Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

25/09/2016

Não acredite em tudo o que você pensa

Nem tudo o que você pensa é verdade. E você tem de se lembrar disto, sempre. Nossa maior riqueza, o que nos diferencia dos animais irracionais é nossa capacidade de pensar, relembrar e planejar. Nossa mente, enfim. Mas ela também pode ser sua maior causa de sofrimento. Pode ser grande amiga ou terrível inimiga. Ou seja: não acredite em tudo o que você pensa. 

Mas o que causa tanto sofrimento mental? 

O que pensamos e que, muitas vezes, não têm nenhum fundamento real, substancial. 

Como sofremos com o que pensamos?

Quando remoemos crenças e lembranças, lamentamos o que perdemos ou o que se passou. Ficamos presos ao passado.

Ou, projetando o futuro, o vemos como sombrio e desesperador. Imaginamos catástrofes, diálogos que nunca acontecerão. 

A imagem abaixo,  amplamente conhecida nas redes sociais, ilustra bem o que acontece: saímos da experiência do momento presente e vamos para o futuro ou para o passado. 

Ao fazermos isto, perdemos o que temos à frente, no aqui e agora.

Enfim, temos a mente mais complexa mas também a que produz mais sofrimento. 

Depressão: vivendo no passado

Simplificando bem, pode-se dizer que pessoas com tendência à depressão têm maior tendência a viverem com suas lembranças, boas ou ruins. Vivem no passado. Perguntam-se muito o que poderia ter sido se tivessem feito escolhas diferentes.  

A pergunta “E se?” só aumenta angústia.

Há aquelas pessoas que parecem ter uma nuvem negra constantemente pairando sobre suas cabeças, com todas as áreas ‘dando errado’. “Ruminam” tudo o que se passou, revisitam e repassam o que falaram, ficam se acusando. Tem pouca autocompaixão.

Ansiedade: vivendo em um futuro ameaçador

Quem tem tendência à ansiedade, vive esperando um futuro sombrio, perigoso. A mente assim em alarme pode, às vezes, até contribuir para que o pior se concretize, numa espécie de profecia autorrealizada.

Mas há pessoas que sofrem de ambos, têm uma depressão ansiosa.  Perdem o hoje, única realidade que se tem, onde se pode fazer algo – até para planejar o futuro melhor, de acordo com os valores pessoais.

E como fazer diferente? Como mudar a chavezinha mental? Estes padrões são muitas vezes trazidos de nossa família de origem. 

A chave para a saúde mental é ser flexível

Stephen Hayes, um dos criadores da Terapia de Aceitação e Compromisso, escreveu um livro de título instigante: Get out of your mind and into your life.

Mas, como “sair de dentro da sua mente e entrar na sua vida“? 

Reconhecer a dificuldade de sair da inércia e procurar ajuda deveria ser o primeiro passo. Muitas vezes leva tempo.

O tempo para a psicoterapia

Como psicóloga, muitas vezes sou contactada  para saber sobre disponibilidade de horários. Passa-se um certo tempo, e só meses depois a pessoa retoma o contato e começa. Há um tempo interno para decidir começar a psicoterapia.

Ao longo das sessões, vem surgindo à consciência o que causa o sofrimento ou insatisfação. A pessoa começa a perceber o que  pode fazer, ou não, para mudar, na direção do que se quer.

Reconhece que estratégias que usou muito tempo não deram certo. Percebe que precisa desistir delas.  Não é fácil.

Nem todo mundo suporta.

Ao procurar psicoterapia, muita gente espera que o(a) psi resolva tudo.  Mas, na real, o trabalho mais difícil cabe a quem procurou a psicoterapia. Jogamos uma luzinha na direção do que pode estar contribuindo para o sofrimento mas é escolha do(a) cliente continuar clareando a área. Ele(a) tem de se comprometer com seu processo. 

Compromisso

Talvez os passos seguintes sejam mais difíceis de dar.

Importante frisar que nenhuma abordagem de psicoterapia pode propor extinguir o sofrimento. Sofrer faz parte da vida.

Assim como bons momentos, alegrias, encontros acontecem, perdas, separações, doenças, envelhecimento e a morte também chegam. E, muitas vezes, de forma inesperada.

A psicoterapia pode, no entanto, ajudar a expandir a consciência e a abertura diante da vida – apesar de todas as possibilidades de sofrimento. 

Se a pessoa não quer (algumas vezes não pode, mas no mais das vezes nem tenta) fazer mudanças, pode desistir do processo e optar  por uma terapia exclusivamente medicamentosa, com a ilusão de que será suficiente.

Afinal, ela precisa mesmo de  mudar hábitos ou romper um relacionamento, pedir as contas, se mudar, afastar-se de quem lhe faz mal. 

Memórias

Lembranças mais remotas, que nem conseguimos acessar facilmente, de vez em quando vêm com força total.

