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11/04/2018

Como ter dias mais proveitosos

Filed under: TCC,Terapia de Aceitação e Compromisso — Tags:, — Thays @ 16:24

Inacreditavelmente, já fechamos o primeiro trimestre de 2022 – ano II da pandemia de coronavírus. Resolvi atualizar este texto sobre como ter dias mais proveitosos, por conta destes dois últimos anos. Foi muita coisa, muita mudança na nossa rotina. Muito teve de mudar no que a gente valoriza. 

Resumindo, são 7 sugestões do psicoterapeuta  e coach executivo, Jonathan Alpert, autor de  Be Fearless: Change Your Life in 28 Days.  Mas, pegue leve com você: se não conseguir em 28 dias, tudo bem: vai tentando, um dia após o outro.

Sem muita pressão e com muita autoobservação e autocompaixão.

Como ser mais proveitoso para você
  1. Deixe o seu trabalho no trabalho. As empresas hoje em dia tentam estender o expediente. A pandemia fez com que muitos entrassem em homeoffice. E aí as fronteiras do tempo foram esticadas – quase virando abuso. Cabe a você estabelecer limites para que eles não atrapalhem a sua vida pessoal;
  2. Planeje o amanhã. Anote o que realmente é imprescindível em uma agenda. Sempre destaco que a agenda convencional, em papel, é mais eficiente. Você não irá mexer tanto no computador ou smartphone (onde nos perdemos muitas vezes). Deixe para executar no dia seguinte, se realmente for preciso, ao invés de ficar repassando mentalmente o que fazer;
  3. Perdoe. Perdoar-se é um desafio difícil. Não fique ‘ruminando’ ou repassando os seus erros do dia. Se você já se conscientizou do que errou, faça diferente da próxima vez. E lembre-se: todo mundo erra! Ninguém é perfeito;
  4. Disponha de tempo para sua família e seus amigos. Cuide das suas relações pessoais e assim poderá se desligar melhor do trabalho. Ah, e segundo estudos de Harvard, você terá uma vida mais feliz. Mesmo.  Se você tiver seguido a sugestão 1, será mais fácil;
  5. Desplugue.  Consenso entre os especialistas da saúde mental, o excesso de conexão compromete o seu relacionamento com as pessoas próximas. E  também prejudica seu sono e sua saúde como um todo. Tente desligar-se pelo menos 2 horas antes de dormir. Faz parte da higiene do sono. Ou ao menos desligue o wi-fi. Acredite: se alguém precisar falar com você urgentemente, ela telefonará, não ficará dependendo de whatsapp ou e-mail;unplug
  6. Pense de forma positiva. Pode ser particularmente difícil, caso se tenha uma tendência à depressão ou à ansiedade. Neste caso, procure especificamente ajuda psi. Foque nas coisas que deram certo ao longo do dia. Não recicle pensamentos inúteis e depreciativos;
  7. Priorize o sono. Fundamental para ter mente e corpo sadios é garantir boas horas de sono. Por isto é tão importante desplugar.

Se você conseguir adotar estes hábitos todos os dias, a possibilidade de você ter mais dias satisfatórios aumenta. 

A proposta do autor é testar por 28 dias. Sugiro que você comece hoje. Por mais que seja difícil adotar todas as ações acima, tente implementar algumas.

Quem não  sabe dizer ‘não’, por medo de  desagradar (e perder o emprego, por exemplo) deve buscar ajuda psi. Fazer psicoterapia ajuda neste processo. 

Minha sugestão

Para finalizar, acrescento outra sugestão: pratique meditação diariamente. Cada vez mais estudos científicos mostram os benefícios da prática. Alguns terapeutas da  Terapia de Aceitação e Compromisso (originalmente ACT), Terapia do Esquema e Terapia de Aceitação e Compromisso a incluem no processo psicoterapêutico.

Eu pessoalmente pratico e observo que pacientes que adotam a prática consistentemente têm um processo psicoterapêutico mais satisfatório, para si mesmos. 

