Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

21/01/2012

Amores tímidos

Sabe aqueles dias em que tudo o que você precisa é ver um filme leve, que não seja imbecil  e não faça querer seu dinheiro de volta? Se você procura um filme totalmente crível, com gente comum, não deveria perder Românticos Anônimos (Emotifs Anonymes). Sou sabidamente admiradora dos filmes franceses, sejam comédias ou dramas. E este, se você estiver de mal com a vida (e quiser ficar de bem), é altamente recomendável – a não ser que você goste de ser mal humorado/a 🙂


O filme mostra o estrago que a timidez pode causar na vida de alguém. No caso, dois alguéns: Jean-René e Angélique, que vivem solitários e cujas vidas profissionais atravessam um momento crítico. Ele está à beira da falência. Ela, desempregada. Mas, pelo menos, ambos estão conscientes de que precisam de ajuda: Jean-René faz psicoterapia (o consultório do psi tem um divã que sugere psicanálise, mas os exercícios prescritos sugerem uma linha mais cognitivo-comportamental. Já Angélique frequenta um grupo de ajuda, os “Emotivos Anônimos“, que dá o nome original ao filme.

E como os dois, tão tímidos, vão se encontrar? Conhecem-se por força da paixão que os une: o chocolate. Ah, um aviso: se você gosta de chocolate, antes de começar a assistir o filme, vai querer devorar vários. Melhor comprar antes 😉 Jean-René é dono de uma chocolateria que está indo à falência porque não conseguiu se modernizar. Angélique vai buscar emprego – ela é uma excelente chocolatière, mas, por conta da sua timidez, não corre riscos profissionais, evita ser avaliada. Viveu à sombra e por não ter assumido seu dom, meio que numa comédia de erros, é contratada como representante de vendas da fábrica de Jean-René. Logo ela, totalmente tímida.

Aliás, uma série de confusões os joga em situações românticas – não pensadas a princípio pelo empresário. E Angélique se revela uma mulher muito parecida com várias outras que se precipitam quando veem a possibilidade de um romance pela frente.

Na vida real, não é nada risível assim. Como psi, enquanto os espectadores gargalhavam no cinema, pensava em o quanto é comum que os pacientes se vejam em situações parecidas – de perda de oportunidade, da falta de se auto afirmarem, de passividade – sem que achem tão divertido. Se um pouco de timidez, em algumas situações, é considerado ‘charmoso’, em excesso, faz perder oportunidades. Em todas as áreas: profissional, amorosa, familiar, entre amigos. Mas, como Jean-René explica, é muito angustiante. Muitas vezes a timidez faz com que a pessoa seja julgada como antipática ou desinteressada.





Mas, nada que não se possa modificar. Quem sofre de timidez pode -e deve – procurar ajuda . A TCC é provavelmente a abordagem psicoterápica que traz as melhores técnicas, propondo o treinamento em habilidades sociais – bem mais eficientes do que as sugeridas pelo psicólogo de Jean-René.

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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e atende no Centro do Rio.

14/01/2012

Filmoterapia: Medianeras

Medianeras é um filme argentino, de 2011, co-produzido pela Alemanha e Espanha. Aclamado pela crítica, traz um  subtítulo brasileiro (Buenos Aires na era do amor virtual).

Medianeras são fachadas laterais “cegas” de prédios . Ainda que proibido, alguns moradores descumprem a lei e abrem suas janelas. É uma busca por mais luz, mais ventilação e maior contato com o mundo externo. 

O filme mostra o dia-a-dia de duas pessoas geograficamente muito próximas, com vidas e neuroses parecidas – complementares? Medianeras retrata o isolamento na era digital e seus impactos na vida amorosa de Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala). Vizinhos próximos em Buenos Aires, jovens adultos e isolados.  

Martín e Mariana têm suas vidas limitadas  por eles mesmos. Vivem reclusos a maior parte do seu tempo. Anseiam por ar e luz, querem se relacionar mas tentam e não conseguem. Falta a eles habilidades sociais  importantes para estabelecer relacionamentos interpessoais.  

O nome da rua em que moram não deixa de ser uma ironia, talvez mais um recurso sutil para disfarçar o drama existencial com doses (econômicas) de humor.

Saúde mental e emocional 

Seria Martín um fóbico social? Possivelmente. Ele usa remédios para suportar viver em uma quitinete sombria. Web designer, está há anos sem um relacionamento amoroso consistente. Martin só anda a pé por Buenos Aires.

Em sua mochila, Martin carrega seu mundo portátil, seu kit de sobrevivência, que acaba com a sua coluna, e o leva a buscar mais medicamentos. Não por acaso se define como hipocondríaco.

“Há 10 anos sentei na frente do computador e tenho a sensação de que nunca mais levantei…” 

Mariana é arquiteta mas trabalha como vitrinista. Não se realiza profissionalmente, e sua autoestima é baixa. Projeta nos manequins parte de seus desejos, onde pode exercer sua criatividade.

Após o término de um relacionamento amoroso,  percebe através das fotos que o afastamento foi gradual: ao longo dos anos, elas foram rareando. Em uma geração que tudo registra fotograficamente, este é um indicador importante.

Mariana tem claustrofobia, não usa elevadores, o que restringe bastante suas possibilidades. O livro Onde está Wally é sua referência literária e ajuda a manter uma ponta de esperança.

Solidão e solitude

Porém, o filme NÃO é sobre internet. A solidão e o isolamento social são  os principais condutores de Martin e Mariana. Já se sabe o quanto o isolamento contribui para quadros de depressão e ansiedade.

