Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

23/02/2018

Escolhas & renúncias amorosas

É desconcertante rever o grande amor“, já disse Chico Buarque em Anos Dourados. Quem já teve um grande amor sabe bem como reencontrar alguém muito significativo no passado pode abalar mesmo os relacionamentos estáveis. Mesmo que aconteça por acaso, como em “Apenas uma noite” (Last Night), filme de 2010 , disponível no Youtube e no Now. 

Joanna (Keira Knightley) e Michael (Sam Worthington) formam um jovem casal que mora em Nova Iorque. Entram em crise quando ela conhece a nova colega de trabalho do marido, Laura (Eva Mendez), às vésperas de uma viagem de negócios em que ambos irão juntos. Enquanto Michael viaja com Laura,  Joanna reencontra, por acaso, um ex-namorado, Alex (Guillaume Canet).

De forma semelhante ao excelente filme Closer, Last Night pode ser espinhoso para casais espectadores que estejam em crise e não tenham boa capacidade de diálogo. Também pode servir aos casais corajosos como filmoterapia, facilitando a discussão sobre fidelidade. Assiste-se, com certa apreensão, como se faz a escolha amorosa que, muitas vezes, demanda renúncia.   

Por que escolhi este filme “antigo”? Pela importância que a fidelidade assume para os casais – estejam ou não em psicoterapia. Antes mesmo de se comprometerem, a fidelidade deveria ser corajosamente abordada. Não sendo um consenso universal, o que uma pessoa considera infidelidade,   não é nada demais para outra. Se os valores de cada um forem (re)conhecidos, o casal pode ter muito mais harmonia e confiança – em si e na relação.

Exemplo: há pessoas que julgam que a mera fantasia constitui infidelidade. Sofrem muito, pois querem vigiar a mente do/a parceiro/a – e às vezes investigam tanto que magoam e podem colocar em risco uma relação em que o  outro é fiel. Há quem diga que só há traição quando há troca de fluidos. Algumas pessoas acham que omitir  algo do passado também constitui traição. 

É questionável que todos os desejos tenham  de ser compartilhados e confessados – embora possa fazer parte do pacto do casal, nem sempre se poderá ter certeza do que a outra pessoa declara. Da mesma forma, será que o passado afetivo-sexual tem de ser destrinchado quando se entra em uma relação estável, como o casamento? O dito e o não dito, mesmo que sejam só desejos – ou fatos do passado – constituem traição? Tais questões são polêmicas e muitas vezes podem ser as motivadoras da terapia (tanto de casal como individual). 

A abertura para diálogo e a comunicação, cuidadosa e respeitosa, são fundamentais para o  relacionamento amoroso ser duradouro e também satisfatório. De acordo com as estatísticas mais recentes do IBGE sobre divórcio no  Brasil, muito se precisa trabalhar o diálogo entre as pessoas que se propõem a viver uma relação compromissada. E, se não puder ser para sempre, que pelo menos seja muito boa enquanto dure. 

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Atende a jovens e adultos em terapia individual ou de casal, no Centro do Rio e em Copacabana

 

18/02/2018

Terapia Pré-Matrimonial

Se nossos bisavós reaparecessem nos dias atuais, ficariam assustados com os novos relacionamentos amorosos. Muito do que namorados fazem hoje só era ‘permitido’ a partir da lua de mel. Aliás, na época deles provavelmente não existia nem a Terapia de Casal, muito menos  a Terapia Pré-Matrimonial.  

O que mudou tanto 

Hoje namorados passam dias inteiros juntos, viajam. Convivem intimamente o que, na maioria das vezes, inclui ter intimidade sexual. Algo impensável na época dos bisavós…

Sexo só era permitido na lua de mel. A maioria das famílias exercia controle para que a mulher chegasse virgem ao casamento. Era um valor, “a honra”.

Felizmente, esta valorização da virgindade vem caindo – havia muito sofrimento envolvido.

Por que tanto medo de não dar certo?

