar e descobrir os inúmeros benefícios da meditação.

Quem pode praticar a meditação?

Praticamente sem contraindicações, milhões de pessoas em todo o mundo, de todas as  idades, raças, independente do sexo ou de terem ou não uma crença religiosa, têm a meditação na sua rotina diária de autocuidado. Quanto mais jovem  se começa, mais fácil adotar a prática diária.

Atualmente, muitas escolas  estão adotando para melhorar a disciplina, a concentração e diminuir a agressividade infantil.   Por perceberem os benefícios da prática, outras instituições e organizações também estão recorrendo à prática – inclusive academias de polícia e preparadores de atletas. A seleção alemã que goleou o Brasil no traumático 7 x 1  praticava a meditação.

Sintetizando muito, pode-se dizer que a meditação ‘dá um tempo’ para a sua mente. Comparando sua mente a um computador, a meditação é o  momento em que se roda um programa de manutenção, como o defrag.

O que impede você ou qualquer pessoa de aderir à prática? Talvez uma série de  crenças falsas sobre o que é a meditação. Alguns exemplos:   

  • “Para meditar, é preciso parar de pensar” – Saiba que a mente não para de produzir pensamentos. Pensar é sua função, o que nos difere dos animais e fundamental  para a sobrevivência. Portanto, parar de pensar  não pode  ser o objetivo da prática.  Se, por acaso,  a produção de pensamentos  parar por segundos ou minutos aproveite. O que a meditação é justamente  observar o fluxo dos pensamentos, sem alimentá-los. E trazer a  mente de volta para o foco de atenção, quando perceber que saiu dele.
  • É preciso praticar por horas! Não tenho tempo!” – Na verdade, pode-se começar com bem pouco tempo, até um minuto – veja o vídeo abaixo.  E, como diz um meme, se você tem tempo para internet (e redes sociais, como Facebook, Instagram  etc), você tem tempo para meditar. É mais importante manter uma  regularidade, do que praticar por longo tempo. Assim se conseguem perceber os benefícios a médio e longo prazo.
  • Tenho de sentar  em posição de  yoga, na postura de lótus, e não consigo!” – Qualquer pessoa pode praticar, mesmo sem  flexibilidade. Basta sentar em uma cadeira ou almofada.  Existem técnicas em que se pode praticar na horizontal e algumas, inclusive, em movimento. Como o objetivo da meditação não é dormir,  é preferível meditar se sentando.  
  • Não consigo parar, vou dormir!” – Existem infinitas modalidades de meditação. Pessoas que não conseguem ficar muito tempo paradas podem praticar caminhando ou dançando,  por exemplo.

O vídeo da Meditação de 1 minuto mostra como pode ser simples começar – com um tempo reduzidíssimo.

Várias possibilidades de praticar

Existem inúmeras práticas: pode-se meditar caminhando, preparando um chá ou até mesmo dançando.

Para facilitar, você pode começar  pela modalidade mais conhecida: a prática sentada. Procure um ambiente mais tranquilo e reservado, em que não haja interferências e nem chamados para a distração. Roupas confortáveis ajudam. Desligue telefones e alarmes. O silêncio é bom e ajuda bastante quem está começando.

Escolha um foco de atenção (ou “âncora“). A âncora pode ser apenas a sua respiração. Ou pode ser um objeto (uma vela acesa ou uma flor), uma palavra (mantra ou não) ou uma imagem. Se você é cristã(o), pode ser uma frase de um salmo. 

Concentre-se sobre o objeto foco/âncora, apenas observando os pensamentos  que passam. Não tente  suprimi-los; mas também não  os alimente.

Deixe os pensamentos passarem, como observador, sem tentar controlá-los ou sem julgar.  Só observe. Sem julgamento. Observe como se fossem nuvens passando.

E, quando  perceber que a mente divagou… traga-a de volta . Tenha atenção ao que te ancora.  Volte a observar… Com carinho. Com autocompaixão, sem se acusar de nada.

Abra espaço na sua agenda para você

Em um mundo corrido e invasivo, em que se tem de estar disponível, online, 24 horas, dedicar um tempo ao silêncio e à contemplação pode gerar, inacreditavelmente, uma ‘culpa’ nos workaholics. E justamente  os workaholics  precisam de muita meditação. 