Medianeras remete a Denise está chamando, mas com mais leveza. Acaba trazendo mais esperança a quem limita suas explorações pelo mundo. Como Martín. E também como Mariana.

O isolamento nas grandes cidades

Medianeras fala de perto a quem mora em Buenos Aires, Rio de Janeiro, São Paulo ou qualquer outra cidade grande que engula seus moradores.  Pessoas introvertidas podem ser ainda mais prejudicadas com a indiferença de quem passa a seu lado e nem as vê. 

Há uma semelhança com os  filmes de Woody Allen: os psicólogos do filme são ‘figuras’ mal resolvidíssimas.Não deve ter sido casual que Martín e Mariana tentam se relacionar com psicólogos. 

Porém, se buscavam neles a ‘cura’ para seus problemas, descobriram rapidamente que não seria assim tão fácil. 

Medianeras traz muito material para reflexão, merecendo ser visto e revisto. Especialmente recomendado para  pessoas que tenham dificuldade em estabelecer relacionamentos amorosos satisfatórios ou algum tipo de fobia social.   

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Thays Babo é Psicóloga Clínica, Mestre pela Puc-Rio, com formação em TCC e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP), membro da ACBS (Association for Contextual Behavioral Science. Atende a jovens e adultos em terapia individual, de casal e pré-matrimonial,  em Copacabana.

Durante a pandemia de coronavírus, todos os atendimentos são online. 

12/01/2012

Aqui e agora

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Virou o ano, entramos no tão falado e temido 2012 e não falei do filme Um dia, o que é uma injustiça. Mais uma vez fui ao cinema sem ter lido a respeito e nem visto os trailers. Sempre é melhor, pois posso gostar ou não por minha própria conta… 😉 Espero que você já tenha visto o filme, estrelado pela americana Anne Hathaway e o inglês Jim Sturgess. Um dia foi adaptado a partir do bestseller homônimo de David Nicholls, tendo particular significado para quem já passou dos 30 anos. Mais ainda para quem se formou também em 1988, como a dupla de amigos.


Para variar, não houve unanimidade: algumas críticas detonam o filme, dirigido por Lone Scherfig (de Italiano para principiantes e o aclamado Educação). Há quem o compare com Harry e Sally, mas as muitas diferenças me parecem bem mais importantes do que suas semelhanças. A história é simples: Emma e Dexter se conhecem na faculdade. Ela, uma ‘cdf’, ele um playboy. Ela apaixonada por ele, ele nem a notava – até a noite de formatura. Sem terem planejado nada, passam a noite juntos. É ‘o início de uma bela amizade’, que acompanhamos ao longo da projeção, retratando 20 anos da vida deles. Esta relação sempre é celebrada na noite de 15 de julho, noite de São Swithin, gerando inclusive ciúmes nos seus respectivos parceiros.

Um pequeno parêntesis: nunca tinha ouvido falar deste santo mas, numa busca pela internet, descobre-se que a tradição inglesa assegura que as condições meteorológicas deste dia do ano serão as mesmas dos quarenta dias seguintes. Acho que é mais confiável quando chove, conhecendo aquele país. Ah,a propósito, o Santo é o Bispo de Winchester. Ah, o santo tem uma música dedicada a ele (que não está na trilha sonora) e que você pode conferir no Youtube – e já é o suficiente, não?






Voltando ao filme, talvez eu tenha achado que ele foi bastante simpático pois não li o livro. Algumas críticas falam que a Emma de Anne Hatway é bem mais calorosa do que a literária. Eu só posso me basear no filme. Se eu vier a ler o livro volto aqui e teço comentários (como fiz após ler Tarântula, que inspirou Almodóvar a criar A pele que habito). Há também quem critique escalar uma atriz americana para representar uma britânica. Meu ouvido não é tão seletivo assim, rsrsrs. Mas, acho que mesmo quem torcer o nariz para o roteiro , casting ou direção poderá apreciar a trilha sonora. E também a caracterização e figurinos ao longo de quase 30 anos. Cada cabelo… 😉

Em uma das críticas, vi comparações do ator Jim Sturgess com Hugh Grant. Revendo um dos trailers agora, acho que a cena no conversível a caminho de férias se parece bastante com uma das cenas de Bridget Jones I (eu confesso!!! ) – em que Daniel Cleaver (Hugh Grant) dirige um conversível (também branco?), a caminho de um weekend com Miss Jones. Mas Sturgess já tem um percurso anterior, não é novato: trabalhou em A Outra, Across the Universe e Quebrando a Banca, dentre outros.


Gostei, sabe? As diferenças entre Emma e Dexter, a forma com que cada um dos dois cresce em tempos e direções diferentes, a amizade que se perpetua mas que às vezes é impossível manter perto. Não, o filme não é tão ‘felizinho’ quanto Harry e Sally e mostra a perda de pessoas queridas e rumos que nossas vidas tomam em função de decisões e escolhas (sim, eu acredito em escolha, rsrsrs). Dexter é o tipo do personagem que pode nos angustiar ao vermos como escolhe sempre os caminhos mais hardcore, afastando-se de si mesmo, tendo um leque de possibilidades bem maior do que a maioria dos mortais. Isto leva Emma a dizer que o ama mas não gosta mais dele. Paradoxal? Talvez. Enfim, vou deixar o trailer do filme e parar de teorizar. Ao invés de ficar aqui, falando sozinha, desta vez quero ler a opinião de quem viu para poder então debater.

Se você não se incomoda de ver o trailer e perder parte das surpresas, confira! Aguardo seus comentários…





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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica e atende no Centro do Rio

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