Atualmente,  ainda na fase do namoro, já conseguem perceber as dificuldades e diferenças no convívio a dois, diário. Em dúvida se devem ou não formalizar a relação, cada vez mais, casais jovens recorrem à Terapia Pré-Matrimonial.

O número de divórcios cresce a cada ano no mundo todo. No Brasil, dados do IBGE mostram que 1 em cada 3 casamentos termina em divórcio. O medo de fracassar ou de  não conseguirem ser “felizes para sempre” pesa.

Muitas vezes, tais medos  se relacionam  com o que cada um vivenciou na relação de seus pais. Se pai e mãe viviam (ou ainda vivem) infelizes, uma das duas pessoas (ou ambas) pode temer repetir a infelicidade parental. 

Por outro lado,  pais muito harmonizados, que passaram a imagem de casal ‘perfeito’, também podem causar a insegurança. Por se compararem, o casal pode se perguntar: “será que eu também conseguirei ficar casado/a ‘para sempre‘?”.  

Então,  o medo de fracasso pode paralisar o casal.

Cuida-se muito da cerimônia – mas nem tanto da relação

Milhares de reais são gastos com os preparativos da cerimônia de casamento. Mas muitos casais não têm a mesma  boa vontade em investir e cuidar da saúde da relação.

Não são raros os casais que se separam antes mesmo de quitarem as despesas assumidas com festa. 

E o que impede de procurar ajuda psicoterapêutica antes, para fazer ajustes antes do casamento? Apesar de algumas pessoas alegarem questões financeiras, o  preconceito contra a terapia parece ser o principal fator.

Este estigma contra a terapia  também tem a ver com crenças do amor romântico.

Crenças românticas podem atrapalhar o casal

Amar pode não ser o suficiente“, disse o criador da Terapia Cognitiva, Aaron Beck, para enfrentar os desafios que se apresentam na convivência diária, íntima.

Aliás, será que se é capaz de dar e receber amor? Esta capacidade está ligada  fundamentalmente com o quanto se recebeu de amor.

Quem teve suas necessidades mais básicas supridas, na família de origem, terá mais facilidade de amar e dar amor.

Mas, romanticamente, o que se espera é que o/a parceiro ame incondicionalmente e suporte as adversidades. Que seja um par perfeito. A gente precisa aprender a suportar a imperfeição do outro. E a nossa também.

Comunicação – a chave para a qualidade da relação

A qualidade da comunicação conjugal pode sinalizar  necessidade de ajuda psicoterapêutica,. Se  predominantemente agressiva ou sarcástica, o sinal já está vermelho. Ou quando o casal cada dia se comunica menos.

A Terapia Pré-Matrimonial aumenta as chances de um relacionamento mais satisfatório. Nela, além de se trabalharem as habilidades de comunicação, o   par amoroso entende e deixa claro para si

  • – O que atraiu no/a parceiro/a;
  • – O que esperam do casamento em si e da vida a dois;
  • – As expectativas de cada um. Ter filhos ou não (se sim, como educar?)
  • – Como lidar com as finanças?
  • – O que é considerado infidelidade? 
  • – Como serão divididas as tarefas domésticas?
  • – O quanto de proximidade/distância em relação à família de origem? 
  • – O que esperam da vida sexual? Por mais que haja maior liberdade, ainda é difícil, para muitos casais, deixar claras as expectativas de fidelidade ou não, de frequência de relações, fantasias etc. Também se pode falar de traumas passados. 
  • – Quais valores orientam cada um e quais são os do casal?
A Terapia Pré-Matrimonial em si

Atualmente, algumas abordagens são integradas, tanto na na Terapia de Casal como na Terapia Pré-Matrimonial: a Terapia Cognitivo-Comportamental, a Terapia do Esquema para Casais e a Terapia de Aceitação e Compromisso conversam bem entre si.

Eventualmente o/a psi solicita sessões individuais, programadas em comum acordo, logo no início do processo de terapia). Há tarefas entre consultas e é importante que ambas as pessoas se comprometam em fazê-las.

As habilidades de comunicação, fundamentais e indicadoras da qualidade da relação, são treinadas. Treina-se a  escuta atenta e compassiva, bem como a expressão do que incomoda, de forma objetiva e não violenta. 

