Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

25/09/2011

Mentira doce ou uma dura verdade?

Já assistiu a Uma Doce Mentira, estrelado por Audrey Tautou? É improvável que você não tenha ligado o nome à pessoa: ela é a atriz francesa que ficou famosa por Amélie Poulain. E também por ter representado Mademoiselle Chanel em um dos filmes biográficos. Não conferi Código da Vinci, mas também foi ela… Se ainda não lembrou, é fácil – olha a fotinho aqui… 😉

Se quiser ver um romance divertido, você vai gostar. Emilie Dandrieux (Audrey Tatou) há pouco inaugurou um salão junto com uma amiga, em Séte, cidade na costa sul da França, super simpática. O negócio fez com que assumissem dívidas altas. Tão imersa em seus próprios problemas, Emilie não mostra o menor interesse ou curiosidade ao receber uma carta de amor anônima. Sem pensar duas vezes, arremessa-a no lixo. Além das contas, Emilie também se preocupa em treinar a equipe – sua recepcionista é um tanto quanto… parva. E, graças a uma situação inusitada, descobre que seu ‘faz tudo’ no salão é bem mais qualificado do que ela. Ele deveria ter um emprego bem mais digno, o que desperta sentimentos de desconforto em Émilie, sobre a sua própria capacidade.

Filha única, Émilie resolve ajudar sua mãe, Maddy (Nathalie Baye, radiante), a recuperar um pouco da sua autoestima. Separada do pai de Emilie quatro anos antes, Maddy continuava inconformada e visivelmente deprimida. Emilie tem ainda a difícil incumbência de anunciar à mãe que o divórcio deverá ser assinado, para que o pai possa enfim casar. Detalhe: a nova esposa, grávida, é mais jovem até do que a própria Emilie, que se incomodava com isto, declaradamente. Até aí, nenhuma grande novidade – já vimos isto acontecer tantas vezes na vida real, não é? Como Amélie Poulain, a protagonista decide fazer algo para tirar a mãe da deprê.

Emilie tem a ‘brilhante’ ideia de usar a mesma carta. Conhecendo bem sua mãe, podia antecipar que ela adoraria receber uma carta de amor. Resgata-a do lixo, digita e …. là voilá! 😉 . O que ela não previa é que Maddy ficaria tão animada a ponto de querer, a todo custo, descobrir quem era o apaixonado autor da carta… Dá para imaginar o tamanho da confusão? Com o passar dos dias, Maddy fica novamente desanimada, sempre à espera de uma segunda carta. Que não viria nunca, se não fosse pela insistência de Émilie em saber o que deprimira de novo a mãe… Emilie se atrapalha mais do que Amélie para tentar consertar as coisas… Obviamente, ela tenta sozinha – a princípio – dar conta do recado, escrevendo uma segunda carta de amor. Só que a mãe, acostumada a ser musa, detecta uma frieza e distanciamento numa carta totalmente fake… Emilie respira fundo para escrever a terceira carta mas de repente tudo foge ao seu controle. A comédia de erros tem início quando sua mãe finalmente acha que identificou o autor… Bem, melhor assistir ao filme e voltar aqui depois. Ou, pelo menos, depois de assistir ao trailer





É claro que a gente pode sair do filme achando que é, apenas, uma comédia romântica. Mas quem é psi tem o vício de procurar pensar em outros aspectos… Concorda que este é um filme feminino? Vejamos: as duas principais personagens são mesmo Maddy e Émilie. Elas representam o contraponto do velho e novo, da difícil relação mãe e filha, sendo mesmo pessoas totalmente diferentes.

Maddy representa bem as mulheres de sessenta anos de hoje em dia, ‘jovens’ mulheres da chamada terceira idade . Está em crise, às voltas com sua recente solidão e a dificuldade de aceitar que seu projeto de vida não deu certo. Ela rompe um pouco com o padrão das mulheres mais velhas – nossas avós? – que se fechavam totalmente após um luto (em geral por morte, raramente separação, que era raríssimo) e não tentavam novamente, não se arriscavam. Ela, enfim, elabora seu luto e vai atrás da sua felicidade – mesmo que, em alguns momentos, as estratégias (hilariantes) nos pareçam puro desespero. Os espectadores (na maioria, mulheres no cinema) parecem empatizar mais com ela do que com Emilie.

A jovem workaholic , que se congela para dar conta dos negócios e quer seguir sozinha, mal percebe as oportunidades ao redor. O mais triste – psicologicamente falando, não cinematograficamente, ;- ) – é que Emilie também não está tão satisfeita com o que fizera da sua própria vida. Sente-se burra e incompetente em assuntos mais profundos. Tão preocupada em ‘resolver problemas’, cria vários outros e não consegue sair da mentira que criara tão facilmente. Só se aproximando da mãe e assistindo a sua virada, Emilie amadurece e é despertada também. No fim, consegue se transformar.

