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01/10/2014

Comunicação: aprimore esta habilidade

Nós, seres humanos, somos dotados de linguagem verbal. Nosso cérebro é desenvolvido para este tipo especial de comunicação, que nos diferencia dos outros animais. E, desde o nosso nascimento, somos treinados, pelas pessoas que cuidavam de nós, a nos comunicarmos. Assim, carregamos o estilo de comunicação dos cuidadores iniciais, adotando por espelhamento, a forma de se comunicar da nossa família de origem.

O modo com que você se comunica afeta todas as áreas da sua vida: profissional, familiar, amizade. Também irá influir na sua relação amorosa.

Portanto, é fundamental desenvolver suas habilidades de comunicação. Quem não cuida da forma de se comunicar, provavelmente terá problemas em todos os ambientes do seu dia-a-dia.

Os estilos de comunicação

Muitas pessoas não se dão conta de que a forma com que se expressam (ou não) verbalmente pode afastá-la do que (ou de quem) querem.

Reconhecer o seu estilo de comunicação possibilita melhorá-lo para que suas relações interpessoais sejam mais harmônicas. E sua vida mais satisfatória.

O estilo de comunicação pode ser agressivo, passivo, passivo-agressivo ou assertivo.

Nem sempre será fácil, pois os estilos são aprendidos e repetidos por muitos anos. Tempo e esforço – ou melhor, consciência – são necessários para mudar tais padrões. 

E a psicoterapia pode ajudar. 

O treinamento da habilidade de comunicação é central nas terapias cognitivas

Aaron Beck, criador da terapia Cognitivo-Comportamental, apontou a estreita ligação entre o que pensamos e sentimos. E a partir daí no nosso  comportamento – inclusive o comportamento verbal.

A TCC fala também dos erros cognitivos. Estes derivam de padrões de pensamento – que também podem se desenvolver a partir das relações iniciais com nossos cuidadores.

Um erro cognitivo muito comum  é a leitura automática de pensamento. O que é isto?

Você acaba não falando algo porque presume saber o que a outra pessoa quer. Em psicoterapia, muitas vezes, o/a psi precisa verificar: “Mas… você comunicou isto? Expressou o que estava pensando?” ou “Expressou seu sentimento?“.  Só que o que você pensou, presumiu ou deduziu muitas vezes nada tem  a ver com o que a  outra pensou.  Às vezes nem pensou nada, e você, aí, presumindo. 

Comunicação da família de origem

Em  famílias em que o estilo de comunicação agressiva predomina, alguns membros se tornam muito agressivos também – para se defender e contra atacar. 

Porém, há quem adote o estilo passivo: não enfrentando membros agressivos, pretende manter a paz.

Esta escolha pode ser por dependência ou mesmo por sobrevivência – em especial nos relacionamentos abusivos.

Estilos de comunicação:  agressiva, passiva, passivo-agressiva

A comunicação pode ser entendida como um continuum: em uma extremidade, tem-se a comunicação passiva; na outra, a comunicação agressiva. O “caminho do meio” seria a comunicação assertiva. Mas há ainda um quarto modo: a comunicação passivo-agressiva.

Pessoas agressivas, em geral,  intimidam e impõem sua vontade. Ganham ‘no grito’, por encontrarem muitas vezes, à sua volta, pessoas passivas que se submetem. Não atraem simpatia. A ascensão profissional  pode ser prejudicada.

Quando a pessoa agressiva encontra uma outra igual a ela, o clima pesa e os outros, ao redor, sofrem com a disputa… Crianças ficam assustadas. E muitas vezes reproduzem este estilo fora de casa – na escola, por exemplo.

Apesar de muitas pessoas não se darem conta, a ironia também pode ser bem agressiva – mesmo que o tom de voz não se altere – dependendo do contexto. É bom prestar atenção na reação das pessoas. Já a agressividade e a passividade são estilos mais evidentes.

Passivo-agressivo

É mais difícil identificar o passivo-agressivo: às vezes, sua forma de revidar nem vem ao conhecimento imediatamente. É uma sabotagem aqui que se faz, uma casca de banana ali, sutil… Aparentando passividade ou até ‘pacifismo’, em algum momento, a pessoa “dá o troco”.  Ao invés de se posicionar, confrontar ou expor seus sentimentos, ‘sabota’.