Estabeleça um horário para praticar, reserve  um espaço confortável, com iluminação suave e sem muitos barulhos. Pode ser no início do dia, antes de sair de casa. Meditar é um autocuidado básico, que trará bons impactos na sua vida. 

Formas de meditar – encontre a que faz você adotar a prática

Se preferir meditar com música, as instrumentais são mais indicadas. Algumas práticas são de olhos abertos, outras de olhos fechados. Pode-se escolher fixar a atenção em uma imagem ou em uma parede branca.

Você também pode meditar contemplando a natureza. O mar ou as nuvens ajudam bastante.

Quanto mais tempo se repete  uma prática específica mais fácil colher seus benefícios.  Assim, escolha a técnica que melhor lhe convém.  

Os benefícios são tantos que muitas empresas já perceberam que a produtividade aumenta. Assim, investem, patrocinando cursos para seus colaboradores – o que acaba gerando algumas críticas sobre o intuito – mas não aprofundaremos aqui. 

Foto de Brian Mann em Unsplash

O que  faz bem, de verdade

Cada vez mais, a meditação é apontada por profissionais da Medicina e da Psicologia  – e até da Nutrição – como importante coadjuvante nos tratamentos. Alguns dos benefícios estão listados abaixo – e fazem valer a pena o esforço para estabelecer a prática.

  • Melhora a concentração – permitindo que a vida possa ser analisada sob outra perspectiva;
  • Aumenta a criatividade – soluções  podem surgir durante a meditação, pensamentos inspirados ou criativos também, sem que tenha sido este o objetivo da meditação;
  • Diminui a ansiedade e os níveis de estresse;
  • Reduz os episódios de insônia e melhora a qualidade do sono; 
  • Melhora os relacionamentos interpessoais – na medida em que ajuda a distinguir o que se pode deixar passar;
  • Diminui compulsões.
  • Ajuda na regulação emocional.
A integração da meditação na psicoterapia

Várias abordagens psicológicas – como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)  e a Terapia Cognitivo-Comportamental  (TCC)  – incorporaram técnicas de mindfulness. Uma simples parada, de alguns minutos, pode contribuir instantaneamente na condução da sessão.

No consultório, o(a) profissional pode ajudar a estabelecer a rotina, esclarecendo sobre as crenças mencionadas acima. Porém, é a continuidade do cliente,  fora do consultório, que fará a diferença no processo psicoterápico.

Toda caminhada  começa com o primeiro passo. Assim, também para meditar, é importante vencer a inércia, a resistência inercial da própria mente.

Julgamentos (e autocondenações) podem vir, dependendo dos seus esquemas mentais (“eu não consigo!”, “não é para mim!“). Reconheça-os e deixe-os passar. São só pensamentos. Não são verdades.

Não se julgue por ter se distraído. É assim mesmo. Fazemos tudo para nos distrairmos ao longo do dia, não será diferente quando você se sentar para meditar.

Mas você pode mudar a partir da prática. A meditação é uma ‘musculação mental’, em que a  a mente é trazida para  onde queremos que ela esteja. A âncora seria o peso a manter a atenção no aqui e agora. 

O esforço compensa, como as pesquisas comprovam.  Informe-se. E pratique!

Referências Bibliográficas 

Goleman, D. Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva. 2013

Penman, D..  Williams, M. Atenção plena: mindfulness.  

Zinn-Kabat, J. Viver a catástrofe total.  São Paulo: Palas Athena, 2017.

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Atendimentos a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e pré-matrimonial presencialmente em Copa ou online.

Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio, tem formação em TCC, em Terapia do Esquema extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP) e é associada à ACBS (Association for Contextual Behavioral Science).  

01/08/2018

Como superar uma separação amorosa

Superar uma separação amorosa pode ser tão difícil de superar quanto uma doença, segundo o psicólogo Guy Winch. Às vezes, até mais.

O fim de um relacionamento amoroso pode provocar ansiedade, pensamentos obsessivos e até dor física. Se você já passou por isto, sabe bem do que estou falando.

Existem várias explicações possíveis para a dor do final de um relacionamento – algumas mais românticas, outras mais científicas. A gente prefere as românticas, mas é importante falar das causas científicas. A neurociência ajuda você a entender melhor e pode até ajudar a superar.