Experimente e,  se tiver mais sugestões, conta aqui pra gente. 

a meditação traz inúmeros benefícios - cada vez mais pesquisada pela Ciência, vem sendo indicada por psis das diversas abordagens

a meditação traz inúmeros benefícios e, cada vez mais pesquisada pela Ciência, vem sendo indicada por psis das diversas abordagens

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO , em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP).

Atende a jovens e adultos em terapia individual, pré-matrimonial ou de casal, em Copacabana e online.

06/04/2018

Vida amorosa na era digital – o que está acontecendo?

internet trouxe mudanças importantes para os relacionamentos amorosos. A criação dos smartphones facilitou ainda mais o contato. No entanto, os aspectos negativos no uso da tecnologia têm aparecido bastante na clínica de psicoterapia. 

  • Tempo de resposta
  • Forma textual – incluindo aí a pontuação

Pesquisas apontam que mensagens trocadas por whatsapp e outros messengers, muito frequentemente, causam insatisfação no relacionamento – seja ele casual ou de longa duração. Alguns aspectos vão além da forma textual: quem a recebe pode interpretá-la de forma distorcida, de acordo com o seu histórico amoroso ou padrões disfuncionais de pensamento . Um exemplo é a pessoa que fica irritada com a demora de resposta, deixando de considerar que a outra pessoa pode, por exemplo, estar em uma reunião de trabalho. Ou mesmo falando com outra pessoa – sem que isto signifique falta de interesse ou cuidado. 

O declínio do uso da função primária do celular e suas consequências

Em alguns lares, já não se tem uma linha fixa ou esta não é a forma favorita de contactar. O surgimento dos vários messengers e whatsapp baratearam os custos e rapidamente se popularizaram. As gerações mais jovens, nascidas após a criação do celular, têm demonstrado inabilidade social com o uso do telefone. A ligação telefônica pode provocar  muita angústia, chegando a ser interpretada como ‘invasiva’ ou ‘íntima’ demais. O repertório comportamental dos mais jovens ficou mais estreito, o que pode mais tarde gerar problemas quando entrarem no mercado de trabalho. Mesmo mandar um áudio, principalmente nas primeiras interações, pode ser interpretado como algo extremamente invasivo ou íntimo, sendo bastante evitado. À medida em que os aplicativos são atualizados, criam-se recursos para controlar. Muitas pessoas evitam ser controladas – por exemplo,  em relação à visualização, para não demonstrar disponibilidade excessiva – como se estar disponível significasse menos valor no ‘mercado afetivo’.  Infelizmente, alguns posts das redes sociais popularizam “verdades” facilmente contestáveis, mas que para jovens podem ser valorizadas.  “Visualizar e não responder já é uma resposta“.  Pessoas ansiosas tendem a aceitar sem questionar este tipo de mensagem, por esperarem que seu par esteja a postos o tempo todo. Ao valorizarem esta ideia, muitas vezes criam problemas desnecessários para a relação. 

Mensagem de texto – texting

Quando uma mensagem de texto chega, muitos elementos além do texto em si são levados em conta por quem recebe: a pontuação usada, o tempo entre mensagens, uso de emoticons. Tudo pode ser (mal) interpretado de acordo com os padrões e filtros mentais de quem lê. 

Imagem: Freepik

Imagem: Freepik

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Redes sociais e outros aplicativos

A possibilidade de vigilância sobre o que o/a parceiro faz, pensa  ou “curte”, se está online ou não, se visualizou ou não, podem gerar muita ansiedade e angústia.