Ah, e como você responderia a questão colocada no trailer: o que você prefere, uma mentira doce ou uma dura verdade? Na vida real, seria tão fácil relevar a trapalhada que Emilie arrumou?

A vida ensina – ou tenta – que flexibilidade é um talento a ser desenvolvido. Para perdoar uma mentira, facilita um pouco depreender sua intencionalidade. Afinal, mentiras, geralmente, machucam e ‘para quê’ – mais do que ‘por quê’ – é a pergunta fundamental a se fazer diante de uma. Usando de empatia e se colocando no lugar do outro para entender a pessoa à frente, e o que ela busca, os relacionamentos – sejam românticos, familiares ou de amizade – podem mudar. Em geral, pra melhor.

Vai comentar? Então, basta clicar no título aqui do alto. Obrigada pela visita!


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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio

19/09/2011

O sentido da vida


Muita gente se pergunta se há um sentido na vida ou se simplesmente ela é absurda. Os filósofos não conseguem chegar a um acordo sobre isto, apesar de alguns serem enfáticos de que não há, não.

Na história do cinema, vários filmes trataram do assunto magistralmente. O longa argentino Um conto chinês se posiciona a favor de ‘há um sentido, sim’…

Sinopse

Roberto, personagem interpretado por Ricardo Darín, é um homem “esquisito”: dono de uma loja de ferragens (ferreteria), tem uma clientela pequena, porém fiel. Que o irrita muito, diga-se de passagem.

Sem luxos, sem família, mantém-se preso em sua rotina entediante.

Roberto tem  alguns rituais – como, por exemplo, dormir pontualmente às 23 horas, todas as noites.

Seus poucos hobbies são prosaicos: em casa, recorta jornais, que um de seus poucos amigos sempre lhe traz, com notícias de tragédias estapafúrdias. Quando lê as tragédias, sempre se imagina nas cenas.

É, a vida pode ser apavorante, caso vista com os olhos de Roberto.

Outro hobby  dele era ver os aviões decolarem, nas suas horas de lazer.

Certo dia, perto do aeroporto vê-se compelido a ajudar Jun, um chinês que não fala nada de castelhano. A situação é tão absurda quanto as que ele recorta: um estrangeiro solto no mundo, sem falar uma palavra do seu idioma.

E, por mais que Roberto seja rabugento, metódico e, aparentemente, impermeável, ele se revela profundamente humano: não consegue deixar o imigrante desamparado. Adota a sua causa, procurando encontrar sua família. Através de gestos e mímicas, estabelecem uma comunicação limitada e com margem para grandes enganos.

Aos poucos, Roberto e Jun aprendem a falar ao coração um do outro.

Um herói atormentado

A gente não se pergunta como Roberto  sobrevive porque logo se vê que seus hábitos lhe ajudam a manter tudo sob controle.

Um exemplo: ele confere sistematicamente todas as caixas de produtos que recebe, contando as unidades e conferindo com o que está descrito pelo fabricante. E sempre se sente lesado, liga, reclama e fica a cada dia mais mal humorado. 

Não deixa ninguém se aproximar demais e recusa-se a dar chance para uma conhecida que se declara a ele insistentemente.

Roberto é um prato cheio de traços que nos levariam a um diagnóstico precipitado. Obsessivo-compulsivo? Esquizoide? Distímico? Bom, Roberto tem um pouco de tudo isto e mais alguns outros traços…

Se deixarmos as possíveis classificações diagnósticas caírem, reconhecemos nele  suas virtudes, ocultadas pelas suas dificuldades.

Já nos minutos finais, entendemos a história do nosso herói atormentado. Em sua trajetória, Roberto muda: a contragosto começa a se relacionar, mas não surta: aprende. Cada vez mais humano, Roberto é o que sua enamorada Mari via: rabugento e eremita, mas também encantador.

Jun revela-se um doce de pessoa. Sofrido, sensível, perdido, tem uma alma de artista e se apega àquele rabugento sem sabotá-lo. Pelo contrário, salva-o e, com a paciência milenar chinesa, conquista o amigo e também Mari, que se afeiçoa a ele.

E, ao final, quando ambos já conseguem saber um pouco mais um do outro, graças a um ‘tradutor’, Roberto descobre então que o que parece ser absurdo é mesmo o que dá sentido à vida. Chocado com o que descobre, aturdido, chega a hora de Jun tomar seu rumo.