A química da psicologia do amor

Em estado de paixão, alguns neurotransmissores são liberados. Ficam em alta. A gente sente mais prazer porque  o cérebro funcione de forma semelhante ao de usuários  de drogas. Nâo, não é romântico, mas, na verdade cria-se uma dependência “química” da pessoa amada.

Quando você a  encontra, seu cérebro libera substâncias ligadas ao prazer. E, logicamente, quando o  rompimento acontece – e não foi você quem terminou – você pode sofrer  fisicamente.

O  final de um relacionamento amoroso pode provocar sensações parecidas com as de  crise de abstinência de drogas.

Tudo o que você quer falar é sobre o fim

Se o término não foi desejado por você, é normal você querer falar exaustiva e exclusivamente sobre isto.  O tema repetitivo acaba afastando algumas pessoas, que ficam sem paciência.

Assim, o  isolamento contribui para a manutenção dos pensamentos obsessivos. Você rumina. Pensa onde errou. Mas, muitas vezes, não houve erro. O relacionamento se desgastou e não teve como recuperar. É importante trabalhar a aceitação de que nem tudo acontece como a gente quer. E que um relacionamento melhor pode surgir.

Começando a se desligar

Para superar,  você precisa

  • parar de consumir informações sobre a pessoa amada. Não se consuma imaginando o que ele/ela faz;
  • reconhecer  sua  raiva, misturada com tristeza – e às vezes esperança;
  • aceitar o seu sofrimento, sem o estimular;
  • não tentar ir atrás de satisfação rápida – em geral isto não funciona e traz mais tristeza;
  • não tentar contato.  A qualquer sinal simpático, você pode confundir tudo e acreditar que há chances de retomar o relacionamento.
  • procurar ajuda psicoterapêutica.

E se você lida com alguém que está passando por esta fase, tenha compaixão e paciência. Fale sobre o que não se deve fazer – e encaminhe para a terapia. 

Fases do luto amoroso

Há uma semelhança entre as fases do luto, propostas por Elizabeth Kübler Ross, psiquiatra suíça,  que descreveu  os estágios que se enfrenta diante de um diagnóstico de terminalidade (a saber: negação, raiva, depressão, barganha e aceitação). Muitos pesquisadores aplicam a mesma descrição ao  luto amoroso.

Como abordei anteriormente, existem semelhanças com as crises de abstinência por droga. Segundo alguns autores, há  apenas 4 estágios do luto amoroso:

  1. abstinência – quando se sente falta do convívio com o/aex – que “fornecia” os neurotransmissores da alegria
  2. raiva
  3. resignação (ou aceitação)
  4. superação.

A resignação e a superação são fundamentais para que se siga em frente. Pode levar um tempo – mas costuma passar.

O fim que não termina: seguir o(a) ex nas redes sociais

As redes sociais tornaram a separação  ainda mais difícil. Quando o ex-casal continua conectado nas redes sociais, mesmo sem procurar, você pode receber  notícias da outra pessoa, mesmo sem procurar.

Como?

Através de postagens de conhecidos em comum, em redes como  Facebook e Instagram, por exemplo. Ainda pior, podem chegar  notificações de lembranças passadas, reativando memórias de momentos felizes

Para superar, você precisa focar no presente.  O presente é o tempo que você tem.

Hoje e aqui e agora você pode  construir um futuro melhor – sozinho/a ou com outra pessoa.

Se, como vimos, a paixão tem semelhanças neuroquímicas com o uso de drogas, seguir a pessoa nas redes é comparável a ingerir de novo a substância. Não ajuda na cura.

Resista às tentações. A abstinência (de informações) ajudará efetivamente a superar para então curar. 

Seguir  e vigiar o/a ex nas redes sociais é o comportamento conhecido como stalking.  A intenção pode até  ser fazer um fechamento, dando  sentido ao término, para superar mais facilmente. 

No entanto, na maioria das vezes, a vigilância não contribui para a aceitação. Pelo contrário.

Se o   o/a ex segue a própria vida e interage com outras pessoas (que podem ser  novo/a/s parceiro/a/s, mas, muitas vezes, não são!), o sofrimento pode se prolongar.

