Espaço Psi-Saúde Site & blog da psicóloga Thays Babo

24/06/2011

Aqui e agora – este é o seu tempo

Woody Allen não é mais unanimidade de público e crítica há algum tempo. Perdeu muito público por conta do escândalo  na separação de Mia Farrow.

Se você conseguir separar autor da obra e abstrair esta conduta (afinal, a gente não sabe os detalhes da história), seu talento  estava a pleno vapor em Meia noite em Paris

Resuminho

O sightseeing da Cidade Luz nos minutos iniciais já faz valer assistir ao filme.  

A locação é maravilhosa, o elenco brilhante. Mas, vamos à história.

Filmoterapia

Gil (Owen Nielsen) se parece com vários outros personagens de Allen, mesmo não protagonistas. Como também se parece com muitos espectadores, por falar de momento de fazer escolhas, optar por riscos, empreender mudanças.

A encruzilhada de vida em que Gil se meteu, independe da localização temporal ou geográfica – é quase arquetípica.

Ele e sua noiva, Inez (Rachel Adams), estão em Paris. Logo a gente vê que são como água e óleo e a gente se pergunta o que os juntou. Não compartilham interesses em comum e nem mesmo têm um modo de ver o mundo sequer semelhante. Talvez apenas a cama seja o ingrediente que a gente não vê. Apesar dele a definir como um ‘vulcão’, não há nenhuma cena sensual.

Em Paris, Inez parece mais interessada em passeios. Ah, e, claro, no anel de noivado. Super pragmática, vem de uma família bem sucedida, difere bastante de  Gil que é um sonhador – bem sucedido, sim, mas prestes a jogar tudo pro alto. A ideia de acompanhar a família dela em uma viagem de negócios permite antecipar algumas das crises que teriam, talvez, ao se casarem.

Escolhas existenciais

Cheio de referências ao mundo das artes, tantas citações e piadas mascaram o problema existencial que Gil enfrenta: para onde ir? Abrir mão das conquistas, da segurança e jogar-se atrás de um sonho, ficando em Paris? Ou voltar e se resignar no conforto e segurança já conseguidos em Hollywood? Na filosofia existencial, Gil estaria em uma existência não autêntica, no ‘lá e então’ , não conseguindo se encontrar no ‘aqui e agora’. Felizmente, Allen não é psicólogo e, ao invés de ser contaminado pelo ‘pessimismo existencialista’ (característico do pós-guerra), trata este ‘caso clínico’ com o melhor remédio que tem: o humor. Em Melinda, Melinda, ele já mostrara que é possível ver a vida como drama ou como comédia. Neste filme, opta pelo tom de comédia para mostrar a trajetória de Gil, a quem dá uma overdose de anos 20, época em que o escritor localiza a Era de Ouro. Para isto, Allen recorre ao fantástico e ‘convoca’ pintores, músicos e escritores dos início do século 20, em Paris , para influenciar e inspirar o atormentado americano.

Em paralelo, Allen aproveita para dar uma espetadinha nos pseudointelectuais, em um personagem muito interessado em mostrar o quanto sabe de tudo. Muitas vezes superficialmente, mas cheio de arrogância. Afinal, impostores intelectuais adoram falar de forma convicta para convencerem melhor… 

Assista ao trailer – este não entrega muito. 


A Era de Ouro deve fazer parte do inconsciente cultural – afinal, quem não conhece alguém que vive preso ao passado, imaginando que seria mais feliz se tivesse nascido e vivido em outra época que não a sua? O diretor mostra de forma bastante criativa a jornada do personagem até chegar no tempo em que deve ficar. Bem, não posso escrever mais sobre o filme, sem estragar… Então, aguardo os comentários para trocarmos impressões.
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Thays Babo é psicóloga clínica, Mestre em Psicologia pela Puc-Rio e atende em Copacabana, no Rio de Janeiro

19/06/2011

Pendências …

Namorados para Sempre é um filme cujo  título – em português – deve ter espantado quem não gosta de comédias românticas açucaradas. É, já falamos muitas vezes do golpe baixo que fazem com os títulos aqui no Brasil, para conseguirem mais bilheteira. Este foi mais um deles. 🙁

No original, Blue Valentine surpreende, não sendo de forma alguma superficial. Muito pelo contrário. Pode inclusive ser doloroso para quem já se viu em situações parecidas. E, se você que lê já passou dos 30 anos, muito provavelmente já passou … Afinal, quase podemos dizer que é um rito de passagem sofrer por amor na sociedade ocidental. Faz parte!

A dupla de protagonistas está sensacional. Por este filme, Michelle Williams foi indicada ao Oscar e, infelizmente perdeu. Ok, não perdeu para qualquer uma: este ano era o de Nathalie Portman, até pelo conjunto da obra. Justiça seja feita, Michelle também estava excelente e, se mantiver o mesmo nível de atuação que mostrou neste filme, deve ser novamente indicada, em futuras premiações. O  diretor adotou um método intenso com a dupla de atores, que conviveram intimamente para poderem filmar – e o resultado é ótimo. 

Blue Valentine é acridoce. Mostra um casal jovem em crise. Até aí , nada de muito diferente… Mas o que os leva a separar? Pois é, justamente aí é que a discussão fica interessante. Ao iniciar um relacionamento amoroso, criam-se muitas expectativas diante do/a outro/a. Projetam-se modelos e ideais.