‘Fuxicar’ o aparelho do/a parceiro/a se tornou, infelizmente, uma prática comum, já que a insegurança aumentou com a comunicação online. Mas, se a pessoa que investiga é descoberta, ou fala sobre o que descobriu, em geral, há mais prejuízos do que benefícios para o relacionamento. Se inocente, a pessoa vigiada tende a se sentir ofendida e/ou invadida. Se não inocente, poderá então tomar maiores precauções para não ser pega. Nada vai trazer mais segurança à pessoa que desconfia de traição, já que a partir daí algumas precauções passam a ser tomadas. Aliás, mesmo pessoas que não têm nenhuma intenção de trair também irão ficar mais cautelosas. (Este comportamento merece outro post, pois tem a ver com intimidade e violação de privacidade, levando à discussão de valores importantes). 

amor virtual

Gerir tantas estratégias de comportamento provocam a ansiedade – tanto em quem manda a mensagem quanto em quem recebe (ou espera receber). E também não promove a autenticidade e a leveza que deveria haver no relacionamento. Com a baixa tolerância à frustração, os relacionamentos ficam cada vez mais líquidos. 

Saiba mais sobre relacionamentos líquidos

Regras de uso – no casal e na famíliaMuitos divórcios são causados pelo uso excessivo da rede. Um advogado americano, em matéria da Times , considera o Facebook um dos principais motivos para divórcio entre seus clientes e fala até que alguns comportamentos online poderiam ser considerados uma preliminar (no sentido sexual mesmo), pois fica fácil  localizar alguém que já foi importante no passado. Ou assediar/ ser assediado/a por quem se conhece há pouco tempo. 

Então, além de toda a problematização da comunicação direta, por conta desta ‘liquidez’, a insegurança aumenta e, consequentemente, a vigilância sobre o comportamento virtual do par, pois pode apontar para algo além da rede. 

Alguns estudiosos, como Gottman, falam da etiqueta digital.  Alguns limites devem ser colocados – e uma das sugestões é a uma zona na casa livre do wi-fi, por exemplo. 

Recentemente, surgiu um termo que descreve pequenos comportamentos que alguns casais considerariam traição: micro cheating. Alguns podem ser considerados insignificantes, mas, para algumas pessoas podem indicar que o/a  parceiro/a não está inteiro no relacionamento, ou – o que pode parecer trágico – está emocionalmente investido em outra pessoa. Segundo pesquisas comentadas pela matéria da Psychology Today, há algumas diferenças de gênero: mulheres se preocupam mais com o comportamento de seus parceiros. 

Imagem: Freepik

Imagem: Freepik

Há quem questione tanta limitação e tantas regras, encarando com naturalidade, sem problematizar, que seu par continue falando com ex-parceiro/as, por exemplo. Por isto,  os acordos com o seu par amoroso são essenciais, já que não são ‘verdades universais’. Pode ou não ser amigo/a do/a ex? Pode ou não curtir fotos e textos? Pode ou não comentar? É melhor falar sobre o que pode detonar crises e separações antes que aconteça alguma situação inesperada. Como diz o senso comum, “o combinado não sai caro“.  Mas um comportamento preventivo também seria bom: para que expor tanto a felicidade do casal? Muitas vezes isto desperta o interesse em pessoas que já foram significativas ou estão por perto. 

imagem: Getty Images/Chad Springer

imagem: Getty Images/Chad Springer

Terapia de Casal e a Terapia Pré-Matrimonial ajudam a estabelecer os limites do que é aceitável ou não. Cada um irá deixar claros os seus valores e juntos estabelecem os que são comuns ao casal. O que cada casal considera aceitável ou não pode ser muito diferente da prática dos casais de amigos – e tudo bem. A comunicação e expressão dos sentimentos são imprenscidíveis para a saúde do relacionamento e, por isto, merecem atenção especial. 

Então, se o seu relacionamento amoroso está em um momento crítico por estas diferenças de comportamentos e expectativas, pelo uso da internet, converse sobre isto com seu par, negocie. E, se não conseguir resolver, procure ajuda psicoterapêutica.  

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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio. Com formação em TCC e extensão em ACT, atende no Centro e em Copacabana a jovens e adultos, em terapia individual ou de casal – inclusive pré-matrimonial.

 

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