Finalizando: é necessário que  ambas as pessoas  entendam a importância do tratamento e se comprometam a comparecer juntas nas sessões.

E também que se comprometam a executar as tarefas entre sessões. O grau de adesão ao processo mostra a o compromisso do casal em se harmonizar.

Referências

Beck, A. T (1988). Love is never enough. New York: Harper & Row

Harris, R. (2009) ACT with Love: Stop Struggling, Reconcile Differences, and Strengthen Your Relationship with Acceptance and Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger Publication.

Walser, R. D; Westrup, D (2009) – The mindful couple – how acceptance and mindfulness can lead you to the love you want. Oakland: New Harbinger Publications.

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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica (Puc-Rio), na linha de Família e Casal. Tem formação em TCC pelo CPAF-RIO, em Terapia do Esquema (pela Wainer Psicologia) e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). 

Atende jovens e adultos em terapia individual, terapia pré-matrimonial e terapia de casalem Copacabana, e também online.

15/02/2018

Enfim, 2018. E agora?

O Carnaval acabou oficialmente na quarta-feira de Cinzas. Como todos os anos, algumas pessoas ainda tentam esticar neste último final de semana. Mas muitas se deram conta de que está na hora de encarar o que adiaram desde o final do ano, a pretexto das ‘festas’. Retomar ou começar projetos que não saíram do papel – ou das ideias.

Quem é adulto já sabe que melhorias só acontecem mediante ações compromissadas, quando se avança na direção do que se quer, mediante esforço pessoal. “Ser feliz dá trabalho“. E como se comprometer consigo mesmo, diante de tantos estímulos contraditórios, vindos ‘de fora’? Ajuda bastante conhecer os próprios valores pessoais (e não os que sociedade, amigos e parentes tentam impor), para todas as áreas  da vida. Em todas, seja profissional, amorosa, familiar ou outra qualquer, não se escapa à responsabilidade diante da sua escolha. E é você que vai viver a sua vida, na sua pele. Lamentar-se apenas não tornará a sua vida melhor.

Como psicoterapeuta, ouço cada vez mais as pessoas se queixarem do desânimo, o cansaço e também da ‘falta de tempo’. Muita coisa se tem a fazer para o  pouco tempo que se tem e o estresse vem aumentando. Além disto, todas as mídias nos colocam metas, muitas vezes difíceis de atingir, ainda mais com o uso excessivo de tecnologia. Grande parte do tempo de que precisamos para atingi-las é gasto com excessiva interação através de mídias sociais, afastando as pessoas de seus projetos. Muitas não desligam seus celulares, nem para dormir, querendo saber de tudo o que acontece o tempo todo, de todas as novidades – desde o que acontece com os mais famosos a também com os anônimos. A esta tendência, tão recente quanto a internet, em termos históricos, se deu nome: FOMO ou The Fear of Missing Out (o medo de ficar por fora). Este abuso tecnológico também causa um prejuízo ao sono, trazendo como consequência danos à saúde física e mental. 

para onde você está indo?

Para onde você está indo?

Estudos têm relacionado uso intenso das redes sociais como Facebook e Instagram e o crescimento da depressão, principalmente entre pessoas mais jovens, que acompanham stories.

Até já está virando piada, na própria rede, num movimento de reação aos smartphones

stories

Acompanhar a vida de pessoas “formadoras de opinião” contribui para afastar  você da sua própria vida. Ao se comparar, ao invés de mirar no que você é ou no que realmente precisa fazer para se tornar o que quer vier a ser, a insatisfação com sua vida tende a aumentar. 

Lembre-se que a responsabilidade pela sua vida é basicamente sua, de se comprometer com você mesmo/a. Aproveite e começar o ano novo aqui e agora. Hoje. Avalie-se. E, se estiver difícil de observar sua vida e ver o que é preciso fazer diferente, se você não tem clareza, procure ajuda especializada.  Faça psicoterapia. 

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Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) pelo IPq (USP).

Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial em Copacabana e on-line
 

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