Stephen Hayes, em um depoimento muito pessoal, relata em uma apresentação como percebeu que uma situação ainda repercutia na sua mente, em situações recentes e como aprendeu a lidar com a lembrança.

Às vezes estes insights acontecem no consultório, ao se experimentarem algumas técnicas vivenciais, como as da Terapia do Esquema.

Outras vezes, podem surgir espontaneamente através da meditação – importante aliado da psicoterapia atualmente.

Crenças disfuncionais

Como dito anteriormente, muitas crenças disfuncionais aprendemos em família. E as alimentamos diariamente,  tais como ‘o mundo é perigoso’, ‘ninguém é confiável’, ‘todos os problemas são minha culpa’.

Existem muitas outras que limitam a sua vida. Impedem você de viver.  Dê-se a chance de questioná-las. A diferenciar quais são as protetivas e quais são as impeditivas.

Crenças disfuncionais sobre a psicoterapia

Outra crença popular é de que “psicoterapia é coisa para maluco”. Ou de que é só de quem não tem amigos.

setting terapêutico é um lugar em que a pessoa pode deixar as máscaras de fora e encarar o que dói, os sentimentos mais negativos e doloridos que, às vezes, não se consegue compartilhar com mais ninguém. 

Aprenda a ficar no momento presente, a diferenciar o que é real ou não, o que é útil para você caminhar na direção dos seus valores pessoais. 

Aprenda a enfrentar seus medos, respeitando-se, com auto cuidado, auto compaixão, estendendo este mesmo carinho para as suas relações pessoais.

Experimente. Faça psicoterapia. 

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Cpaf-Rio  e formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia. Também concluiu o  curso de extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), pelo IPq- USP.  

Atende online e presencialmente em Copacabana  a jovens e adultos, em terapia individual , terapia pré-matrimonial ou de casal.

24/09/2016

A conferir: “Um namorado para a minha mulher”

Recentemente lançado no Brasil com o título Um namorado para minha mulher, o filme original que inspirou a produção nacional é de origem argentina: Um namorado para minha esposa. A comédia romântica, de 2009, brincava com a falta de comunicação entre casais. Aparentemente, o brasileiro conseguiu manter o mesmo tipo de humor: no trailer há piadinhas com o whatsapp – um dos aplicativos que, apesar dos inúmeros benefícios, gera muitas queixas sobre o uso (ou abuso), tanto em terapias de casal como nas individuais.

No filme argentino, o casal “Tenso” e Tana Ferro vive infeliz. Tana não para de reclamar, desde que acorda. Fuma feito louca e não faz nada o dia inteiro. Pra piorar, detesta os amigos de Tenso, constrangendo-o até não poder mais. Tana se irritava demasiadamente com a mediocridade humana, que a tirava do sério. Ao longo do tempo, em um relacionamento – real ou da ficção – tantas reclamações pesam. Como psi a gente pode imaginar que fosse um transtorno de humor, leve, super tratável. Ou seria só a rotina, que acaba com tantos casamentos?

Inicialmente, a  simpatia dos espectadores vai toda para “Tenso”. A gente se pergunta como ele pode escolher alguém assim e não entende como lhe falta coragem de pedir para separar. Seus amigos dão uma força, dizendo que a separação é a única saída e até ensaiam a fala com ele.

Até que um dos amigos do marido sugere contratar um famoso sedutor, partindo da premissa que ela também não resistirá e tomará a iniciativa de deixar Tenso, deixando-o livre e sem culpa. Isto já seria um bom motivo para terapia, concordam? 

A escolha dos nomes dos protagonistas não deve ter sido aleatória: Diego Polsky seria Tenso por ter casado com uma Ferro? Todos sabem que o ferro, se aquecido, se molda. E é a isto que assistimos ao longo do filme, com a transformação de Tana. Diego, que era muito boa gente, não tinha noção de quem era a mulher com quem se casara. E, não, não é nada disto que você está pensando. Ao contratar o sedutor, Diego fica surpreso com a auto-confiança de Cuervo Flores – cujo visual é inacreditável, diga-se de passagem. Quer controlar a situação, mas tem de ceder à constatação de que Tana vai se transformando a partir da aparição do sedutor. Quer dizer, é o que parece durante boa parte do filme. Na terapia de casal, fica claro que ambos viam a relação de forma totalmente diferente – o que é , aliás, bem comum em casais em crise, em que um dos dois quer (ou diz que quer) a separação e o outro não. 

Bem, a resenha se baseou no filme original. Falta conferir o produto nacional. Se você gosta do cinema brasileiro, aproveite que ainda está em exibição nos grandes centros. E depois comente aqui… 

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Thays Babo é psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio. Atende no Centro do Rio e na Zona Sul, em terapia individual e de casal.

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