Exemplos: no trabalho, pode atrasar a entrega da sua tarefa, prejudicando a pessoa agressora. Faz corpo mole, não se compromete e acaba por prejudicar quem o humilhou.

Numa relação amorosa, pode trair, só para ‘dar o troco’ – claro, tudo muito veladamente, pois foge da confrontação. No silêncio, faz coisas que minam o cotidiano.

Há quem seja passivo-agressivo sem se dar conta, sem estar consciente de seu modo de ser, agir e falar. Seus comportamentos  podem, por fim, afastar pessoas queridas. E provoca  conflitos ou desconfortos desnecessários – às vezes fazendo um pseudo-elogio.

Assertividade

O modo ‘saudável’ de comunicação é predominantemente assertivo, com  comunicação clara e objetiva, em que se expressam opiniões sinceras e seus sentimentos. 

A pessoa assertiva também deve praticar a escuta atenta. Aberta para escutar, aceita sugestões e recusar as que não são razoáveis. Recusa o que não estiver de acordo com os valores pessoais. Mas a assertividade ela pode não ser fácil de desenvolver espontaneamente.

Afinal, para ser  assertiva, a pessoa tem de colocar  limites, correndo risco de desagradar.

Quem teme o confronto, a rejeição e o abandono aceita tudo. Porém, a longo prazo, o custo emocional é alto. 

Apesar de a assertividade parecer, à primeira vista, o melhor modo sempre, em algumas situações, é importante se ter uma atitude passiva.

Quando?

Por exemplo, em situações de violência (como um assalto ou violência doméstica).  Sua sobrevivência deve ser a prioridade. Coloque-se a salvo antes, peça ajuda. 

A psicoterapia e o treinamento das habilidades de comunicação 

Em um processo de psicoterapia, você  desenvolve autoobservação. Aprende a regular suas emoções, a ter autocontrole. Primeiramente, suspende seu autojulgamento.

Passa a se autoobservar, com autocompaixão. Percebe seus esquemas mentais e observa o seu estilo de enfrentamento.

Uma pergunta que pode facilitar a sua autoobservação: o modo como você fala ajuda você a se aproximar dos valores que deseja na sua vida? Ou o afasta deles?

Se você costuma ser a pessoa crítica, mesmo que de forma suave,  precisa saber que raramente as críticas funcionam. E muitas vezes magoam e afastam as pessoas.

Ninguém gosta de críticas. Posso generalizar isto.

Crítica ‘positiva’? Não existe e nem agrada também.

O treino de habilidades de comunicação ajuda você a compartilhar a sua emoção, ao invés de começar atacando o comportamento do outro.

Quem se sente criticado, em geral, se fecha, não muda.

E muitas vezes contraataca, levantando os pontos fracos de quem criticou.

Comunicação não violenta

A comunicação não violenta, proposta por Marshall Rosenberg, predispõe ao diálogo. Aproxima.

Quando você fala das suas emoções, ao invés de apontar o dedo para a outra pessoa, ela para para ouvir. Ela não pode dizer que você não sente o que está declarando.

Aumenta a sua chance de se fazer ouvir e conseguir o que precisa.

Procure ajuda especializada, faça psicoterapia.  

Referências Bibliográficas: 

Del Prette, Z. A. P; Del Prette, A.. In: Haase, V. G. Psicologia do desenvolvimento: contribuições interdisciplinares. Belo Horizonte: Editora Health, 2000. 

Portella, M. Estratégias de ths: treinamento em habilidades sociais. Rio de Janeiro: Cpaf, 2011

Rosenberg, M. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar. São Paulo: Editora Ágora, 2006.

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, na linha de Família e Casal. Tem formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pelo Cpaf-Rio e em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia. Cursou a extensão em ACT (conhecida no Brasil como Terapia de Aceitação e Compromisso), no IPq-USP.

Atende em Copacabana, a jovens e adultos, em terapia individual, de casal ou pré-matrimonial.  

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