 

Bloqueando as informações

Tais situações, totalmente casuais e inesperadas podem ser evitadas, usando as configurações de notificações. Em alguns casos, até vale a pena tirar a pessoa da sua rede de contato, caso você não lide bem com o fim.

Se foi um relacionamento abusivo – você tem de se colocar em uma situação a salvo. Sumir mesmo. 

Vale ressaltar que nem sempre suas conclusões  serão certas, ao analisar o que vê online. Então, o sofrimento se prolonga e pode ser, muitas vezes, totalmente infundado.

O stalking pode virar uma obsessão e prejudicar sua saúde mental, com impactos no seu desempenho profissional, acadêmico. Também atrapalha  os relacionamentos com pessoas próximas. E impede de abrir para novos relacionamentos.

O que fazer para superar o fim?

Primeiro se pergunte:  para que  você acompanha o/a ex? Acredita que a vigilância online vai ajudar a superar ou quer um motivo para voltar a contactar? Analise o que você perde e o que ganha com este comportamento (além do tempo). 

Apesar desta necessidade de fechamento, o psicólogo clínico Guy Winch  ressaltou a importância de  parar de procurar porquês para o término, para curar o ‘coração partido’. A busca por explicação prolonga a dependência em relação à pessoa que terminou.

Você  tira  do seu centro de atenção a pessoa mais importante de sua vida: você mesmo/a.

Separações podem, enfim, ser muito dolorosas, mesmo, por razões variadas. Pode ser pelo histórico amoroso anterior àquele relacionamento, pode ser por baixar a autoestima – reforçando algumas crenças negativas preexistentes, talvez.

A separação pode ativar seus esquemas desadaptativos. Eles se formaram  a partir das suas  experiências iniciais de vida. São  suas necessidades emocionais não atendidas. Por exemplo, podem ser ativados os esquemas de privação emocional, de abandono, de fracasso ou de defectividade.

Cuidar da sua saúde emocional será importante para você superar.  Como, muitas vezes, as pessoas amigas se afastam,  procure apoio psicológico.

Como a psicoterapia pode ajudar você a superar

Na psicoterapia, você fala sobre o relacionamento e pode  fazer  um balanço de erros e acertos.

Vai ser possível lidar melhor com a dor, aceitando-a. Nâo é o lugar de  sentir vergonha de expor suas emoções – como muitas vezes acontece diante de pessoas amigas.

Esquivar-se da dor, emendando em relacionamentos para tentar esquecer, também não ajuda a médio e longo prazo. Pelo contrário:  pode  atrapalhar os relacionamentos amorosos futuros, com o resíduo do que você não resolveu internamente.

Abordagens de terapia

Atualmente, vários profissionais de psicoterapia trabalham  integrando diferentes abordagens, como a terapia cognitivo comportamental, a terapia do esquema e a terapia de aceitação e compromisso. Afinal, temos de usar todo o conhecimento possível para ajudar quem nos procura. 

Em uma psicoterapia mais integrativa você pode ressignificar o que é  solidão. Pode aprender a curtir a sua  solitude. Você poderá chegar à aceitação e, enfim, à superação. 

Consciente de como repete algumas escolhas nos seus relacionamentos, por conta de padrões não tratados antes, é mais fácil quebrá-los. E ter relacionamentos mais realizadores depois. Mas lembre-se: você pode fazer o melhor possível, mas sempre depende também de quem você escolhe.

A música Estou Pronto, do álbum A gente mora no agora, de Paulo Miklos, em parceria com Guilherme Arantes, descreve um pouco da tristeza anterior (‘noite sem fim”) e da aceitação para enfim poder se abrir para um novo relacionamento.

Procure aceitar a impermanência, com  abertura ao que vier pela frente.

Términos acontecem todos os dias. Recomeçar, com outra pessoa ou aceitando a (temporária) solitude, também.

Comprometa-se com a sua vida, com seus valores e engaje-se em ações compromissadas com eles.

A pandemia não está ajudando muito a se “distrair”, então é a hora de você cuidar do seu mundo interno. 

Caso não esteja conseguindo, procure ajuda especializada. Agende uma consulta e comece um processo de psicoterapia.

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual e de casal ou pré-matrimonial em Copacabana.

Durante o período de pandemia, a maioria dos atendimentos é online

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