Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

23/04/2012

Jung

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Um método perigoso, filme dirigido por David Cronenberg, tem como mérito ajudar grande parte dos espectadores a conhecer um pouco mais o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Mesmo tendo se passado pouco mais de um século da publicação de seus primeiros escritos, ainda há muita confusão ainda sobre o papel de Jung na História da Psicologia.

Grande parte do filme gira em torno de um relacionamento amoroso de Jung, significativo porém bastante controverso (detalhes mais à frente, depois do trailer – como sempre, só recomendo que veja se não quiser perder o fator surpresa). Este mesmo relacionamento, com uma ex-paciente, já tinha sido abordado em Jornada da Alma, porém, no antecessor, com maior foco em cima dela: Sabina Spielrein, que se tornou mais tarde uma das primeiras psicanalistas. A seguir, o trailer de Jornada da Alma (infelizmente, com legendas em francês):





Um método … também aborda o embate entre Freud e Jung, a discordância entre ambos em vários assuntos fundamentais na criação da Psicanálise, narrada em alguns capítulos da autobiografia de Jung (Memórias, sonhos, reflexões). Freud admirava Jung e esperava que ele viesse a ser seu ‘príncipe herdeiro’, dando continuidade à sua obra. Por não ser judeu e ter uma boa entrada no meio acadêmico, Jung seria fundamental para Freud – porém, ao ‘renunciar’ ao posto de herdeiro, nunca mais tiveram um relacionamento cordato ou de amizade.





Os cursos de graduação de Psicologia – no Rio de Janeiro, pelo menos – não dão muito espaço à Psicologia Junguiana e com isto algumas ‘inverdades’ ainda se mantêm como ‘verdades absolutas’. Há ainda quem classifique Jung apenas como psicanalista, ignorando sua contribuição com importantes conceitos para a psicologia; fundando inclusive a Psicologia Analítica. Os mais radicais se alinham a Freud, que o considerou um um traidor – por ter rompido com seu projeto de continuidade. Uma das principais divergências entre os dois era a ênfase que Freud colocava na sexualidade, desconsiderando outros aspectos relevantes – como, por exemplo, a religiosidade.

Então, o filme deve ser visto pelo seu aspecto histórico, por retratar bem o momento inicial da Psicanálise e da Psicologia Analitica, abordagens que mudaram a forma de ver o mundo. Desmitifica um bocado a figura de Jung – apesar de provavelmente ser um pouco reducionista. O meio junguiano pode voltar-se a discutir questões éticas, porém , o primordial é conseguirem enxergar Jung como humano, simplesmente.

E você? Assistiu ao filme? Ou a ambos? Deixe sua opinião: basta clicar no título para abrir a caixinha de comentários, aqui embaixo.

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Thays Babo é psicóloga e atende no Centro do Rio.

16/04/2012

Compulsão sexual – o que é

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Muito bem falado pela crítica, Shame, filme de 2011, não é light ou erótico. Denso, incomoda. Quem vai atraído pelo tema – compulsão sexual – pode se decepcionar. É um drama existencial.

Sexo

Obviamente há cenas de sexo e o tão falado nu frontal do ator alemão, Michael Fassbender, que foi premiado em Veneza como Melhor Ator. Os conflitos do personagem angustiam. 


O que me motivou a resenhar o filme foi  ouvir em uma rádio uma entrevista de uma famosa psicóloga carioca, que reduziu toda a complexa problemática do protagonista, Brandon.

Segundo a psi, seu problema não era a compulsão sexual mas sim a culpa e a repressão que nossa sociedade nos impõe. Cheguei a pensar que ela não assistiu ao mesmo filme que eu.

Provavelmente ela não acredita que isto possa ser um transtorno. Opiniões de uma suposta ‘referência’ em sexualidade pode fazer um estrago e tanto. Quem vai dar conta destas consequências? 

Compulsões 

Comportamentos compulsivos trazem para a vida do indivíduo muitos conflitos. Não só na vida familiar e amorosa, a compulsão pode afetar  também a vida profissional, como aparece no filme. Consome tempo e energia psíquica.

E também pode implicar em descuido com a saúde sexual, propiciando o surgimento de infecções sexualmente transmissíveis e o uso ou abuso de drogas. 

Compulsão é um comportamento que não pode ser evitado e interfere nas atividades da pessoa compulsiva. Não é algo eletivo, que se escolhe ou não fazer. Com isto, traz prejuízos no dia-a-dia, na rotina, já que não se consegue evitar.

A compulsão pode ser por comida, por bebida, por drogas, jogos ou compras. Ou por sexo. Ou tudo isto junto.  (Observação:  o DSM-V reviu alguns critérios de classificação)

Em Shame, Brandon é compulsivo por sexo. (Outro filme excelente que inicia com o tema, mas, infelizmente depois envereda por outro caminho, virando um thriller, é “Entre as pernas”, com Javier Bardem e Victoria Abril. No filme espanhol, no entanto,  o final sugere que os protagonistas não são exatamente compulsivos. Mas  Brandon é, como fica claro ao final de Shame).

Brandon ‘consome’ e é consumido pelo sexo. Em sua casa, recebe garotas de programa, tem inúmeros DVDs pornôs, acessa sites pornográficos.

No trabalho, também não consegue se conter: quando o desejo vem no meio da jornada de trabalho, recorre à masturbação. Não consegue ter relacionamentos duradouros com nenhuma mulher.

As cenas, porém , não são tão eróticas assim, pois a angústia do personagem aparece o tempo toda nelas. O desespero bate com a chegada da irmã, , interpretada por Carey Mulligan (de Educação) que se instala, de uma hora para outra, e sem convite, no apartamento do irmão. 

O vínculo entre os irmãos é muito mais complexo, apesar de não ser aprofundado. Ficam dúvidas sobre o que aconteceu entre eles no passado, haveria ali uma relação incestuosa? Não fica claro.

Tratamento para compulsão

Brandon não busca ajuda psicológica ou psiquiátrica. Não tem ninguém com quem se abra e expresse o que sente – em relação à irmã ou à sua incapacidade de lidar com qualquer outra mulher.

Seu comportamento começa a impactar também na sua vida profissional e o expõe. De certa forma ‘desglamouriza’ o excesso de desejo, mostrando o que pode trazer de complicações para a vida como um todo.

Ou seja, não é o excesso de censura por vivermos em uma sociedade moralista, mas sim a falta de controle que se tem sobre o próprio desejo, a ponto de deixar que ele prejudique a vida como um todo.  

No Brasil, o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), atuante em várias cidades, nos moldes de outros grupos como AA, pode ajudar a lidar com o comportamento sexual aditivo. Se você vem enfrentando este tipo de problema, procure ajuda psicológica. 

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Thays Babo é psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica, pela Puc-Rio. Atendimento psicoterapêutico individual e de casal, em Copacabana .

06/04/2012

Programando…

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

Em breve resenharei o último filme ao qual assisti: Shame. É um filme que incomoda, e já estava até esquecendo dele – apesar do tema interessantíssimo. Porém, esta semana ouvi um comentário numa rádio aqui do Rio, de uma famosa psi e achei tão reducionista que fiquei inspirada…

Então, aguarde, em breve aqui no Confabulando.



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