De presente, Jun deixa uma imagem que vai mostrar a Roberto justamente o que faltara a ele captar. Sim, uma imagem ainda pode valer mais do que mil palavras.

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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental e em formação em Terapia do Esquema pela Wainer Psicologia. Atende ajovens e  adultos, em terapia individual e de casal e pré-matrimonial.

Durante a pandemia de coronavírus, a maioria dos atendimentos é online. 

14/09/2011

novos rumos

Filed under: Espaço Psi-Saúde — Thays @ 16:24

Olá, pessoal

Em breve vou reassumir um foco mais psi. Claro que eventualmente os filmes estarão aqui, para Confabular.

Mas, antes de mais nada, tem algum tema que você queira debater aqui, sobre psicologia?

Aguardo sugestões.

Até breve!

08/09/2011

Filmes como terapia

Neste post, comentarei de uma vez  vários filmes, tentando fazer um link com questões de psicologia que aparecem no consultório. Afinal, além de ser “a melhor diversão”, filmes podem auxiliar na terapia – como filmoterapia. 
Cilada 
O programa Cilada na TV era divertido, mas, no cinema, a piada se esgotou em pouco tempo. O tema é bastante atual – a privacidade exposta na internet, na famosa ‘sociedade do espetáculo’. Há tempos não se tem mais controle sobre o que está no seu celular ou foi publicado nas suas redes. Todo o cuidado com o que se diz, onde se vai ou com quem se está é pouco. Os nativos digitais têm ainda mais dificuldade de entender os riscos a que se expõem.  . Ao mesmo tempo, não se pode ficar fora da rede impunemente e, por isto, tem de se achar o ponto de equilíbrio pra não se ficar paranóico. Ou seja, é um exercício e tanto de bom senso. O filme decididamente não comprou esta ideia. Tampouco focou nas disfunções sexuais (questão bastante comum no consultório), indo na linha de humor descompromissado. Se você não viu, confira o trailer
Outros 3 filmes  
Depois disto, Amor a qualquer prova (no original, Crazy, Stupid, Love). Categorizado como comédia dramática, mostra um casamento  de longa duração que acaba sem a gente saber porquê. Algumas vezes falta sensibilidade, noutras criatividade para repensar o relacionamento e se colocar no lugar do outro. Ah, isto é fundamental:empatia, para todos os tipos de relacionamento. E afinar a comunicação, o que fica difícil demais sem uma ajuda de fora (psicoterapêutica), porque o ego joga contra, em geral. Resumindo, o casal Weaver, formado pelos atores Julianne Moore e Steve Carell, depois de 25 anos de casado se separa, por uma traição. Carl tenta refazer a sua vida, mas sofre muito por estar afastado dos filhos e da ex-exposa. Correndo por fora, a história dos adolescentes descobrindo a sexualidade também é engraçadinha. O filme tem  cenas bem divertidas e boa trilha sonora. Você pode gostar se você não for um adepto radical dos filmes de arte. Se for, talvez você prefira as duas próximas dicas. A primeira Um sonho de amor,  filme super denso, daqueles a que você assiste pensando: ‘isto não vai acabar bem’. A categoria? Drama – e que drama! – familiar. Cenas lindíssimas, rodado na Itália, destacando Milão. Trilha e figurino ótimos. E o final… à la tio Boome (quem viu, vai entender). Os dois filmes acima podem servir até como filmoterapia em terapias de casal, se manejado apropriadamente… Aliás, em ambos os filmes, os casais não recorrem à psicoterapia em momento algum. Nem individualmente, nem como casal. E o último – que mereceria um post aprofundado, em outras épocas, é A árvore da vida. Até agora não encontrei consenso sobre este filme. E muita gente sai sem entender o filme. Algumas pessoas, antes mesmo que acabe.  Alguns personagens são comoventes –  como, por exemplo, a mãe, cuja fé não foi abalada mesmo diante de uma tragédia que desmontaria qualquer uma. Os questionamentos dela – e de outros personagens – e a falta de respostas diretas é algo que aflige a muita gente. São os questionamentos de Jó. A dureza do pai (Brad Pitt) também é comovente. Quem não conheceu um pai assim? O filme é repleto de simbolismos e tem uma fotografia fantástica. E você? Assistiu a algum destes? Ou outros? Deixe sua dica, conte de quais gostou. 

Thays Babo é  Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em terapia cognitivo-comportamental (TCC),  pelo CPAF-RIO e extensão em ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso),  pelo IPq (USP).

Durante a pandemia de coronavírus, a maioria dos atendimento é feita on-line. Atendimento a jovens e adultos em terapia individual, terapia de casal e terapia pré-matrimonial.

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