Como disse Aaron Beck, o amor não é suficiente. Pode não ser o único elemento   para fazer um relacionamento amoroso funcionar, ou durar. Nossa sociedade tem ideais de  amor romântico que atrapalham bastante – como bem diz o filósofo suíço Allain de Bottom. Confunde-se paixão com amor, e estes são bem diferentes.

Até hoje os pesquisadores da Psicologia do Amor não estão bem certos dos ingredientes para que o relacionamento não desande, como o do casal protagonista. A crise entre Cindy (Michelle Williams) e Dean (o excelente Ryan Goslin) ganha proporções impensáveis para quem via o jovem casal se apaixonando. Se na vida real acontecem tantas historinhas assim, vale perguntar “onde é que erramos?”. Ou, reformulando a pergunta : “por que projetamos tanto?”.

Na fase de apaixonamento, muitos dos ideais e sonhos projetados vão contra os dados da realidade. E mesmo assim se vai cegamente. E por quê? Bem, cada pessoa tem o seu porquê. Cada uma procura uma coisa mas, basicamente, isto se apoia no modelo de felicidade vigente nos dias de hoje.

A este respeito, alguns psicólogos vêm questionando (como Martin Seligman, criador da Psicologia Positiva. Confira o link de uma entrevista dele sobre o assunto em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI235007-15228,00-MARTIN+SELIGMAN+PERSEGUIR+SO+A+FELICIDADE+E+ENGANOSO.html) . Estas historinhas, dolorosas, são como o filme é: amargo.

Expectativas: não crie

Cindy se tornou amarga. Dean não correspondia a suas expectativas. Mas será que ela algum dia olhou para ele como ele olhava para ela? E será que o olhar dele era só amoroso ou carente demais, com expectativa demais? Não irei me alongar, para não dar spoiler. Mas posso ainda dizer que a  trilha sonora também é ótima…

Assista ao trailer.

E depois deixe aqui o seu comentário e sugestões. 

08/06/2011

Namoro de verdade? Ou ilusão?

A proximidade do Dia dos Namorados gera uma pressão sobre quem não está namorando.  Campanhas publicitárias enfatizam a importância de celebrar um namoro para impulsionar as vendas. Junte-se a isto a necessidade do ser humano de buscar conexão e fica difícil não morder a isca do estímulo.

Avalie o seu  namoro

Quem tem alguém com quem comemorar também deveria dar uma parada estratégica para avaliar o rumo que o namoro está tomando. Vale mesmo a pena?  Traz felicidade, crescimento e realização ou é só para postar nas redes sociais?

Hum, se a resposta certa é a segunda, pense duas vezes antes de comprar o presente. Afinal, as sequelas diante de um  relacionamento ‘patológico’ podem ser graves. Não vale a pena se arriscar só pra posar para fotografias.

O Dia dos Namorados pode ser mais facilmente “comemorável” para quem privilegia a paixão acima de tudo. É bem mais fácil de se conseguir uma paixão do que um amor, pelo menos no que se tem entendido como tal.

Enfim, se a ordem é aproveitar bem o próximo dia 12, curta-o, saboreie-o – esteja você com namorado/a ou não.

Seu histórico amoroso

Faça sua retrospectiva amorosa e veja se o que você tem hoje não é uma conquista. Se você acha que o balanço não foi positivo, que o dia 12 sirva de marco para se reavaliar e planejar um futuro mais feliz.

Talvez você tenha armado um  muro defensivo. Para quê? Pergunte-se se não deveria  abrir uma porta para que o ar circule. Para coisas boas chegarem e renovarem, é preciso  abertura…

Avalie se você tem padrões inflexíveis, muitas exigências. Ou se acredita que é uma pessoa cheia de defeitos, de quem ninguém pode gostar. Ou ainda, se você tem medo de sofrer.

Não custa lembrar que esta é apenas uma data no seu calendário e que as 24 horas passarão na mesma velocidade. Serão os mesmos 86400 segundos de todos os dias. Tanto para quem está em um namoro como para quem não está.

A velocidade do dia depende  da atenção e importância que você coloca nisto.

Pra finalizar, deixo aqui um texto que achei na internet , do Artur da Távola. Li pela primeira vez na minha adolescência. Guardei o recorte de jornal por muito tempo e apesar de hoje me parecer piegas, na época, trouxe definições pra mim.

Deve ainda ser marcante pra muita gente, porque está na web, atribuído ao Carlos Drummond de Andrade. Garanto que não é. Leia e opine…

Ter Ou Não Ter Namorado – Artur da Távola

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado de verdade é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia a pedir proteção. Esta não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de andar de mãos dadas, de carinho safadinho, escondido no escuro do cinema cheio, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de dar gargalhada quando se fala ao mesmo tempo ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçadinho, fazer compra junto.

Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou filme de Woody Allen.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado.

Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.

Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou no meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.

Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.

Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passa debaixo de sua janela. Ponha intenção de queimar-se em seu próprio fogo e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

“Enlou-cresça”.

Terapia de Casal ou Terapia Pré-Matrimonial

Se o seu relacionamento amoroso não está em uma boa fase, procure ajuda especializada. Agende uma consulta.

E leia os outros textos aqui do blog que falam sobre as terapias para casais. 

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Thays Babo é Mestre em Psicologia Clínica pela Puc-Rio, com formação em TCC pelo CPAF-RIO e extensão em Terapia de Aceitação e Compromisso pelo IPq (USP). Também tem formação em Terapia do Esquema, pela Wainer Psicologia.

Atende a jovens e adultos em terapia individual, pré-matrimonial ou de casal, em Copacabana ou online.

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